Já havia guardado toda a compra e decidido o que ia fazer pro almoço.
E para contar as novidades à minha tia.
Ela deve comer coisas saudáveis no almoço e quase nunca come doce. Se tinha uma coisa que eu sabia fazer muito bem e que minha tia era louca, era torta de pêssego.
Ela já estava quase pronta, o cheirinho no ar.
— EU CONHEÇO ESSE CHEIRO. — ela grita, e eu sorrio de lado. — SURPRESINHA PARA MIM, EMILY?
— SIM! — grito de volta.
Olho as panelas.
Havia feito arroz e frango cozido. Na geladeira havia salada.
Retiro a torta do forno e a coloco em cima da mesa.
O cheiro estava maravilhoso.
Pego dois pratos e coloco em cima da mesa. Coloco um pouco de arroz nos dois e faço o mesmo com o frango. Vou até a geladeira e pego no refratário da salada. Coloco mais pra ela do que pra mim. Coloco os pratos em cima da bandeja e encho dois copos com suco de laranja natural.
Respiro fundo e vou para a sala.
— Se a senhora comer tudinho, terá uma maravilhosa sobremesa. — digo.
— Mas essa comida sem graça de novo?
— A senhora sabe que não pode exagerar! — coloco a bandeja em cima dela e pego meu prato e copo.
Me sento no sofá.
— Aquele cheiro lá... — ela come. — Hmm... é torta?
— Sim. E da que a senhora mais gosta.
Ela levanta as sobrancelhas sorrindo.
Assisto tv e como minha parte. Quando ela acaba, levo tudo para a cozinha e coloco na pia.
Pego nos pratinhos de sobremesa e parto a torta. Boto um enorme pedaço para ela e vou para a sala.
— Aproveite! — digo colocando a torta na sua frente.
Ela começa a comer.
— Sabe tia, hoje no supermercado... Hmm... ajudei uma grávida a controlar suas filhas gêmeas. — digo.
— Legal.
Respiro fundo.
— E... Ela... — como um pedaço da torta e a olho. — Ela me convidou para trabalhar pra ela.
Ela para de comer.
— O que?
— É. Ela me chamou para trabalhar de babá.
— Você fez bem em recusar.
Ela volta a comer.
— Eu... eu não recusei.
Vejo-a largar o garfo e me encarar novamente.
— Está pensando que vai trabalhar?
— Eu vou trabalhar!
— E quem vai cuidar de mim?
— Vou contratar uma enfermeira!
— VOCÊ PROMETEU AO SEU PAI!
— Eu sei. — falo baixo. — Mas preciso começar a cuidar da minha vida.
— EU SOU SUA ÚNICA FAMILIA. SUA PRIORIDADE!
— Isso não é verdade.
— CLARO QUE SOU. — ela esbraveja. — VOCÊ PROMETEU PRO SEU PAI QUE CUIDARIA DE MIM, NOITE E DIA! E NÃO ESTÁ CUMPRINDO A PORRA DA SUA PROMESSA.
Não aguento.
— EU SÓ TENHO VIVIDO A MINHA VIDA PARA VOCÊ! — me levanto. — FAÇO TUDO PARA VOCÊ. NUNCA TEM UM TEMPO PARA EMILY. NÃO SAIO, POIS NÃO TENHO AMIGOS AQUI. NÃO NAMORO, POIS EU PASSO MINHA VIDA CUIDANDO DE VOCÊ, SUA MAL AGRADECIDA!
— ENTÃO É ASSIM? QUERO VOCÊ FORA DA MINHA CASA! NÃO QUERO SABER DE VOCÊ. O QUE FEZ, O QUE PASSOU, POR MIM QUE SE DANE!
— Era tudo o que eu queria ouvir!
Saio da sala com ela ainda gritando e deixo o prato sujo na pia. Arrumaria aquilo mais tarde.
Subo para o meu quarto. Puxo minhas malas de baixo da cama e as coloco na mesma. Vou tirando minhas roupas do armário e coloco-as dentro da mala bem arrumadas.
Não queria que fosse daquele jeito. Apesar da maneira que ela me trata, eu me preocupo com sua saúde. Mas ela nunca voltava atrás em uma decisão.
E eu não quero que volte.
Eu sabia que teria de viver em um hotel de quinta, até ter dinheiro o suficiente para alugar um apartamento, mas aquilo não era problema. Desde que conseguisse aquilo por mérito meu.
Depois de meia hora, eu já havia arrumado minhas roupas e sapatos dentro das malas. Tinha escutado minha tia chamar-me umas dez vezes, mas não me importei. Não vou voltar atrás.
Deixei uma roupa separada para o dia seguinte e juntei todas as minhas pequenas coisas, como maquiagens, joias, e deixei-as dentro da bolsa junto com o celular.
Desço e lavo a louça. Arrumo tudo e vou para a sala, pegar o que tinha lá.
— AÍ ESTÁ VOCÊ! — grita. — SEU PAI TEM VERGONHA DE VOCÊ.
Calma, calma.
Pego tudo o que tem na sala e levo para a cozinha. Lavo-os também e guardo.
Ignorando seus gritos, subo e deito.
[...]
Desperto antes do celular tocar.
