Manter as crianças distraídas do caos lá fora é como tentar conter uma maré crescente com as próprias mãos. As notícias invadem tudo, cada canal e cada manchete: o ataque à capital, o golpe de Drave, a destruição. As imagens do trono usurpado e da ameaça contra a vida dos meus filhos ecoam na minha mente como um pesadelo incessante. Mas aqui dentro, entre as quatro paredes da nossa pequena casa alugada, eu luto para criar um espaço seguro, um refúgio para Thorne e Elowen. Não posso deixar que o mundo sombrio lá fora os alcance. Não posso.“Podemos ir para a praia hoje, mamãe? Podemos, podemos?” Thorne pergunta, os olhos brilhando de empolgação. Ele segura um desenho que acabou de fazer, cheio de cores vibrantes, contrastando com a monotonia do cinza que parece ter envolvido minha vida ultimamente. Meu coração aquece com aquele entusiasmo inocente, uma fagulha de luz em meio à escuridão.“Sim, meu anjinho. Podemos sim,” respondo, acariciando seu cabelo loiro escuro que reluz sob o sol
Presencio quando Caelum abandona a cidade litorânea, sua figura desaparecendo na estrada em meio ao alvoroço causado pelo golpe de Drave. Imagino o que passa pela cabeça dele, se a humilhação de perder seu trono para o irmão bastardo é maior que o medo de enfrentar uma guerra que ele claramente não sabe vencer. O mundo todo parece girar em torno desse caos, e em cada esquina, em cada voz sussurrada ou exclamada, só se fala de uma coisa: o golpe de estado.Assisto às notícias com um sorriso malicioso nos lábios, uma admiração perversa pela habilidade teatral de Drave. Ele sabe como fazer um espetáculo. Cada detalhe da invasão foi meticulosamente calculado, desde as explosões devastadoras até a imagem impactante de Isolder ajoelhada diante dele, sua expressão marcada pelo pavor e pelo orgulho esmagado.No momento em que Drave desafiou Caelum com Isolder de joelhos, meu coração disparou, mas não por medo — por uma euforia intoxicante. Aquela mulher… finalmente ela está pagando por sua ar
Drave me acusa de ser um péssimo rei, um líder incapaz, cheio de medos e hesitante em tomar atitudes. Essas palavras, tão carregadas de veneno, tentam me ferir, mas apenas alimentam a determinação que queima em meu peito. Essa acusação se desfaz como fumaça diante da visão que tenho agora: o exército que meus aliados enviaram, firme e numeroso, avançando ao meu lado. Cada passo que damos ecoa no chão como uma promessa, um lembrete de que minha busca pela paz, construída com alianças sólidas entre os reinos vizinhos, não foi em vão.A frente do palácio surge imponente diante de nós, sua fachada manchada pelo caos que Drave espalhou. Marchamos até ali, o som rítmico das botas e das patas dos lycans reverberando como trovões. Do outro lado, vejo os soldados do meu meio-irmão formando fileiras. Rebeldes. A visão deles me enfurece. São um reflexo distorcido do que Veridiana deveria ser: desorganizados, brutais, tomados por uma causa falsa. Noto que há entre os lycans também alguns enchatrix
Assim que Drave anuncia o meu envolvimento com ele, percebo o impacto imediato de suas palavras. A raiva de Caelum cresce de forma quase palpável, emanando dele como ondas de calor. Seus olhos, antes focados e controlados, agora brilham com uma fúria primitiva, quase animalesca. E eu? Eu sinto um orgulho quase perverso ao testemunhar isso. Finalmente, Caelum está subjugado, desarmado, exposto como deveria estar. O rei que se achava intocável agora está à mercê de nossas ações e palavras.Entretanto, esse momento de vitória é tingido por uma revelação que me pega de surpresa. Uma reviravolta inesperada que muda completamente o jogo. Eu vejo isso em Drave, no sorriso que ele tenta disfarçar, mas que carrega algo mais profundo. Ele me enganou. E, pior ainda, percebo que subestimei quem ele realmente é.Drave Frost não é apenas um homem movido pela força bruta ou pela sede de sangue, como sempre imaginei. Ele é mais perigoso do que isso. Ele é um estrategista, um manipulador capaz de molda
