Capítulo 14.Thalia.Saí do carro do Marcelo sem olhar para trás. Estava tomada de vergonha e ver seu olhar de pena sobre mim me deixou ainda pior. Minha vida era fodida demais e eu sabia disso, então não precisava que ele ficasse, percebesse isso e sentisse pena de mim.Pena era algo que não suportava. Eu morava em um lugar que não queria e havia uma vida que jamais desejei, mas era o que havia, então precisava ser grata por ela. Perdi minha mãe aos quatorze anos e, desde então, vivi apenas com meu pai bêbado. Perdi a conta de quantas noites me arrisquei ao sair sozinha para buscá-lo nos bares e nas praças, e o encontrei quase desmaiado de tanto beber.Meu pai amava demais a minha mãe e, quando ela morreu, ele se perdeu em si. Afundou-se na bebida e não me restou opção senão o colocar em uma clínica para dependentes alcoólicos.Eu já não suportava mais ver seu estado lamentável e ainda sofrer ao tentar trazer de volta o homem bom e amoroso que seu Efraim era antes da morte da minha
Capítulo 15.Thalia.Assim que Marcelo ligou as luzes e fechou a porta, nos isolando do mundo, eu desmoronei. Parecia que o mundo estava sobre as minhas costas, pois o peso era grande demais. Estava tão cansada de tudo dando errado na minha vida. Parecia que, por mais que eu tentasse fazer minha vida dar certo, sempre havia algo me mostrando que eu não iria a lugar algum. Que eu não havia nascido para ser próspera, seja em quais forem os campos da minha vida.— Estou tão cansada de ter sempre tudo dando errado na minha vida. Só coisas ruins me acontecem — falei, com os ombros caídos, e coloquei as mãos no rosto, buscando cessar o rio de lágrimas que corria sem controle dos meus olhos.Sentia-me derrotada com todos os problemas que me surgem a cada dia. Porém, dessa vez, algo me incomodou após as palavras proferidas por mim e coloquei a mão na barriga. Foi algo involuntário e, ao mesmo tempo, tão certo que algo diferente tomou conta de mim.— Sou uma mãe horrível. — resmunguei, fungand
Capítulo 16Thalia.— As coisas na minha vida são complicadas, Marcelo. — Foi tudo que disse referente às minhas palavras anteriores. — Sobre seu Dario, eu lhe devo três meses de aluguel e ele já esperou demais, outro teria me colocado no olho da rua sem pensar duas vezes. Muitos inquilinos deixaram os apartamentos e, se os poucos que têm não pagarem, ele irá passar dificuldade.— Compreendo. — Ele se sentou ao meu lado. — Mas ele não pode tratá-la assim, Thalia. Seu síndico gritou com você, não lhe deixou explicar e a deixou com medo ao partir para cima de você. Ele estava alterado e poderia ter te agredido se estivesse sozinha. Mesmo com todos os problemas que podem haver entre vocês, Dario jamais pode sequer erguer a voz para você, ou qualquer outra pessoa.Soltei um suspiro, olhando para as minhas mãos.Marcelo tinha razão, mas o que podia fazer? Estava na merda e seguiria assim até minha sorte virar. Se é que um dia iria virar.— Deveria buscar um lugar melhor para morar — aconse
Capítulo 17.Thalia.— Sei que só se engravida quando transa. Não pode ser virgem e estar grávida, Thalia. É muita loucura. — Ele soltou uma risada sem humor, mas eu permanecia apenas olhando para ele e séria.— Isso é sério? — Sua expressão se tornou assustada. — Está mesmo grávida sem ter transado? Sem ter...— Sem ter tido um pênis na minha vagina? Sim. Nunca tive relação vaginal com homem algum, mas estou grávida mesmo assim.Ele ficou de pé e começou a andar de um lado para o outro.— Pode ser erro médico, não? Como... — sua confusão só aumentava.Levantei-me também. Estava nervosa e ansiosa demais para ficar sentada.— Olha, a gente não se conhece e nem deveria ter te deixado entrar na minha casa, mas já aconteceu e agora estou prestes a falar sobre algo bem íntimo e terrivelmente pessoal com um estranho.— Thalia, eu não quero invadir sua intimidade, sei que nos conhecemos hoje, que não deveria estar aqui e muito menos te questionando algo tão pessoal. Não precisa me falar nada
