Cinco

Com muita vergonha de sair do quarto, acabo desfazendo minhas malas e colocando o que cabia, na gaveta. Quando termino, fico sentada na cama, olhando para a porta e morrendo de fome.

Respirando fundo eu abro a porta com cuidado e saio do quartinho.

— Está se escondendo de mim?

Dou um salto e olho para Louis, que estava encostado na escada, bem na minha frente.

— Que susto! — exclamo. — E não. Não estou me escondendo de você. — passo por ele. — Estava apenas arrumando minhas coisas.

— Suas coisas? Vai dormir aqui?

— Sim. — me viro e o encaro. — Sua mãe me convidou pra ficar.

— Interessante.

Balanço a cabeça e vou para a cozinha. Abro a geladeira e a olho por um instante.

— Será que eu podia pedir uma coisa?

— Claro. — respondo.

— Faz um sanduíche pra mim? Sei que você é a babá, mas...

— Faço sim. Estou com fome, então se não se incomodar, irei fazer para mim também.

— Tudo bem.

Pego as coisas de dentro da geladeira e coloco na mesa. Começo a preparar os sanduíches e Louis fica me olhando. Sua mão estava no queixo. Seus olhos semicerrados e um leve sorriso nos lábios.

— Para de ficar me encarando! — digo.

Ele se ajeita, como se tivesse sido pego espiando a vizinha com o telescópio.

— Você tem quantos anos?

— Dezenove e você?

— Não sabe quantos anos tenho?

— Não sou sua fã. Para ser sincera, eu nem sabia quem era você.

Ele abre a boca.

— Isso é uma coisa rara.

— O que? — pergunto, terminando o sanduíche.

— Não saberem quem sou.

— Está acostumado a ter todas aos seus pés?

Ele ri.

Guardo as coisas na geladeira e pego duas latinhas de refrigerante. Empurro uma para Louis, junto com o prato com seu sanduíche.

— Mulher em cima de mim não falta. — ele sorri de lado. — Mas eu não gosto de mulher fácil.

Ele fica me encarando por um momento. Mordo o sanduíche.

— Hmm... E quem é aquela menina? — pergunto.

— Que menina?

Ele bebe um gole do refrigerante.

— Da foto no seu quarto. A morena.

Ele se engasga.

— A morena?

— É! — afirmo confusa.

— É a Valeria. Ela é... uma amiga.

— Ah, sim. Achei que fosse sua namorada.

— Não. Não é.

Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele o quebra, dizendo:

— Vinte e quatro.

— Oi? — o olho.

— Tenho vinte e quatro anos.

— Ah sim. — sorrio envergonhada.

— De onde você é Emily? — ele coloca os cotovelos na mesa e me encara. — Nunca te vi por aqui.

— Eu morava do outro lado de Doncaster. Há mais ou menos seis meses, que me mudei para uma casa, que é aqui perto.

— Nunca ouviu falar de mim? Ou da One Chance?

— Sendo sincera, devo ter escutado algumas músicas, alguns anos atrás. Mas... eu me desinteressei dessas coisas. Nunca fui de ficar em rede social, idolatrando pessoas. Nada contra quem faça isso.

— É tão estranho. — ele ri. — Quando chego aqui, muitas pessoas vêm me ver. Querem fotos, perguntam como é a vida de famoso... é legal, conversar com alguém que não se importa com tudo isso.

Ele sorri me olhando. Baixo a cabeça envergonhada.

— Mas como é a vida de famoso? — zombo. — Brincadeira.

— Quer mesmo saber?

— Se quiser responder.

— Às vezes é chato. Mas ao receber todo aquele amor dos fãs, ter eles cantando nossas músicas, dizendo que são orgulhosos por nós, revigora meu coração. — ele olha para a latinha de refrigerante, mas sei que sua cabeça está longe.

Para não atrapalhar seus pensamentos, fico em silêncio e acabo meu sanduíche. Louis suspira e me olha, sorrindo sem dentes. Logo em seguida, ele termina de comer seu sanduíche.

Quando ele acaba eu me preparo para pegar os pratos, mas ele coloca sua mão sobe a minha.

— Deixa que eu lavo.

— Não. — digo. — Eu sou paga pra isso.

— Você fez os sanduíches. Me deixa lavar, Emily!

Seus olhos percorriam meu rosto minuciosamente. Noto que ele para seu olhar na minha boca e um arrepio me sobe.

Me afasto.

Ele demora alguns segundos para se tocar que larguei os pratos. Louis pega os mesmos e vai para a pia. Sem jeito, eu saio da cozinha e sento no sofá.

Pouco tempo depois, ele aparece.

— Bem... — ele se j**a no sofá. — Quer assistir algo?

— Louis a casa é sua. Pare de me perguntar as coisas.

— Só quero ser legal!

— Assista o que quiser!

— Então nós vamos ver um filme. — ele liga a tv e coloca em um filme de comédia.

Eu olhava para a tv, mas mal prestava atenção no filme. Vira e mexe, eu sentia o olhar de Louis em mim e aquilo estava me deixando incomodada.

— Louis!

— O que? — ele me encara.

— Hm... Onde é o banheiro? Vi que lá em cima não tem.

— É. Só tem nos quartos e o banheiro dos hóspedes está em reforma.

— Entendi. Será que suas irmãs se importariam, se eu tomasse banho no quarto delas?

— Sim! — ele se levanta. — Kia e Bella não gostam que entrem no banheiro delas sem permissão.

— Talvez eu poderia usar o das gêmeas.

— Hmm... — ele faz careta — Não sei não.

— Ora Louis, preciso tomar banho em algum lugar e não vou usar o banheiro dos seus pais.

— Usa o meu.

— Oi? — solto uma risada sarcástica.

— Ué, eu não me importo que você use meu banheiro.

Ele sorri de lado e arqueia uma sobrancelha.

— Se estivéssemos em uma festa ou algo do tipo, eu diria que você está dando em cima de mim.

Solto uma risada.

— E eu confirmaria.

O encaro.

Ele sorri.

— Louis eu sou babá das suas irmãs e...

— Estou brincando, Emily. — ele ri e eu sem graça, o acompanho. — Está muito cedo para eu dar em cima de você.

Ele se vira e eu abro a boca.

— Emily eu estou brincando de novo!

Fecho a boca e posso escutar sua risada.

— Vai querer tomar banho ou não? — pergunta.

— Vou! Vou pegar uma roupa.

Ele senta na escada e eu vou para o quartinho.

Solto uma respirada funda.

Parecia tão real.

Ele brinca com a cara muito séria.

Balanço a cabeça e abro a gaveta. Retiro de lá um vestido amarelo. Pego peças íntimas e minha necessaire e saio do lugar. Louis ainda estava sentado na escada.

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