— Na verdade é bem difícil de encontrá-lo. O que é estranho, não é mesmo? Afinal a fragrância é nacional.— Andress nunca quis investir muito nos perfumes. Por isso só me deixou criar um. E... Eu tinha tantas ideias para novas fragrâncias... — Lembrei com um sorriso.— Ele tinha uma esposa perfumista e não quis investir em perfumes? Sinceramente, cremes hidratantes e xampus são muito comuns e é raro quem se importa muito com fragrâncias diferenciadas para eles. Mas perfumes... Bem, são perfumes! Se são bons, as pessoas não costumam se preocupar em pagar um pouco mais caro. Costumam ser fiéis aos aromas que gostam. Eu, por exemplo, sou. Embora use somente sabonete por conta do trabalho, sempre que não estou no hospital, uso e abuso do Lebam.— Eu fico feliz em saber que gosta da fragrância que criei. O Lebam foi iniciado na minha faculdade. Cheguei a finalizá-lo na época do estágio. Porém quando tive a oportunidade de trabalhar na Montez Deocca aperfeiçoei a fórmula e dei como concluíd
— Meu Deus... Duda? — Andress falou com a voz por um fio, empurrando Ashley de seu colo, fazendo com que ela quase caísse.Limpei as lágrimas mornas que escorriam pelas minhas bochechas:— Por que, Andress? — Aquela era minha única pergunta.— Eu posso explicar, Duda... — Ashley parou na minha frente.Olhei para minha amiga e fiquei a imaginar se ela sempre teve aquela cara de cínica. Ashley Rocha era uma mulher bonita e sempre fez sucesso entre os homens. Tinha 1,70 metros, morena clara, cabelos compridos e levemente ondulados, olhos castanhos e sorriso cativante. Sempre foi falante e simpática. E quando nos conhecemos eu já namorava Andress.— Há quanto tempo vocês me traem? — questionei, tentando não demonstrar o quanto aquilo me doía.Ela olhou para Andress, que disse:— Eu vou lhe explicar tudo, Duda.— Quanto tempo? Eu preciso saber — implorei.— Isso... Foi agora! — Ela segurou meus braços. — Juro que foi agora... Uma atração física... Simplesmente não conseguimos nos conter.E
— E era por Ashley?— Não, Duda. Era por nós.— O que eu fiz? — Minha voz mal saiu de tanto que eu chorava.— Nada, meu amor... — Ele tentou me abraçar novamente, mas fui forte e dei um passo para trás, não aceitando que me dispensasse e ao mesmo tempo me acalentasse.— Se eu não fiz nada... Por que queria me deixar, Andress?— Duda, nosso relacionamento virou amizade. Somos jovens... Merecemos mais do que isso.— Não... Não... — Balancei a cabeça, aturdida. — Eu amo você, Andress... E tenho certeza de que também me ama. Isso deve ser a tal crise que existe em todos os casamentos... – suspirei – Mas estou disposta a passar por cima da sua traição e omissão. – Fui enfática, limpando as lágrimas e tentando um sorriso.Andress sorriu sem jeito e alisou meu rosto:- Não amo mais você, Duda. E talvez não lembre mais, mas cheguei a lhe dizer isso várias vezes antes do acidente.- Eu... Só lembro de coisas boas...- Nunca discutimos seriamente.- Então... Por quê? – Eu ainda não conseguia en
- Não sou um monstro, Duda! Estou sendo objetivo, só isto.- Foi Ashley que botou todas estas coisas horríveis na sua cabeça?- Ashley não sabe do real estado financeiro da Montez Deocca.- Talvez quando ela saiba o deixe. E você chorará no ombro de quem quando isto acontecer, Andress?- No seu? – Riu com deboche.- Não sei se até lá meu ombro ainda estará disponível para você. Mas o de sua mãe estará... Mabel o ama e sempre o acolherá. Aliás, nós duas o amamos. E juro que farei tudo que for possível para arrancá-lo de dentro de mim, custe o que custar.- Porra, Duda! – ele gritou – Não tem amor a si mesma? Eu não tocava em você há meses antes do acidente... Sequer ficava duro ao seu toque... Como pode implorar tanto por afeto?No mesmo instante veio um flash na minha cabeça, de um momento de intimidade, em que nós dois dividíamos a cama.Virei-me para o lado de Andress e passei a mão pelo seu peito, chegando ao seu pau. - Estou cansado, Duda. – Ele suspirou.- Pode ficar aí paradinh
