RicardoEu nunca fui o tipo de homem que se deixa levar por impulsos. Sempre fui calculista, controlado. Mas, ao sair daquele quarto, depois daquele beijo, me senti despedaçado. Maeve havia conseguido, de alguma forma, fazer com que eu perdesse o controle. E eu odiava isso tanto quanto desejava mais.Fechei a porta atrás de mim e me encostei na parede do corredor, tentando regular minha respiração. O gosto dela ainda estava nos meus lábios, e a sensação de sua pele macia ainda queimava em minhas mãos. Mas eu sabia que aquilo não era apenas sobre desejo. Havia algo mais profundo ali, algo que eu não queria admitir. Não ainda.Peguei meu celular e disquei o número de Gustavo. Precisava de uma distração, alguém com quem pudesse conversar e tentar colocar a cabeça no lugar. O telefone chamou uma vez antes de ele atender.— Ricardo, e aí? Como estão as coisas com a sua "noiva"? — O tom zombeteiro de Gustavo não ajudava.— Não tenho tempo para piadas agora, Gustavo — rosnei, passando a mão
MaeveA manhã seguinte veio como um soco. Quando abri os olhos, a luz suave do sol já filtrava pelas cortinas. A sensação do beijo de Ricardo ainda pairava no ar, como uma névoa que não conseguia dissipar. A cama ao meu lado estava vazia, e uma parte de mim sentiu um vazio maior do que eu gostaria de admitir.Sentei-me lentamente, tentando organizar meus pensamentos. O que aquilo significava? O beijo, as palavras não ditas, a tensão que parecia engolir tudo ao nosso redor? Eu não sabia como lidar com os sentimentos confusos que borbulhavam dentro de mim.— Bom dia. — A voz de Ricardo me tirou de meus pensamentos.Ele estava parado à porta, com uma bandeja de café da manhã nas mãos, parecendo surpreendentemente relaxado. Ele me olhou com aquele sorriso meio de lado, o tipo de sorriso que sempre me desarmava.— Café? — Ele colocou a bandeja na pequena mesa ao lado da cama e me olhou intensamente.A tensão ainda estava lá, latente no fundo, mas diferente do que eu esperava. Ricardo parec
MaeveEu estava diante do espelho, tentando encontrar alguma confiança no reflexo que me encarava. Era a segunda vez que eu veria a mãe de Ricardo, e, da última vez, eu tinha sido pega de surpresa. Agora, eu estava pronta para o julgamento inevitável.Mas pronta mesmo?— Maeve, você está bem? — Ricardo entrou no quarto, ajeitando a gravata, e me olhou de cima a baixo, com uma mistura de admiração e preocupação.— Eu estou... — murmurei, enquanto terminava de ajeitar o vestido. — Pelo menos, espero estar.Ricardo deu um passo à frente, seus olhos escaneando cada detalhe do meu visual. Seus dedos deslizaram pelo meu braço, causando um arrepio.— Você está linda — ele disse suavemente. — Minha mãe vai adorar.Revirei os olhos.— Ah, claro. Ela vai adorar julgar meu cabelo e dizer que o corte não combina com a "noiva de um Kurtz". — Tentei sorrir, mas sabia que aquilo estava me corroendo por dentro. Eu sabia que seria uma noite difícil, e ter que encarar a mãe de Ricardo de novo... bom, i
RicardoEu assisti Maeve correr para fora da joalheria, o vestido elegante balançando atrás dela, mas sua pressa não era por causa da festa. Era pela avó, e pela verdade que eu escondi. O gosto amargo do arrependimento subiu à minha garganta. Isabella ainda estava ao meu lado, falando sobre algo, mas já não importava.— Ricardo, o que está acontecendo? — ela perguntou, sua voz confusa, mas cheia de curiosidade.— Nada que você precise se preocupar — respondi secamente, sem paciência para discutir.Eu me afastei, passando a mão pelos cabelos, tentando descobrir uma maneira de consertar o desastre que eu havia causado. Ela já estava longe, e eu sabia que havia perdido a confiança de Maeve. A cada segundo que eu hesitava, ficava mais difícil recuperar o que estava desmoronando entre nós.Peguei meu celular e vi a mensagem de Gustavo. A piora da Sra. Emerson era drástica. Não havia mais tempo.MaeveCorri para o hospital como se minha vida dependesse disso. O que, de certa forma, dependia
