MaeveO jantar estava quase insuportável. Clara, com seus comentários afiados e sorrisos falsos, não deixava passar uma única oportunidade de me colocar para baixo. Ela disfarçava sua crueldade com elegância, mas eu sabia exatamente o que ela estava fazendo. E então, para piorar tudo, Isabella chegou. A ex de Ricardo, sempre impecável, parecia uma extensão perfeita da família Kurtz. Rica, bonita, e com uma confiança que me irritava profundamente.A cada palavra, cada risada de Isabella, eu sentia um nó se apertando no meu estômago. Eu não deveria me importar, não deveria sentir ciúmes, mas ali estava, preso na garganta, um sentimento que eu não conseguia engolir.— Ricardo, querido — a voz doce de Isabella cortou o ar. — Me lembro de quando estávamos neste mesmo lugar, planejando tantos projetos. Você sempre teve um dom incrível para negócios.O elogio pairou no ar, e eu vi Clara sorrir satisfeita. Parecia que todas as peças estavam no lugar, exceto eu.— Claro, Isabella, aqueles fora
MaeveAcordei cedo naquela manhã, o coração ainda apertado pelo que havia acontecido na noite anterior. O beijo de Ricardo ainda estava fresco na minha mente, mas a dor causada por sua inação, por sua falta de atitude diante da humilhação que Clara e Isabella haviam me submetido, era maior. Era como se ele achasse que um único gesto de carinho poderia apagar tudo o que eu vinha enfrentando.Mas a realidade me atingiu em cheio assim que desci as escadas para o café da manhã. Clara estava lá, impecável como sempre, sorrindo como se a noite anterior não tivesse passado de uma simples discussão sem importância. Isabella, claro, também estava, e o olhar que ela me deu foi o suficiente para que eu sentisse o estômago revirar.— Maeve, querida — começou Clara, com sua voz afável, mas carregada de falsidade. — Espero que tenha dormido bem. A noite passada... bem, às vezes, as coisas podem sair do controle, não é mesmo?Eu me segurei para não retrucar imediatamente. A raiva borbulhava dentro d
MaeveOs dias passaram lentamente depois que decidi me afastar. Voltei para minha casa, buscando a paz que tanto ansiava, mas, ao contrário do que esperava, a sensação de vazio me perseguia. A casa que antes era meu refúgio parecia agora grande demais, solitária demais. Cada cômodo, cada canto, me lembrava de como as coisas haviam mudado desde que entrei na vida de Ricardo.Eu passava os dias tentando me ocupar, escrevendo, organizando as poucas coisas que tinha, mas nada parecia o suficiente. À noite, eu deitava na cama e, em vez de encontrar o sono, minha mente vagava, pensando no que poderia ter sido diferente. Pensando em Ricardo.Por mais que tentasse, não conseguia deixar de me perguntar o que ele estava fazendo, se sentia minha falta. O que mais me incomodava era a sensação de que, apesar de tudo, ele parecia confortável com a distância. Como se estivesse esperando por mim, mas sem fazer um movimento para me trazer de volta.Eu havia recebido algumas mensagens dele nos primeiro
MaeveO restaurante parecia ainda mais silencioso do que o normal, ou talvez fosse a tensão que eu estava sentindo. O ambiente acolhedor que antes me trazia conforto agora parecia apertado, como se as paredes estivessem se fechando ao nosso redor. Ricardo estava à minha frente, com aquele olhar que misturava preocupação e algo mais... algo que eu não conseguia decifrar.Eu deveria estar aliviada por finalmente ter aceitado conversar, mas, em vez disso, uma ansiedade crescente tomava conta de mim. Depois de dias fugindo dos meus próprios sentimentos, finalmente eu teria que enfrentá-los. Mas não sabia se estava pronta.— Você está bem? — ele perguntou, com a voz rouca que sempre fazia meu coração acelerar, mas que hoje parecia carregar um peso maior do que o habitual.— Eu estou... tentando — respondi, desviando o olhar para a mesa, sentindo o nó na garganta apertar. — Não está sendo fácil.Ele assentiu, como se já esperasse essa resposta. Mas, em vez de insistir ou me pressionar, ele
