— Orlando, esta mulher não participará do funeral do meu pai. Faça o que for preciso, mas ela não ficará no mesmo ambiente que eu e minha irmã, tampouco chegará perto do corpo sem vida do meu pai — ordenei de forma discreta.Orlando nunca me decepcionava. Conseguia fazer qualquer coisa que eu pedisse, sem me incomodar com nada.Enquanto eu passava os olhos rapidamente nas pessoas presentes, já começando a ficar inquieto e mesmo no lugar arejado e fresco, sentindo um leve suor tomando conta da minha testa, uma mulher loira me chamou a atenção. Nossos olhos se cruzaram de imediato e ela sorriu.— Quem é aquela? — perguntei à Dodô.— Laura Chevalier. Sobrinha de Magnus e Katrina Chevalier.— Preciso do número do telefone dela.— Alguma coisa importante, senhor David? — Dodô pareceu preocupada.— Não, nada importante! É só uma piranha para ele passar a noite. — Élida riu.— Agora entendo porque alguns pais dizem que irão passar sabão na boca das crianças. — Olhei-a de forma repreensiva.—
O fato de Dodô aceitar ir conosco me deixou bem mais tranquilo. Eu jamais saberia lidar com minha irmã sozinho. Na verdade, nem sabia como meu pai conseguiu por tanto tempo.Mas Élida tinha razão quando mencionou que nossa mãe faria de tudo para pegar mais dinheiro agora que meu pai estava morto. E o principal meio seria se aproximar de nós, especialmente de minha irmã, já que era adolescente e Ágatha devia pensar que precisava dela.Tomei um longo banho, bebi uma dose de uísque e liguei para a tal Laura Chevalier. Embora eu tivesse nascido em Noriah Sul e soubesse da história dos Chevalier, desde a época da rainha doida, mãe dos príncipes que transformaram a monarquia em República, fazia uns bons anos que só vinha ao país como visita. Assim que a monarquia chegou ao fim transformamos Noriah Norte em nossa sede principal. Em um ano o país Norte se transformou em uma grande metrópole, reconhecida a nível mundial, com a pobreza extrema que a assolava dando lugar a grandes oportunidades
— Irei ajudá-la, Maria Eduarda. — Verbena sentou-se ao meu lado, pegando minha mão de forma carinhosa.— Não posso ficar aqui. A gente... Mal se conhece. Mas não sei se ainda tenho um celular... Não tenho meus pertences pessoais... Sequer sei se Andress guardou alguma coisa minha ou se livrou de tudo pensando que eu iria morrer.— Infelizmente creio que ele tenha feito isto, Maria Eduarda. — Ela apertou a minha mão e suspirou. — No hospital todos comentavam o fato de ninguém a procurar. Parece que os negócios do seu marido não vão muito bem, já que ele sequer tinha dinheiro para pagar sua estadia no hospital.— Andress Montez Deocca é um homem rico, dono de uma das maiores empresas de cosméticos do país.— As notícias dos últimos meses indicavam que os negócios dele não iam muito bem... Assim como os do seu avô.— Desde que meu avô começou a ficar doente os lucros da empresa Hauser diminuíram drasticamente. Infelizmente ninguém sabia tocar os negócios a não ser ele. Minha tia Maya mud
— Na verdade é bem difícil de encontrá-lo. O que é estranho, não é mesmo? Afinal a fragrância é nacional.— Andress nunca quis investir muito nos perfumes. Por isso só me deixou criar um. E... Eu tinha tantas ideias para novas fragrâncias... — Lembrei com um sorriso.— Ele tinha uma esposa perfumista e não quis investir em perfumes? Sinceramente, cremes hidratantes e xampus são muito comuns e é raro quem se importa muito com fragrâncias diferenciadas para eles. Mas perfumes... Bem, são perfumes! Se são bons, as pessoas não costumam se preocupar em pagar um pouco mais caro. Costumam ser fiéis aos aromas que gostam. Eu, por exemplo, sou. Embora use somente sabonete por conta do trabalho, sempre que não estou no hospital, uso e abuso do Lebam.— Eu fico feliz em saber que gosta da fragrância que criei. O Lebam foi iniciado na minha faculdade. Cheguei a finalizá-lo na época do estágio. Porém quando tive a oportunidade de trabalhar na Montez Deocca aperfeiçoei a fórmula e dei como concluíd