Capítulo 18.Thalia.— Está melhor? — Marcelo olhou em meu rosto e assenti.Ele limpou as últimas lágrimas e me deu um sorriso caloroso.— Não, mas irei ficar. — Saí de seus braços.Assim que me afastei, senti falta do calor de seu corpo no meu. Estar em seus braços era reconfortante, por mais que ele fosse apenas um estranho.— Podemos abrir as janelas, isso ajudará a deixar o apartamento mais arejado e com alguma luz. Mas precisa separar algumas velas, pois logo irá escurecer e não conseguirá enxergar nada.Concordei e fui abrir as janelas. Senti uma tontura e me segurei no sofá.— Você precisa se sentar. Não está nada bem. — Marcelo logo chegou até mim.Ele segurou a minha cintura e me ajudou a sentar no sofá.— É a falta de comida. Não como nada desde cedo. — respirei fundo e recostei a cabeça no sofá.— Não pode ficar tanto tempo sem comer, Thalia. São horas sem ingerir nada e isso pode ser prejudicial ao bebê. Sem contar que vomitou, o que pode tê-la deixado desidratada.Meus lá
Capítulo 19.Thalia.Deixei um dos pires sobre a mesinha de centro e segui, com o outro na mão esquerda, para o quarto. Lá, coloquei o pires com vela sobre a cômoda e segui direto para o banheiro, onde retirei as roupas e as descartei no cesto de roupas sujas.Soltando um suspiro, liguei o chuveiro e me pus embaixo dele. A água estava gelada pela falta de energia, mas isso foi bom para me fazer ciente da minha vida fodida. Precisaria buscar outro emprego, mas estando grávida seria algo quase impossível.Se as empresas não queriam contratar mulheres por alegarem que dão muitos gastos e faltam muito, imagina uma mulher já estando grávida? Seria praticamente impossível.— Deus, me ajude. — Pedi, com os olhos fechados.Toquei meu ventre e senti um sentimento diferente me invadir.— Prometo que não deixarei nada te faltar, tomatinho. Sei que não foi planejado e que chegou de uma maneira bem inusitada, mas vou te amar, ok? Tentarei ser uma mãe tão boa quanto a sua avó foi comigo durante os
Capítulo 1 Thalia.Batuquei os dedos, nervosamente, sobre a mesa, mordendo o lábio inferior numa tentativa frustrada de conter a ansiedade que me assolava. Finalmente, a porta se fechou atrás de nós, proporcionando um refúgio do barulho insistente vindo da sala de espera, que estava começando a me irritar.Respirei fundo, enquanto meus olhos se fixavam nos meus dedos. Havia feito as unhas, ou melhor, as havia pintado com um discreto tom de rosa-claro, sempre preferi tons mais sutis e discretos, e ao examinar mais detalhadamente, notei uma pequena cutícula levantada no canto da unha do meu dedo mindinho.Sem pensar, levei a mão à boca e tentei remover a cutícula com os dentes, fazendo uma careta ao puxar e sentindo um pouco de dor pela ação que acabou ferindo o cantinho da minha unha. Sabia que não deveria fazer aquilo, mas o tédio e a ansiedade obtinham o poder de me fazer agir impulsivamente. Em outras palavras, eu fazia merda quando estava entediada. Manter o controle era um desaf
Capítulo 2Thalia.— Eu não vou fazer exame algum porque eu não estou grávida! Exijo que refaça os exames, esses devem ter sido trocados, porque não tem como eu estar esperando um bebê se eu nunca fiz sexo! — Ok, eu já havia tido momentos íntimos com um homem, mas nada que corresse o risco de uma gravidez. Foram apenas algumas sarradas, mão boba, mas nada de penetração, nada que me fizesse acreditar que um bebê estava crescendo dentro de mim.Doutor Rodrigo soltou um suspiro, se sentou e levou os dedos à têmpora. Sua expressão era um misto de raiva, frustração e tédio. Ele cerrou os olhos em minha direção e começou a falar com mais calma para ver se eu conseguia compreender o que ele estava falando.Senti-me uma criança birrenta enquanto o pai tentava explicar pela décima vez que não podia colocar o dedo na tomada ou levaria um choque. Bom, eu estava realmente chocada. — Não estou afirmando que acredito em você, já que nunca havia me deparado com um caso assim, mas é possível ter eng