MaeveA viagem de avião foi mais longa do que eu esperava. O silêncio entre Ricardo e eu não era exatamente desconfortável, mas carregado de tudo o que não falamos na noite anterior. Eu estava perdida nos meus pensamentos, questionando as escolhas que me trouxeram até aqui. E agora, sentada ao lado dele, sentia uma proximidade que eu não conseguia explicar.— Você está bem? — A voz de Ricardo me tirou de meu transe.— Sim, só... cansada. — Respondi rapidamente, tentando desviar o olhar dele. Seus olhos sempre pareciam me ler de uma maneira que eu não estava acostumada.Ricardo assentiu, e por alguns minutos, voltamos ao silêncio. Mas ele parecia decidido a quebrar essa barreira invisível entre nós.— Maeve, eu sei que isso tudo é complicado. — Ele começou, virando-se um pouco para me encarar. — Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto, mas agora que estamos aqui, quero que saiba que... eu não estou jogando.Eu me virei lentamente para olhá-lo. As palavras de Ricardo me pegar
MaeveO quarto de hotel era grande demais, vazio demais. As luzes estavam fracas, e o silêncio parecia preencher todos os cantos. Eu estava sentada na cama, com o olhar perdido na janela, que oferecia uma vista para a cidade abaixo, mas nada disso importava.A saudade da minha avó apertava como uma faca. Era uma dor constante, que ia e voltava, tornando difícil respirar, difícil pensar. Eu havia perdido a única pessoa que realmente se importava comigo, a única pessoa que me fez sentir amada. E agora, restava o vazio.Ricardo entrou no quarto em silêncio, como se soubesse que eu precisava de espaço. Senti sua presença antes mesmo de vê-lo, mas permaneci olhando pela janela, incapaz de formar qualquer palavra.— Maeve... — Ele chamou meu nome com uma voz suave, cheia de cuidado. — Como você está?Era uma pergunta simples, mas tão carregada de intenções. Ele sabia como eu estava, sabia o que eu estava sentindo. E, no entanto, ele queria que eu dissesse em voz alta.— Eu... — Minha voz fa
MaeveO salão estava lotado. Pessoas importantes circulavam com taças de champanhe nas mãos, discutindo negócios como se fossem a coisa mais natural do mundo. Eu, por outro lado, me sentia completamente deslocada. Meu vestido preto era simples, mas elegante, escolhido a dedo por Clara para que eu me “encaixasse” melhor naquele ambiente. No entanto, por mais que tentasse, não conseguia me sentir parte daquele mundo de luxo.Estava tudo perfeitamente armado, como um espetáculo. Ricardo parecia em seu elemento, rodeado de investidores e empresários, enquanto Clara desfilava pelo evento com sua habitual graça. Eles pertenciam a esse universo, eu não.Tentei evitar pensar na minha avó. A dor ainda era muito fresca, muito intensa. Estar aqui, fingindo ser algo que não sou, parecia uma traição a ela. Mas era o que eu havia prometido fazer. Pelo menos até Clara partir.Enquanto me afastava um pouco do centro do salão, avistei uma mesa no canto. Peguei uma taça de champanhe e sentei-me ali, es
MaeveQuando saí do carro, não esperava nada de muito diferente do que já havia visto nas últimas inaugurações de Ricardo. Ele me levou para vários eventos, todos luxuosos e cheios de pompa, com Clara sempre ao nosso lado, esbanjando elegância e elogios sutis sobre o quanto eu parecia uma “boa adição à família”. Era sempre o mesmo roteiro: cumprimentos frios, olhares curiosos e um desconforto crescente no fundo do meu estômago.Mas, quando os portões do local se abriram, fui pega de surpresa.A nova inauguração de Ricardo não era um hotel de luxo ou mais uma joalheria chique, como eu esperava. Não, desta vez era algo diferente. Era uma fundação. Uma organização voltada a ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade, oferecendo apoio psicológico, assistência jurídica e oportunidades de trabalho.— O que é isso? — Perguntei, me virando para ele, claramente confusa.Ricardo me lançou um olhar leve, quase despreocupado.— Um dos meus novos projetos. Achei que seria interessante expandir