Minha vontade de acabar com a vida de Drave pulsa como um veneno dentro de mim, queimando cada fibra do meu corpo com uma intensidade quase insuportável. O ódio se espalha por minhas veias, alimentado pela visão do meu meio-irmão prostrado diante de mim, com aquele sorriso maníaco ainda estampado no rosto ensanguentado. Ele é a personificação de tudo o que eu desprezo, tudo o que ameaça minha família e meu reino.“O que vai ser, maninho?” ele provoca, cuspindo palavras carregadas de veneno e sangue. O rosto dele está inchado, coberto de hematomas, mas a arrogância em seus olhos vermelhos brilha com mais força do que nunca. “Morte ou vida? O sacrifício de um bastardo ou o egoísmo de um pai?”Suas palavras me atingem como um soco, perfurando meu autocontrole. Um rugido surge da minha garganta antes que eu perceba, ecoando pelo salão do trono como um trovão.“Cala a sua m*****a boca!” ordeno, minha voz reverberando como se fosse feita de aço bruto. Meus punhos se movem antes que minha men
Minha visão turva cada vez mais, e o zumbido em meus ouvidos cresce até que todo som ao meu redor parece engolido por um vazio opressor. A dor em meu corpo é insuportável, cada músculo latejando como se estivesse sendo rasgado por dentro. Tento me mover, mas o cansaço me mantém presa, esmagada sob um peso invisível. Ouço a voz de Seraphina ao longe, distorcida, arrastada, como se estivesse sendo puxada por uma correnteza. Eu preciso impedi-la. Ela está indo atrás dos meus filhos. Tento lutar contra essa paralisia sufocante, mas minha visão se apaga, e o mundo ao meu redor é engolido pela escuridão.Tudo fica quieto. Não há dor, nem som, apenas um vazio profundo que não sei como escapar. Então, algo muda. Não estou mais ali. Minha mente, minha essência, me transporta para outro lugar. Estou em uma floresta. As árvores são grotescas, seus galhos curvados como garras, estendendo-se em minha direção. O chão está úmido e coberto de folhas mortas, e há um cheiro forte de terra molhada e algo
Eu nunca almejei ser uma lycan. Sempre gostei de ser humana, de sentir o peso e a vulnerabilidade da minha condição. Nunca invejei as outras espécies, nem mesmo os lycans, com suas habilidades sobre-humanas, força e sentidos aguçados. Para mim, isso nunca foi uma benção. Sempre vi como uma maldição, um fardo terrível que os amarra a instintos animalescos e a uma vida de luta constante contra a própria natureza. Transformar-se em uma fera? Isso nunca me pareceu um privilégio. Agora, com o peso dessa realidade caindo sobre mim, sinto um misto de raiva, frustração e desespero.‘Ela pode ficar o resto da vida brava comigo se quiser, mas ela está aqui e é minha.’ Ouço Caelum falar, só que é como se fosse dentro da minha mente.“Eu não sou sua!” rebato imediatamente, minha voz carregada de irritação e uma pontada de dor. “Quando você vai entender isso? Agradeço por me salvar, mas isso não me torna sua, Caelum!”Ele arqueia uma sobrancelha, confuso. Sua surpresa é evidente, mas o que mais ch
“Você quer fazer o quê?” Caelum quase rosna, sua voz reverberando pelo ambiente. Sua postura rígida e os punhos cerrados indicam claramente que minha proposta o desestabilizou.“Quero me encontrar com o seu irmão,” repito minha intenção com mais calma, tentando controlar o turbilhão que se agita dentro de mim.O ambiente ao nosso redor está impecavelmente organizado, mas tem uma frieza que me irrita. É um espaço amplo, adornado por quadros que retratam paisagens de Veridiana e símbolos de poder. A grande mesa de madeira maciça está abarrotada de documentos e o som do computador trabalhando ao fundo ecoa em meus ouvidos, um zumbido irritante que não consigo ignorar. Antes, quando era humana, sons como esse passavam despercebidos, mas agora, com os sentidos aguçados, tudo parece amplificado, quase insuportável.“Drave é perigoso, Aria. Não acho prudente você ir vê-lo,” Caelum responde, sua voz cheia de precaução.Solto um suspiro exasperado, tentando conter a irritação que ferve sob a s