Capítulo 3 - Um jogo de Sedução

Maeve

O silêncio no carro era pesado enquanto Ricardo dirigia em direção à casa de sua mãe. Mesmo depois do acidente, ele insistiu que a viagem continuasse, e, por mais que eu quisesse protestar, sabia que ele estava certo. Não podíamos perder tempo, e a promessa de que estaríamos de volta para o aniversário da minha avó ainda ressoava na minha cabeça. Meu pé doía, mesmo imobilizado, e o desconforto da viagem apenas me lembrava do caos em que minha vida havia se tornado.

Olhei de soslaio para Ricardo. Ele parecia tranquilo, focado na estrada, mas o silêncio entre nós era quase ensurdecedor. Algo estava diferente nele desde a visita ao hospital, como se o gesto da surpresa com minha avó tivesse quebrado uma barreira.

— Você está quieta — ele disse, sem tirar os olhos da estrada.

— Só estou pensando — respondi, suspirando em seguida. — Em tudo que está acontecendo. Minha avó, esse acordo...

Ele assentiu lentamente, sem desviar o olhar.

— Eu sei que não é fácil, Maeve. Mas você tomou a decisão certa. E, além disso, já fizemos o mais difícil: convencer sua avó de que tudo está bem.

Eu sabia que ele tinha razão, mas ainda sentia um desconforto dentro de mim. Como se algo estivesse fora de lugar. Ricardo, sempre tão seguro e confiante, agora parecia mais presente, quase atencioso.

— Sei que fizemos o mais difícil, mas... ainda me sinto perdida — admiti, mexendo na bandagem do meu pé, tentando afastar a dor física e emocional.

— Talvez isso mude quando chegarmos à casa da minha mãe — ele sorriu de lado, um sorriso que eu ainda não tinha visto antes. — Quem sabe esse acordo seja mais interessante do que você imagina.

Olhei para ele, tentando entender o que ele queria dizer. Antes que eu pudesse responder, Ricardo parou o carro na entrada de um restaurante de beira de estrada.

— Vamos parar um pouco. Eu prometi que você estaria de volta a tempo do aniversário da sua avó, mas não quero te forçar a passar horas sem descansar.

Ele saiu do carro rapidamente e, antes que eu pudesse argumentar, estava abrindo a porta para me ajudar. Aquilo era uma surpresa. Ricardo Kurtz, o homem arrogante e sempre distante, estava me ajudando a sair do carro como se fosse um cavalheiro. Quando me pegou pela cintura para evitar que eu colocasse peso no pé, senti um arrepio percorrer meu corpo.

— Eu consigo andar — murmurei, mais para mim mesma do que para ele.

— Não seja teimosa. — Ele sorriu, e havia algo em seus olhos que me desarmou. — Só quero garantir que você não se machuque mais.

Caminhamos até o restaurante, e ele escolheu uma mesa mais afastada. O ambiente era simples, mas confortável. Eu estava surpresa pela mudança repentina de comportamento de Ricardo.

— Isso é estranho — comentei, enquanto ele puxava a cadeira para mim.

— O quê? — Ele perguntou, com um sorriso travesso no rosto.

— Você, sendo gentil. Normalmente, você só faz o necessário para conseguir o que quer.

Ele riu baixo, sentando-se à minha frente.

— Não é tão difícil ser gentil, Maeve. Talvez você não tenha me conhecido tão bem quanto pensa.

Ricardo

Enquanto nos sentávamos, eu não conseguia tirar os olhos dela. Mesmo com o pé machucado, Maeve tinha uma força interna que me intrigava. Claro, esse acordo era conveniente para ambos, mas havia algo mais nela que me fazia querer estar perto, entender seus pensamentos.

Ela parecia desconfiada de mim, o que não era uma surpresa, mas isso só tornava as coisas mais interessantes.

— Então, o que você quer de verdade, Ricardo? — ela perguntou, olhando diretamente para mim, sem rodeios.

Gosto dessa atitude, pensei. Ela não mede palavras.

— Eu já te disse, quero que você finja ser minha noiva — respondi com um sorriso, mas logo me aproximei um pouco mais, apoiando os cotovelos na mesa. — Mas acho que, no fundo, estou começando a achar que quero mais do que isso.