Vivi a vida em prol de um homem. E ele tinha razão: Onde estava meu amor próprio?Levantei, atordoada, cansada, decepcionada, anojada. Mas não mais triste. Deixei aquilo tudo acontecer. Porque minha mãe sempre mandou eu ser o que os outros queriam e não o que eu queria ser. E no fim o que ela fez? Me abandonou! Foi embora sem nunca dar notícias. Se passaram 16 anos e Maria Dolores nunca mais tentou saber de mim.Cheguei a ir à nossa antiga casa na periferia. Mas já havia muito tempo que ela havia partido. E os vizinhos haviam explicado que minha avó já tinha morrido faziam muitos anos.Eu tive amor por todo mundo, menos por mim mesma. Fiquei dependente de Andress simplesmente porque ele sorriu-me e pegou minha mão quando eu precisava. Aquele pedido de casamento no shopping havia sido só uma brincadeira de criança.Andress tinha razão... Talvez nunca houve amor de fato. Tampouco paixão. Simplesmente transformamos nossa amizade num casamento porque era propício e conveniente, já que meu
Parei de novo no apartamento de Verbena. Expliquei-lhe detalhadamente tudo que havia acontecido e que por hora eu só tinha aquele lugar para ficar. Mas que assim que vendesse o carro, procuraria uma moradia.Embora ela quisesse que eu ficasse por ali, eu sabia que não podia. Mal conhecia aquela mulher... No entanto graças a ela estava viva. E não só por ter sido a minha médica, mas também por ter pago minha estadia no hospital e me acolhido quando eu não tinha mais ninguém.Pedi o celular de Verbena emprestado e liguei para tia Maya.- Tia Maya, sou eu, Duda.Houve um breve silêncio antes que ela dissesse:- Ah, sim, minha sobrinha bastarda. Achei que estivesse morta. Como posso ter certeza de que é você mesma que está falando? Afinal, este não é o seu número.- Não estou morta, tia. E quero o endereço do lugar para onde mandou meu avô.Ouvi a risada cínica dela do outro lado da linha:- Ah, sim... Eu quase havia esquecido que a sobrinha bastarda era bondosa... Ou ao menos sempre fing
- Por que você veio, Rob? Não estava morto? – Não demonstrou nenhum tipo de sentimento.Senti as lágrimas escorrerem mornas pelas minhas bochechas, não conseguindo contê-las:- Sou a filha de Rob, vô. Duda... Sua neta. Eu sofri um acidente e estive em coma por muito tempo. Mas estou aqui agora...Verbena pegou minha mão e fez levantar:- Não adianta você lhe dizer qualquer coisa. Ele a olha mas vê o tal Rob.- Rob... É o meu pai... Que eu sequer conheci. – Limpei as lágrimas.- Não chore, Rob... Deixe de ser fraco, seu imbecil! – Alterou a voz.Dei um passo para trás, assustada. Nunca vi meu vô falar aquelas coisas para ninguém. O Alexis Hauser que eu conhecia não faria mal nem à uma mosca.- O que... Fizeram com ele? – Olhei para Verbena, preocupada.Ela apertou minha mão de forma carinhosa:- Certamente seu avô está com Alzheimer. A pessoa portadora da doença pode ter dificuldades em lembrar-se de coisas ou pessoas. Problemas com a linguagem e com a fala também podem se desenvolver
Olhei-me no espelho pela milésima vez. Eu tinha aquele vestido vermelho vivo há anos e nunca havia usado. Era de uma marca conceituada, porém muito simples para um grande evento e chamativo demais para uso no dia a dia. Era tomara que caia com o busto liso e justo e a parte da saia era com grande quantidade de tecido igual a parte superior, porém com um belo caimento e fazendo volume, mesmo que longa. Optei por sandálias douradas de salto fino e sem acessórios, já que achei que o modelo expunha demais a parte dos meus seios.Amarrei meus cabelos num rabo de cavalo baixo, de forma a acentuar meu pescoço longo. Sempre que me perguntavam a parte do meu corpo que mais gostava eu dizia ser os olhos porque tinha vergonha de assumir que amava meu pescoço.Quem em são consciência gostava do próprio pescoço? Eu!Toquei o colo, sentindo falta do meu cordão com dois coraç