MaeveA volta para a festa foi tensa. O ambiente estava luxuoso, como sempre, mas eu não conseguia me livrar do incômodo que crescia no fundo do meu estômago. Ricardo tentava manter as aparências, sendo o anfitrião perfeito, enquanto eu me mantinha em segundo plano, observando de longe. Ele me surpreendeu na inauguração da fundação, e, por um momento, eu tinha quase acreditado que as coisas poderiam ser diferentes entre nós. Que, talvez, houvesse mais do que apenas o contrato.Mas Clara Kurtz não deixava nada passar.Assim que voltamos à festa, Clara estava cercada por alguns convidados e uma figura familiar apareceu ao seu lado. Uma mulher alta, de cabelos loiros impecáveis, vestida com um elegante vestido azul que parecia ter saído de uma passarela. Ela ria suavemente com Clara, mas seus olhos eram duros, calculadores. Eu sabia exatamente quem ela era, mesmo sem tê-la conhecido pessoalmente antes. Isabella, a ex-namorada de Ricardo."Ótimo", pensei comigo mesma, tentando me preparar
MaeveNo dia seguinte à festa, estávamos na mansão dos Kurtz. Cada detalhe da casa gritava riqueza, e mesmo que eu já estivesse me acostumando com tudo isso, nunca deixava de me sentir fora de lugar. Talvez fosse porque Clara fazia questão de me lembrar, mesmo com seus sorrisos falsos e palavras doces. Ela não precisava ser direta para me destruir; suas intenções estavam em cada olhar, em cada comentário aparentemente inocente.Eu estava na sala de estar, observando a luz do sol atravessar as janelas enormes, quando Clara entrou, parecendo a própria perfeição com seu vestido caro e maquiagem impecável. Seus passos eram elegantes, cada movimento calculado.— Bom dia, querida. Dormiu bem? — Ela sorriu, mas não havia calor em seu tom.Eu sorri de volta, mantendo a máscara educada que já havia aprendido a usar naquela casa.— Dormi, sim, obrigada.Clara se aproximou, sua presença sempre intimidante.— Fico feliz em saber. Sabe, estava pensando... — Ela se sentou ao meu lado no sofá, seu t
MaeveEu ainda podia sentir o peso das palavras de Clara enquanto caminhava pelo corredor até o quarto onde eu estava hospedada. A cada passo, as paredes pareciam se fechar ao meu redor, me sufocando com a sensação de que eu não pertencia àquele mundo. Clara fazia questão de me lembrar disso sempre que tinha a oportunidade.Assim que entrei no quarto, fechei a porta atrás de mim e me deixei cair na cama. Meu corpo estava exausto, mas minha mente estava em um turbilhão. A ideia de Isabella — o amor do passado de Ricardo — me atormentava. Clara havia soltado o nome dela como uma bomba no meio da nossa conversa, e eu sabia exatamente o que ela estava fazendo. Estava testando meus limites, me empurrando para fora.A verdade era que eu estava no limite. O luto pela minha avó ainda queimava no fundo da minha mente, e lidar com as manipulações de Clara e a sombra de Isabella era demais. O contrato que inicialmente parecia ser a solução perfeita para os meus problemas agora estava me destruin
MaeveEu não conseguia dormir. A imagem do beijo, o toque de Ricardo, tudo ainda estava vivo na minha mente, repetindo-se como uma fita em loop. Algo havia mudado entre nós, mas eu não sabia dizer se era bom ou ruim.Estava claro que nossas barreiras estavam ruindo, e não era apenas o contrato que nos mantinha ligados. Havia algo mais profundo, algo que eu relutava em admitir.Virei-me na cama mais uma vez, frustrada por não conseguir afastar a sensação que Ricardo havia deixado em mim. Meus sentimentos estavam confusos. O luto pela minha avó ainda era uma ferida aberta, e a pressão de manter essa farsa intacta me exauria. Mas havia algo no jeito como Ricardo me olhava, como se eu fosse mais do que uma parte de um acordo.Finalmente, levantei-me e decidi descer. Precisava de ar, de espaço para pensar. Ao abrir a porta, dei de cara com Ricardo no corredor, como se estivesse prestes a bater.— O que você está fazendo aqui? — perguntei, surpresa.— Eu estava indo falar com você — ele res