MaeveAs palavras ainda ecoavam na minha cabeça: "Eu vou continuar fingindo até sua mãe ir embora." Nunca pensei que chegaria a esse ponto, de ter que me segurar para manter uma mentira de pé. Mas, no momento em que Ricardo abriu a boca para se desculpar, não pude evitar sentir uma onda de amargura tomar conta de mim.Ele estava ali, de pé, como se tivesse o direito de tentar me consolar. Como se eu não tivesse acabado de perder a pessoa mais importante da minha vida. Como se ele não tivesse quebrado minha confiança.— Maeve... — Ricardo começou novamente, com a voz baixa, como se estivesse tentando me alcançar.Eu levantei a mão, cortando-o no meio da frase.— Não. Não quero ouvir mais desculpas suas — minha voz saiu mais afiada do que eu esperava, mas eu não podia me controlar. — Eu disse que ia continuar com o acordo até sua mãe ir embora, e vou fazer isso. Mas entre nós... acabou.O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Eu podia sentir a tensão no ar, o peso de tudo o que nã
MaeveDepois que a Sra. Kurtz nos deixou sozinhos, o peso da última conversa com Ricardo ainda pendia no ar, sufocante. Eu estava cansada de mentiras, de esconder a verdade, de fingir que estava tudo bem quando meu coração estava em pedaços.Mas, ao mesmo tempo, havia algo em Ricardo... algo que eu não conseguia ignorar, por mais que tentasse. Cada vez que ele me olhava com aqueles olhos cheios de arrependimento, parte de mim queria ceder. Queria acreditar que ele realmente se importava, mesmo que tudo tivesse começado de forma tão calculada.Ele deu um passo hesitante na minha direção, seus olhos fixos nos meus, como se tentasse ler meus pensamentos.— Maeve... — ele começou, com a voz rouca, como se estivesse lutando para encontrar as palavras certas. — Eu sei que você não quer ouvir mais desculpas. E eu também sei que nada do que eu disser vai mudar o que aconteceu. Mas... por favor, me deixa tentar fazer as coisas certas.Eu o observei por alguns segundos, meu coração dividido ent
MaeveA manhã do funeral foi fria, como se o próprio tempo estivesse de luto junto comigo. O céu nublado refletia o que eu sentia por dentro, uma dor profunda e solitária. A avó sempre foi minha base, a pessoa que nunca me julgou e sempre esteve lá, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao meu redor.Agora, eu estava prestes a enterrá-la.Quando chegamos ao pequeno cemitério, percebi que apenas três pessoas estavam presentes: eu, Ricardo e o médico que havia cuidado dela nos últimos meses. Não houve flores, discursos comoventes ou multidão de parentes. Não houve sequer a presença de familiares, porque, afinal, ninguém nunca se importou com a minha avó além de mim.Ricardo estava em silêncio ao meu lado, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. Seu olhar sombrio me dizia mais do que qualquer palavra. Ele entendia o vazio que eu sentia, embora nem sempre soubesse como expressar isso.O médico, que havia sido tão atencioso durante todo o processo, estava a alguns passos de distância, obs
MaeveAceitar o pedido de Clara Kurtz para viajar com eles foi a última coisa que eu queria. Depois de tudo que aconteceu, a última coisa que eu precisava era me enredar ainda mais nesse teatro. Mas a mulher estava genuinamente preocupada comigo, e recusar seria... impossível.Ainda me sentia sufocada pela dor do luto, a imagem da minha avó, Sra. Emerson, no caixão voltando à minha mente a cada minuto. Mas lá estava eu, embarcando em um jato particular ao lado de Ricardo e sua mãe, Clara. Parecia surreal, como se eu estivesse vivendo uma vida que não era minha.A primeira noite no hotel foi difícil. Tentei manter distância de Ricardo, fazendo o mínimo de conversa possível. Ele respeitava o meu espaço, mas sua presença constante me irritava. Era como se ele estivesse sempre ali, à espreita, pronto para me oferecer ajuda, mesmo que eu não quisesse.— Você está bem, Maeve? — a voz suave de Clara interrompeu meus pensamentos. Ela me observava com um olhar preocupado, sentada na poltrona d