MaeveNo dia seguinte à festa, estávamos na mansão dos Kurtz. Cada detalhe da casa gritava riqueza, e mesmo que eu já estivesse me acostumando com tudo isso, nunca deixava de me sentir fora de lugar. Talvez fosse porque Clara fazia questão de me lembrar, mesmo com seus sorrisos falsos e palavras doces. Ela não precisava ser direta para me destruir; suas intenções estavam em cada olhar, em cada comentário aparentemente inocente.Eu estava na sala de estar, observando a luz do sol atravessar as janelas enormes, quando Clara entrou, parecendo a própria perfeição com seu vestido caro e maquiagem impecável. Seus passos eram elegantes, cada movimento calculado.— Bom dia, querida. Dormiu bem? — Ela sorriu, mas não havia calor em seu tom.Eu sorri de volta, mantendo a máscara educada que já havia aprendido a usar naquela casa.— Dormi, sim, obrigada.Clara se aproximou, sua presença sempre intimidante.— Fico feliz em saber. Sabe, estava pensando... — Ela se sentou ao meu lado no sofá, seu t
MaeveEu ainda podia sentir o peso das palavras de Clara enquanto caminhava pelo corredor até o quarto onde eu estava hospedada. A cada passo, as paredes pareciam se fechar ao meu redor, me sufocando com a sensação de que eu não pertencia àquele mundo. Clara fazia questão de me lembrar disso sempre que tinha a oportunidade.Assim que entrei no quarto, fechei a porta atrás de mim e me deixei cair na cama. Meu corpo estava exausto, mas minha mente estava em um turbilhão. A ideia de Isabella — o amor do passado de Ricardo — me atormentava. Clara havia soltado o nome dela como uma bomba no meio da nossa conversa, e eu sabia exatamente o que ela estava fazendo. Estava testando meus limites, me empurrando para fora.A verdade era que eu estava no limite. O luto pela minha avó ainda queimava no fundo da minha mente, e lidar com as manipulações de Clara e a sombra de Isabella era demais. O contrato que inicialmente parecia ser a solução perfeita para os meus problemas agora estava me destruin
MaeveEu não conseguia dormir. A imagem do beijo, o toque de Ricardo, tudo ainda estava vivo na minha mente, repetindo-se como uma fita em loop. Algo havia mudado entre nós, mas eu não sabia dizer se era bom ou ruim.Estava claro que nossas barreiras estavam ruindo, e não era apenas o contrato que nos mantinha ligados. Havia algo mais profundo, algo que eu relutava em admitir.Virei-me na cama mais uma vez, frustrada por não conseguir afastar a sensação que Ricardo havia deixado em mim. Meus sentimentos estavam confusos. O luto pela minha avó ainda era uma ferida aberta, e a pressão de manter essa farsa intacta me exauria. Mas havia algo no jeito como Ricardo me olhava, como se eu fosse mais do que uma parte de um acordo.Finalmente, levantei-me e decidi descer. Precisava de ar, de espaço para pensar. Ao abrir a porta, dei de cara com Ricardo no corredor, como se estivesse prestes a bater.— O que você está fazendo aqui? — perguntei, surpresa.— Eu estava indo falar com você — ele res
MaeveO jantar estava quase insuportável. Clara, com seus comentários afiados e sorrisos falsos, não deixava passar uma única oportunidade de me colocar para baixo. Ela disfarçava sua crueldade com elegância, mas eu sabia exatamente o que ela estava fazendo. E então, para piorar tudo, Isabella chegou. A ex de Ricardo, sempre impecável, parecia uma extensão perfeita da família Kurtz. Rica, bonita, e com uma confiança que me irritava profundamente.A cada palavra, cada risada de Isabella, eu sentia um nó se apertando no meu estômago. Eu não deveria me importar, não deveria sentir ciúmes, mas ali estava, preso na garganta, um sentimento que eu não conseguia engolir.— Ricardo, querido — a voz doce de Isabella cortou o ar. — Me lembro de quando estávamos neste mesmo lugar, planejando tantos projetos. Você sempre teve um dom incrível para negócios.O elogio pairou no ar, e eu vi Clara sorrir satisfeita. Parecia que todas as peças estavam no lugar, exceto eu.— Claro, Isabella, aqueles fora
