Chegamos em uma clínica médica e então, fui levada para uma sala, onde algumas enfermeiras vieram até mim para colher meu sangue.
Instantes depois, a porta foi aberta, revelando uma mulher alta, de cabelos pretos em um corte "long bob" que combinava perfeitamente com o seu rosto fino.
Ela usava roupas sociais sensuais e tinha alguns brincos na orelha em que o corte era mais longo. Parecia como uma modelo de televisão. - Pensei.
— Senhorita Collins, sou Samantha Wu, assistente pessoal do senhor Farrell. Eu vim te fazer algumas perguntas e passar algumas informações para que possamos nos conhecer melhor, posso entrar?
— Claro! - Respondi a vendo se aproximar. Eu não tinha outra escolha, então permiti que ela entrasse.
— Bom, nós duas teremos contato direto a partir de agora. Não sei se te deram detalhes sobre o seu trabalho e por isso, vim o esclarecer! - Disse ela, com um sorriso forçado, porém bonito.
— Tudo bem! - Falei a vendo sorrir novamente.
— Suas tarefas diárias serão com a senhorita Farrell. Clarice Farrell tem apenas cinco anos e está na fase de aprender, porém, ela não pode ser exposta. - Disse ela, me fazendo vincar as sobrancelhas, mostrando-me confusa.
— Algo que também me será revelado ao longo do tempo? - Perguntei com sarcasmo a vendo sorrir um pouco mais alto.
— Pouco provável, já que não terá necessidade. Aqui estão as coisas que precisa saber e mais nada além disso! - Disse ela, folheando um bloco de folhas. — Sua rotina começará cedo, com as higienes e alimentação da pequena. Não se preocupe, ela tem cozinheiros e nutricionista que cuidará de tudo. Estará responsável também pelo momento de lazer da pequena, estudos, aula de natação e piano. Sabe nadar?
— Sim, eu sei.
— É, sua rotina foi montada de acordo com suas qualificações! Tem um ótimo curriculum, senhorita Collins, por que decidiu morar na montanha esse tempo todo?
— Eu não quero responder a isso, se importa? - Perguntei a vendo sorrir um pouco amargo.
— Claro que não, a final, isso não terá mais importância a partir do momento em que estiver aqui. Eu apenas quis ser gentil! - Disse ela, virando a folha. — Retomando, cuidará das matérias escolares da senhorita Farrell e também se responsabilizará pela saúde da pequena. Alguma dúvida?
— Sobre as doações de sangue...? - Perguntei a vendo ajeitar o cabelo atrás da orelha e dar um riso.
— Ah sim, eu já ia chegar lá! Você doará sangue para o senhor Farrell três vezes na semana e se necessitado. Não terá contato direto com ele e tudo o que precisar ser dito a você ou a ele, eu serei a ponte! - Disse ela, com um leve sorriso escondido.
— Se é tão fácil assim, por que preciso me casar?
— Porque será praticamente uma propriedade dele. Você não poderá fazer nada sem que o senhor Farrell autorize. Está a partir de agora, sobre os cuidados do grupo, devido ao seu raro sangue. Então, não pode fazer nada que tente contra a sua própria vida, não pode se relacionar sexualmente com nenhum funcionário para que não o transmita uma doença e não pode sair da casa sem os reforços da segurança. Deixei tudo bem esclarecido?
— E nesse meio tempo, também não terei contato com o meu marido? - Perguntei a vendo balançar a cabeça em negação.
— Não, senhorita Collins, você é apenas uma babá e uma bolsa de sangue viva! - Disse ela, se levantando.
— Daqui, irão te levar para a mansão Farrell, estão apenas esperando que os resultados dos seus exames sejam confirmados. Sendo assim, até lá!
Samantha disse aquilo cheia de segurança em si mesma e saiu.
Eu fiquei me questionando o porquê de eles terem me escolhido dentre tantas pessoas e o motivo de tantas exigências.
— Será que ele é gay? - Me perguntei em um tom um pouco alto, sendo surpreendida por um homem entrando na sala.
— Tenha certeza que não! - Disse ele, me olhando diretamente.
— O quê? - Perguntei confusa, tampando minha boca em seguida. — Eu não quis dizer isso!
— Eu imaginei. Senhorita Collins, sou Matthew Grahan, pode me chamar de Senhor Grahan se preferir. Vou te acompanhar até a mansão! - Disse ele, dando espaço para que eu passasse e então, me seguiu junto aos outros seguranças, me levando até o carro.
