“Aqui está, minha filha.” A voz de Lyra, minha mãe, soa suave, mas cansada, enquanto ela entra no quarto carregando um copo de café quente. O aroma reconfortante preenche o ar, um contraste com o cheiro estéril e pesado do ambiente hospitalar. Ela me entrega o copo com um leve sorriso, sentando-se ao meu lado no sofá rígido e desconfortável do quarto do Alexander. “Você quer que eu busque a Elowen na escola hoje?”“Sim, por favor. Pode trazê-la para cá, não quero ela sozinha em casa…” Minha resposta sai carregada de exaustão. Meu corpo parece mais pesado a cada minuto que passo nesse hospital, assistindo Alexander e Thorne presos em uma batalha silenciosa pela sobrevivência.Minha mãe afaga minhas costas e eu fico agradecida pelo seu apoio.“Eles vão ficar bem, querida, vão sim,” mamãe declara com um otimismo fraco.“O médico disse que já era para o Thorne ter acordado, mamãe.” Minha voz treme ao tentar reprimir as lágrimas que insistem em brotar. “Que está tudo bem com os sinais vita
Fico parado alguns metros afastados do quarto do Alexander quando percebo o cheiro da Aria presente no cômodo. Ouço sua declaração de despedida para com Alexander e isso me preenche com agonia.Não me aproximo porque não quero Aria lendo os meus pensamentos. Tenho evitado ao máximo pensar no Alexander e na solução que a minha mãe sugeriu. Abrir mão de uma parte da minha alma para salvá-lo. Manter isso em segredo de Aria tem sido difícil.Se eu fizer esse feitiço, o que vai significar para mim e para ela? Não posso perdê-la para Alexander, ainda mais quando eu tenho certeza da forte ligação que possuímos. A mordida foi um presente para Aria, ela está ligada a mim agora para sempre. Entretanto, percebo que Aria não se sente assim por mim. Ela ama Alexander e trazê-lo de volta, significa perdê-la para ele e não quero isso.Decido voltar para o castelo, há tantas coisas para resolver após os acontecimentos com Drave e Seraphina que sinto que vão acabar virando uma bola de neve. Durante to
“Thorne está forte como um touro. Nem parece que ficou todo esse tempo aqui, você precisa vê-lo!” A minha voz é animada, mais do que eu gostaria, considerando a situação. Tento manter o ânimo, mantendo a esperança viva em meu peito. A sensação de incerteza se dissipa um pouco ao falar sobre Thorne.O som do monitor hospitalar se mistura com a minha voz e Alexander continua desacordado, entretanto o seu rosto tem ganhado mais vida, mais cor. As veias escuras começaram a sumir, a palidez dando espaço para o seu tom natural de pele.As batidas do coração de Alexander, que eu conseguia ouvir nitidamente enfraquecendo, tem se fortalecido. O cheiro dele também mudou, voltou a ser o cheiro de menta com macieira, um cheiro reconfortante.Seguro sua mão, tentando manter o contato físico, como se isso fosse um elo entre nós dois, como se minha presença pudesse fazer algum tipo de milagre. Acaricio sua pele, agora mais quente, mais viva, e me apego a cada sinal de melhora. Minha esperança, que j
Alexander se senta ao meu lado no sofá, sua presença me trazendo uma sensação de ancoragem em meio à confusão. O escritório de Caelum, com suas estantes imponentes repletas de livros antigos e artefatos mágicos, parece sufocar.Caelum anda de um lado para o outro, as botas ecoando no piso de madeira escura. Cada movimento é firme e decidido, mas há uma inquietação subjacente. Ele parece um lobo em uma jaula, consumido por pensamentos. A luz suave do fim da tarde entra pela grande janela atrás dele, iluminando seus cabelos desgrenhados e realçando o brilho dos seus olhos esverdeados.“Drave disse que os gêmeos poderiam quebrar o feitiço de ligação,” Caelum balbucia.“É, mas ele também nos alertou e com razão,” retruco, inclinando-me para frente. “Eles ainda são pequenos, não possuem noção de como lidar com os poderes… isso se eles tiverem algum, na realidade.”Caelum para abruptamente e me encara, a linha de sua mandíbula se tensa enquanto seus olhos queimam com algo entre orgulho e de
Observo Thorne e Elowen brincarem no enorme jardim que há atrás do castelo. Estamos vivendo aqui desde que Caelum retomou o comando, é um local enorme e acabo por me sentir desconsertada com o lugar. As crianças adoram e tudo para elas é divertido e incrível.Fico sentada em um banco de mármore com meus pensamentos até que sinto o cheiro de menta com macieira, o cheio do Alexander. Antes mesmo dele entrar no meu campo de visão, eu já abro um sorriso. Alexander surge atrás de mim e tampa meus olhos.“Adivinha quem é?” ele sussurra ao pé do meu ouvido, isso faz com que um arrepio percorra toda a minha espinha.“Eu consigo sentir o seu cheiro muito antes de você chegar, sabia?” eu respondo risonha.“Sim, eu sei. Não significa que isso aqui tenha perdido a graça,” Alexander responde e beija o meu pescoço, me causando cocegas.Ele desliza a mão do meu rosto e se senta ao meu lado no banco. Nos beijamos com ternura e com carinho.“Como é que foi a reunião com o conselho?” questiono ansiosa.
