Capítulo 78 Don Alexei Kim Precisava me concentrar no que realmente importava: entender o que aconteceu com Anton. Saí do escritório com passos firmes, encontrando Nazar esperando no corredor. Ele parecia cansado, mas sua postura era implacável como sempre. — Vamos — disse, sem precisar de mais palavras. Descemos até o carro que já estava à nossa disposição. — Como encontraram o corpo? — perguntei, quebrando o silêncio enquanto ele dirigia pelas ruas escuras. — Uma denúncia anônima. Recebemos a localização junto com um aviso: ‘Vocês não são intocáveis.’ Minha mandíbula se contraiu. Era uma provocação clara, mas também uma assinatura de fraqueza. Quem fez isso não queria desaparecer nas sombras — queria ser notado. — Tem algo que precise saber sobre o local? — continuei. — É um galpão abandonado, na periferia da cidade. O lugar estava vazio, exceto pelo corpo. Mas foi tudo montado para enviar uma mensagem. Não foi um ataque aleatório. O silêncio
Capítulo 79 Don Alexei Kim Na manhã seguinte, uma pequena cerimônia foi realizada no cemitério da família. Não havia muitos membros importantes da organização além de Vladislav, meu primo Gregory que ficou bem pouco e precisou acompanhar a namorada no hospital. Os caras da ilha que vieram e ficaram bem pouco, acho que ainda têm receio por Malu ter ficado lá até que eu chegasse quando meu avião fez um pouso forçado. Meus tios (irmãos do meu pai), meus primos por parte de mãe (Areta e Nikolay), eu, meu pai, Maria Luíza, Anastasia que chegou de viagem, e alguns homens que carregavam o caixão em silêncio. O céu estava nublado, e o ar pesado parecia amplificar a tensão entre nós. Quando estávamos saindo, minha mãe, que nunca pronunciava uma palavra, gesticulou com insistência. Seus olhos, geralmente distantes, tinham um brilho diferente, quase uma súplica. — Ela quer ir — Malu disse suavemente, ao perceber o que eu ainda processava. Por um instante, hesitei. Levar minh
Capítulo 80 Maria Luíza Assim que desci do carro e coloquei os pés na entrada da casa, algo não parecia certo. O silêncio, que deveria ser acolhedor, tinha uma tensão estranha, pesada. Enquanto entrávamos, segurei mais firme Sofia nos braços e fiquei mais atenta. Vi que Nazar também empunhou a arma. A porta do porão, que sempre ficava trancada, estava entreaberta. Meu coração disparou, e minha mente rapidamente entrou em alerta. Era ali que estava Zaia. — Tem alguém na casa, senhora... — Nazar falou o que eu já suspeitava. — Neide, pega a Sofia e sobe com ela para o meu quarto. Fica lá e tranca a porta. Não abre pra ninguém além de mim ou do Alexei — instruí com firmeza, entregando a ela uma arma que eu tinha guardado no cinto. — Cuida da dona Olga também, tá? Não deixa ninguém se aproximar. — Tá bom, Malu — ela respondeu, segurando Sofia nos braços e já subindo as escadas apressada, com Olga seguindo logo atrás. Vi seu olhar pra mim e pra arma, acho que reconhe
Capítulo 81 Maria Luíza Duarte O corpo de Zaia estava jogado no chão, metralhado, como se fosse um aviso. Reconheci o rosto dela, mesmo desfigurado, e uma mistura de raiva e alívio percorreu meu corpo. Ela tinha sido uma traidora, afinal. Toda a confiança que depositamos nela havia sido quebrada, e agora seu fim não parecia mais que uma consequência inevitável. Alexei olhava para o corpo com os olhos semicerrados, sua postura rígida como pedra, estava analisando. Nazar se aproximou, limpando o sangue de um corte no rosto. — O que fazemos com isso? — perguntou Nazar, com um desprezo claro na voz enquanto apontava para o corpo. Alexei suspirou, o olhar frio. — Sumam com ela. Queime o corpo. Ela não merece mais nada. Nazar apenas assentiu. Sem questionar, ele arrastou o corpo para longe, como se fosse apenas uma tarefa qualquer. Eu sabia que ele se certificaria de que nenhum rastro dela restasse. Fred, que até então permanecia em silêncio, cruzou os braços, ob
