Charlotte
O senhor Carter era um homem muito interessante, parecendo ser uma pessoa bastante descontraída. Ele era alto e loiro, parecendo até mesmo um deus nórdico com seus olhos azuis claríssimos.
— Eu sou Melanie Taylor, tia oficial desses três belíssimos homens a sua frente – a senhora brincou, me estendendo a mão, mas me puxando para um rápido abraço acompanhado por um beijo em cada lado da face.
Olhei então para o último a se aproximar, que era totalmente o inverso do Carter, com sua expressão séria e compenetrada, parecendo sorrir raramente.
— Brian Taylor – disse, apenas, e apertou a minha mão de maneira breve.
— É um prazer conhecer todos vocês – eu falei, usando toda a força de vontade que existia em mim, pois me sentia bastante envergonhada, principalmente após notar como o senhor Taylor me olhou.
Continuamos no museu, no quarto andar, onde havia a exposição de fósseis de dinossauros, a preferida de Eloá. A conversa animada entre o senhor Mackenzie e a Eloá continuou, enquanto eu me mantinha discreta. A senhora Melanie me incluía nas conversas de forma discreta, mostrando interesse pelo meu trabalho na casa dos Mackenzie.
Percebi que ela também não gostava de Martina, pois suas frases indicavam sua concordância comigo sobre o tratamento desagradável que a mãe dava a Eloá. Apesar de não mencionarmos diretamente, pude entender sua opinião.
— Não entendo por que a Martina precisa ter duas babás – ela falou em dado momento e eu a olhei alarmada. – A Eloá é a criança mais tranquila que já vi em toda a minha vida e a Martina não trabalha.
Eu me mantive em silêncio, pois não sabia nem o que falar. Temia também falar alguma bobagem e preferi não correr esse risco.
— Mas eu fico muito feliz em ver que a Eloá tem você e a Nicole com ela – disse e aquilo me deixou novamente surpresa. – É notável o quanto a Nicole ama a Eloá e eu diria que você também gosta bastante de nossa menininha.
— Sim, senhora Melanie – Concordei, pois era a mais pura verdade.
— Não precisa me chamar de senhora, pois eu diria que você e a Nicole são como pessoas da nossa própria família, pela forma como tratam a nossa pequena.
— Sim, senhora – apenas concordei de maneira rápida.
Eu estava tão habituada na casa dos Mackenzie a não expor nada além de sim e não, que quando a senhora Melanie me parou e me olhou de maneira séria, segurando em minha mão, eu analisei rapidamente o que poderia ter causado aquela sua reação, mas não encontrei nada em meu comportamento e fiquei nervosa.
— Eu sei que a Martina é uma megera e deve tratar vocês muito mal, incluindo a própria filha, o que eu considero abominável – ela falou me olhando com atenção. – Mas não pense que todos nós somos iguais a ela. Muito pelo contrário.
Eu assenti sem dizer nada, reconhecendo a gentileza e o amor que aquelas pessoas demonstravam tanto por Eloá quanto por mim. No entanto, o senhor Taylor era uma exceção. Sua postura austera e fechada não mudava, exceto quando Eloá dizia algo engraçado e ele sorria. A maior parte do tempo, ele conversava de forma séria com todos, enquanto eu sentia seu olhar atento sobre mim.
Eu tentava evitar seu olhar, mas algo me atraía para ele involuntariamente, e percebia que ele também me observava com uma expressão indecifrável. Ao final do passeio, fomos a uma famosa cafeteria, onde nos sentamos em uma mesa ao ar livre. Agradeço ao senhor Mackenzie por me pedir para não usar o uniforme de babá, pois chamaria menos atenção. Enquanto todos continuavam sua animada conversa, o senhor Taylor, que me observava atentamente, percebeu que Eloá estava cansada antes mesmo que eu pudesse mencionar, e comentou isso.
— Acredito que já está na hora de irmos – ele falou. – A Eloá parece cansada, não é mesmo, Charlotte?
— Sim, senhor – respondi baixando o olhar, pois tinha certeza que havia ficado completamente vermelha, ao sentir minhas bochechas arderem.
— Então vamos todos – Melanie concordou. – Eu também já não sou tão jovem. – Completou com um sorriso.
Eles se despediram todos e eu apenas acenei, me afastando e levando comigo a Eloá, que estava bocejando e apenas sorriu para todos quando eu a peguei pela mão e comecei a caminhar
Mas a senhora Melanie veio até mim e me deu um abraço que me deixou um pouco atordoada, pois foi totalmente inesperado.
