Capítulo 70 Maria Luíza Duarte As cicatrizes da noite passada ainda estavam ali, não apenas nas marcas invisíveis que Alexei carregava, mas também na tensão no ar. Eu podia ver a fúria latente em cada movimento dele, o jeito como os ombros permaneciam rígidos e como o maxilar se apertava. Ele não precisava dizer nada; eu conhecia cada nuance daquele homem. E naquele momento, ele estava à beira de explodir. Peguei sua mão enquanto caminhávamos de volta para os corredores. — Vamos buscar a Sofia. Ela deve estar acordada agora. — Minha voz saiu leve, tentando suavizar o peso que parecia esmagar Alexei. Ele olhou para mim de relance, ainda preso nos próprios pensamentos, mas assentiu. Chegamos ao quarto onde Sofia dormia sob os cuidados de sua babá, a Neide. A pequena estava deitada no berço, com as bochechas rosadas e o sono tranquilo que só os bebês parecem ter. Por um momento, o mundo pareceu parar. Peguei-a nos braços com cuidado, e aquele cheirinho de bebê me t
Capítulo 71 Maria Luíza Duarte Com Sofia no colo, acompanhei dona Olga em direção ao meu quarto. Ela caminhava devagar, apoiando-se levemente na parede, enquanto eu mantinha o passo ajustado ao dela. Esse silêncio profundo entre nós me incomoda, que pena a dona Olga não poder falar. Eu sentia que, de alguma forma, ela estava mais presente, mais conectada ao momento do que em qualquer outra ocasião. Quando chegamos, ajudei-a a sentar na poltrona próxima à janela. A luz suave do sol iluminava seu rosto pálido, e ela fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Era como se, por breves segundos, ela estivesse se reconectando com o mundo ao seu redor. Ajeitei Sofia no carrinho ao lado e me sentei diante de dona Olga, segurando uma caderneta e um lápis que peguei na cômoda. Meu coração batia acelerado. Precisava entender o que havia despertado nela aquele estado de alerta momentâneo no café da manhã. — Dona Olga, a senhora consegue escrever? — perguntei com cuidado,
Capítulo 72 Maria Luíza Duarte — Com quem você estava falando, Zaia? — perguntei, a voz dura, segurando o celular para que ela visse que eu sabia sobre a ligação interna. Ela ficou pálida, mas se levantou rapidamente, tentando parecer controlada. — Não é ninguém da conta de vocês. Me devolva isso agora! — respondeu alto, Ivete pegou a bandeja do café e acertou na testa dela, parecia zonza. Antes que ela pudesse avançar novamente, segurei seu braço, meu rosto estava queimando de raiva. — Não é da minha conta? Você estava falando de mim. Planejando "desaparecer" comigo! Quem está te ajudando aqui? Quem é ele? Porque eu ouvi, claramente. Zaia tentou se soltar, mas Ivete interveio novamente, bloqueando sua saída. — Não vai sair daqui sem responder, sua cobra! — disse Ivete, cruzando os braços. Zaia olhou de uma para a outra, o medo em seus olhos agora impossível de esconder. Ela tentou abrir a boca para responder, mas hesitou, claramente buscando uma saída. — Eu… não e
Capítulo 73 Maria Luíza Duarte Precisei virar o rosto ao ouvir o grito de Zaia com o sangue que escorreu onde Alexei cortou. Zaia tentou recuar, balançando a cabeça em negação, enquanto lágrimas escorriam pelo rosto e ela negava olhando pra mão, mas seu outro punho ainda permanecia preso. — Senhor, eu juro... eu não fiz nada! Eles estão inventando tudo isso! Só segui ordens do senhor Anton — ela implorou, parecia desesperada. O pai de Alexei cruzou os braços, um gesto que parecia mais ameaçador do que qualquer palavra. — Você acha que sou tolo, Zaia? Acha que não sei o que acontece sob o meu teto? — Ele se aproximou, a sombra dele cobrindo o rosto dela. — Você não percebeu, mas estava sendo observada o tempo todo. Agora sei que era você a dar calmantes para a Olga. Alexei me contou mais cedo dos resultados que Fred lhe trouxe, agora sabemos quem foi. — Não! Não sei de nada! — se desesperou. Alexei ergueu uma sobrancelha, surpreso com a declaração. — O
