- Sim – peguei a gargantilha e pus os cabelos dela para o lado, fechando em seu pescoço – Embora já tenha encontrado sua mãe, sei que havia um apego emocional à joia – olhei para Dodô, que estava junto de Élida e Rael – Me desculpe por não ter encontrado antes.
Ela me abraçou com força e depois me beijou, daquele jeito que me fazia apaixonar-me por ela mais uma vez.
- Já fez seu pedido? – Perguntei-lhe.
- Não... Eu não tenho o que pedir, David. Tenho tudo que quero e preciso. – Me olhou com carinho.
- Também não tenho nada a pedir. – Confessei.
Maria Eduarda me puxou pela gola da camisa e disse num fio de voz:
- Transe comigo...
- Aqui? – Olhei para os lados, confuso, percebendo todos próximos.
- Com a sua língua... Na minha boca... – Ofegou.
Sorri e enfiei m
Eu ouvia um som contínuo, que parecia dentro do meu cérebro. Queria abrir os olhos, mas não conseguia. Minhas pálpebras tinham dificuldade de se movimentarem. Num grande esforço, consegui enfim abrir os olhos. A claridade me perturbou.Várias pessoas correram na minha direção, falando coisas que eu não conseguia entender. Todos usavam roupas azuis e seus cabelos estavam cobertos por toucas do mesmo tecido.- Chamem a doutora Adams... A encontrem, onde quer que esteja. – Uma mulher ordenou.Comecei a me remexer e percebi que haviam várias espécies de fios conectados ao meu corpo, que me impediam de movimentar-me.Tentei identificar onde estava, mas minha mente permanecia estranha... E eu não conseguia conectar os pensamentos direito.- Batimentos normais... Pressão normalizada. – Ouvi uma das mulheres ao meu lado falando enquanto observava as máquinas que brilhavam e faziam sons estridentes que era como se vivessem dentro do meu cérebro.Consegui movimentar a cabeça para o lado e ident
Eu tinha tantas perguntas, mas nenhuma resposta.- Eu... Vou tentar lhe explicar o que houve... – ela pareceu hesitante – Mas quero que se mantenha calma, ok?- Ok... – Senti o coração acelerar, amedrontada por ter acontecido algo com Andress.- Você chegou aqui no hospital vítima de um afogamento.- Afogamento? – Respirei fundo, sentindo o corpo estremecer levemente – Eu... Não sei nadar.A doutora foi até um armário de duas portas que havia num canto e retirou de lá um pequeno plástico com algo dentro. Entregou-me e observei a aliança, retirando-a enquanto tocava o metal dourado e largo. Dentro estava escrito o meu nome: “Maria Eduarda Montez Deocca”. Pus no dedo e era muito larga para se minha. Certamente era de Andress.- Quando chegou ao hospital, estava em estado de hipóxia, com severa redução de oxigênio no cérebro. Encontramos esta aliança dentro da sua mão, que estava fechada.- Por que... Não entregaram para Andress?- Porque Andress só veio naquele dia que você deu entrada
- O senhor Alexis Hauser foi interditado pela família e se encontra numa clínica de repouso. Ao menos... Foi o que li no jornal há um tempo atrás.- Como assim? – Fiquei atordoada.- Talvez seja muita informação para pouco tempo, Maria Eduarda.- Eu sou a família dele. Meu avô só tem a mim. Como assim “alguém” o interditou? E se realmente foi feito, não foi pela “família”.- Irei intervir na ligação para seu marido.- Acha que consegue? – Fiquei esperançosa.- Falarei diretamente com a diretora do hospital. Tenho uma boa relação com ela.- Obrigada, doutora Verbena... Muito obrigada. Sei que tenho uma grande dívida com a senhora. E prometo que pagarei cada centavo. Não sei o que está acontecendo, mas garanto que minha família tem posses e...- Não quero seu dinheiro, Maria Eduarda. Sinceramente, tenho o bastante e o que paguei para que ficasse internada aqui não me fará falta alguma.- Desculpe... Se a ofendi.Ela respirou fundo e voltou ao semblante tranquilo:- Está tudo bem. Assim
Parecia que ter sido ontem que aquilo tudo aconteceu. Eu sorri, sozinha, observando para fora do automóvel. Sabia que aos poucos iria lembrando de tudo.Cerca de quarenta minutos depois estávamos entrando na propriedade onde ficava a mansão Deocca, dentro de um dos mais conceituados condomínios de luxo de Noriah Norte.A casa ficava cercada de um gramado gigantesco. Não muito grande em extensão, mas extremamente luxuosa, tinha praticamente 50% vidro na sua composição, o que fazia com que durante o dia houvesse muita luz natural e à noite proporcionava uma bela visão da lua e das estrelas. Ri ao lembrar do quanto eu tinha medo de temporais e pedia a Andress que cobrisse as vidraças do quarto para evitar os relâmpagos que pareciam tomar conta do ambiente em tempestades.Andress sempre dizia que era desnecessário, que bastava eu abraçá-lo que tudo ficaria bem. Então eu me obrigava a ficar em seus braços enquanto ele alisava meus cabelos até o tempo ruim passar.O primeiro andar abrigava
