MaeveQuando saí do carro, não esperava nada de muito diferente do que já havia visto nas últimas inaugurações de Ricardo. Ele me levou para vários eventos, todos luxuosos e cheios de pompa, com Clara sempre ao nosso lado, esbanjando elegância e elogios sutis sobre o quanto eu parecia uma “boa adição à família”. Era sempre o mesmo roteiro: cumprimentos frios, olhares curiosos e um desconforto crescente no fundo do meu estômago.Mas, quando os portões do local se abriram, fui pega de surpresa.A nova inauguração de Ricardo não era um hotel de luxo ou mais uma joalheria chique, como eu esperava. Não, desta vez era algo diferente. Era uma fundação. Uma organização voltada a ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade, oferecendo apoio psicológico, assistência jurídica e oportunidades de trabalho.— O que é isso? — Perguntei, me virando para ele, claramente confusa.Ricardo me lançou um olhar leve, quase despreocupado.— Um dos meus novos projetos. Achei que seria interessante expandir
MaeveA volta para a festa foi tensa. O ambiente estava luxuoso, como sempre, mas eu não conseguia me livrar do incômodo que crescia no fundo do meu estômago. Ricardo tentava manter as aparências, sendo o anfitrião perfeito, enquanto eu me mantinha em segundo plano, observando de longe. Ele me surpreendeu na inauguração da fundação, e, por um momento, eu tinha quase acreditado que as coisas poderiam ser diferentes entre nós. Que, talvez, houvesse mais do que apenas o contrato.Mas Clara Kurtz não deixava nada passar.Assim que voltamos à festa, Clara estava cercada por alguns convidados e uma figura familiar apareceu ao seu lado. Uma mulher alta, de cabelos loiros impecáveis, vestida com um elegante vestido azul que parecia ter saído de uma passarela. Ela ria suavemente com Clara, mas seus olhos eram duros, calculadores. Eu sabia exatamente quem ela era, mesmo sem tê-la conhecido pessoalmente antes. Isabella, a ex-namorada de Ricardo."Ótimo", pensei comigo mesma, tentando me preparar
MaeveNo dia seguinte à festa, estávamos na mansão dos Kurtz. Cada detalhe da casa gritava riqueza, e mesmo que eu já estivesse me acostumando com tudo isso, nunca deixava de me sentir fora de lugar. Talvez fosse porque Clara fazia questão de me lembrar, mesmo com seus sorrisos falsos e palavras doces. Ela não precisava ser direta para me destruir; suas intenções estavam em cada olhar, em cada comentário aparentemente inocente.Eu estava na sala de estar, observando a luz do sol atravessar as janelas enormes, quando Clara entrou, parecendo a própria perfeição com seu vestido caro e maquiagem impecável. Seus passos eram elegantes, cada movimento calculado.— Bom dia, querida. Dormiu bem? — Ela sorriu, mas não havia calor em seu tom.Eu sorri de volta, mantendo a máscara educada que já havia aprendido a usar naquela casa.— Dormi, sim, obrigada.Clara se aproximou, sua presença sempre intimidante.— Fico feliz em saber. Sabe, estava pensando... — Ela se sentou ao meu lado no sofá, seu t
MaeveEu ainda podia sentir o peso das palavras de Clara enquanto caminhava pelo corredor até o quarto onde eu estava hospedada. A cada passo, as paredes pareciam se fechar ao meu redor, me sufocando com a sensação de que eu não pertencia àquele mundo. Clara fazia questão de me lembrar disso sempre que tinha a oportunidade.Assim que entrei no quarto, fechei a porta atrás de mim e me deixei cair na cama. Meu corpo estava exausto, mas minha mente estava em um turbilhão. A ideia de Isabella — o amor do passado de Ricardo — me atormentava. Clara havia soltado o nome dela como uma bomba no meio da nossa conversa, e eu sabia exatamente o que ela estava fazendo. Estava testando meus limites, me empurrando para fora.A verdade era que eu estava no limite. O luto pela minha avó ainda queimava no fundo da minha mente, e lidar com as manipulações de Clara e a sombra de Isabella era demais. O contrato que inicialmente parecia ser a solução perfeita para os meus problemas agora estava me destruin