RicardoA casa estava em silêncio quando cheguei. O ambiente tenso, e algo me dizia que essa noite não terminaria bem. Minha mãe e Isabella tinham cruzado uma linha, e eu sabia que não poderia mais deixar isso continuar. Maeve não merecia o que estava passando, e a verdade era que eu estava cansado de tentar conciliar as coisas.Eu sabia que precisava enfrentar minha mãe.Assim que entrei na sala, vi Clara sentada com uma taça de vinho nas mãos, seu olhar frio me analisando enquanto Isabella conversava com ela. Parecia que já estavam tramando algo. Maeve, por outro lado, estava do outro lado da sala, distante e visivelmente incomodada.A tensão entre elas era quase palpável.— Mãe — comecei, me aproximando dela. — Nós precisamos conversar.Clara ergueu uma sobrancelha, como se estivesse surpresa com a firmeza da minha voz. Eu não costumava confrontá-la assim, mas dessa vez, não havia como evitar.— Sobre o que, querido? — ela perguntou, com aquela falsa doçura que sempre usava quando
MaeveEu estava na varanda da casa, o ar fresco do início da noite ajudava a me acalmar depois da conversa sufocante com Clara mais cedo. Não era fácil manter a fachada com ela, principalmente agora que tudo dentro de mim estava em colapso. A perda da minha avó, o acordo absurdo que eu tinha feito com Ricardo e as constantes insinuações de Clara estavam me esmagando por dentro.Foi então que ouvi meu celular vibrar na mesa ao lado. Peguei-o com desinteresse, mas a notificação de um depósito chamou minha atenção. Abri o aplicativo bancário e ali estava: 500 mil dólares transferidos para a minha conta.Meu coração disparou. O acordo original era de 200 mil, que já haviam sido pagos, e mais 300 mil para o restante. Mas Ricardo havia depositado mais do que o combinado.Respirei fundo, tentando entender por que ele faria isso. Ele já tinha sido mais do que generoso, ajudado em todos os momentos que eu precisei... então por que mais dinheiro? O pânico começou a crescer, junto com a sensação
RicardoMaeve estava tão distante desde a última vez que conversamos. Eu sabia que o acordo pesava sobre seus ombros, mas também sabia que ela precisava de algo que desse propósito à sua vida, especialmente depois da perda da avó. Foi então que me lembrei da instituição que estávamos prestes a inaugurar. Aquele lugar tinha potencial de ser mais do que apenas um projeto meu. Tinha potencial de ser o recomeço dela.— Maeve, você está com um minuto? — perguntei, com cautela, observando-a de longe.Ela estava sentada na sala, os olhos perdidos no vazio. Desde que havia falado em devolver o dinheiro e terminar o acordo, a distância entre nós parecia cada vez maior. Mas eu não queria que ela se sentisse pressionada — queria dar a ela uma oportunidade de fazer algo maior.Maeve levantou os olhos lentamente e assentiu.— Sim, o que você precisa?A hesitação em sua voz era evidente, e eu sabia que precisaria escolher bem minhas palavras.— Quero te levar a um lugar — comecei, tentando soar cas
MaeveA anulação do contrato não saiu como eu esperava. Achei que, ao devolver o dinheiro, estaria finalmente livre de Ricardo e de tudo o que ele representava. Mas, em vez disso, senti um vazio que eu não queria admitir. Estava pronta para seguir em frente, ou pelo menos eu achava que estava.Ricardo, porém, parecia tranquilo. Ele aceitou a devolução do dinheiro sem discutir e não mencionou mais o acordo. Agora, estávamos apenas convivendo como... o quê? Amigos? Colegas? Eu não sabia. E isso me deixava confusa.Hoje, após passarmos o dia na instituição, percebi algo diferente nele. Não era mais o magnata arrogante e controlador que me havia proposto o falso noivado. Havia algo mais. Algo mais íntimo, mais vulnerável. Eu precisava entender o que isso significava.— Maeve — a voz de Ricardo me trouxe de volta dos meus pensamentos. Ele estava parado ao meu lado, observando as crianças brincando no pátio da instituição. — Agora que o contrato acabou, o que você vai fazer?Sua pergunta me