Capítulo 74 Maria Luíza Duarte Alexei estava inquieto. Movia-se pela sala como um leão enjaulado, cruzando os braços e descruzando, a testa franzida. Não conseguia disfarçar a tensão, mesmo tentando manter uma máscara de calma para o pai, Nazar e Zaia. Eu já o conhecia o suficiente para perceber que ele estava à beira de um colapso interno. — Alexei, vamos sair daqui um pouco — sugeri, tocando de leve em seu braço. Ele me olhou surpreso, como se tivesse esquecido que eu estava ali. Não era um convite, mas uma ordem disfarçada de gentileza. — Eu... — Ele hesitou, lançando um olhar para Nazar e seu pai, que conversavam em tons baixos. — Acho que não posso deixar... — Pode sim. Nazar sabe o que está fazendo. Pode terminar isso — interrompi, firme. — Você precisa respirar um pouco, ou não vai conseguir pensar direito. Ele finalmente cedeu, soltando um suspiro pesado e assentindo, seu pai ficou olhando, mas permaneceu na sala com Nazar e Fred. Deixamos o local,
Capítulo 75 Maria Luíza Duarte Com movimentos calmos, lavei cada parte dele, minhas mãos se moviam com precisão e cuidado. Não havia pressa, apenas um desejo genuíno de cuidar. Quando terminei, Alexei inclinou-se para mim, puxando-me para um abraço. A água ainda corria, mas ele não parecia se importar. Envolveu-me com força, como se precisasse daquele momento mais do que qualquer palavra poderia expressar. — Você é a única coisa que me mantém inteiro, Malu — murmurou contra meu cabelo, a voz rouca e carregada de emoção. Eu o apertei ainda mais, deixando que ele sentisse meu coração batendo forte contra o peito dele. Não precisei dizer nada. Ele sabia que eu estava ali, que sempre estaria. Ficamos assim por alguns minutos, em silêncio, apenas com o som da água preenchendo o espaço ao nosso redor. Senti a tensão dele diminuir pouco a pouco, os ombros antes rígidos, agora mais relaxados. Quando finalmente se afastou, apenas o suficiente para me olhar, havia
Capítulo 76Maria Luíza Duarte O olhar da minha sogra permanecia o mesmo, não consegui entender o que ela queria.— Você viu como ela está grande, dona Olga? Está cada vez mais parecida com o Alexei.Olga não respondeu, claro, mas seus olhos se fecharam por um breve momento, como se estivesse se esforçando para se conectar conosco.Ela mantinha sua expressão vaga, mas havia algo em seus olhos, uma sombra de emoção que eu não costumava ver. Ela passou os dedos mais uma vez pelo macacão de Sofia, e, em um gesto quase imperceptível, apertou minha mão com suavidade antes de soltar.Eu ajeitei Sofia no colo e sorri para a sogra, tentando parecer tranquila, embora meu coração estivesse batendo mais rápido do que deveria. Não abri o papel. Algo me dizia que aquele momento ainda não era o certo.— Ela sente sua falta, dona Olga — sussurrei, mantendo minha voz calma. — E eu também.Alexei ficou em silêncio ao meu lado, as mãos cruzadas nas costas, parecendo distante. Ele observava a mãe com u
Capítulo 77 Don Alexei kim Eu saí do quarto da minha mãe com a cabeça fervendo. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, mas eu precisava contar ao meu pai. Ele tinha que saber da morte de Anton. Mesmo que meu irmão não fosse o favorito de ninguém, mas era dele, sua morte era uma afronta. Alguém ousou desafiar a nossa família, e isso não ficaria impune. Caminhei rápido até o escritório, ignorando os olhares furtivos dos empregados pelo corredor. Nazar vinha atrás de mim, calado, mas atento. — Onde ele está? — perguntei, entrando no escritório sem cerimônia. Meu pai estava sentado atrás da mesa, folheando alguns documentos, mas ergueu os olhos na mesma hora. Ele percebeu no meu rosto que a notícia não seria boa. — O que aconteceu agora, Alexei? — ele perguntou, jogando os papéis de lado. — Anton está morto. — Minhas palavras foram diretas, quase como um soco no ar. Maxim se levantou abruptamente, os olhos arregalados. — O quê?! Como assim morto? Que