A porta atrás de mim se fechou e senti o coração acelerar e as pernas tremerem. Tinha uma sala grande ali, com tantos sofás estranhos que fiquei em dúvida novamente se aquele lugar era mesmo uma casa.A mulher me pegou pela mão, levando-me pelo meio dos sofás, até que eu chegasse nas três pessoas sentadas.— Eis a garota, senhor Hauser. — Largou minha mão, deixando-me no centro do tapete felpudo, sob o olhar inquisidor deles.Ficamos todos nos olhando um tempo, sem dizermos nada. Eu ainda segurava minha sacola branca nas mãos e aos poucos fui ficando envergonhada e escondendo minhas coisas para trás do corpo. Observei meus pés sujos no tapete bege claro e comparei meu par de sapatos gastos com os da menina que parecia ter quase a mesma idade que eu, usando sapatilhas pretas com ponteiras douradas e um pequeno saltinho.Sorri, ao lembrar do quanto pedia para minha mãe comprar sapatos iguais aos daquela menina. A meia calça branca que ela usava era impecável e sem um fio puxado, diferen
Andei vagarosamente até a minha suposta tia e peguei suas mãos, de forma carinhosa. Ela ficou confusa. Aproximei-me e cuspi para o alto, pegando na sua cara.A mulher tentou me dar uma bofetada, mas foi contida por uma mão que apareceu por trás dela:— Não se atreva a encostar um dedo na menina!Olhei para a mulher que saiu de trás de tia Maya. Não era muito alta, tinha a pele clara e o rosto redondo com belos olhos claros e cabelos pretos e lisos. Era bonita e cheirava bem.Ela aproximou-se a abaixou-se levemente, ficando na minha altura:— Olá! Eu sou Mabel. Tudo bem?Assenti, dando um passo para trás, amedrontada.A mulher limpou minha lágrima e disse com voz doce:— Vai ficar tudo bem.— Esta é Maria Eduarda, Mabel. É a filha de Rob, da qual lhe falei — Alexis explicou.— Sua neta. — Mabel olhou para o homem.— Sim, minha neta — confirmou.— Mabel, não me diga que concorda com esta palhaçada toda! — Maya disse furiosa.— Não é sobre concordar, Maya. A menina tem direitos. Ela pert
O Shopping era um lugar gigantesco, cheio de lojas e pessoas que pareciam andar em círculos, pois eu as via a cada esquina que dobrávamos. Haviam plantas vivas em vasos sem receber a luz do sol direta. E entendi o motivo pelo qual eu nunca tinha ido num lugar daqueles... Porque não tínhamos dinheiro. E sem dinheiro, não havia o que fazer naquele lugar, já que tudo estava à venda.Acontece que Mabel tinha muito dinheiro. E fomos entrando em todas as lojas que ela via roupas de crianças. E ela me deixava escolher qualquer coisa. Eu teria escolhido somente um vestido e uma sapatilha de ponteiras douradas. Mas ela não concordou e acabou levando tantas coisas que precisou dois homens para ajudar a levar.Eu estava já cansada de provar roupas e calçados quando Mabel sugeriu:— O que acham de comermos alguma coisa?— Eu acho ótimo! Fazer compras é chato — Andress disse, com cara de poucos amigos. — Muito chato.Eu ri. Também achei aquilo chato.— Concorda com ele, Maria Eduarda? — Mabel quis
Eu continuava mastigando a pasta doce que não se dissolvia na minha boca. Não aguentando mais, virei para o lado e vomitei no chão, chamando a atenção de todos.Quando levantei os olhos, já com a boca vazia, Mabel correu até mim, pegando guardanapos e limpando-me, apavorada. Mas eu só tinha olhos para o garoto que não piscava na minha direção, com o copo de refrigerante na mão, sem mover-se do lugar, espantado. Desde que eu pus os olhos em Andress Montez Deocca, sabia que não estaria mais sozinha.Observei o rosto atraente e marcante de Andress. Os olhos azuis intensos estavam fixos no trânsito enquanto ele gesticulava com uma das mãos, usando a outra ao volante. Seus cabelos estavam bem penteados e com tanto gel que o vento vindo de fora não o bagunçava. Ele já não era mais aquele menino de 12 anos que me pediu em casamento. Éramos adultos.Eu chorava copiosamente:— Não pode fazer isso comigo, Andress!— Duda, é o melhor... Para nós dois.— Eu amo você, Andress... — Limpei as lágrim
