MaeveA viagem para conhecer o novo negócio de Ricardo parecia se arrastar por dias. Eu me sentia como uma prisioneira em um jogo de aparências, em que a minha única saída era a fachada que tínhamos criado. O sorriso no meu rosto estava começando a se desgastar, mas não havia muito o que eu pudesse fazer.Depois do jantar, Clara estava animada para nos levar ao local de inauguração. Tudo parecia tão perfeitamente planejado... Menos eu. Meu coração estava em outro lugar, ainda machucado pela perda da minha avó e pelo peso desse acordo. Eu não aguentava mais a proximidade de Ricardo. Cada segundo ao seu lado me lembrava que, por mais que eu quisesse fugir, ele ainda tinha um controle invisível sobre mim.No carro, a tensão entre nós era palpável.— Eu realmente queria agradecer, Maeve — Clara disse com um sorriso. — Você trouxe uma nova energia para Ricardo. Ele parece mais... centrado, sabe? Antes, ele só se preocupava com o trabalho. Mas com você, vejo que ele está diferente.Eu quase
MaeveO avião pousou suavemente, mas a tensão dentro de mim parecia cada vez mais intensa. Não conseguia tirar da cabeça as últimas palavras de Ricardo, nem o olhar arrependido em seus olhos. Eu sabia que ainda o culpava por tudo, mas algo dentro de mim também queria entender suas motivações. Mesmo assim, manter distância era minha única defesa. O contrato me prendia, mas meu coração não precisava ser entregue.Enquanto pegávamos nossas malas e Clara falava animada sobre o próximo destino, senti a mão de Ricardo tocar levemente minhas costas. Um toque sutil, mas o suficiente para me fazer estremecer.— Está tudo bem? — ele perguntou baixo, para que só eu ouvisse.— Está — menti, desviando o olhar.RicardoEu podia ver que Maeve estava mais distante do que nunca. Ela respondia mecanicamente, suas expressões eram controladas. Estava claro que a ferida que eu havia causado era profunda, e talvez irreparável. Mas eu não podia deixar as coisas como estavam. Não agora.Enquanto minha mãe ca
MaeveA noite caiu rápida, e o jantar já estava prestes a começar. Vesti o que pude achar mais adequado para a ocasião, uma roupa elegante, mas que não chamasse tanta atenção. A última coisa que queria era estar no centro das atenções. Eu sabia que Clara tinha grandes expectativas, não só em relação ao evento, mas em como eu deveria me portar ao lado de Ricardo.Ao descer para o salão, encontrei Clara já interagindo com algumas pessoas. Seu entusiasmo era contagiante, mas meu humor estava longe de ser festivo. Ricardo estava parado próximo à mesa, conversando com um grupo de empresários. Mesmo de longe, ele parecia ciente da minha presença, seus olhos sempre buscando os meus de tempos em tempos.— Querida, que bom que veio! — Clara se aproximou, me dando um abraço caloroso. — Você está maravilhosa!Sorri forçadamente. Sabia que para ela, tudo isso parecia perfeito. Ela nos via como o casal perfeito, o noivado perfeito. Mas, por dentro, tudo estava desmoronando.— Obrigada, Sra. Kurtz.
