O Encontro

Charlotte

Nicole conseguiu um feito que eu considerava impossível: ambos tivemos folga no mesmo dia. Ela teria o fim de semana todo livre, já que seu aniversário seria no domingo, e eu também fui liberada para folgar a partir de sábado à noite, retornando à residência dos Mackenzie na segunda-feira de manhã.

Conforme o combinado, encontrei Nicole na estação de metrô perto de sua casa, no Bronxdale. Fui apresentada à sua irmã e seus sobrinhos, e me senti muito acolhida pela família de Nicole. Sua irmã era mais jovem do que eu imaginava, considerando que ela havia mencionado que seus sobrinhos eram um casal de gêmeos de cinco anos. Eu havia deduzido uma mulher na faixa dos trinta anos, mas Emily tinha apenas vinte e quatro e foi extremamente gentil, tratando-me como parte de sua própria família.

Elas eram muito próximas e eu adorei compartilhar aqueles momentos familiares com as duas irmãs e as adoráveis crianças, Benjamim e Karen. Foi uma experiência completamente nova para mim estar em um ambiente familiar onde o amor era evidente entre todos, e isso tocou profundamente meu coração.

Ao retornar à residência dos meus empregadores na segunda-feira, senti um estranho desconforto depois de dois dias tão maravilhosos, descobrindo como era um lar onde o amor prevalecia entre seus membros. Estar naquela casa era desagradável. A única pessoa que eu realmente gostava naquele lugar era Eloá, e eu me esforçava para mostrar a ela o amor que já sentia, assim como Nicole também demonstrava seu imenso afeto pela menina, já que sua mãe estava totalmente ausente em relação à filha.

Uma semana após nossa folga excepcional, no domingo à tarde, o senhor Mackenzie pediu para eu arrumar Eloá, pois sairíamos em um passeio com ela. Nicole estava de folga, então eu os acompanharia, uma vez que a senhora Martina afirmou ter um compromisso inadiável. Seria a primeira vez que eu participaria de um passeio com a família, e fiquei muito entusiasmada por fazer algo diferente.

Fomos ao Museu Americano de História Natural e pela primeira vez vi Eloá verdadeiramente animada, o que me deixou genuinamente feliz. Era raro vê-la tão descontraída, e pude perceber o quanto aquela casa e a presença de Martina faziam mal à menina.

— Precisa andar mais devagar, Eloá – falei elevando o tom de voz, ao ver que a menina estava quase correndo à nossa frente. 

— A Charlotte tem razão, filha – o senhor Mackenzie falou para a filha, mas tinha um sorriso no rosto. 

Eloá logo parou de caminhar e se aproximou do seu pai, dando-lhe a mão e sorrindo feliz. Ela era uma criança muito tranquila, sempre obediente e era muito fácil cuidar dela. 

— Onde estão os meus tios, papai? – Eloá questionou e a olhei intrigada. – O senhor falou que eles também viriam. 

— Eles já estão chegando, querida. A Tia Melanie também virá. 

— Verdade mesmo, papai? – a menina disse praticamente saltando de felicidade. 

Fiquei atenta ao ouvir a pergunta da Eloá, pois eu não sabia que iríamos encontrar com outras pessoas e senti a timidez tomando conta de mim. Mas logo me repreendi mentalmente, pois os amigos do senhor Mackenzie não iriam olhar nem duas vezes para mim. 

— Olha, lá vem eles.  

O senhor Mackenzie disse e fez um gesto com a cabeça, fazendo com que nós duas olhássemos para a direção indicada. Percebi virem dois homens e uma senhora, os quais olhavam todos para onde nós estávamos e entendi serem as pessoas as quais ele estava falando. 

— Titia Melanie! – Eloá deu um pequeno gritinho de alegria ao abraçar a elegante senhora que se aproximou. 

— Oi, minha querida – a senhora respondeu também com alegria evidente em sua voz. – Estava com saudades da minha pequena. 

— Eu também estava com saudades da senhora, titia – a menina falou sorrindo com satisfação. 

Fiquei com um sorriso de contentamento pregado em meu rosto ao ver como a Eloá estava diferente do habitual, parecendo verdadeiramente com uma criança normal e não um pequeno robô, como a Martina exigia que se comportasse. 

— E de nós você não estava com saudades, Eloá? – um dos homens brincou, fingindo indignação, e não consegui conter o sorriso que crescia em meu rosto. 

— Claro que sim, tio Douglas! – A menina sorriu ainda mais e ele a pegou dos braços da senhora, a abraçando e dando um beijo em seus cabelos. 

Estava tão atenta ao desenrolar da cena que não prestei atenção ao segundo homem, que mantinha a postura sisuda, apenas observando a interação entre Eloá e os outros dois. 

— Faz muito tempo que vocês estão aqui no museu? – o homem perguntou depois de pigarrear discretamente, se dirigindo ao senhor Mackenzie. 

— Faz muito tempo, sim, tio Brian. Vocês demoraram muito! – Eloá falou, trazendo risadas a todos. 

Ver a Eloá tão à vontade e falante era algo totalmente inédito e tenho certeza que se a sua mãe estivesse ali, a teria repreendido por ter se “intrometido” na conversa de adultos, mas todos pareciam gostar bastante dela e não se importaram nenhum pouco com aquilo. 

— Estávamos tão concentrados na Eloá que acabamos sendo mal-educados – a senhora Melanie falou em certo momento, se dirigindo a mim e me fazendo olhá-la de maneira indagadora. – Nós nem nos apresentamos a bonita jovem. – ela explicou a sua fala. 

— Tem razão, tia Melanie – O senhor Mackenzie concordou de maneira rápida. – Essa é a Charlotte Thompson, a babá da Eloá. 

— Eu sou Douglas Carter, o melhor amigo do Oliver – O que parecia ser o mais simpático dos três homens falou e estendeu sua mão para mim com um bonito sorriso ainda presente em seu rosto. 

Todos sorriram e eu não consegui entender a piada, apenas aceitei o cumprimento educado, mas só balancei a cabeça e sorri de maneira tímida.

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