A porta do meu escritório se abre com um estrondo, batendo com força na parede, fazendo o som ecoar pelo ambiente silencioso. Do outro lado, Alexander está parado, seus olhos queimando com uma fúria que é quase tangível. Seu rosto está severo, cada linha de sua expressão tensa, como se ele estivesse lutando para manter algum controle sobre si. É impossível não reparar na rigidez de sua postura e no modo como seus punhos estão cerrados ao lado do corpo. Ele parece uma tempestade prestes a desabar.Fico surpreso ao vê-lo aqui tão cedo. Sua recuperação foi rápida — rápida demais. Ainda consigo sentir o cheiro metálico e frio dos remédios que impregnaram sua pele durante o tempo que passou no hospital. Não consigo decidir se isso é um testemunho de sua determinação ou apenas uma teimosia imprudente. Mas uma coisa é clara: ele não está aqui para discutir estratégias ou para tratar do ataque que quase lhe custou a vida dias atrás. Não, a energia que Alexander emana agora é muito mais pessoa
UM MÊS DEPOIS…O som das ondas se quebrando contra as rochas atrás da pousada é constante, uma melodia calma e rítmica que se torna meu refúgio diário. Ajeito os papéis que estão espalhados na mesa da recepção enquanto não surge nenhum dos hóspedes querendo reservar alguma atividade aquática nas redondezas.A pousada é simples, rústica, com paredes brancas desgastadas pelo tempo e móveis de madeira que exalam o cheiro da maresia. A luz do sol entra pela janela lateral, projetando sombras dançantes sobre o chão de tábuas de madeira enquanto o ventilador de teto gira lentamente, como se estivesse cansado. O som abafado das conversas de alguns hóspedes na área comum mal chega até aqui.Mantenho minhas mãos ocupadas, numa tentativa desesperada de ocupar minha mente também. Organizo formulários de reservas e folhetos de atividades aquáticas locais, arrumo o balcão pela terceira vez no dia, tudo para evitar o vazio que insiste em tomar conta de mim. Mas mesmo com o trabalho, as lembranças s
O castelo parece respirar com mais suavidade desde que Seraphina não está mais aqui. Sua ausência é um alívio palpável, como se a sombra pesada que pairava sobre os corredores tivesse se dissipado, permitindo que a luz alcançasse lugares antes ocultos. Mas o vazio que ela deixou também carrega um peso próprio. Não é o tipo de silêncio confortável; é um espaço preenchido pelo eco de sua traição, pelos resquícios de sua magia sombria que ainda vibram nas paredes e, principalmente, pela incerteza de sua localização.A última pista sobre Seraphina a coloca no hospital com Alexander, e desde então, nem mesmo os melhores rastreadores de Veridiana conseguem localizá-la. Ela é escorregadia, movendo-se como um fantasma, usando suas habilidades mágicas para se esconder, para desaparecer quando é mais necessário encontrá-la. Isso me irrita profundamente, mas também me intriga. Ela sempre teve um talento único para manipular as coisas a seu favor, e, por mais que me odeie admitir, é algo que a to
Caelum Frost, meu irmão caçula, é a própria definição de caos encarnado, uma tempestade de más escolhas e impulsos desmedidos. O pior rei que Veridiana já teve. Observar o reinado dele desmoronar lentamente tem sido um espetáculo fascinante, quase poético. Cada rachadura que se forma no trono, cada murmúrio de descontentamento que ecoa pelos salões do castelo, me traz uma satisfação que não consigo disfarçar. E o melhor de tudo? Essas rachaduras têm o meu nome gravado nelas.Um movimento que começou como uma faísca em territórios esquecidos agora se transforma em um incêndio que ameaça consumir o reino de Caelum. Porque, convenhamos, quem em sua sã consciência preferiria um mestiço no trono? Um híbrido sem verdadeira identidade, dividido entre duas naturezas conflitantes? Não, o povo merece um verdadeiro líder, alguém que entenda as leis naturais da vida, do poder. E esse alguém sou eu. Um lycan de sangue puro. Aquele que foi injustamente expulso, mas que agora retorna para reivindica
