A manhã seguinte não começou nada bem. Eu deveria ter previsto, mas não tinha como saber o aquecedor de água estava à beira de um colapso. Na noite anterior, o banho demorado parecia uma boa ideia, agora, porém, parecia que seria o último. A princípio, imaginei que alguém tivesse mexido no regulador de temperatura e fui conferir. Mas ao ver a poça de água sob o velho reservatório, percebi que ele não resistiria por muito mais tempo. Nem queria imaginar quanto custaria para substituir aquele trambolho.Entrei na loja já com o peso da preocupação me apertando o peito. Quando comecei a ouvir os preços, uma sensação familiar de desespero tomou conta de mim. Eu realmente não esperava que fosse tão caro. Para trocar o equipamento, seria preciso uma reestruturação financeira enorme ou, quem sabe, um milagre. Ambas as opções pareciam impossíveis naquele momento.Tentei não pensar muito no problema durante o dia, mas à noite, quando as crianças já estavam na cama, sentei-me à mesa da cozinha.
Eu percebi que Grady estava vulnerável, mais do que ele queria admitir, e sabia que bastava um pequeno estímulo para ele acabar dizendo algo que talvez não tivesse intenção de revelar. A ideia de descobrir o que ele realmente sentia era tentadora, mas ao mesmo tempo eu sabia que não poderia aproveitar essa situação. Era um momento delicado, e eu não queria ser desonesta.Então, com um sorriso, tentei afastar os pensamentos complicados. Eu precisava continuar sendo eu mesma, sem ceder aos impulsos do coração. Levantei minha cabeça e o encarei.— Sentiu quanto? — Perguntei, tentando manter o tom leve.Ele riu, como se tentasse se recompor também, mas eu percebi o quanto ele estava cansado, como se o mundo inteiro pesasse sobre seus ombros.— Acho que o suficiente para merecer um jantar — ele respondeu, e eu sorri, aliviada por ele tentar trazer a situação de volta ao normal.— Está bem, desta vez eu vou ser boazinha — brinquei, tentando aliviar a tensão que ainda pairava no ar.Eu fiz u
Eu precisava manter o controle. Não podia me entregar tão facilmente a ele, mas estava cada vez mais difícil segurar a tentação.— Se você me ouvisse, isto não aconteceria. — Eu o olhei, tentando manter minha calma, mas a forma como ele me olhava... não era fácil resistir.— Ah, Holly! Eu não sei se estrangulo ou arrasto você para a cama! — Ele falou, rindo, mas sua voz carregava algo mais. Desejo. Frustração.— Eu posso sugerir? — Eu não pude evitar. A provocação saiu com um sorriso travesso, e sabia que ele perceberia.— Não se arrisque tanto, mocinha. A noite ainda não acabou e não sei até quando poderei responder por meus atos. — Ele me segurou pelos ombros, forte, me conduzindo para a cozinha, e pude sentir a quentura em seu corpo, tão visível quanto o meu estava.— Eu achei que talvez você quisesse tomar um banho antes de jantar, então enchi a banheira. — Eu disse, tentando desviar a atenção, mas sabia que ele não se deixaria enganar tão facilmente.— Posso tomar uma ducha rápid
— Está bem. — Eu levantei devagar, forçando-me a afastar de Grady. Cada parte de mim queria continuar ali, perto dele, mas eu sabia que precisava de um pouco de distância. Quando consegui ficar de pé, ele segurou minha mão e beijou de leve o meu pulso. Eu desviei o olhar, sentindo o calor subir ao rosto, e saí rapidamente do banheiro. Resisti ao impulso de voltar para ele. Era difícil, eu sabia, e estava começando a perceber que estava me deixando levar mais do que deveria.Minutos depois, Grady apareceu na cozinha, abotoando a camisa. Ele olhou para as roupas que eu tinha colocado sobre a mesa e me olhou com um sorriso curioso.— Essas roupas me parecem vagamente familiares. Será que eu as esqueci aqui?Coloquei os pratos na mesa, tentando manter a calma e desviar o olhar para não me perder no seu. Sorri e respondi:— Não, você não as esqueceu. Elas precisavam de pequenos consertos, então eu as trouxe para arrumá-las.Grady ergueu as sobrancelhas em aprovação e, sem nem precisar fala
