Meus olhos foram assustados para Kevin, que me olhava com os olhos escurecidos.
— O que anda ensinando a minha filha, senhorita Collins? - Perguntou ele, como se quisesse acabar comigo ali mesmo.
— S-Senhor, eu não fiz nada! - Falei a ouvindo chorar e então, ele freou o carro e abriu a minha porta.
— Saia! Saia agora! - Disse ele, me olhando com frieza.
Ajeitei Clarice no banco, a vendo despertar e esfregar os olhinhos, mostrando-se confusa.
— Dulce! - Chamou ela, ainda com a voz chorosa.
— Anda, saia! - Disse ele, me puxando para fora e batendo a porta em seguida. Ele me olhou com fúria e deu um passo em minha direção, fazendo com que meu corpo congelasse.
— Que tipo de jogos está ensinando a minha filha, para que ela te chame dessa forma?
— M-Mas senhor...- Reagi, sendo interrompida.
— Não se aproxime dela, nunca mais! - Disse ele, entrando dentro do carro e acelerando.
A minha bolsa com meus documentos havia ficado no carro. O que eu poderia fazer?
Comecei a andar pela estrada, vendo o tempo mudar de repente.
Uma chuva gelada e forte começou a cair, desmanchando meu cabelo e me ensopando. Naquele momento, eu me praguejei, me sentindo o pior ser humano do universo.
Por que ele me tratava daquela forma, quando fui parar na casa dele sem escolhas? - Me questionei, resmungando comigo mesma.
Aproveitei que eu estava sozinha e comecei a amaldiçoá-lo por todas aquelas atitudes.
— Seu louco, imbecil! Acha que todo mundo deve se curvar a você e te obedecer só porque tem dinheiro? Você é um doente com o rei na barriga! - Gritei, vendo um carro passar rápido ao meu lado e me jogar água.
— Idiota! - Gritei, me abaixando e abraçando minhas pernas.
Eu não conhecia o lugar e nem ao menos sabia onde havia um hotel por perto. A chuva não parecia querer parar, muito pelo contrário, estava intensa e acompanhada de trovões.
Me levantei, decidida a continuar andando, até que chegasse a um lugar seguro, mas de repente, um carro parou na minha frente e um homem desceu.
— Oi princesa, está perdida por aqui? - Perguntou um homem com uma aparência assustadora. Ele era alto, gordo e cheirava a bebidas.
Ele fez menção de se aproximar, me estendendo a mão e então, dei um passo para trás, me distanciando dele.
— Não estou perdida, apenas esperando o meu marido! - Falei o vendo rir.
— Que tipo de marido abandona sua preciosa esposa em um lugar como esses? - Perguntou ele, me olhando de cima a baixo, com luxúria. — Belo corpo, bela aparência, ele deve ser um tolo.
— Não, ele não é. E fique longe de mim! - Gritei o vendo se aproximar e segurar o meu braço com força.
— Se ele não te quis, eu quero! Venha e te levo para um lugar confortável! - Disse ele, me arrastando e então, tentei me soltar, me abaixando e mordendo o braço dele.
— Me solta! - Gritei, enfiando os dentes o mais fundo que consegui e então, corri para longe dele, batendo meu corpo em alguém.
Era como uma parede firme.
Ele era mais alto, mais forte e tinha o corpo robusto completamente quente, feito brasas.
O vi tirar o paletó e me cobrir como se me protegesse e então, me escondi, inalando aquele delicioso perfume, mas ao levantar o meu olhar para ver quem se tratava, senti meu corpo congelar.
— Kevin? - Perguntei baixo, o vendo me olhar fixamente e em seguida, encarar o homem.
— Como ousa tocar na minha mulher! - Disse ele, com a voz mais encorpada do que os trovões.
Naquele instante, eu não sabia de quem correr.
Eu estava em choque e com medo. Senti meu coração acelerar, como se quisesse arrancar do peito.
E se ele apenas quisesse se livrar da testemunha e me jogar daquela estrada, me fazendo cair no mar? - Perguntei, sentindo as firmes mãos de Kevin segurarem o meu corpo e ao me mover, perdi toda força vendo tudo se apagar.
Acordei percebendo estar no meu quarto, na mansão Farrell.
