Brian
Brian
Cheguei em casa já passava das vinte horas, algo corriqueiro para mim, uma vez que ficava sempre na empresa até tarde. Mas já fazia alguns meses que eu sentia faltar algo em minha vida e a perspectiva de ter um filho estava cada dia me causando ansiedade.
Chegar em casa e ter uma criança, que seria cuidada e amada por minha tia, assim como ela havia me criado, seria uma sensação maravilhosa e eu tinha certeza de que traria um novo vigor a minha vida monótona.
— Que bom que você chegou, Brian – Tia Melanie cumprimentou ao me ver entrar na sala do apartamento em que morávamos, em uma região nobre de Nova Iorque.
— Boa noite, titia.
A beijei no rosto, após largar a pasta em cima de uma poltrona qualquer, me jogando em um dos sofás em um tom de verde-escuro que combinava muito bem com as cortinas na cor bege, assim como eram também os carpetes da espaçosa sala se estar elegante.
A minha tia era uma mulher de gostos simples, mas que admirava tudo o que era belo e prezava muito pela organização. Ela cuidava de mim com muito carinho, assim como faria uma mãe. A mãe que eu não tive.
— Estava esperando você para o jantar.
Ao ouvir que a minha tia ainda não havia jantado, peguei minha pasta novamente e me apressei em direção às escadas que levavam ao segundo andar do nosso tríplex. Não gostava quando ela optava por adiar a hora do seu jantar para me esperar.
— Vou tomar um banho e já desço.
Tomei uma ducha rápida e logo estava de volta à sala de estar. Seguimos juntos para o salão de jantar, local onde gostávamos de fazer nossas refeições, apesar de ser uma mesa que facilmente acomoda doze pessoas e sermos apenas nós dois.
Eu amava a minha tia, pois ela sim sempre esteve ao meu lado, me apoiando em todos os momentos, mesmo quando ela não concordava com as minhas atitudes.
— Já contou para os meninos sobre a sua decisão?
Os “meninos” eram o Douglas e o Oliver, os quais ela tratava como se ainda fossem apenas dois adolescentes e não dois homens na casa dos trinta anos, como de fato eram.
— Eu os reuni hoje à tarde para contar – Diante de sua expressão interrogativa, entendi que ela gostaria de saber mais que isso. – Os dois não concordam que esta seja a melhor maneira, mas eles irão me ajudar nesta empreitada.
Eu havia decidido ser este o momento de aumentar a nossa família, gerar um herdeiro para deixar o legado que construí com bastante esforço e empenho, porém eu não desejava casar-me de forma alguma.
Não desejava nem mesmo ter um relacionamento de longo prazo, pois estava mais que satisfeito em me envolver apenas de maneira superficial com as mulheres que me despertavam o interesse.
Meus encontros se resumiam a sexo e eu não pretendia mudar aquilo e muito menos envolver uma criança na equação. Jamais poderia ter certeza de que a mulher que eu escolhesse para formar uma família, seria mesmo uma boa mãe para o meu filho.
Eu não gostava de incertezas, de me arriscar e dar tiro no escuro, não era uma possibilidade para mim.
— É assim que chamam ter um filho agora? Empreitada?
A minha tia não concordou com a minha ideia de ter um filho através de inseminação artificial feita em uma estranha, mas eu não seria demovido da ideia de forma alguma e falei exatamente isso para ela, que me conhecia o bastante para saber que eu estava falando a verdade.
Mas jamais poderia destratar aquela que sempre me tratou com tanto amor, abdicando até mesmo de ter sua própria família, apenas para cuidar do sobrinho. Ela era a minha única família hoje, além dos meus amigos, os quais eu considerava como irmãos e por esse motivo, sempre a trataria com carinho, mesmo quando discordava de mim, como naquele momento.
— É como eu estou chamando, tia – falei, buscando sua mão e a segurando com carinho. – Eu peço que me entenda, mas caso isso não seja possível, gostaria que continuasse a me apoiar mesmo assim.
Minha tia cuidava da nossa casa com muito zelo e sempre havia sido bastante amorosa comigo, cuidando de mim desde que eu era apenas um bebê e minha mãe me abandonou na porta da casa do meu pai, sem nunca ter entrado em contato para saber nada sobre o filho que abandonou.