Maeve arqueou uma sobrancelha, claramente surpresa.

— Mais? Como assim? — Ela estava desconfiada, como se estivesse esperando que eu estivesse brincando com ela.

Eu podia ver que minha resposta a deixava nervosa, e isso me dava uma certa satisfação.

— Não se preocupe, Maeve. Não estou falando de um compromisso de verdade... ainda. — Eu ri, e ela revirou os olhos. — Mas, admito, você me intriga. E essa situação está me fazendo pensar que talvez fingir não seja tão ruim assim.

— Isso é um jogo para você, não é? — ela perguntou, cruzando os braços e me encarando.

Eu sabia que ela estava tentando manter o controle, mas algo em sua postura revelava uma vulnerabilidade que eu nunca tinha visto antes.

— Talvez. — Eu me aproximei um pouco mais, minhas palavras saindo de forma propositalmente lenta. — Ou talvez eu esteja apenas curioso para ver até onde podemos ir com isso.

Ela ficou em silêncio por um momento, mordendo o lábio, como se estivesse ponderando o que eu havia dito. Eu sabia que estava a pressionando, mas esse era o meu estilo. E, além disso, algo nela me fazia querer provocá-la.

— Eu não sou um brinquedo, Ricardo. — Ela disse, com firmeza, mas havia algo mais em sua voz. Um certo desafio.

— Eu sei disso. E talvez seja isso que me atraia. — Me inclinei ainda mais sobre a mesa, minha voz baixa. — Você não é como as outras, Maeve. E eu gosto disso.

Ela piscou, claramente surpresa com minhas palavras, mas antes que pudesse responder, a garçonete chegou com nossos pedidos. O momento se quebrou, mas a tensão entre nós permaneceu.

Durante o resto da refeição, as conversas foram mais leves, mas eu continuei a provocá-la, jogando charme aqui e ali, observando suas reações. Sabia que estava deixando-a desconfortável, mas também via que ela começava a ceder. Maeve era forte, mas também estava vulnerável, e isso me atraía de uma forma que eu não esperava.

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De volta ao carro, a tensão entre nós ainda pairava no ar. Maeve estava silenciosa, mas eu sabia que ela estava processando tudo o que havíamos discutido. Chegamos à casa da minha mãe um pouco depois do anoitecer, e enquanto eu a ajudava a sair do carro, senti sua hesitação.

— Lembra do que eu disse — murmurei, segurando sua cintura para ajudá-la a caminhar. — Estamos nisso juntos. E eu prometi que estaria do seu lado, não foi?

Ela assentiu, mas eu podia ver o nervosismo em seus olhos. E, pela primeira vez, algo dentro de mim quis protegê-la, de uma forma que ia além do nosso acordo.

Quando entramos, minha mãe estava nos esperando na porta, com um sorriso largo no rosto.

— Ah, finalmente! — Ela exclamou, caminhando em nossa direção. — Ricardo, por que não me disse que Maeve tinha se machucado?

— Eu avisei, mãe — respondi, mantendo a calma. — Mas está tudo bem agora. Já estamos cuidando dela.

Minha mãe olhou para Maeve com um olhar de compaixão e, antes que pudesse continuar, Gustavo ligou. Atendi rapidamente, e logo ele estava em uma chamada de vídeo, mostrando a comemoração simples que havia feito com a avó de Maeve.

— Feliz aniversário, vovó! — Maeve disse, com lágrimas nos olhos. Ela parecia tão aliviada e comovida, que meu peito se apertou.

Quando a chamada terminou, minha mãe sorriu e olhou para nós dois.

— Eu adorei conhecer sua avó, Maeve. Que mulher doce. Ela ficou tão feliz com a surpresa.

Maeve sorriu timidamente, ainda emocionada. Eu, por outro lado, fiquei impressionado com o quanto aquele momento havia me tocado também. Ver Maeve tão conectada à avó me fez perceber que, de alguma forma, eu estava me envolvendo mais do que planejava.

Ao final da noite, com minha mãe já começando a fazer as perguntas que temíamos, eu apenas sorri e olhei para Maeve.

— Vamos lidar com isso juntos — murmurei, mais para mim do que para ela. Mas sabia que, de alguma forma, isso estava se tornando mais do que um simples acordo.

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