MaeveAs palavras ainda ecoavam na minha cabeça: "Eu vou continuar fingindo até sua mãe ir embora." Nunca pensei que chegaria a esse ponto, de ter que me segurar para manter uma mentira de pé. Mas, no momento em que Ricardo abriu a boca para se desculpar, não pude evitar sentir uma onda de amargura tomar conta de mim.Ele estava ali, de pé, como se tivesse o direito de tentar me consolar. Como se eu não tivesse acabado de perder a pessoa mais importante da minha vida. Como se ele não tivesse quebrado minha confiança.— Maeve... — Ricardo começou novamente, com a voz baixa, como se estivesse tentando me alcançar.Eu levantei a mão, cortando-o no meio da frase.— Não. Não quero ouvir mais desculpas suas — minha voz saiu mais afiada do que eu esperava, mas eu não podia me controlar. — Eu disse que ia continuar com o acordo até sua mãe ir embora, e vou fazer isso. Mas entre nós... acabou.O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Eu podia sentir a tensão no ar, o peso de tudo o que nã
MaeveDepois que a Sra. Kurtz nos deixou sozinhos, o peso da última conversa com Ricardo ainda pendia no ar, sufocante. Eu estava cansada de mentiras, de esconder a verdade, de fingir que estava tudo bem quando meu coração estava em pedaços.Mas, ao mesmo tempo, havia algo em Ricardo... algo que eu não conseguia ignorar, por mais que tentasse. Cada vez que ele me olhava com aqueles olhos cheios de arrependimento, parte de mim queria ceder. Queria acreditar que ele realmente se importava, mesmo que tudo tivesse começado de forma tão calculada.Ele deu um passo hesitante na minha direção, seus olhos fixos nos meus, como se tentasse ler meus pensamentos.— Maeve... — ele começou, com a voz rouca, como se estivesse lutando para encontrar as palavras certas. — Eu sei que você não quer ouvir mais desculpas. E eu também sei que nada do que eu disser vai mudar o que aconteceu. Mas... por favor, me deixa tentar fazer as coisas certas.Eu o observei por alguns segundos, meu coração dividido ent
MaeveA manhã do funeral foi fria, como se o próprio tempo estivesse de luto junto comigo. O céu nublado refletia o que eu sentia por dentro, uma dor profunda e solitária. A avó sempre foi minha base, a pessoa que nunca me julgou e sempre esteve lá, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao meu redor.Agora, eu estava prestes a enterrá-la.Quando chegamos ao pequeno cemitério, percebi que apenas três pessoas estavam presentes: eu, Ricardo e o médico que havia cuidado dela nos últimos meses. Não houve flores, discursos comoventes ou multidão de parentes. Não houve sequer a presença de familiares, porque, afinal, ninguém nunca se importou com a minha avó além de mim.Ricardo estava em silêncio ao meu lado, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. Seu olhar sombrio me dizia mais do que qualquer palavra. Ele entendia o vazio que eu sentia, embora nem sempre soubesse como expressar isso.O médico, que havia sido tão atencioso durante todo o processo, estava a alguns passos de distância, obs
MaeveAceitar o pedido de Clara Kurtz para viajar com eles foi a última coisa que eu queria. Depois de tudo que aconteceu, a última coisa que eu precisava era me enredar ainda mais nesse teatro. Mas a mulher estava genuinamente preocupada comigo, e recusar seria... impossível.Ainda me sentia sufocada pela dor do luto, a imagem da minha avó, Sra. Emerson, no caixão voltando à minha mente a cada minuto. Mas lá estava eu, embarcando em um jato particular ao lado de Ricardo e sua mãe, Clara. Parecia surreal, como se eu estivesse vivendo uma vida que não era minha.A primeira noite no hotel foi difícil. Tentei manter distância de Ricardo, fazendo o mínimo de conversa possível. Ele respeitava o meu espaço, mas sua presença constante me irritava. Era como se ele estivesse sempre ali, à espreita, pronto para me oferecer ajuda, mesmo que eu não quisesse.— Você está bem, Maeve? — a voz suave de Clara interrompeu meus pensamentos. Ela me observava com um olhar preocupado, sentada na poltrona d