Dessa vez eu estava sozinha com eles e confesso que, ver aqueles homens engravatados e todos de estatura forte, me causou um certo desconforto.
Eu tenho meus um metro e sessenta e cinco de altura, não chego nem aos pés de ser considerada mediana. Estando ainda rodeada por aqueles homens, parecia algo intimidador.
Levei minha atenção para as luzes brilhantes da cidade, que pareciam esplêndidas. Fazia um tempo que eu não saía da montanha, apenas recebia a visita de Marcus e da minha amiga Vitória que já faziam quase um mês que não os via.
Para quê tantos estudos e esforços para ser alguém se no final acabei me tornando uma moeda de troca? Se eu soubesse que terminaria assim, teria me esforçado menos. - Pensei.
Notei o veículo fazer o trajeto um tanto duvidoso e então, entrar em um tipo de bosque escuro.
Aquilo me assustou, mas de repente, vi luzes ao fundo e uma enorme casa tão grande quanto um castelo, se aproximando.
A mansão Farrell.
Ela era mais bonita pessoalmente do que pela televisão. Maior do que aparentava e muito mais brilhante, confesso.
O carro passou por dois imensos portões de ferro e depois de andar mais um pouco, parou em frente a algumas escadas onde havia algumas pessoas nos aguardando.
— Chegamos! - Disse o motorista, como uma frase costumeira de alerta e então, as portas foram destravadas.
Descemos todos do carro e quando dei o primeiro passo, vi uma linda menina me olhar com curiosidade.
—Tio Grahan, quem é essa? - Perguntou a doce voz, saindo de trás de uma mulher aparentando ter um pouco mais de quarenta anos.
— Clarice, essa é a tia Dulce, sua professora! - Disse o homem abrindo os braços, onde a pequena correu até ele e o correspondeu.
E depois de ter os cabelos afanados, a doce voz soou novamente.
— Tio, eu não quero! - Disse ela, se escondendo atrás dele.
Eu então, larguei a minha bolsa no chão e me abaixei para ficar mais acessível a ela, vendo os redondos olhinhos dela me olharem com medo. tirei de dentro dos meus cabelos um pregador que continha uma bolinha cheia de pequenos brilhos flutuantes e a estendi.
— Oi Clarice, me chamo Dulce, mas pode me chamar como quiser! Já viu estrelas flutuarem? - Perguntei a vendo tirar a cabeça por de trás das cumpridas pernas de Grahan e me olhar.
— Não! - Disse ela, vindo até mim vagarosamente. — Dulce, posso ver?
— Claro! Posso te contar mais sobre elas, mas pra isso, que tal ser minha amiga?
— Você me falará mais sobre as estrelas? - Perguntou ela, me vendo assentir a cabeça em confirmação. — Seus olhos são bonitos, parecem os da minha mamãe!
— Você também tem os olhos lindos sabia? Eu ficaria muito feliz em saber mais sobre você um dia, mas para isso, precisa me permitir que eu entre e fique ao seu lado.
Quando falei, a vi sorrir e me entregar o pregador.
— Tá bem! Pode entrar! - Disse ela, correndo para dentro e desaparecendo em seguida. — Mas me fale mais sobre as estrelas?!
Sorri ao ouvir aquilo e balancei a cabeça assentindo, segurando a mãozinha dela em seguida.
— Você é mesmo boa! - Disse Graham em um cochicho, pegando a minha mala e nos acompanhando para dentro.
Conheci o meu quarto, o quarto da pequena Clarice, a biblioteca, sala de brinquedos e a área dos funcionários.
Recebi um uniforme para utilizar e me avisaram sobre o toque de recolher da casa. Mesmo que todos adormecessem, eu ainda deveria ficar em alerta para cuidar da pequena e atender as necessidades dela.
Meu trabalho iniciou naquela mesma noite.
Eu havia a contado uma história e apagado as luzes vendo-a adormecer e então, senti minha garganta secar por anseio de água.
Desci as escadas em passos leves, indo em direção a cozinha, me servindo com um copo de água da torneira mesmo. E assim que o levei aos lábios, vi o reflexo de um homem pelo brilhante azulejo da ilha.
Senti meu corpo congelar, pois não haviam me informado sobre mais ninguém na casa e quando me virei vagarosamente, notei os olhos gélidos do homem sobre mim.
Ele era dono de uma beleza estonteante, porém, seus olhos enfurecidos não me deixaram o notar por mais de alguns segundos.
E então, a voz dele saiu como um trovão, me causando arrepios por todo meu corpo e fazendo eu derrubar o copo no chão.
— Quem é você?