MaeveAcordei cedo naquela manhã, o coração ainda apertado pelo que havia acontecido na noite anterior. O beijo de Ricardo ainda estava fresco na minha mente, mas a dor causada por sua inação, por sua falta de atitude diante da humilhação que Clara e Isabella haviam me submetido, era maior. Era como se ele achasse que um único gesto de carinho poderia apagar tudo o que eu vinha enfrentando.Mas a realidade me atingiu em cheio assim que desci as escadas para o café da manhã. Clara estava lá, impecável como sempre, sorrindo como se a noite anterior não tivesse passado de uma simples discussão sem importância. Isabella, claro, também estava, e o olhar que ela me deu foi o suficiente para que eu sentisse o estômago revirar.— Maeve, querida — começou Clara, com sua voz afável, mas carregada de falsidade. — Espero que tenha dormido bem. A noite passada... bem, às vezes, as coisas podem sair do controle, não é mesmo?Eu me segurei para não retrucar imediatamente. A raiva borbulhava dentro d
MaeveOs dias passaram lentamente depois que decidi me afastar. Voltei para minha casa, buscando a paz que tanto ansiava, mas, ao contrário do que esperava, a sensação de vazio me perseguia. A casa que antes era meu refúgio parecia agora grande demais, solitária demais. Cada cômodo, cada canto, me lembrava de como as coisas haviam mudado desde que entrei na vida de Ricardo.Eu passava os dias tentando me ocupar, escrevendo, organizando as poucas coisas que tinha, mas nada parecia o suficiente. À noite, eu deitava na cama e, em vez de encontrar o sono, minha mente vagava, pensando no que poderia ter sido diferente. Pensando em Ricardo.Por mais que tentasse, não conseguia deixar de me perguntar o que ele estava fazendo, se sentia minha falta. O que mais me incomodava era a sensação de que, apesar de tudo, ele parecia confortável com a distância. Como se estivesse esperando por mim, mas sem fazer um movimento para me trazer de volta.Eu havia recebido algumas mensagens dele nos primeiro
MaeveO restaurante parecia ainda mais silencioso do que o normal, ou talvez fosse a tensão que eu estava sentindo. O ambiente acolhedor que antes me trazia conforto agora parecia apertado, como se as paredes estivessem se fechando ao nosso redor. Ricardo estava à minha frente, com aquele olhar que misturava preocupação e algo mais... algo que eu não conseguia decifrar.Eu deveria estar aliviada por finalmente ter aceitado conversar, mas, em vez disso, uma ansiedade crescente tomava conta de mim. Depois de dias fugindo dos meus próprios sentimentos, finalmente eu teria que enfrentá-los. Mas não sabia se estava pronta.— Você está bem? — ele perguntou, com a voz rouca que sempre fazia meu coração acelerar, mas que hoje parecia carregar um peso maior do que o habitual.— Eu estou... tentando — respondi, desviando o olhar para a mesa, sentindo o nó na garganta apertar. — Não está sendo fácil.Ele assentiu, como se já esperasse essa resposta. Mas, em vez de insistir ou me pressionar, ele
RicardoA casa estava em silêncio quando cheguei. O ambiente tenso, e algo me dizia que essa noite não terminaria bem. Minha mãe e Isabella tinham cruzado uma linha, e eu sabia que não poderia mais deixar isso continuar. Maeve não merecia o que estava passando, e a verdade era que eu estava cansado de tentar conciliar as coisas.Eu sabia que precisava enfrentar minha mãe.Assim que entrei na sala, vi Clara sentada com uma taça de vinho nas mãos, seu olhar frio me analisando enquanto Isabella conversava com ela. Parecia que já estavam tramando algo. Maeve, por outro lado, estava do outro lado da sala, distante e visivelmente incomodada.A tensão entre elas era quase palpável.— Mãe — comecei, me aproximando dela. — Nós precisamos conversar.Clara ergueu uma sobrancelha, como se estivesse surpresa com a firmeza da minha voz. Eu não costumava confrontá-la assim, mas dessa vez, não havia como evitar.— Sobre o que, querido? — ela perguntou, com aquela falsa doçura que sempre usava quando