— Pouco à vontade. — Sussurrei, sentindo minha voz falhar por um instante. — Sim, pouco à vontade. — Grady repetiu, me olhando com atenção. — Por quê? — Ele perguntou, inclinando-se um pouco para mais perto. Minha garganta secou. Eu sabia que precisava responder, mas organizar meus pensamentos parecia impossível com ele tão perto. Respirei fundo e tentei ser honesta: — Porque não precisamos de mais pressão sobre nós neste momento. Ele franziu levemente as sobrancelhas. — É apenas esse o motivo? Sabia que ele podia perceber minha hesitação. Desviei os olhos, mordendo o lábio. — Não. Grady não me deixou escapar. — O que é então? — Sua voz era calma, mas me fazia sentir exposta, como se ele pudesse enxergar direto dentro de mim. Respirei fundo, reunindo coragem para encará-lo novamente. — Tenho medo de que eles me desaprovem. Podem achar que uma mulher com três filhos não é adequada para você. Para minha surpresa, Grady jogou a cabeça para trás e começou a rir co
Eu queria responder que havia sobrevivido sem água quente por cinco anos, mas sabia que não seria a melhor escolha. Aquele detalhe só pioraria as coisas. Então, mantive os olhos baixos enquanto me dirigia até uma cadeira e me sentava, tentando ignorar o nó que começava a se formar na minha garganta.Grady colocou a xícara sobre a pia e caminhou em minha direção com passos firmes, quase ameaçadores. Senti minha respiração acelerar.— Como acha que eu me sinto, sabendo que você mal consegue suprir as necessidades da sua casa? — Ele perguntou, em um tom de desaprovação. — Eu pensei que havia algo especial entre nós, Holly, mas você preferiria morrer de fome antes de me pedir ajuda.Aquele comentário foi como um golpe. Segurei a xícara com ambas as mãos, sentindo o calor do café não ser suficiente para aquecer o gelo que tomava conta de mim. Engoli em seco, tentando manter a compostura.— E o que você pensaria de mim, se eu tivesse pedido ajuda? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.
Algum tempo depois, quando consegui me recompor, voltei à sala. A cena que encontrei era quase surreal, um contraste completo com a tempestade que acabara de acontecer. A pequena cozinha parecia um mercado persa, com tecidos coloridos espalhados por todos os cantos. Liz e Kate estavam no centro da confusão, disputando pedaços de seda como duas crianças brigando por um brinquedo. Fiquei de lado, observando-as com um leve sorriso. Era quase terapêutico vê-las discutindo sobre estilos e estampas, como se o mundo fosse feito apenas de cores e texturas. — O que você acha, Holly? — Liz perguntou, segurando um corte de seda multicolorida e virando-se para mim com olhos brilhantes. — Não vai ficar melhor em mim do que em Kate? Observei as duas. Pareciam gêmeas à primeira vista, exceto por Kate ser mais miúda e magra. Decidi que não era sábio me intrometer nessa disputa. — De onde tirou essa conclusão? — Kate questionou, arqueando uma sobrancelha. — Não interessa. Eu quero este tecido
Quando a noite finalmente caiu, Tammy chegou à minha casa logo após o jantar. Suas bochechas estavam coradas pelo vento frio, e ela carregava seu típico sorriso caloroso, o tipo que sempre conseguia me tranquilizar, mesmo nos dias mais difíceis.— Pronta para encarar o escritório? — ela perguntou, tirando o cachecol e pendurando-o na cadeira perto da porta.— Pronta é uma palavra forte — respondi, tentando aliviar o peso que sentia nos ombros. — Mas vou encarar, de qualquer jeito.Ela riu baixinho, caminhando até a cozinha, onde Megan estava brincando com os meninos.— O que vocês estão aprontando por aqui? — Tammy perguntou, abaixando-se para abraçá-los.— Estamos desenhando! — Megan exclamou, segurando uma folha cheia de rabiscos coloridos.Os meninos mostraram seus desenhos também, animados com a visita de Tammy. A cena aqueceu meu coração por um momento, me lembrando que, mesmo com todas as dificuldades, eu tinha algo precioso para proteger: meus filhos.Tammy ergueu o olhar na mi