A vida de plebeia é uma tortura, um espetáculo diário de privações que me fazem querer arrancar a própria pele de desgosto. Um mês inteiro vivendo escondida, afastada da opulência que me pertence por direito, longe dos empregados que atendiam a cada capricho meu, das refeições refinadas e do luxo que era respirar o ar puro das montanhas de Syltirion. Tudo isso… por causa daquela humana patética e dos filhos bastardos dela. Me pergunto, com frequência crescente, se tudo isso realmente vale a pena.Minhas unhas cravam na madeira da mesa à minha frente enquanto observo Karin com olhos semicerrados. Ele demorou e minha paciência, que nunca foi grande, agora é quase inexistente. Quando ele finalmente se aproxima, o som de seus passos é quase inaudível, mas o roçar do papel em suas mãos chama minha atenção como uma promessa prestes a ser cumprida.“Aqui está, Seraphina… a localização da humana,” Karin fala, me entregando um papel com o endereço.“Finalmente! Já não estava mais aguentando es
“Mamãe, podemos ir para praia?” Elowen pergunta, a voz doce carregada de entusiasmo, enquanto mal termina de comer o pedaço de pão com geleia. Seus olhos brilham como o sol da manhã, cheios de esperança, e sua energia é quase contagiante.Sorrio, apesar da exaustão que sempre parece me acompanhar desde que cheguei aqui.“Podemos ir apenas no final do dia, minha princesa. Agora é hora de se preparar para a escola, lembra?” eu respondo de forma gentil, ajeitando um penteado nos seus cabelos enquanto ela come.O café da manhã é um ritual caótico, mas cheio de amor. A mesa é um campo de batalha de migalhas, tigelas vazias e guardanapos amassados, mas cada momento ao lado deles vale o trabalho. Assim que todos terminam de comer, começa o segundo ato: colocar sapatos, encontrar mochilas e organizar as crianças para a escola. Minha mãe leva as crianças para a escola e eu fico com a função de limpar as coisas.Pela janela da cozinha eu observo a praia à minha frente. Há pessoas caminhando e o
Drave Frost, meu irmão mais velho, voltou. Não pensava nele há anos, desde que eu o bani do reino de Veridiana após a morte do nosso pai. Drave Frost, sempre com suas ideias perigosas, sua visão de poder tão deturpada quanto ele mesmo. A idealização de um governo baseado em opressão e força bruta é uma ameaça constante, e agora essa ameaça está próxima de Aria. Próxima dos meus filhos.A simples ideia de que Drave poderia estar tramando algo contra eles faz o sangue ferver em minhas veias. Minha família. Uma palavra que eu mal começo a compreender e que já se torna um alvo. Asher foi na frente para preparar as coisas para mim. Não posso locomover meus soldados até a cidade, isso ia levantar suspeitas e não quero que meu irmão saiba que estou chegando. Preciso do elemento surpresa ao meu favor.Além de que as coisas aqui na capital estão difíceis. Seraphina sumiu do mapa e isso me deixou preocupado, deixando que a nossa separação oficial fique complicada. O reino de Veridiana e de Sylti
Finalmente os deuses resolveram olhar para mim. É quase poético, como se, após anos de desprezo, eles resolvessem intervir, oferecendo-me uma oportunidade dourada. A chegada de Asher é esse presente divino, uma oferta dos céus para meus planos. Meus espiões, silenciosos e leais, espalhados por cada canto estratégico da cidade, mal demoraram a me informar assim que ele se instalou no hotel.Subornar alguns funcionários foi a parte mais fácil. Uma promessa de ouro, um olhar ameaçador, e as línguas se amarraram com um fervor que chega a ser cômico. Eles se fizeram de cegos e surdos enquanto eu torturava Asher. Fiz apenas por prazer e confirmar as minhas suspeitas sobre Caelum e Aria. Cada grito dele, cada respiração ofegante enquanto sua resistência se despedaçava diante de mim, foi uma sinfonia que eu apreciei como se fosse a composição mais sublime.Pelo jeito, nem mesmo o meu irmão sabia do potencial que há nos gêmeos. O poder que escorre naquelas duas pequenas criaturinhas. Admito que