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Capítulo Quatro- Matheus Albertelli

Ainda estava me sentindo um pouco atordoado com suas últimas palavras, a sensação era de que meu cérebro transformou-se em gelatina, mas lentamente suas palavras foram me gerando entendimento e comecei a gargalhar depois de um tempo a risada foi substituída por raiva.

— Você não tem vergonha sua...

Antes mesmo que eu pudesse completar a frase ela ergueu o dedo indicador apontando para minha direção de forma ameaçadora e disse:

— Se eu fosse você pensaria duas vezes antes de tentar me ofender, pois eu posso lhe garantir que não sou mais a mesma Elisa que você conheceu.

Surpreso com suas palavras e ainda atordoado com sua presença, sem o menor pudor percorri o seu copo com os olhos.

Agora de perto conseguia ver que seu rosto mesmo maquiado não escondia olheiras e um semblante cansado, mas ainda assim continuava linda e atraente. O corpo com curvas nos lugares certos estava vestido com um tubinho azul.

Porra! Como pode estar mais gostosa do que era há sete anos?

— Isso eu posso ver. — disse com um toque de ironia, pois não queria demonstrar o quanto estava afetado com sua presença.

— Não quero prolongar essa conversa mais do que o necessário, então vou logo ao assunto que me trouxe até aqui, Elena.

— Quem é Elena?

— Elena é nossa filha. Antes que você venha me acusar de querer te dar um golpe ou qualquer outra coisa parecida, saiba que só vim até aqui porque ela está muito doente e sua arrogante família talvez possa salvá-la.

Eu sou um homem prático e gosto de planejar, quando acordei hoje pela manhã não estava nos meus planos escutar a minha ex-namorada, depois de tantos anos, dizer que eu tinha uma filha e que ainda por cima estava doente.

— O que ela tem? — Perguntei sentindo dificuldade de engolir minha saliva.

— Câncer. Há alguns meses ela começou apresentar fadiga excessiva e febre alta quando a levamos para o hospital ela foi diagnosticada com leucemia, passou por um exaustivo tratamento de quimioterapia que infelizmente não surtiu efeito. — Enquanto falava eu podia ver o quanto tudo isso estava sendo difícil para ela, os seus olhos tristes a denunciavam. — Agora a última oportunidade que ela tem é o transplante de medula, mas as chances de encontrar alguém compatível na fila de transplante são mínimas. As oportunidades aumentam um pouco com os parentes consanguíneos. Eu e minha mãe já testamos, mas infelizmente não somos compatíveis. Por esse motivo tive que engolir o meu orgulho e vim te procurar.

Eu estava atordoado, talvez essa nem seja a melhor palavra para descrever como estava me sentindo, mas no momento não conseguia pensar em nada melhor.

— Como você tem coragem?— Disse, mas ao perceber como minha voz soou frágil repetir a pergunta com tom firme — Como você tem coragem de aparecer aqui depois de todos esses anos e me dizer que eu posso ter uma filha e que essa mesma filha pode estar correndo risco de vida?

Ela me encarou com os olhos e boca arregalados em uma expressão de espanto, pois não esperava palavras tão duras vindas de mim, mas isso durou apenas um segundo, pois logo se recompôs e disparou:

— Não me faça repetir todas as palavras que você me disse da última vez que nos encontramos.

— Não importa o que eu disse. Você deveria ter me falado que poderia estar esperando um filho meu! — Sim, eu estava muito puto.

— Presta atenção Mateus, eu poderia ter pedido para o meu advogado vim até aqui com uma notificação, mas preferi vim eu mesma por pensar que você talvez pudesse ter um pouco mais de sensibilidade. Pelo que eu vejo você não mudou nada e continua se achando o centro do universo e transforma qualquer assunto em algo sobre você.

— Você me escondeu a possibilidade de ter um filho, caramba!

— Para de falar como se ela não fosse sua filha.

— E você quer que eu fale como? Você me traiu!

— Eu não te tra... quer saber? — ela estendeu a mão e entregou-me um envelope que só agora eu percebia estar segurando. — Toma, aqui tem todas as informações sobre a Elena e o seu tratamento. Sei que seu irmão é médico, então se houver alguma dúvida ele pode te ajudar, também tem os dados do hospital onde ela está sendo tratada caso você queira ser testado, apesar de como pais e responsáveis por apenas parte do DNA não tenhamos possibilidade de compatibilidade. Minhas esperanças e alguém da sua família, aí também tem meu contato, tchau! — Dito isso ela virou as costas para mim, abriu a porta da sala e saiu.

Suspirando me dirigi para uma mesa próxima, sentei-me abrindo o envelope logo em seguida. A primeira coisa que eu vi foi a foto de uma linda menininha loira de olhos azuis muito parecidos com os meus, dizem que os olhos são o espelho da alma, ao olhar nos olhos da garotinha senti o meu coração apertar. Aquela menina realmente poderia ser minha filha e só de recordar que ela estava doente eu sentia uma vontade enorme de praguejar, foi exatamente isso que eu fiz.

Droga! Eu tinha uma filha que nem conhecia.

Era irracional eu considerar essa menina minha filha sem nem ao menos realizar um exame de DNA?

Eu tentava me recordar o tempo todo que sua mãe era uma traíra, que a possibilidade daquela criança ser minha era pequena, apesar da semelhança. Mesmo assim internamente eu desejava que fosse.

Quanto mais eu vasculhava aqueles papéis, mais me doía o coração. Seis anos, esse foi o tempo que eu passei longe da minha filha. Quanto mais eu pensava nisso mais raiva eu tinha de Elisa por ter me privado desse precioso tempo. Um tempo que não iria voltar.

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