MaeveEu não conseguia dormir. A imagem do beijo, o toque de Ricardo, tudo ainda estava vivo na minha mente, repetindo-se como uma fita em loop. Algo havia mudado entre nós, mas eu não sabia dizer se era bom ou ruim.Estava claro que nossas barreiras estavam ruindo, e não era apenas o contrato que nos mantinha ligados. Havia algo mais profundo, algo que eu relutava em admitir.Virei-me na cama mais uma vez, frustrada por não conseguir afastar a sensação que Ricardo havia deixado em mim. Meus sentimentos estavam confusos. O luto pela minha avó ainda era uma ferida aberta, e a pressão de manter essa farsa intacta me exauria. Mas havia algo no jeito como Ricardo me olhava, como se eu fosse mais do que uma parte de um acordo.Finalmente, levantei-me e decidi descer. Precisava de ar, de espaço para pensar. Ao abrir a porta, dei de cara com Ricardo no corredor, como se estivesse prestes a bater.— O que você está fazendo aqui? — perguntei, surpresa.— Eu estava indo falar com você — ele res
MaeveO jantar estava quase insuportável. Clara, com seus comentários afiados e sorrisos falsos, não deixava passar uma única oportunidade de me colocar para baixo. Ela disfarçava sua crueldade com elegância, mas eu sabia exatamente o que ela estava fazendo. E então, para piorar tudo, Isabella chegou. A ex de Ricardo, sempre impecável, parecia uma extensão perfeita da família Kurtz. Rica, bonita, e com uma confiança que me irritava profundamente.A cada palavra, cada risada de Isabella, eu sentia um nó se apertando no meu estômago. Eu não deveria me importar, não deveria sentir ciúmes, mas ali estava, preso na garganta, um sentimento que eu não conseguia engolir.— Ricardo, querido — a voz doce de Isabella cortou o ar. — Me lembro de quando estávamos neste mesmo lugar, planejando tantos projetos. Você sempre teve um dom incrível para negócios.O elogio pairou no ar, e eu vi Clara sorrir satisfeita. Parecia que todas as peças estavam no lugar, exceto eu.— Claro, Isabella, aqueles fora
MaeveAcordei cedo naquela manhã, o coração ainda apertado pelo que havia acontecido na noite anterior. O beijo de Ricardo ainda estava fresco na minha mente, mas a dor causada por sua inação, por sua falta de atitude diante da humilhação que Clara e Isabella haviam me submetido, era maior. Era como se ele achasse que um único gesto de carinho poderia apagar tudo o que eu vinha enfrentando.Mas a realidade me atingiu em cheio assim que desci as escadas para o café da manhã. Clara estava lá, impecável como sempre, sorrindo como se a noite anterior não tivesse passado de uma simples discussão sem importância. Isabella, claro, também estava, e o olhar que ela me deu foi o suficiente para que eu sentisse o estômago revirar.— Maeve, querida — começou Clara, com sua voz afável, mas carregada de falsidade. — Espero que tenha dormido bem. A noite passada... bem, às vezes, as coisas podem sair do controle, não é mesmo?Eu me segurei para não retrucar imediatamente. A raiva borbulhava dentro d
MaeveOs dias passaram lentamente depois que decidi me afastar. Voltei para minha casa, buscando a paz que tanto ansiava, mas, ao contrário do que esperava, a sensação de vazio me perseguia. A casa que antes era meu refúgio parecia agora grande demais, solitária demais. Cada cômodo, cada canto, me lembrava de como as coisas haviam mudado desde que entrei na vida de Ricardo.Eu passava os dias tentando me ocupar, escrevendo, organizando as poucas coisas que tinha, mas nada parecia o suficiente. À noite, eu deitava na cama e, em vez de encontrar o sono, minha mente vagava, pensando no que poderia ter sido diferente. Pensando em Ricardo.Por mais que tentasse, não conseguia deixar de me perguntar o que ele estava fazendo, se sentia minha falta. O que mais me incomodava era a sensação de que, apesar de tudo, ele parecia confortável com a distância. Como se estivesse esperando por mim, mas sem fazer um movimento para me trazer de volta.Eu havia recebido algumas mensagens dele nos primeiro