Tentei me levantar da cama, sentindo uma dor de cabeça latejante e então, percebi que havia algo grudado em meu braço.
— Você acordou? Lhe trouxe uma canja quente! - Disse a senhora Farrell, se sentando ao meu lado.
— Obrigada! O que aconteceu? - Perguntei a ouvindo suspirar.
— Kevin te encontrou caída na estrada! Sinto muito pelo que passou na festa, mas não tinha necessidade de sair correndo. - Respondeu ela, me fazendo vincar as sobrancelhas, mostrando-me confusa.
E então, ela sorriu.
— Querida, acha mesmo que acreditei nessas desculpas farrapas? Eu sei bem o tipo de filho que coloquei ao mundo e eu mesma me certificarei de corrigir. - Disse ela, tocando meus cabelos. A propósito, Dulce, você tem feito um ótimo trabalho por aqui!
— Obrigada, senhora...- Fui interrompida.
— Dona! Ou pode me chamar apenas de sogra! - Disse ela, se levantando. — E coma um pouco, você estava febril e por isso o desmaio!
— Sim senho...- Respondi a vendo me encarar com reprovação. E então, arrumei minha fala. — Obrigada, Dona!
— Melhor assim! Descanse! - Disse ela, se retirando.
Tomei a canja que ela me ofereceu e voltei a adormecer, me embrulhando embaixo da coberta. E depois de todo silêncio na casa, novamente aqueles passos no corredor.
Só que dessa vez, eles se aproximaram, tocaram a maçaneta e abriu a porta, me fazendo a ouvir ranger e e quando sai das cobertas para olhar, já estava de manhã e não havia ninguém.
Eu devia estar delirando pela febre - Pensei, mas ao olhar sobre o raque, a tigela da sopa não estava mais lá.
Sai da cama em passos leves e ao abrir a porta, vi Samantha sair do quarto de Kevin, ajustando a roupa.
A olhei assustada e então, entrei rapidamente para não ser pega, ouvindo-a descer as escadas.
Respirei fundo e voltei para fazer minhas higienes e começar com a minha rotina.
Ao chegar no quarto de Clarice, a pequena já estava arrumada e pulante sobre a cama.
— Dulce, Dulce, olha como pulo alto! - Disse ela, com humor.
— Desça já daí, ou eu serei castigada por isso, bonequinha! - Falei a vendo sorrir e descer da cama, vindo até mim para me abraçar.
— Estou feliz que esteja de volta! - Disse ela, com pureza, me fazendo sorrir.
— Eu não fui a lugar algum, bonequinha! Agora vamos descer e tomar seu café? - Perguntei a vendo sorrir.
— Siiiim! - Gritou ela, indo até a porta, a abrindo primeiro.
Segurei a mão dela e desci as escadas, a guiando. Clarice tinha apenas cinco anos, mas as vezes parecia menos, como as vezes agia aparentando ter mais.
Ela era uma criança linda e esperta!
Fomos juntas até a mesa e eu a servi, sentando-se ao lado dela para a observar. E em questão de segundos, Dona se aproximou, fazendo uma carícia na neta e se sentou na ponta da mesa, como uma verdadeira rainha.
Ela estava ao telefone e era a primeira vez em dias, que a via repartir a mesa do café.
— "Sim, Kevin partiu a essa madrugada, depois de alguns acontecidos por aqui"! - Disse ela, me olhando com um sorriso.
Ela quis dizer que o senhor Farrell não dormiu em casa? - Me questionei, dando um leve sorriso, mas então, me lembrei de ter visto Samantha sair do quarto dele.
Aquilo me deixou com um leve ciúme, mesmo eu sabendo que já imaginava.
E então, continuei a olhar para Clarice a acompanhando em sua refeição, vendo-a sorrir e cantarolar animada.
Instantes depois, ouvi a voz de Dona, me tomar a atenção.
— Se sente melhor? - Perguntou ela, me fazendo a olhar confusa.
—Hm? Ah, sim. Completamente disposta! Obrigada! - Falei a dando um sorriso, vendo-a sorrir de volta.
— Que bom, espero que esteja pronta para a grande noite de hoje! - Disse Dona, se levantando em seguida.
— Grande Noite? - Perguntei e então, ela deu uma doce gargalhada.
— Você verá!