Minha tia e o meu pai sempre foram as pessoas mais importantes da minha vida e recebi muito amor deles, e nada mais justo que retribuir aquilo.
Depois que o meu pai faleceu, há dez anos, ficamos só nós dois e ela continuava a cuidar de mim como se eu fosse um adolescente e não o homem de trinta e dois anos, mas eu a amava e gostaria de contar com a sua ajuda para criar meu filho.
— Eu sempre irei te apoiar, Brian – Ela retribuiu o carinho em minha mão. – Gostaria que você encontrasse uma boa mulher e que juntos formassem uma família. Mas cada um de nós deve fazer suas próprias escolhas.
— Obrigado, tia – falei, beijando seu rosto.
— Não vejo a hora de ter novamente sem meus braços um bebê. – ela falou emocionada.
— Logo teremos uma criança aqui conosco – falei com convicção. – Tenho certeza de que não demora até eu conseguir encontrar uma mulher que tenha os requisitos que desejo e que possa então gerar o meu herdeiro.
— Ela irá gerar o seu filho, Brian – minha tia me repreendeu. – Isso não será mais um de seus negócios e não vamos tratar como se fosse. É tudo que peço a você, meu sobrinho.
Analisei suas palavras e concordei com um aceno. Mas não pensava daquela forma, só queria estar bem com a minha tia. Aquele seria apenas mais um negócio sim, pois seria feito sem envolver sentimentos e mediante um pagamento generoso que eu pretendia fazer para a mulher que fosse selecionada por meu advogado para ser a genitora, mas jamais mãe do meu filho.
Durante a gravidez, tudo seria intermediado por terceiros e eu não queria nem mesmo conhecer a mulher que estaria carregando aquele bebê. No entanto, após ter o meu filho em meus braços, tudo seria diferente, pois estaria somente a minha família na história, que éramos eu, minha tia e o meu pequeno. Até isso acontecer, tudo seria baseado em um contrato.
— Tudo bem, tia - falei em tom conciliador.
— E como está a Eloá? – ela enfim resolveu mudar de assunto, o que agradeci internamente.
Minha tia gostava muito da filha do Oliver e seu sentimento era retribuído com toda a certeza, pois a pequena Eloá ficava muito feliz sempre que o seu pai a trazia ao nosso apartamento, algo que ele fazia com bastante frequência.
— Está bem - falei com um sorriso. — Oliver nos convidou para ir ao museu nesse fim de semana, pois quer fazer um programa diferente com a pequena. Ele pretendia levar a Nicole para o auxiliar com os cuidados da Eloá, mas eu disse que a senhora adoraria fazer isso para ele.
— A Eloá gosta bastante da Nicole e eu também — minha tia falou, mas eu já sabia disso. – Não me incomodo de cuidar da pequena, mas também gostaria que a Nicole fosse conosco.
Na verdade, eu poderia afirmar que não era apenas a minha tia e a Eloá que gostavam muito da jovem babá. Eu já havia notado existir uma atração entre Oliver e a Nicole. Mas eu já havia questionado ao meu amigo sobre isso e ele havia negado com firmeza. Até mesmo foi ríspido comigo e com o Douglas sobre esse assunto.
De qualquer forma, eu tinha convicção que o meu amigo jamais trairia a esposa, o que impedia qualquer envolvimento afetivo entre ele e a garota, pelo menos por enquanto ele era casado com a megera da Martina.
— Mas mudando de assunto, ou melhor, mudando de babá, a Eloá me contou que a Charlotte, a outra babá, também é bastante amorosa e cuida dela com muito amor — minha tia contou. — Ela cresceu em um orfanato e não tem família alguma.
— Lembro de o Oliver ter falado algo sobre o assunto - comentei. - Me parece que foi o padre da igreja que o Oliver frequenta que pediu pela moça.
— O Oliver é um excelente garoto – Sorri com a referência.
— Somos todos uns bons garotos, tia. Alguns mais, outros menos.