Agora eu entendia porque Andress não foi me ver. E também porque Mabel não quis saber notícias. Ou mesmo meu avô. Tudo estava ficando muito claro. Parecia ser um plano... Para tirar todos do caminho.Mas... Com qual objetivo?Desci as escadas imediatamente, sentindo nojo, vergonha, raiva de mim mesma por não ter visto o que esteve na minha frente o tempo inteiro.Fernanda ainda no mesmo lugar, me esperando.- Senhora... Eu... Sinto muito.- Quanto tempo faz que Mabel saiu desta casa? – Perguntei seriamente enquanto limpava as lágrimas.- Sete meses.- E quando Ashley tomou meu lugar?- Algumas... Semanas... Depois que a senhora entrou em coma.- Quantas semanas exatamente?Fernanda abaixou o olhar, temerosa.- Por favor, Fernanda. Eu preciso saber.- Uma semana, senhora.- Preciso de um favor. – Pedi.- Qualquer coisa, senhora.- Não conte a Andress que estive aqui, por favor.- Não contarei.- Ashley está morando aqui?- Ela... Trouxe algumas coisas. E passa a maior parte do tempo ne
- Eu sempre amarei você, mamãe.Ela tocou a ponta do meu nariz com o dedo e sorriu:- Quem tem o nariz mais lindo do mundo?- Eu... – Sorri.- E os olhos?- Eu...- E... A barriga? – Me fez cócegas.- Eu... – Gargalhei.Todos os dias ela fazia aquilo comigo antes de dormir. E eu não conseguia adormecer sem que minha mãe fizesse as cócegas e aquela brincadeira que conheci desde sempre.- Só seja você, Maria. E sei que isto será o suficiente para tocar o coração de seu avô.Mordi o lábio, devastada pelo que sabia que estava acontecendo. Sim, por mais que ela sempre tivesse me preparado para aquele momento, não sabia que doeria tanto.Mamãe me abraçou com força e naquele momento eu soube que era chegada a hora de dizer adeus, o momento ensaiado ao longo dos meus nove anos.- Amo você, Maria. E sempre amarei. Que Deus sempre esteja com você. – Deu-me um beijo na ponta do nariz.Em seguida minha mãe levantou-se e tocou a campainha.- Pois não? – Ouvi a voz vinda de além, parecendo sair de
A porta atrás de mim se fechou e senti o coração acelerar e as pernas tremerem. Tinha uma sala grande ali, com tantos sofás estranhos que fiquei em dúvida novamente se aquele lugar era mesmo uma casa.A mulher me pegou pela mão, levando-me pelo meio dos sofás, até que eu chegasse nas três pessoas sentadas.— Eis a garota, senhor Hauser. — Largou minha mão, deixando-me no centro do tapete felpudo, sob o olhar inquisidor deles.Ficamos todos nos olhando um tempo, sem dizermos nada. Eu ainda segurava minha sacola branca nas mãos e aos poucos fui ficando envergonhada e escondendo minhas coisas para trás do corpo. Observei meus pés sujos no tapete bege claro e comparei meu par de sapatos gastos com os da menina que parecia ter quase a mesma idade que eu, usando sapatilhas pretas com ponteiras douradas e um pequeno saltinho.Sorri, ao lembrar do quanto pedia para minha mãe comprar sapatos iguais aos daquela menina. A meia calça branca que ela usava era impecável e sem um fio puxado, diferen
Andei vagarosamente até a minha suposta tia e peguei suas mãos, de forma carinhosa. Ela ficou confusa. Aproximei-me e cuspi para o alto, pegando na sua cara.A mulher tentou me dar uma bofetada, mas foi contida por uma mão que apareceu por trás dela:— Não se atreva a encostar um dedo na menina!Olhei para a mulher que saiu de trás de tia Maya. Não era muito alta, tinha a pele clara e o rosto redondo com belos olhos claros e cabelos pretos e lisos. Era bonita e cheirava bem.Ela aproximou-se a abaixou-se levemente, ficando na minha altura:— Olá! Eu sou Mabel. Tudo bem?Assenti, dando um passo para trás, amedrontada.A mulher limpou minha lágrima e disse com voz doce:— Vai ficar tudo bem.— Esta é Maria Eduarda, Mabel. É a filha de Rob, da qual lhe falei — Alexis explicou.— Sua neta. — Mabel olhou para o homem.— Sim, minha neta — confirmou.— Mabel, não me diga que concorda com esta palhaçada toda! — Maya disse furiosa.— Não é sobre concordar, Maya. A menina tem direitos. Ela pert