A tarde havia chegado e estávamos na sala tocando piano, quando de repente, entraram algumas mulheres uniformizadas, cheias de malas e adereços presos na roupa.
As encarei confusa e antes que eu me pronunciasse, Dona apareceu dentre elas e me olhou, sorrindo.
— Essa é a nossa equipe particular de produção. Elas farão o seu cabelo e maquiagem para essa noite. - Disse ela, olhando para as meninas, as ordenando em seguida. — Garotas, levem-nas para cima e as tratem como princesas.
— Sim senhora! - Disseram em uníssono, nos acompanhando até a escada.
Freei meus pés e alcancei Dona, tocando-a no braço.
— Senhora, o que está acontecendo? - Perguntei a vendo ainda manter o sorriso.
— Eu te disse, será uma noite especial! Você precisa estar entre as mais belas de todas e eu cuidarei de garantir isso! - Disse ela, balançando a mão para que eu fosse com elas.
Subimos até o meu quarto e então, uma se sentou na minha frente, cuidando das unhas, enquanto outra limpava minha pele, arrancando fios indesejados.
Clarice também estava em uma cadeira, arrumando o cabelo e pintando as unhas.
— Olha Dulce! - Disse ela, me mostrando a cor perolada de seu esmalte.
— Nada de mais escuro, bonequinha! - Falei a vendo sorrir.
— Sim, mamãe! - Disse ela, levando a mão até a testa, agindo como uma soldada mirim.
Não pude deixar de notar os olhares curiosos sobre mim. Ainda mais depois de ouvir o que ouviram. E confesso que, até eu estava confusa.
— Por que ela me chamou assim? - Perguntei em firma de resmungo, sentindo meus cabelos serem puxados. — Ai!
— Desculpa, serei mais delicada senhora! - Disse a garota, me olhando com um pouco de medo.
— Está tudo bem! Só fui pega de surpresa! - Respondi, exibindo-a um sorriso.
Depois de um tempo, estávamos prontas. Eu mesma nem havia notado que a noite já estava chegando.
Olhei pela enorme porta de vidro, vendo o azul escurecer lentamente, ouvindo-as falar aliviadas em seguida.
— Pronto, terminamos!
— Vá pegar o vestido! - Disse outra delas, trazendo uma arara com rodinhas, cheias de opções.
Encarei Clarice e peguei um vestido cor de creme com pérolas. Ele era rodado e tinha alguns brilhos no tecido, mostrando um relevo brilhante.
— Esse! - Falei apontando para ela. — O que acha, bonequinha? - Ficará bem com a suas unhas!
— Tem um igual para a Dulce? - Perguntou Clarice, olhando para as garotas que riram.
— Temos um um pouco parecido! - Disse uma delas, abrindo uma capa e tirando um lindo vestido de dentro.
Ele era um nude colado, cheio de pedras iguais as que tinham no vestido de Clarice.
Havia um decote extravagante e uma enorme fenda na lateral, deixando a roupa excessivamente sensual.
— Prove! - Disse a mulher, me entregando ele.
— Eu não sei se combino com esse tipo de roupas! - Falei, sendo logo interrompida.
— Como não? Se tivéssemos seu corpo, usaríamos um ainda mais chamativo! - Disse outra delas, fazendo com que todas concordassem.
— Mas... e se me criticarem? Essa é muito...?
— Sensual? - Perguntou Dona, entrando no quarto. — Uau! Esse seria meu se eu ainda tivesse um corpo como o seu! Agora, vá e vista! - Disse ela, com um tom autoritário.
Não tive outra escolha a não ser, obedecer.
Me vesti com a roupa, sendo proibida de me olhar no espelho ainda. Fizeram os últimos retoques dos meus cabelos, os deixando levemente ondulados e cheios.
Eles são em um tom castanho escuro natural e estava completamente brilhoso e sedoso.
— Pronta? No três. Um, dois...- Disseram, me virando em seguida.
Eu não me reconheci!
— Onde eu....? - Perguntei, levando a mão até os meus seios, admirando tamanho decote. Me virei de lado, vendo minhas coxas expostas e então, tampei minha boca, ouvindo uma delas rir.
— Tão conservadora para a esposa de um magnata! - Disse ela, se colocando atrás de mim e ajeitando meus cabelos. — Você está linda e confesso, nunca vi uma igual!
— Obrigada! - Agradeci, ouvindo algumas batidas na porta, a vendo ser aberta em seguida.
— Pronta? Uau! - Disse Grahan, tampando a boca em seguida. — Desculpa a indelicadeza, senhora!
— Não seja ridículo em me chamar assim! - Falei firme, indo até ele. — Estou pronta!
Fomos juntos até o andar de baixo, encontrando Dona, Clarice e Samantha, que vestia um vestido lindo preto, mostrando seus vastos seios.