— Alguns bem menos, devo acrescentar – ela me olhou com divertimento ao falar aqui. – Mas tenho certeza de que essa criança só trará alegrias para nós, assim como a Eloá, e teremos dias ainda mais felizes.
Charlotte Charlotte As coisas na casa dos Mackenzie já eram difíceis por causa do temperamento difícil da dona Martina, mas ficaram ainda piores. O senhor Mackenzie era gentil e tentava estar presente na vida das filhas, mas eu evitava sua companhia, pois a Martina estava cada vez mais ciumenta e eu não queria chamar sua atenção, assim como acontecia com a Nicole, que era maltratada pela dona da casa. Eu não era tratada com tanta hostilidade, mas também não era tratada com bondade. Depois de passarmos um fim de semana na casa da Nicole, onde ficou evidente que a Martina não concordava com seu marido em nos dar folga ao mesmo tempo, ela começou a me tratar com rispidez. Não sei exatamente quando isso aconteceu, mas a Martina passou de uma patroa exigente para alguém que tornava a vida das babás um verdadeiro inferno. A cada dia que passava, seu tratamento piorava, sem motivo aparente. Em um momento em que estávamos sozinhas arrumando o closet da Eloá, perguntei à Nicole se ela tinh
Oliver Cheguei em casa um pouco mais tarde naquela noite, pois tive que comparecer a uma audiência onde a Reloading era uma das partes, que acabou por demorar bem mais do que eu gostaria. Entrei no meu quarto e encontrei a cama arrumada e a Martina não estava em lugar algum. Não fui à procura de informações sobre a minha querida esposa. Eu não me importava em saber onde ela estava ou o que estaria fazendo. A única coisa que esperei sempre da Martina foi que cuidasse da nossa filha com carinho e atenção, duas coisas que ela nunca fez e que estava tornando cada dia mais insustentável a minha convivência com ela. No início do nosso casamento ela até conseguiu me convencer de que era uma mãe amorosa, mas nada que o tempo não conseguisse mostrar a verdade. Meus amigos pensavam que eu não sabia quem era de fato a minha esposa, mas eu apenas não queria envolver outras pessoas na minha relação já tão complicada. Depois que tomei banho, fui diretamente para o quarto da minha pequena, poi
Charlotte Apesar de toda a minha resistência em ir para a casa da Nicole, acabei aceitando a oferta de passar uma noite em sua casa e fui acolhida com muito carinho por parte de todos e aquilo mexeu muito comigo. Até mesmo os sobrinhos da Nicole correram para me abraçar ao me ver entrar junto com a sua tia e esse simples gesto vindo de duas crianças me emocionou. A cama da Nicole era de casal, pois havia sido doação de uma vizinha que foi embora para outro país. Por este motivo, nós duas conseguimos dormir de maneira bastante confortável. No dia seguinte, acordei disposta a procurar as freiras e explicar a minha situação, ver se elas conseguiam me ajudar de alguma forma, talvez conseguindo um novo trabalho onde eu pudesse morar, assim como era na casa dos Mackenzie. Nicole não me deixou ir e insistiu que eu deveria acompanhar ela para uma agência de empregos, onde pudéssemos conseguir algum trabalho, ao menos para uma de nós e, sendo bem otimista como só a Nicole conseguia ser, e
Brian A frustração estava tomando conta de mim, pois já fazia algumas semanas que eu havia pedido a ajuda do Oliver para encontrar a mulher que iria gerar o meu filho, mas até o momento eu ainda não havia obtido resultados satisfatórios. Estava agora em minha cobertura juntamente com os meus amigos, e o assunto estava gerando muita discussão entre nós. — Por que você não procura naquelas listas que as clínicas oferecem? – Douglas questionou. — Já tentamos, mas o Brian não gostou de nenhuma das mulheres que apresentei para ele – Oliver explicou. – E eu até agora não entendi por qual motivo. O Oliver estava certo e eu também não entendia por que nenhuma das mulheres que eu lia os nomes nas fichas, todas elas com as características que eu desejava, não conseguia despertar o interesse. Era algo estranho e eu não sabia explicar, ainda mais em se tratando de mim mesmo, um homem sempre tão racional. — Da forma como você fala, parece até que você está se referindo a apresentar alguém,
