O Shopping era um lugar gigantesco, cheio de lojas e pessoas que pareciam andar em círculos, pois eu as via a cada esquina que dobrávamos. Haviam plantas vivas em vasos sem receber a luz do sol direta. E entendi o motivo pelo qual eu nunca tinha ido num lugar daqueles... Porque não tínhamos dinheiro. E sem dinheiro, não havia o que fazer naquele lugar, já que tudo estava à venda.Acontece que Mabel tinha muito dinheiro. E fomos entrando em todas as lojas que ela via roupas de crianças. E ela me deixava escolher qualquer coisa. Eu teria escolhido somente um vestido e uma sapatilha de ponteiras douradas. Mas ela não concordou e acabou levando tantas coisas que precisou dois homens para ajudar a levar.Eu estava já cansada de provar roupas e calçados quando Mabel sugeriu:— O que acham de comermos alguma coisa?— Eu acho ótimo! Fazer compras é chato — Andress disse, com cara de poucos amigos. — Muito chato.Eu ri. Também achei aquilo chato.— Concorda com ele, Maria Eduarda? — Mabel quis
Eu continuava mastigando a pasta doce que não se dissolvia na minha boca. Não aguentando mais, virei para o lado e vomitei no chão, chamando a atenção de todos.Quando levantei os olhos, já com a boca vazia, Mabel correu até mim, pegando guardanapos e limpando-me, apavorada. Mas eu só tinha olhos para o garoto que não piscava na minha direção, com o copo de refrigerante na mão, sem mover-se do lugar, espantado. Desde que eu pus os olhos em Andress Montez Deocca, sabia que não estaria mais sozinha.Observei o rosto atraente e marcante de Andress. Os olhos azuis intensos estavam fixos no trânsito enquanto ele gesticulava com uma das mãos, usando a outra ao volante. Seus cabelos estavam bem penteados e com tanto gel que o vento vindo de fora não o bagunçava. Ele já não era mais aquele menino de 12 anos que me pediu em casamento. Éramos adultos.Eu chorava copiosamente:— Não pode fazer isso comigo, Andress!— Duda, é o melhor... Para nós dois.— Eu amo você, Andress... — Limpei as lágrim
POV DavidReceber a notícia da morte de meu pai me abalou profundamente. E mexeu com o meio empresarial, já que Declan Dulevsky era mundialmente conhecido por ser o CEO da D.D., a empresa mais desejada pelos que decretavam falência e ao mesmo tempo a que as grandes marcas mais queriam distância. Isso porque o que fazíamos era “ajudar” financeiramente empresas que tinham grande potencial, mas estavam sob má administração, quase entrando em colapso.Nosso trabalho, mais precisamente, era comprar mais da metade das ações (dependendo da empresa, se tinha grande potencial, até 75%). Dessa forma nos tornávamos sócios majoritários e com poder de decisão em qualquer situação. A injeção financeira reerguia os negócios e passávamos não só a lucrar, como também sermos os detentores do poder de decisão da empresa. Éramos temidos no meio empresarial, pois sempre que nos interessávamos por alguma empresa, sendo alertado pela mídia, automaticamente ela já era taxada de falida, mesmo antes de acontec
— Odiar é uma palavra bem forte, não acha?— Você a ama?Pensei antes de responder:— Não.— E não a odeia?— Eu... Não sei, sinceramente. Afinal, faz uns bons anos que não a vemos, não é mesmo?— E isso não faz com que a odeie?— Élida, meu amor... Acha mesmo que é hora de falarmos disto? Vamos deixar esta conversa sobre a senhora Ágatha Dulevsky para uma outra hora.- Uma outra hora seria quando, David? Faz tanto tempo que não nos falamos!— Você quer dizer que não nos falamos pessoalmente, não é mesmo? Porque a gente se fala por mensagem e chamada de vídeo de forma frequente.— Você nem responde minhas mensagens! — Bufou, se afastando completamente de mim e deitando-se novamente na cama.— Respondo quando tenho tempo. Mas eu trabalho, esqueceu?— Trabalha à noite?— Sim, tenho reuniões à noite às vezes.— Prefere as piranhas com as quais sai do que eu — reclamou.— “Piranhas”? Onde aprendeu isto, mocinha?Ela riu:— Vai dizer que não sabe que as mulheres com as quais sai são piranh