Tinha tido uma noite complicada. Fui colocar o jantar da minha tia e acabamos em outra discussão.
Coloco seu jantar e levo para a sala.
Ela ainda reclamava muito. Será que não cansa?
— SEU PAI FOI UM HOMEM MARAVILHOSO!
— É. Ele foi. Ele sempre vai ser.
Me preparo para sair da sala.
— Seu pai passou a vida triste, após o seu nascimento. — paro. — Sua mãe era tudo pra ele. Mas como sempre...
— Eu não tive culpa. — falo baixo, com meus olhos queimando.
— Mas como sempre, você estragou tudo. Pra você vir ao mundo, sua mãe morreu.
— EU NÃO TIVE CULPA! — grito, com as lagrimas escorrendo.
— Seu pai nunca falou, mas ele sempre te odiou.
— MENTIRA.
— Ele olhava para você e sentia ódio. Por sua culpa, a mulher da vida dele morreu.
— Não! — boto a mão no ouvido. — Papai me ama.
— VOCÊ TIROU A VIDA DA SUA MÃE!
— CALA A BOCA!
— É duro ouvir a verdade né!?
— ISSO NÃO É VERDADE! MAMÃE ESTAVA DOENTE. ELA... ela não aguentou.
— PORQUE ELA USOU SUAS ULTIMAS FORÇAS PRA COLOCAR VOCÊ NO MUNDO!
Dou um passo para trás.
— SE ELA NÃO TIVESSE ENGRAVIDADO, SE NÃO TIVESSE TIDO VOCÊ, ATÉ HOJE ESTARIA DO LADO DO SEU PAI!
Não aguentando ouvir mais nada, subo desolada para o meu quarto.
Logo depois tinha feito algumas ligações e consegui uma enfermeira. Sabendo como o gênio da minha tia era, eu sabia que ela arrumaria um jeito daquela mulher se demitir em segundos.
Levanto e vou para o banheiro. Tomo um rápido banho e me enrolo na toalha. Escovo os dentes e levo a escova para o quarto. Coloco-a dentro da minha necessária e deixo em cima da cama.
Visto a calça jeans e a blusa. Faço uma simples maquiagem e prendo meu cabelo em rabo de cavalo. Guardo tudo na minha bolsa e calço meuallstar preto. Jogo minha jaqueta jeans por cima e desço com tudo. Pelo silêncio na casa, indicava que ela ainda dormia. Ótimo. Preparo seu café. Mamão com iogurte, pão integral com um pedaço de queijo e suco de morango.
— Sei que é pequeno, me desculpe. — Não Elizabeth, é ótimo! — digo, deixando as malas do lado da pequena cama. — Eu lhe deixaria ficar no quarto do Louis, mas ele deve vir pra casa esses dias. — Não se preocupe. Vou ficar bem aqui. — Tudo bem. —elasorri. — Vou deixar você ajeitar suas coisas. Se faltar espaço, me avise.
Com muita vergonha de sair do quarto, acabo desfazendo minhas malas e colocando o que cabia, na gaveta. Quando termino, fico sentada na cama, olhando para a porta e morrendo de fome. Respirando fundo eu abro a porta com cuidado e saio do quartinho. — Está se escondendo de mim? Dou um salto e olho para Louis, que estava encostado na escada, bem na minha frente.
— Como você consegue ficar naquele quartinho? — pergunta. — Costumo ficar sem ar. — Eu cheguei aqui hoje, então não fiquei muito tempo lá dentro. Ele balança a cabeça e se levanta. Louis sobe e eu vou atrás dele. Entramos em seu quarto. A jaqueta estava jogada no chão. — Por que no chão e não na cama? — pergunto. — Caiu.
— Nada. —digo. Ele fica me encarando com um sorriso de lado. — LOUIS! —Aylagrita. — Já sei. —elese levanta. — Que tal a Emily escolher um filme? — me olha — Ela é nova aqui. Tem vantagem. Elas me encaram e começam a falar juntas. — Por que eu estaria? — Por que faz tantas perguntas? Sinto o olhar dele em mim. — Não estou irritada com você. Você não sabia. — Por que reagiu daquele jeito? Me mexo desconfortável.Oito
— Eu não sei. Disse ao Louis que queria tomar banho e ele me disse que teria de usar o do quarto dele — ela cruza os braços. —poiso daqui de baixo estava ruim e as meninas não gostam que usem o banheiro delas. — Entendi. —elaassente. — Venha Emily. Elizabeth sai da cozinha e vai até a porta que havia perto do quartinho. Ela abre e dá espaço para mim. Era um pequeno banheiro todo branco, em que havia um chuveiro, um sanitário, uma pequena pia e um espelho na parede. — Como p
Elizabeth disse que sabia o porquê de Louis ter dito que o banheiro de baixo estava ruim e me ofereceu o dele. Depois disso, ela fica o repreendendo. Diz que ele precisa se portar bem perto de mim. E agora isso. Ter me pedido para ficar, e não ir levar as meninas com Louis. Era como se ela estivesse tentando me manter longe dele. Balanço a cabeça e volto a lavar a louça. Depois que acabo tudo, seco minhas mãos e vou para a sala. Olho em volta e decido varrer o chão. Estava quase acabando,