POV DavidReceber a notícia da morte de meu pai me abalou profundamente. E mexeu com o meio empresarial, já que Declan Dulevsky era mundialmente conhecido por ser o CEO da D.D., a empresa mais desejada pelos que decretavam falência e ao mesmo tempo a que as grandes marcas mais queriam distância. Isso porque o que fazíamos era “ajudar” financeiramente empresas que tinham grande potencial, mas estavam sob má administração, quase entrando em colapso.Nosso trabalho, mais precisamente, era comprar mais da metade das ações (dependendo da empresa, se tinha grande potencial, até 75%). Dessa forma nos tornávamos sócios majoritários e com poder de decisão em qualquer situação. A injeção financeira reerguia os negócios e passávamos não só a lucrar, como também sermos os detentores do poder de decisão da empresa. Éramos temidos no meio empresarial, pois sempre que nos interessávamos por alguma empresa, sendo alertado pela mídia, automaticamente ela já era taxada de falida, mesmo antes de acontec
— Odiar é uma palavra bem forte, não acha?— Você a ama?Pensei antes de responder:— Não.— E não a odeia?— Eu... Não sei, sinceramente. Afinal, faz uns bons anos que não a vemos, não é mesmo?— E isso não faz com que a odeie?— Élida, meu amor... Acha mesmo que é hora de falarmos disto? Vamos deixar esta conversa sobre a senhora Ágatha Dulevsky para uma outra hora.- Uma outra hora seria quando, David? Faz tanto tempo que não nos falamos!— Você quer dizer que não nos falamos pessoalmente, não é mesmo? Porque a gente se fala por mensagem e chamada de vídeo de forma frequente.— Você nem responde minhas mensagens! — Bufou, se afastando completamente de mim e deitando-se novamente na cama.— Respondo quando tenho tempo. Mas eu trabalho, esqueceu?— Trabalha à noite?— Sim, tenho reuniões à noite às vezes.— Prefere as piranhas com as quais sai do que eu — reclamou.— “Piranhas”? Onde aprendeu isto, mocinha?Ela riu:— Vai dizer que não sabe que as mulheres com as quais sai são piranh
— Orlando, esta mulher não participará do funeral do meu pai. Faça o que for preciso, mas ela não ficará no mesmo ambiente que eu e minha irmã, tampouco chegará perto do corpo sem vida do meu pai — ordenei de forma discreta.Orlando nunca me decepcionava. Conseguia fazer qualquer coisa que eu pedisse, sem me incomodar com nada.Enquanto eu passava os olhos rapidamente nas pessoas presentes, já começando a ficar inquieto e mesmo no lugar arejado e fresco, sentindo um leve suor tomando conta da minha testa, uma mulher loira me chamou a atenção. Nossos olhos se cruzaram de imediato e ela sorriu.— Quem é aquela? — perguntei à Dodô.— Laura Chevalier. Sobrinha de Magnus e Katrina Chevalier.— Preciso do número do telefone dela.— Alguma coisa importante, senhor David? — Dodô pareceu preocupada.— Não, nada importante! É só uma piranha para ele passar a noite. — Élida riu.— Agora entendo porque alguns pais dizem que irão passar sabão na boca das crianças. — Olhei-a de forma repreensiva.—
O fato de Dodô aceitar ir conosco me deixou bem mais tranquilo. Eu jamais saberia lidar com minha irmã sozinho. Na verdade, nem sabia como meu pai conseguiu por tanto tempo.Mas Élida tinha razão quando mencionou que nossa mãe faria de tudo para pegar mais dinheiro agora que meu pai estava morto. E o principal meio seria se aproximar de nós, especialmente de minha irmã, já que era adolescente e Ágatha devia pensar que precisava dela.Tomei um longo banho, bebi uma dose de uísque e liguei para a tal Laura Chevalier. Embora eu tivesse nascido em Noriah Sul e soubesse da história dos Chevalier, desde a época da rainha doida, mãe dos príncipes que transformaram a monarquia em República, fazia uns bons anos que só vinha ao país como visita. Assim que a monarquia chegou ao fim transformamos Noriah Norte em nossa sede principal. Em um ano o país Norte se transformou em uma grande metrópole, reconhecida a nível mundial, com a pobreza extrema que a assolava dando lugar a grandes oportunidades