Charlotte Eu estava muito preocupada com as minhas novas amigas, as quais considerava verdadeiramente como a família que nunca tive. Eu podia dizer, sem medo de estar equivocada, que já amava a todos. E o clima que se instalara na casa antes cheia de alegria, era algo triste de se presenciar. As crianças pareciam sentir a tensão da mãe e estavam cada dia mais quietas e aquilo era preocupante, pois já tinha até me acostumado a vê-los sempre felizes e aprontando juntos. Apesar de a Nicole ter conseguido um emprego temporário, era muito mal remunerado e ela trabalhava oito horas, praticamente sem intervalo, em uma lanchonete e o que ganhava só estava sendo suficiente para manter as despesas da casa, assim como eu também ajudava com o que eu ganhava. Mas não era possível conseguir dinheiro suficiente para evitar perder a casa, pois somente em um sonho distante conseguiríamos levantar o valor necessário para repassar ao novo proprietário. Isso, caso ele de fato aceitasse repassar a ca
Charlotte Já estava trabalhando novamente como babá da Eloá há uma semana e a rotina era totalmente diferente da antiga residência dos Mackenzie, o que era algo verdadeiramente positivo. Eu estava gostando muito de estar agora com a Eloá no novo apartamento e tive a oportunidade de conhecer a tia Melanie melhor, que era uma senhora muito gentil e por quem eu também passei a ter um carinho muito grande. Nós saímos juntas para fazer alguns programas com a Eloá e ela também nos visitava com frequência, desde que o senhor Oliver havia se mudado e, ao saber que eu estava responsável pelos cuidados com a pequena novamente, ela me abraçou e demonstrou estar feliz com o fato. Como a Eloá estava em seu período de férias de verão, nós estávamos fazendo vários programas para passar o tempo livre, mas eu não conseguia me divertir realmente junto com a pequena e senhora Melanie, que quase sempre nos acompanhava, tamanha era a preocupação com a situação das minhas amigas. Eu passava o dia com
Oliver Quando a babá da minha filha disse que queria conversar comigo sobre um assunto muito sério, eu realmente não imaginei, nem por um segundo, quão genuína era aquela afirmação. — Então, você ouviu quando eu estava conversando com o Carter e acredita que consegue assumir esse papel? — questionei, só para ter certeza de que eu havia ouvido aquilo corretamente. — Sim. Olhei para a Nicole, que também estava conosco na minha sala de estar, que também estava se propondo a mesma coisa que a Charlotte, e lembrei da forma como a minha filha pulou de alegria ao ver a sua antiga babá. Eu nunca antes havia visto a minha filha tão feliz simplesmente por ver alguém, como ela havia ficado quando viu a Nicole, e aquilo mexeu comigo de uma forma singular. Eu já sabia que Eloá gostava muito da jovem que cuidou dela por mais de dois anos, mas não tinha realmente ideia do quão grande era aquele sentimento. Mas, pensando melhor, desde que saímos de nossa casa e, consequentemente, nos afastamo
Charlotte — Você tem certeza de que vai fazer isso mesmo, Charlotte? – Emily perguntou pela décima vez, só na última hora. — Eu estou decidida e nenhuma de vocês vai conseguir me fazer mudar de ideia – falei em um tom de voz que não abrisse espaço para mais dúvidas Eu não iria desistir. — Eu sei que a necessidade está falando mais alto, mas tenho medo de que você venha a se arrepender depois, Charlotte – Dessa vez foi a Nicole a tentar me fazer mudar de ideia. As minhas duas melhores amigas estavam se revezando nos últimos dias, na tentativa de me fazer voltar atrás em minha decisão, mas elas não estavam obtendo êxito algum e já deveriam ter desistido. — Charlotte Thompson? – a atendente da clínica chamou. — Volto logo. Caminhei até a simpática atendente, que tinha um sorriso no rosto, possivelmente na tentativa de passar a sensação de tranquilidade para aqueles que ali chegavam. Entramos em um consultório médico e depois que o experiente doutor me explicou todo o procedi