MaeveAs palavras de Ricardo ficaram martelando em minha cabeça. "Isso é só... real." Real? Como algo nesse circo de mentiras poderia ser real? Mas, no fundo, algo em mim queria acreditar. Talvez porque, por mais que eu tentasse, não conseguia afastar a sensação de que havia algo mais entre nós. Uma conexão que ia além do contrato, além das obrigações.A noite estava apenas começando, e eu sabia que não poderia simplesmente fugir. Clara estava entusiasmada com a viagem, e Ricardo parecia mais envolvido do que nunca. Talvez fosse o fato de que, de uma maneira estranha, ele estava tentando me proteger, de alguma forma. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que, se deixasse, poderia me perder completamente nesse jogo.— Está pronta para partir amanhã? — A voz grave de Ricardo me despertou de meus pensamentos.Eu estava em meu quarto, me arrumando para dormir, quando ele apareceu na porta. Seu olhar era suave, diferente da frieza habitual.— Acho que sim. — Respondi, sem saber se estava falando a
MaeveA viagem de avião foi mais longa do que eu esperava. O silêncio entre Ricardo e eu não era exatamente desconfortável, mas carregado de tudo o que não falamos na noite anterior. Eu estava perdida nos meus pensamentos, questionando as escolhas que me trouxeram até aqui. E agora, sentada ao lado dele, sentia uma proximidade que eu não conseguia explicar.— Você está bem? — A voz de Ricardo me tirou de meu transe.— Sim, só... cansada. — Respondi rapidamente, tentando desviar o olhar dele. Seus olhos sempre pareciam me ler de uma maneira que eu não estava acostumada.Ricardo assentiu, e por alguns minutos, voltamos ao silêncio. Mas ele parecia decidido a quebrar essa barreira invisível entre nós.— Maeve, eu sei que isso tudo é complicado. — Ele começou, virando-se um pouco para me encarar. — Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto, mas agora que estamos aqui, quero que saiba que... eu não estou jogando.Eu me virei lentamente para olhá-lo. As palavras de Ricardo me pegar
MaeveO quarto de hotel era grande demais, vazio demais. As luzes estavam fracas, e o silêncio parecia preencher todos os cantos. Eu estava sentada na cama, com o olhar perdido na janela, que oferecia uma vista para a cidade abaixo, mas nada disso importava.A saudade da minha avó apertava como uma faca. Era uma dor constante, que ia e voltava, tornando difícil respirar, difícil pensar. Eu havia perdido a única pessoa que realmente se importava comigo, a única pessoa que me fez sentir amada. E agora, restava o vazio.Ricardo entrou no quarto em silêncio, como se soubesse que eu precisava de espaço. Senti sua presença antes mesmo de vê-lo, mas permaneci olhando pela janela, incapaz de formar qualquer palavra.— Maeve... — Ele chamou meu nome com uma voz suave, cheia de cuidado. — Como você está?Era uma pergunta simples, mas tão carregada de intenções. Ele sabia como eu estava, sabia o que eu estava sentindo. E, no entanto, ele queria que eu dissesse em voz alta.— Eu... — Minha voz fa
MaeveO salão estava lotado. Pessoas importantes circulavam com taças de champanhe nas mãos, discutindo negócios como se fossem a coisa mais natural do mundo. Eu, por outro lado, me sentia completamente deslocada. Meu vestido preto era simples, mas elegante, escolhido a dedo por Clara para que eu me “encaixasse” melhor naquele ambiente. No entanto, por mais que tentasse, não conseguia me sentir parte daquele mundo de luxo.Estava tudo perfeitamente armado, como um espetáculo. Ricardo parecia em seu elemento, rodeado de investidores e empresários, enquanto Clara desfilava pelo evento com sua habitual graça. Eles pertenciam a esse universo, eu não.Tentei evitar pensar na minha avó. A dor ainda era muito fresca, muito intensa. Estar aqui, fingindo ser algo que não sou, parecia uma traição a ela. Mas era o que eu havia prometido fazer. Pelo menos até Clara partir.Enquanto me afastava um pouco do centro do salão, avistei uma mesa no canto. Peguei uma taça de champanhe e sentei-me ali, es
MaeveQuando saí do carro, não esperava nada de muito diferente do que já havia visto nas últimas inaugurações de Ricardo. Ele me levou para vários eventos, todos luxuosos e cheios de pompa, com Clara sempre ao nosso lado, esbanjando elegância e elogios sutis sobre o quanto eu parecia uma “boa adição à família”. Era sempre o mesmo roteiro: cumprimentos frios, olhares curiosos e um desconforto crescente no fundo do meu estômago.Mas, quando os portões do local se abriram, fui pega de surpresa.A nova inauguração de Ricardo não era um hotel de luxo ou mais uma joalheria chique, como eu esperava. Não, desta vez era algo diferente. Era uma fundação. Uma organização voltada a ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade, oferecendo apoio psicológico, assistência jurídica e oportunidades de trabalho.— O que é isso? — Perguntei, me virando para ele, claramente confusa.Ricardo me lançou um olhar leve, quase despreocupado.— Um dos meus novos projetos. Achei que seria interessante expandir