Capítulo 4 - Expressões que falam alto

Maeve

Quando entrei na sala, me senti imediatamente fora de lugar. O ambiente era imaculado, o luxo transbordava de cada canto: desde os móveis finos até os quadros pendurados nas paredes. E então, havia eu, com meu vestido simples, nada de grife, nada que chamasse a atenção. Meu pé imobilizado apenas tornava tudo ainda mais constrangedor. Eu podia sentir os olhos da mãe de Ricardo me analisando de cima a baixo, cada detalhe das minhas roupas.

Ela sorriu, mas havia algo em seu olhar.

— Então, Maeve... — sua voz era doce, mas carregada de curiosidade, como se estivesse esperando uma explicação para o que via. — Ricardo me contou sobre o acidente. Uma pena. Mas... devo dizer que estou surpresa. Não esperava que minha futura nora fosse... tão simples.

Ricardo, ao meu lado, percebeu o tom imediatamente. Ele olhou para mim de soslaio, sem saber como eu reagiria.

— Ah, eu... — comecei, sentindo o calor subir ao meu rosto. — Eu realmente não tive muito tempo para me arrumar adequadamente depois de tudo o que aconteceu.

— Entendo, querida — ela respondeu, com aquele mesmo sorriso que não alcançava os olhos. — Só imaginei que... como noiva de um Kurtz, você seria um pouco mais... refinada. Afinal, você está entrando para uma família de certa... importância.

Meu estômago revirou. Eu sabia que não era o tipo de mulher que ela esperava para o filho. Meus vestidos não eram de estilistas famosos, e meu estilo certamente não se comparava ao de mulheres que provavelmente estavam acostumadas a circular nesse ambiente. Mas ouvir aquilo, mesmo de forma tão educada, doeu.

— Mamãe — Ricardo interveio, com um tom calmo, mas firme. — Já conversamos sobre isso. Não é hora de ficar focando nesses detalhes.

Sua mãe riu suavemente, balançando a cabeça.

— Claro, claro, Ricardo. Mas você sabe como sou. Sempre imaginei que você acabaria com uma mulher... sofisticada. Alguém que pudesse combinar com o estilo da nossa família.

Ela me olhou de cima a baixo de novo, e eu me senti pequena. Ridícula. Meus sapatos baratos, o vestido de algodão sem qualquer detalhe de luxo. E então, o curativo no meu pé, que parecia destacar ainda mais o quanto eu não pertencia ali.

Ricardo

Eu sabia que minha mãe não ia deixar passar. Desde o momento em que coloquei os olhos em Maeve com aquele vestido simples e a imobilização no pé, percebi que ela não era o tipo de mulher que minha mãe esperava. Mas isso só me fez querer defendê-la ainda mais.

— Maeve está aqui porque é uma mulher incrível, mãe. Não por causa das roupas que usa. — Minha voz saiu mais dura do que pretendia, mas era necessário. Eu a conhecia o suficiente para saber que, se não cortasse logo o comentário, ela continuaria.

Minha mãe olhou para mim com surpresa, mas não recuou.

— Claro, querido. Eu só fiquei... surpresa. Você sabe como a aparência é importante, especialmente em eventos da nossa família. Todos os olhos estarão em vocês.

Olhei para Maeve e vi a tensão em seus ombros. Ela estava desconfortável, e com razão. Eu estava começando a me irritar com a situação. Afinal, esse era um jogo que eu havia iniciado, e agora era minha responsabilidade garantir que Maeve não se sentisse humilhada.

— Vamos subir e descansar, mãe. Maeve precisa repousar o pé, e eu preciso conversar com ela sobre algumas coisas do evento de amanhã.

Antes que minha mãe pudesse responder, segurei Maeve pela cintura, mais para dar apoio ao seu pé machucado do que qualquer outra coisa, e a guiei até as escadas.

Enquanto subíamos, pude sentir o olhar dela sobre nós. Não disse nada, mas estava claro que minha mãe estava longe de estar satisfeita com a escolha que fiz para minha "noiva".

No quarto, assim que fechei a porta, Maeve soltou um longo suspiro e se apoiou contra a parede. Seus olhos estavam cansados, e havia uma expressão magoada em seu rosto.

— Eu sabia que ela não gostava de mim, mas... não pensei que fosse tão óbvio.

Eu a olhei, sentindo uma pontada de culpa.

— Ela é assim com todo mundo, Maeve. Não leve para o lado pessoal. — Me aproximei, tocando de leve o braço dela. — Ela não te conhece. Só está julgando o que vê na superfície.

— E o que ela vê não é exatamente uma mulher rica e sofisticada, certo? — Ela riu sem humor, olhando para suas roupas.

— Ela vê uma mulher forte, que está fazendo o possível em uma situação difícil. — Inclinei-me para mais perto, minha voz ficando mais suave. — E é isso que importa, Maeve. Eu te escolhi por ser quem você é, e não por roupas ou status.

Ela me olhou, surpresa com o que eu disse. Talvez até comovida. E eu, pela primeira vez, senti algo mexer dentro de mim que ia além do acordo. Algo mais genuíno.

— Vamos descansar. Amanhã é outro dia — completei, dando um leve sorriso, tentando aliviar a tensão. Mas eu sabia que, de agora em diante, as coisas estavam começando a mudar. Tanto para mim quanto para ela.

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