— Você é uma jovem muito madura para a sua idade, Charlotte. É perceptível pelo seu jeito de ser – ela falou, ainda segurando em minhas mãos após me soltar. – Gostei bastante de te conhecer. Você é uma garota especial, assim como a Nicole também é.
— É.… obrigada, senhora Melanie – falei timidamente.
— Não tem nada para me agradecer. A Eloá tem muita sorte em ter vocês duas com ela. E já falei para me chamar apenas de Melanie.
Sorri com a forma tão espontânea da “tia” Melanie, pois a achei uma pessoa muito gentil e totalmente diferente de seu sobrinho Taylor.
— Até mais, Charlotte – o senhor Carter falou ao se aproximar de nós. – Foi um prazer te conhecer.
— Obrigada, senhor Carter.
Apesar de todos estarmos ali, o senhor Taylor apenas acenou para mim e se afastou.
— Vamos, tia – ele falou em seu tom sisudo.
— Não ligue para ele – ela falou acenando sua mão em tom de descaso. – É um menino excelente.
A olhei com dúvida, mas não comentei nada. Não poderia, tendo em vista que eu era apenas uma babá.
Brian Assinei a última folha da pilha de documentos que a minha secretária havia colocado em cima de minha mesa há mais de uma hora e suspirei aliviado. Estava cansado. A semana havia sido atribulada, tanto no escritório, como fora dele, e eu não tive tempo para muita coisa, além de trabalhar. Mas isso era algo a que eu já estava habituado, afinal eu era o CEO de uma empresa de tecnologia multimilionária, a maior empresa do ramo no país e isso acarretava muitas responsabilidades. Construí meu império com muito esforço e o trabalho nunca me assustou, mas eu precisava admitir andar mais cansado nos últimos tempos. Era chegado o momento de delegar mais algumas das minhas funções e observar a possibilidade de tirar férias de verdade. Não apenas alguns poucos dias de distração. — Você pode chamar o Carter e o Mackenzie na minha sala, Margareth? — pedi para minha secretária, uma senhora na casa dos cinquenta anos, muito eficiente e que jamais havia deixado a desejar em seu traba
Brian Eu me considero uma pessoa inteligente e que não precisava passar pela mesma situação duas vezes para aprender a lição. Jamais me envolveria em um relacionamento novamente, pois se quando eu não tinha todo o dinheiro que eu possuía atualmente, fui alvo de pessoas interesseiras, quanto mais agora, que eu tinha a maior fortuna dos Estados Unidos. — Vou te ensinar uma coisa bem simples, meu amigo Brian – foi a vez do Douglas falar. – Para ter um filho, você precisa primeiramente encontrar uma mulher, seja para namorar, casar ou apenas transar mesmo. De outra forma, não é possível. Quando ele terminou de falar aquilo, soltou uma sonora gargalhada e eu fiquei aguardando enquanto ele se divertia às minhas custas. — Apenas de olhar para a expressão em seu rosto, já imagino como você pretende ter um filho sem se envolver com mulher alguma – Oliver apontou e eu tinha certeza de que ele realmente sabia o que se passava em minha mente. Foi a vez de Douglas parar de fazer graça e t
Brian Brian Cheguei em casa já passava das vinte horas, algo corriqueiro para mim, uma vez que ficava sempre na empresa até tarde. Mas já fazia alguns meses que eu sentia faltar algo em minha vida e a perspectiva de ter um filho estava cada dia me causando ansiedade. Chegar em casa e ter uma criança, que seria cuidada e amada por minha tia, assim como ela havia me criado, seria uma sensação maravilhosa e eu tinha certeza de que traria um novo vigor a minha vida monótona. — Que bom que você chegou, Brian – Tia Melanie cumprimentou ao me ver entrar na sala do apartamento em que morávamos, em uma região nobre de Nova Iorque. — Boa noite, titia. A beijei no rosto, após largar a pasta em cima de uma poltrona qualquer, me jogando em um dos sofás em um tom de verde-escuro que combinava muito bem com as cortinas na cor bege, assim como eram também os carpetes da espaçosa sala se estar elegante. A minha tia era uma mulher de gostos simples, mas que admirava tudo o que era belo e