MaeveA viagem para conhecer o novo negócio de Ricardo parecia se arrastar por dias. Eu me sentia como uma prisioneira em um jogo de aparências, em que a minha única saída era a fachada que tínhamos criado. O sorriso no meu rosto estava começando a se desgastar, mas não havia muito o que eu pudesse fazer.Depois do jantar, Clara estava animada para nos levar ao local de inauguração. Tudo parecia tão perfeitamente planejado... Menos eu. Meu coração estava em outro lugar, ainda machucado pela perda da minha avó e pelo peso desse acordo. Eu não aguentava mais a proximidade de Ricardo. Cada segundo ao seu lado me lembrava que, por mais que eu quisesse fugir, ele ainda tinha um controle invisível sobre mim.No carro, a tensão entre nós era palpável.— Eu realmente queria agradecer, Maeve — Clara disse com um sorriso. — Você trouxe uma nova energia para Ricardo. Ele parece mais... centrado, sabe? Antes, ele só se preocupava com o trabalho. Mas com você, vejo que ele está diferente.Eu quase
MaeveO avião pousou suavemente, mas a tensão dentro de mim parecia cada vez mais intensa. Não conseguia tirar da cabeça as últimas palavras de Ricardo, nem o olhar arrependido em seus olhos. Eu sabia que ainda o culpava por tudo, mas algo dentro de mim também queria entender suas motivações. Mesmo assim, manter distância era minha única defesa. O contrato me prendia, mas meu coração não precisava ser entregue.Enquanto pegávamos nossas malas e Clara falava animada sobre o próximo destino, senti a mão de Ricardo tocar levemente minhas costas. Um toque sutil, mas o suficiente para me fazer estremecer.— Está tudo bem? — ele perguntou baixo, para que só eu ouvisse.— Está — menti, desviando o olhar.RicardoEu podia ver que Maeve estava mais distante do que nunca. Ela respondia mecanicamente, suas expressões eram controladas. Estava claro que a ferida que eu havia causado era profunda, e talvez irreparável. Mas eu não podia deixar as coisas como estavam. Não agora.Enquanto minha mãe ca
MaeveA noite caiu rápida, e o jantar já estava prestes a começar. Vesti o que pude achar mais adequado para a ocasião, uma roupa elegante, mas que não chamasse tanta atenção. A última coisa que queria era estar no centro das atenções. Eu sabia que Clara tinha grandes expectativas, não só em relação ao evento, mas em como eu deveria me portar ao lado de Ricardo.Ao descer para o salão, encontrei Clara já interagindo com algumas pessoas. Seu entusiasmo era contagiante, mas meu humor estava longe de ser festivo. Ricardo estava parado próximo à mesa, conversando com um grupo de empresários. Mesmo de longe, ele parecia ciente da minha presença, seus olhos sempre buscando os meus de tempos em tempos.— Querida, que bom que veio! — Clara se aproximou, me dando um abraço caloroso. — Você está maravilhosa!Sorri forçadamente. Sabia que para ela, tudo isso parecia perfeito. Ela nos via como o casal perfeito, o noivado perfeito. Mas, por dentro, tudo estava desmoronando.— Obrigada, Sra. Kurtz.
MaeveAs palavras de Ricardo ficaram martelando em minha cabeça. "Isso é só... real." Real? Como algo nesse circo de mentiras poderia ser real? Mas, no fundo, algo em mim queria acreditar. Talvez porque, por mais que eu tentasse, não conseguia afastar a sensação de que havia algo mais entre nós. Uma conexão que ia além do contrato, além das obrigações.A noite estava apenas começando, e eu sabia que não poderia simplesmente fugir. Clara estava entusiasmada com a viagem, e Ricardo parecia mais envolvido do que nunca. Talvez fosse o fato de que, de uma maneira estranha, ele estava tentando me proteger, de alguma forma. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que, se deixasse, poderia me perder completamente nesse jogo.— Está pronta para partir amanhã? — A voz grave de Ricardo me despertou de meus pensamentos.Eu estava em meu quarto, me arrumando para dormir, quando ele apareceu na porta. Seu olhar era suave, diferente da frieza habitual.— Acho que sim. — Respondi, sem saber se estava falando a