Capítulo 82Don Alexei KimO escritório estava imerso em um silêncio absoluto. Fechei a porta com força, trancando-a atrás de mim. Nazar e Fred estavam ali, me encarando em espectativa.Encostei-me à mesa, cruzando os braços.— Temos um problema — comecei, o tom firme. — Zaia não agiu sozinha. Ela tinha apoio externo, e não sabemos até onde isso chegou. — Coloquei o anel sobre a mesa — Isso estava na cena do crime do Anton. Com certeza foi a mesma pessoa que matou Zaia.Nazar franziu o cenho, mexendo no anel de prata em seu dedo.— Está pensando em algum nome?Balancei a cabeça.— Não é sobre um nome. É sobre o sistema. Zaia teve acesso a informações que ela nunca deveria ter visto. Isso significa que alguém, ou alguma coisa, dentro do nosso círculo, está quebrando nossas defesas. Mexendo em imagens sigilosas.Fred, que estava quieto até então, falou, ajustando os óculos.— Você acha que ela manipulou as câmeras ou foi ajudada?— Não acho, Fred. Tenho certeza — respondi. — E vou garan
Capítulo 83 Maria Luíza Duarte Depois de todo o tumulto com Alexei, Maxim e Anastasia, decidi que precisava de um momento para relaxar. Ivete, veio comigo para ficarmos com a Dona Olga. Eu estava preocupada com o comportamento retraído e melancólico que ela vinha demonstrando ultimamente. Quando entramos no quarto, Olga estava sentada na poltrona perto da janela, o olhar perdido no horizonte novamente. Ela parecia mais abatida do que nunca, como se o peso do mundo repousasse sobre seus ombros. — Dona Olga, viemos lhe fazer companhia — anunciei com delicadeza. Ela virou o rosto lentamente. Não se moveu, como antes, mas seus olhos pareciam buscar algo em mim. O brilho neles estava apagado, e a tristeza era notória. — Que tal dar uma volta no jardim, Olga? — sugeri. — Está um dia bonito, e o ar fresco pode lhe fazer bem. Ela hesitou, mas acabou concordando com um pequeno aceno. Com a ajuda de Ivete, levei-a para o jardim, onde as flores pareciam competir entre si
Capítulo 84 Maria Luíza Duarte Depois de toda a confusão, levei minha sogra de volta para o quarto. Alexei estava ocupado lidando com o médico, com o pai, e Anastasia, que provavelmente exausta com tudo, decidiu se recolher. Aproveitei a solidão para tentar entender o que havia acontecido. Algo me dizia que Olga tinha as respostas, mesmo que sua forma de comunicar fosse limitada. Coloquei-a cuidadosamente na cama e ajeitei os travesseiros atrás dela. Seu olhar ainda estava perdido, mas havia algo mais ali agora: medo. Sentei ao seu lado, segurando sua mão, tentando transmitir calma. — Dona Olga, eu sei que está difícil... mas eu preciso que confie em mim — comecei, tentando manter a voz firme e tranquilizadora. — O que aconteceu hoje? Quem era aquela mulher? Por que a senhora e o Maxim reagiram daquela forma? Ela me olhou profundamente, como se estivesse avaliando minha sinceridade. Por um momento, pensei que ela fosse recuar, mas então apontou para o criado-mudo. Peg
Capítulo 85 Maria Luíza Duarte Nazar dirigia em silêncio, o clima tenso no carro refletindo a tormenta de pensamentos na minha cabeça. Ainda segurava os bilhetes escritos por Dona Olga, dobrados com cuidado no bolso do casaco. A revelação que ela havia feito pesava em minhas mãos como um segredo complicado demais para ser ignorado. Ao chegarmos ao hospital, Nazar parou o carro na entrada e abriu a porta para mim. — Vou levar a senhora até o Don. Ele está com o senhor Maxim. — Sua voz era firme, mas havia um traço de preocupação em seu tom. Assenti e o segui pelos corredores iluminados do hospital com uns oito soldados ao meu redor. Ao nos aproximarmos da sala onde Alexei estava, Nazar fez um sinal para que eu esperasse. — Vou ficar aqui com o senhor Maxim. Pode seguir. Ele está te esperando na próxima sala, eu já o avisei. Parei por um instante para recuperar o fôlego antes de abrir a porta. Alexei estava de pé, com a expressão fechada, olhando pela janela. E