Charlotte Charlotte As coisas na casa dos Mackenzie já eram difíceis por causa do temperamento difícil da dona Martina, mas ficaram ainda piores. O senhor Mackenzie era gentil e tentava estar presente na vida das filhas, mas eu evitava sua companhia, pois a Martina estava cada vez mais ciumenta e eu não queria chamar sua atenção, assim como acontecia com a Nicole, que era maltratada pela dona da casa. Eu não era tratada com tanta hostilidade, mas também não era tratada com bondade. Depois de passarmos um fim de semana na casa da Nicole, onde ficou evidente que a Martina não concordava com seu marido em nos dar folga ao mesmo tempo, ela começou a me tratar com rispidez. Não sei exatamente quando isso aconteceu, mas a Martina passou de uma patroa exigente para alguém que tornava a vida das babás um verdadeiro inferno. A cada dia que passava, seu tratamento piorava, sem motivo aparente. Em um momento em que estávamos sozinhas arrumando o closet da Eloá, perguntei à Nicole se ela tinh
Oliver Cheguei em casa um pouco mais tarde naquela noite, pois tive que comparecer a uma audiência onde a Reloading era uma das partes, que acabou por demorar bem mais do que eu gostaria. Entrei no meu quarto e encontrei a cama arrumada e a Martina não estava em lugar algum. Não fui à procura de informações sobre a minha querida esposa. Eu não me importava em saber onde ela estava ou o que estaria fazendo. A única coisa que esperei sempre da Martina foi que cuidasse da nossa filha com carinho e atenção, duas coisas que ela nunca fez e que estava tornando cada dia mais insustentável a minha convivência com ela. No início do nosso casamento ela até conseguiu me convencer de que era uma mãe amorosa, mas nada que o tempo não conseguisse mostrar a verdade. Meus amigos pensavam que eu não sabia quem era de fato a minha esposa, mas eu apenas não queria envolver outras pessoas na minha relação já tão complicada. Depois que tomei banho, fui diretamente para o quarto da minha pequena, poi
Charlotte Apesar de toda a minha resistência em ir para a casa da Nicole, acabei aceitando a oferta de passar uma noite em sua casa e fui acolhida com muito carinho por parte de todos e aquilo mexeu muito comigo. Até mesmo os sobrinhos da Nicole correram para me abraçar ao me ver entrar junto com a sua tia e esse simples gesto vindo de duas crianças me emocionou. A cama da Nicole era de casal, pois havia sido doação de uma vizinha que foi embora para outro país. Por este motivo, nós duas conseguimos dormir de maneira bastante confortável. No dia seguinte, acordei disposta a procurar as freiras e explicar a minha situação, ver se elas conseguiam me ajudar de alguma forma, talvez conseguindo um novo trabalho onde eu pudesse morar, assim como era na casa dos Mackenzie. Nicole não me deixou ir e insistiu que eu deveria acompanhar ela para uma agência de empregos, onde pudéssemos conseguir algum trabalho, ao menos para uma de nós e, sendo bem otimista como só a Nicole conseguia ser, e
Brian A frustração estava tomando conta de mim, pois já fazia algumas semanas que eu havia pedido a ajuda do Oliver para encontrar a mulher que iria gerar o meu filho, mas até o momento eu ainda não havia obtido resultados satisfatórios. Estava agora em minha cobertura juntamente com os meus amigos, e o assunto estava gerando muita discussão entre nós. — Por que você não procura naquelas listas que as clínicas oferecem? – Douglas questionou. — Já tentamos, mas o Brian não gostou de nenhuma das mulheres que apresentei para ele – Oliver explicou. – E eu até agora não entendi por qual motivo. O Oliver estava certo e eu também não entendia por que nenhuma das mulheres que eu lia os nomes nas fichas, todas elas com as características que eu desejava, não conseguia despertar o interesse. Era algo estranho e eu não sabia explicar, ainda mais em se tratando de mim mesmo, um homem sempre tão racional. — Da forma como você fala, parece até que você está se referindo a apresentar alguém,
Charlotte Eu estava muito preocupada com as minhas novas amigas, as quais considerava verdadeiramente como a família que nunca tive. Eu podia dizer, sem medo de estar equivocada, que já amava a todos. E o clima que se instalara na casa antes cheia de alegria, era algo triste de se presenciar. As crianças pareciam sentir a tensão da mãe e estavam cada dia mais quietas e aquilo era preocupante, pois já tinha até me acostumado a vê-los sempre felizes e aprontando juntos. Apesar de a Nicole ter conseguido um emprego temporário, era muito mal remunerado e ela trabalhava oito horas, praticamente sem intervalo, em uma lanchonete e o que ganhava só estava sendo suficiente para manter as despesas da casa, assim como eu também ajudava com o que eu ganhava. Mas não era possível conseguir dinheiro suficiente para evitar perder a casa, pois somente em um sonho distante conseguiríamos levantar o valor necessário para repassar ao novo proprietário. Isso, caso ele de fato aceitasse repassar a ca