Ela estava muito destacada pela roupa, mas ainda mais pelo batom vermelho. E por algum motivo, a mulher me olhou e piscou algumas vezes, como se estivesse surpresa.
— Uau, minha nossa! - Disse ela, sem rodeios.
— Obrigada! Você também está incrível! - Falei, segurando o braço de Grahan e o seguindo.
Fui no mesmo carro que ele, Dona e a pequena, vendo Samantha ir no carro de trás. Eles dirigiam sendo acompanhados por outros carros pretos e de vidro escuro, mostrando a verdadeira elite.
Chegamos a um enorme prédio espelhado, repleto de luzes e flashes de fotógrafos.
Assim que descemos do carro, um enorme tapete vermelho felpudo estava estendido. Achei aquilo incrível e confesso que, eu nem sabia por onde pisar.
Dei um passo para trás, deixando que todos fossem na frente.
Dona desceu, segurando as mãos da pequena Clarice, que caminharam juntas exibindo classe.
Depois foi a vez de Samantha, que de repente foi acompanhada por Grahan, mas que antes de dar o braço a ela, veio até mim e me entregou uma caixinha.
— O que é isso? - Perguntei o ouvindo cochichar.
— Dê a ele! - Disse ele, acompanhando Samantha, pela linda passarela de pano.
Respirei fundo, notando alguns olhares curiosos sobre mim.
— O que eu faço? - Me questionei, olhando para os lados e então, senti uma mão tocar a minha cintura com firmeza e me empurrar levemente.
— Apenas ande! - Disse ele, me fazendo estremecer.
Levei os olhos até Kevin, o vendo olhar fixamente para frente, sem me dar a mínima, porém, a mão dele ainda me conduzia.
Vinquei as sobrancelhas, notando-o segurar uma taça de champanhe e aquilo me deixou confusa.
— Você já estava lá dentro? - Perguntei, entrando junto a ele no imenso salão.
Olhei em volta, vendo o quanto aquele lugar era grande e elegante.
Havia um enorme lustre no teto, brilhando impecavelmente, realçando as paredes brancas e limpas; meus olhos brilharam de tanta admiração.
— Senhora Farrell, se controle! - Disse Kevin, tocando no meu queixo, me fazendo fechar a boca.
— O que é tudo isso? - Perguntei o encarando.
Kevin arqueou as sobrancelhas e sorriu.
— Como pode nem ao menos saber o aniversário do seu marido?
— Ah! - Falei pegando a caixinha, o estendendo. — Feliz aniversário, senhor!
Ele me olhou com as sobrancelhas vincadas e abriu a caixa, soltando um riso.
— Você é muito interessante, senhorita Collins! - Disse ele, se abaixando para me olhar nos olhos, mantendo-se bem próximo. — Se arrumou para me fazer lembrar que é a senhora Farrell?
— O quê? - Perguntei confusa, olhando para a caixinha, notando um par de alianças nela. — Não, eu não planejei...
— Certo! Vamos fazer o seguinte, tome minha atenção em meio a todas essas belas mulheres e eu farei com que todas a conheçam!
— O quê? - Perguntei confusa, o vendo caminhar com elegância em direção a Samantha.
Ela sorriu satisfeita, o acompanhando por todo lugar e confesso que, aquilo de alguma forma me enciumou.
— Por que esse imbecil está brincando comigo dessa forma? - Perguntei, sentindo alguém puxar meu vestido.
Olhei para baixo e sorri, vendo Clarice cruzar os braços e formar um biquinho nos lábios.
— O que houve, bonequinha?
— Ninguém quer brincar comigo. Disseram que não sou bem-vinda porque não tenho mãe!
— O quê? - Perguntei desacreditada, segurando a mão dela com firmeza. — Vem eu brinco com você.
Falei a vendo frear os pés e continuar emburrada.
— Clarice...- Chamei a vendo levantar os lindos olhinhos até os meus.
— Você pode fingir ser minha mãe só essa noite e dançar comigo para que todos parem de falar de mim? - Perguntou ela em lágrimas, partindo o meu coração.
Eu me abaixei e limpei os olhos dela, sorrindo para a acalmar.
— E quem disse que não sou sua mãe? Vamos lá e mostrar para todo mundo que nós somos as mais belas daqui! - Falei a vendo sorrir e andar animada até o centro do salão.
Segurei as mãos dela a ajudando a rodas, vendo-a cada vez mais feliz.
Clarice sorria lindamente, dançando e se balançando como uma criança realizada e confesso que, naquele momento, senti muita vontade de a proteger de todo o universo.
E quando eu menos esperei, ela sorriu e me abraçou forte, fazendo com que muitos nos olhassem.
— Dulce, quero que seja minha mãe para sempre!