Capítulo 6 - Baile de Máscaras

Maeve

A manhã seguinte chegou como um peso inevitável. As palavras de Ricardo, sua sinceridade incomum na noite anterior, deixaram uma marca em mim. Eu ainda não sabia o que pensar, mas sabia que havia algo se movendo sob a superfície dessa farsa. E eu não sabia se queria ou podia lidar com isso.

Ricardo havia saído cedo para lidar com algum assunto de trabalho, e eu fiquei no quarto, pensando no jantar que a mãe dele mencionara na ligação. Seria um evento grande, algo que eu nunca havia experimentado. Um baile de máscaras em uma mansão. Pelo que ouvi, as expectativas estavam nas alturas, e eu teria que cumprir meu papel impecavelmente.

Enquanto estava perdida em pensamentos, alguém bateu na porta. Uma das empregadas entrou, carregando uma caixa grande e preta, com um laço dourado no topo.

— Isso chegou para a senhorita Maeve — ela disse com um sorriso discreto antes de deixar a caixa ao lado da cama.

Fiquei olhando para a caixa por alguns segundos, hesitante. Sabia que era algo de Ricardo. Abri o laço devagar, revelando um vestido longo e de seda azul, com detalhes em prata. Era deslumbrante, sofisticado e… assustador. A ideia de me misturar com aquele tipo de gente, escondendo minhas inseguranças atrás de um vestido caro e uma máscara, me fazia sentir uma impostora.

Eu estava prestes a fechar a caixa quando uma mensagem de Ricardo chegou ao meu celular: “Nos vemos no jantar. Não se atrase.”

Ele sabia ser direto e breve, mas, dessa vez, havia uma pitada de algo a mais. Talvez estivesse tentando garantir que eu realmente fosse.

Suspirei e, relutante, comecei a me preparar para o evento.

Ricardo

O baile de máscaras seria mais do que apenas uma noite social. Seria o palco onde as aparências prevaleceriam. Minha mãe estava empolgada para apresentar Maeve, a "noiva perfeita" que ela tanto sonhava. Eu, por outro lado, estava preocupado com os riscos que essa mentira estava gerando. Quanto mais o tempo passava, mais eu me via envolvido nisso de uma forma que nunca imaginei.

Cheguei ao salão antes de Maeve. A sala estava iluminada por candelabros enormes e decorada com cortinas de veludo vermelho. As máscaras douradas brilhavam sobre as faces dos convidados. Era uma celebração do poder, do status. Tudo que minha família representava.

Vi minha mãe do outro lado do salão, sorrindo e cumprimentando os convidados como a matriarca que sempre fora. Para ela, esse evento era crucial. E, como sempre, ela queria tudo perfeito.

Eu sabia que Maeve estaria nervosa. Mas ela era forte. Eu sabia que ela conseguiria se segurar até o final da noite.

De repente, o salão silenciou. Todos os olhares se voltaram para a entrada, e lá estava ela.

Maeve.

Ela estava magnífica no vestido azul que escolhi. Sua máscara prateada apenas ressaltava seus olhos profundos e a maneira como ela andava com confiança, mesmo que eu soubesse que por dentro, ela estava em pedaços.

Eu me aproximei devagar, sem tirar os olhos dela.

— Você está... incrível — murmurei, parando à sua frente.

— Obrigada — ela respondeu, a voz baixa, mas firme. — Mas não vou mentir. Estou nervosa.

Sorri, estendendo o braço para ela.

— Você vai se sair bem. É só uma noite. Finja que somos perfeitos... pelo menos até o baile acabar.

Ela soltou um suspiro, aceitando o braço que ofereci.

— Isso é o que fazemos de melhor, não é? Fingir.

Conduzi Maeve pelo salão, apresentando-a a alguns dos convidados mais importantes. Cada palavra, cada gesto, cada olhar, fazia parte do teatro que havíamos criado. E quanto mais a noite avançava, mais eu sentia que algo estava mudando entre nós.

Maeve

O salão estava lotado, e a música suave preenchia o ambiente, misturando-se com as risadas e conversas abafadas dos convidados. Eu me sentia como uma peça de um quebra-cabeça que não se encaixava. Mas, ao mesmo tempo, havia algo libertador em estar atrás de uma máscara. Era como se, por algumas horas, eu pudesse ser alguém diferente. Alguém confiante. Alguém que não se importava com as expectativas dos outros.

A mão de Ricardo permaneceu firme sobre a minha, como se estivesse me lembrando que estávamos nisso juntos. Era reconfortante, mesmo que fosse uma farsa.

— Quem diria que você sabia dançar tão bem? — ele sussurrou enquanto me girava pela pista de dança.

— Eu tenho meus segredos — respondi, tentando parecer descontraída.

Os olhos dele brilharam por trás da máscara dourada, e por um breve momento, esqueci de todo o caos ao nosso redor.

Mas a realidade logo nos alcançou.

Enquanto Ricardo e eu girávamos pela pista de dança, senti um par de olhos me observando. Olhei ao redor e, do outro lado da sala, vi a mãe dele. Seu olhar era afiado, quase como se estivesse analisando cada detalhe, esperando por um deslize.

— Sua mãe está nos observando — sussurrei, tentando esconder o desconforto.

Ricardo apenas sorriu, como se aquilo não o incomodasse.

— Deixe ela observar. Estamos fazendo exatamente o que ela espera. Finjamos que estamos perdidamente apaixonados.

Aquelas palavras, ditas de forma tão casual, causaram um arrepio em mim. Eu sabia que ele estava certo. Mas a linha entre o real e o fingimento estava ficando cada vez mais difícil de distinguir.

Antes que eu pudesse responder, uma figura se aproximou de nós. Um homem alto, de terno preto, com uma máscara prateada.

— Posso roubar a dama para uma dança? — ele perguntou a Ricardo, a voz cheia de charme.

Ricardo olhou para mim, e por um momento, vi algo estranho em seus olhos. Hesitação? Ciúmes?

— Claro — ele respondeu, soltando minha mão com relutância.

O homem me guiou para longe de Ricardo, e enquanto dançávamos, senti que havia algo de familiar nele. Seus movimentos, sua postura. E então, como um choque, percebi quem ele era.

Gustavo.

Meu coração disparou. O melhor amigo de Ricardo. O médico que cuidava da minha avó.

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