— Orlando, esta mulher não participará do funeral do meu pai. Faça o que for preciso, mas ela não ficará no mesmo ambiente que eu e minha irmã, tampouco chegará perto do corpo sem vida do meu pai — ordenei de forma discreta.Orlando nunca me decepcionava. Conseguia fazer qualquer coisa que eu pedisse, sem me incomodar com nada.Enquanto eu passava os olhos rapidamente nas pessoas presentes, já começando a ficar inquieto e mesmo no lugar arejado e fresco, sentindo um leve suor tomando conta da minha testa, uma mulher loira me chamou a atenção. Nossos olhos se cruzaram de imediato e ela sorriu.— Quem é aquela? — perguntei à Dodô.— Laura Chevalier. Sobrinha de Magnus e Katrina Chevalier.— Preciso do número do telefone dela.— Alguma coisa importante, senhor David? — Dodô pareceu preocupada.— Não, nada importante! É só uma piranha para ele passar a noite. — Élida riu.— Agora entendo porque alguns pais dizem que irão passar sabão na boca das crianças. — Olhei-a de forma repreensiva.—
O fato de Dodô aceitar ir conosco me deixou bem mais tranquilo. Eu jamais saberia lidar com minha irmã sozinho. Na verdade, nem sabia como meu pai conseguiu por tanto tempo.Mas Élida tinha razão quando mencionou que nossa mãe faria de tudo para pegar mais dinheiro agora que meu pai estava morto. E o principal meio seria se aproximar de nós, especialmente de minha irmã, já que era adolescente e Ágatha devia pensar que precisava dela.Tomei um longo banho, bebi uma dose de uísque e liguei para a tal Laura Chevalier. Embora eu tivesse nascido em Noriah Sul e soubesse da história dos Chevalier, desde a época da rainha doida, mãe dos príncipes que transformaram a monarquia em República, fazia uns bons anos que só vinha ao país como visita. Assim que a monarquia chegou ao fim transformamos Noriah Norte em nossa sede principal. Em um ano o país Norte se transformou em uma grande metrópole, reconhecida a nível mundial, com a pobreza extrema que a assolava dando lugar a grandes oportunidades
— Irei ajudá-la, Maria Eduarda. — Verbena sentou-se ao meu lado, pegando minha mão de forma carinhosa.— Não posso ficar aqui. A gente... Mal se conhece. Mas não sei se ainda tenho um celular... Não tenho meus pertences pessoais... Sequer sei se Andress guardou alguma coisa minha ou se livrou de tudo pensando que eu iria morrer.— Infelizmente creio que ele tenha feito isto, Maria Eduarda. — Ela apertou a minha mão e suspirou. — No hospital todos comentavam o fato de ninguém a procurar. Parece que os negócios do seu marido não vão muito bem, já que ele sequer tinha dinheiro para pagar sua estadia no hospital.— Andress Montez Deocca é um homem rico, dono de uma das maiores empresas de cosméticos do país.— As notícias dos últimos meses indicavam que os negócios dele não iam muito bem... Assim como os do seu avô.— Desde que meu avô começou a ficar doente os lucros da empresa Hauser diminuíram drasticamente. Infelizmente ninguém sabia tocar os negócios a não ser ele. Minha tia Maya mud
— Na verdade é bem difícil de encontrá-lo. O que é estranho, não é mesmo? Afinal a fragrância é nacional.— Andress nunca quis investir muito nos perfumes. Por isso só me deixou criar um. E... Eu tinha tantas ideias para novas fragrâncias... — Lembrei com um sorriso.— Ele tinha uma esposa perfumista e não quis investir em perfumes? Sinceramente, cremes hidratantes e xampus são muito comuns e é raro quem se importa muito com fragrâncias diferenciadas para eles. Mas perfumes... Bem, são perfumes! Se são bons, as pessoas não costumam se preocupar em pagar um pouco mais caro. Costumam ser fiéis aos aromas que gostam. Eu, por exemplo, sou. Embora use somente sabonete por conta do trabalho, sempre que não estou no hospital, uso e abuso do Lebam.— Eu fico feliz em saber que gosta da fragrância que criei. O Lebam foi iniciado na minha faculdade. Cheguei a finalizá-lo na época do estágio. Porém quando tive a oportunidade de trabalhar na Montez Deocca aperfeiçoei a fórmula e dei como concluíd