“Ok, eu preciso que vocês obedeçam às avós de vocês, está bem?” Minha voz soa calma, mas por dentro, uma onda de ansiedade me consome. Meus olhos encontram os de Thorne e Elowen, sentados lado a lado no sofá da sala. Seus corpos pequenos parecem perdidos no estofado grande demais para eles, mas suas pernas balançam nervosamente, denunciando o quanto estão inquietos.O brilho em seus olhos, uma mistura de medo e tristeza, faz meu coração apertar. A cada palavra que digo, sinto como se estivesse pedindo mais do que eles podem suportar. Eles não querem que eu vá. E, se eu for sincera, eu também não quero deixá-los.“Mas e se elas forem más com a gente?” Thorne pergunta, sua voz embargada, os olhos grandes começando a se encher de lágrimas. O tom choroso faz parecer que ele é ainda menor do que realmente é, sua fragilidade escancarada de uma maneira que me faz querer segurá-lo para sempre.“Elas não vão ser más, meu príncipe. Elas vão cuidar de vocês,” asseguro, tentando transmitir a tran
“Não, por favor, você não precisa fazer isso!” A voz da jovem lycan ecoa pelo salão escuro e abafado, carregada de desespero puro. Ela se debate em cima da mesa de pedra, as correntes enfeitiçadas rangendo sob a força de sua resistência inútil. O medo emana dela como uma onda palpável, enchendo o ar já pesado com o cheiro metálico de suor e sangue. “Eu juro que não direi nada, por favor! Me tire daqui!”Não digo nada. Não há mais espaço para promessas ou compaixão. Pego um pano encardido e o empurro em sua boca com força, silenciando os gritos agudos que já começam a rasgar minha paciência. Já ouvi essa melodia desesperada vezes demais; já a gravei em minha mente a ponto de me assombrar nos raros momentos de sono. Isso não pode me abalar agora. Não quando estou tão perto. Começo a recitar o feitiço, cada palavra antiga e áspera escorrendo da minha língua como veneno. O salão ao redor parece se contrair com minha voz, as luzes tremulando fracamente, sombras dançando nas paredes mancha
Meu sangue ferve como lava ardente enquanto Seraphina permanece incrivelmente relaxada diante de nós. Apesar de estar claramente em desvantagem, ela não demonstra um pingo de apreensão. Seus olhos dourados, cheios de uma malícia quase sobrenatural, deslizam sobre nós como quem observa três crianças tolas brincando de heróis em um mundo que está além de seu alcance. Essa postura insolente me enfurece ainda mais.Ela cruza os braços casualmente, como se Caelum não tivesse acabado de lançar uma proposta de acordo desesperado. Por um instante, tudo parece parado, o mundo retendo a respiração. Minha mente grita em protesto contra a ideia de oferecer qualquer coisa a ela, mas, se Seraphina é a única que pode salvar a vida dos meus filhos, eu aceito até vender minha alma.“Não, obrigada,” ela responde com uma frieza cortante, sua voz ecoando pelo salão como o som de vidro quebrando.Sinto meu peito queimar de indignação. A incredulidade me atinge como uma onda violenta, roubando o ar dos meu