— Meu Deus... Duda? — Andress falou com a voz por um fio, empurrando Ashley de seu colo, fazendo com que ela quase caísse.Limpei as lágrimas mornas que escorriam pelas minhas bochechas:— Por que, Andress? — Aquela era minha única pergunta.— Eu posso explicar, Duda... — Ashley parou na minha frente.Olhei para minha amiga e fiquei a imaginar se ela sempre teve aquela cara de cínica. Ashley Rocha era uma mulher bonita e sempre fez sucesso entre os homens. Tinha 1,70 metros, morena clara, cabelos compridos e levemente ondulados, olhos castanhos e sorriso cativante. Sempre foi falante e simpática. E quando nos conhecemos eu já namorava Andress.— Há quanto tempo vocês me traem? — questionei, tentando não demonstrar o quanto aquilo me doía.Ela olhou para Andress, que disse:— Eu vou lhe explicar tudo, Duda.— Quanto tempo? Eu preciso saber — implorei.— Isso... Foi agora! — Ela segurou meus braços. — Juro que foi agora... Uma atração física... Simplesmente não conseguimos nos conter.E
— E era por Ashley?— Não, Duda. Era por nós.— O que eu fiz? — Minha voz mal saiu de tanto que eu chorava.— Nada, meu amor... — Ele tentou me abraçar novamente, mas fui forte e dei um passo para trás, não aceitando que me dispensasse e ao mesmo tempo me acalentasse.— Se eu não fiz nada... Por que queria me deixar, Andress?— Duda, nosso relacionamento virou amizade. Somos jovens... Merecemos mais do que isso.— Não... Não... — Balancei a cabeça, aturdida. — Eu amo você, Andress... E tenho certeza de que também me ama. Isso deve ser a tal crise que existe em todos os casamentos... – suspirei – Mas estou disposta a passar por cima da sua traição e omissão. – Fui enfática, limpando as lágrimas e tentando um sorriso.Andress sorriu sem jeito e alisou meu rosto:- Não amo mais você, Duda. E talvez não lembre mais, mas cheguei a lhe dizer isso várias vezes antes do acidente.- Eu... Só lembro de coisas boas...- Nunca discutimos seriamente.- Então... Por quê? – Eu ainda não conseguia en
- Não sou um monstro, Duda! Estou sendo objetivo, só isto.- Foi Ashley que botou todas estas coisas horríveis na sua cabeça?- Ashley não sabe do real estado financeiro da Montez Deocca.- Talvez quando ela saiba o deixe. E você chorará no ombro de quem quando isto acontecer, Andress?- No seu? – Riu com deboche.- Não sei se até lá meu ombro ainda estará disponível para você. Mas o de sua mãe estará... Mabel o ama e sempre o acolherá. Aliás, nós duas o amamos. E juro que farei tudo que for possível para arrancá-lo de dentro de mim, custe o que custar.- Porra, Duda! – ele gritou – Não tem amor a si mesma? Eu não tocava em você há meses antes do acidente... Sequer ficava duro ao seu toque... Como pode implorar tanto por afeto?No mesmo instante veio um flash na minha cabeça, de um momento de intimidade, em que nós dois dividíamos a cama.Virei-me para o lado de Andress e passei a mão pelo seu peito, chegando ao seu pau. - Estou cansado, Duda. – Ele suspirou.- Pode ficar aí paradinh
Vivi a vida em prol de um homem. E ele tinha razão: Onde estava meu amor próprio?Levantei, atordoada, cansada, decepcionada, anojada. Mas não mais triste. Deixei aquilo tudo acontecer. Porque minha mãe sempre mandou eu ser o que os outros queriam e não o que eu queria ser. E no fim o que ela fez? Me abandonou! Foi embora sem nunca dar notícias. Se passaram 16 anos e Maria Dolores nunca mais tentou saber de mim.Cheguei a ir à nossa antiga casa na periferia. Mas já havia muito tempo que ela havia partido. E os vizinhos haviam explicado que minha avó já tinha morrido faziam muitos anos.Eu tive amor por todo mundo, menos por mim mesma. Fiquei dependente de Andress simplesmente porque ele sorriu-me e pegou minha mão quando eu precisava. Aquele pedido de casamento no shopping havia sido só uma brincadeira de criança.Andress tinha razão... Talvez nunca houve amor de fato. Tampouco paixão. Simplesmente transformamos nossa amizade num casamento porque era propício e conveniente, já que meu