Thayla Narrando
Meu nome é Thayla Varela, tenho 23 anos e recentemente me formei em Administração com ênfase em Ciências Contábeis. Passei na University of Central Florida (UCF), uma das maiores universidades dos Estados Unidos. O dia em que vi meu nome na lista de aprovados foi o mais feliz da minha vida, mas também o mais triste. Era a realização de um sonho, mas significava deixar para trás minha família no Brasil: meus pais, meu irmão, minha casa, tudo que sempre conheci. A adaptação à nova vida nos Estados Unidos não foi fácil. No começo, me sentia sozinha, perdida em um país novo, cercada por pessoas que falavam uma língua que, embora eu entendesse, ainda soava estranha no dia a dia. Mas com o tempo, fiz amizades, aprendi a amar aquele lugar e construí uma rotina. Mesmo assim, havia algo que nunca mudou: minha saudade do Brasil e, principalmente, de uma pessoa muito especial. E agora, vou contar um segredo para vocês. Mas antes, quero deixar claro que não me importo se me julgarem. Durante muito tempo, me importei. Senti culpa, achei errado, mas hoje não mais. Então, lá vai: eu sempre fui apaixonada pelo melhor amigo do meu pai, o Tio Enrico. Sim, eu sei. É errado, inapropriado, impossível. Mas sentimentos não pedem permissão para nascer, certo? Eles simplesmente surgem e tomam conta da gente. Desde que me entendo por gente, sempre olhei para Enrico com olhos diferentes. Ele era aquele tipo de homem que exala masculinidade, charme e elegância sem esforço. Alto, forte, de sorriso contido e olhar intenso. E, para piorar minha situação, sempre foi um verdadeiro cavalheiro. Lembro do dia exato em que tudo começou. Eu tinha 14 anos. Ele me olhou e disse, com um tom de brincadeira, mas com um sorriso genuíno: — Sorte do homem que conquistar o coração dessa princesa. Naquele instante, eu queria gritar: Pega, é seu! Me leva para você! Mas, é claro, eu não podia. Ele era casado. E sua esposa, Madeleine, era uma mulher insuportável. Meu irmão e eu éramos apenas crianças, mas ela nunca foi simpática conosco. Na verdade, nunca chegou perto de nós. Minha mãe dizia que ela era doente de alma, e talvez fosse mesmo. Não sei se era ciúmes, arrogância ou apenas uma personalidade amarga, mas era nítido que ela não gostava de ninguém, nem mesmo do tio Enrico. A vida seguiu seu curso. Eu guardei meus sentimentos no fundo do peito e tentei seguir em frente. Fui para a Flórida estudar e, pouco tempo depois, recebi a notícia da morte de Madeleine. Foi um choque. Não porque eu gostava dela, mas porque isso significava que Enrico agora estava sozinho. A partir daquele momento, comecei a acompanhar mais suas redes sociais. Não que ele postasse muita coisa, na verdade, quase tudo é relacionado à sua vida profissional. Mas mesmo assim, eu gosto de vê-lo, saber que ele está bem. Quando converso com meus pais e pergunto sobre ele, faço questão de manter um tom casual, sem demonstrar nada. Eles nunca perceberam meu crush no Tio Enrico. Os anos passaram e minha paixão nunca esfriou. Pelo contrário, só cresceu. A distância não ajudou a diminuir esse sentimento, e agora que estou de volta ao Brasil, sinto que esse desejo adormecido pode despertar de vez. O que fazer? Ignorar e fingir que nunca senti nada? Ou permitir que meu coração guie meus passos, mesmo que isso signifique enfrentar julgamentos e desafios? A única coisa que sei é que meu coração acelera só de pensar em vê-lo de novo. E talvez, só talvez, ele também note algo em mim. Hoje é minha última noite na Flórida. Depois de cinco anos, chegou a hora de voltar para casa. Brasil, aqui vou eu! Mas antes disso, tenho uma despedida para curtir. Meus amigos organizaram uma festa para mim, e claro, vamos terminar a noite na boate. Durante esses anos de faculdade, vivi muitas experiências, fiz amigos incríveis, tive dois namorados e perdi minha virgindade. Já conheço os prazeres da vida adulta e, sinceramente, gosto disso. Mas agora, preciso voltar para minha casa e tentar viver como uma adulta responsável. Quero ser essa mulher madura, mas a verdade? Ainda não sou. A música eletrônica pulsava forte, fazendo o chão tremer sob meus pés. As luzes coloridas piscavam em sincronia com o ritmo acelerado, criando um espetáculo vibrante. O cheiro de bebida misturado ao perfume caro das pessoas ao redor formava um aroma inconfundível de balada. Eu estava ali, no meio da pista, cercada pelos meus amigos. Sophie segurava um copo com alguma bebida colorida e gritava animada: — Essa noite é sua, Thayla! Vamos aproveitar! Eu ri, sentindo a euforia tomar conta de mim. Minha cabeça estava longe, eu só pensava em chegar em São Paulo logo. — Thayla, acorda! — Logan, um dos meus amigos, me puxou pela cintura e começou a dançar ao meu lado. — Não adianta ficar pensativa na última noite! Vamos fazer valer a pena! Ele tinha razão. Eu balancei a cabeça e levantei meu copo. — Ok, ok! Vamos brindar! Sophie, Logan e o resto do grupo ergueram seus copos comigo. — A Thayla, que sobreviveu à faculdade e agora vai viver como uma adulta responsável! — Sophie brincou. — Ou tentar! — Logan riu, piscando para mim. Viramos as doses de uma vez. O líquido queimou minha garganta, e eu soltei uma risada enquanto a música mudava para um reggaeton envolvente. — Agora você vem dançar! — Sophie me puxou para o centro da pista. Os corpos se moviam ao nosso redor, todos no mesmo ritmo sensual da música. Eu me deixei levar pelo momento, girando os quadris, rindo, sentindo a energia eletrizante do ambiente. Era libertador. Por algumas horas, consegui esquecer minhas preocupações. Não havia amanhã, não havia despedida, não havia Brasil. Só existia a pista de dança, a música e a sensação deliciosa da liberdade. Mas então, em um momento de distração, meu celular vibrou na bolsa. Peguei o aparelho e vi uma mensagem da minha mãe: — Filha, estamos ansiosos para te ver amanhã. Vou preparar um jantar só para a família e o Enrico. Meu coração disparou. Enrico vai estar lá. Aquela sensação gostosa de euforia foi substituída por outra coisa: um frio na barriga. — Thayla? Você ficou branca! — Sophie gritou perto do meu ouvido. — Nada, só... acho que bebi rápido demais. Ela riu. — Então vamos resolver isso! Mais uma rodada! E eu fui. Porque, naquela noite, tudo o que eu podia fazer era dançar, beber e fingir que não estava contando as horas para voltar para casa. Para finalmente ver Enrico.Thayla Narrando Saí da boate exausta, mas satisfeita. O ar fresco da madrugada me envolveu, e senti um alívio ao finalmente estar longe da música alta e das luzes piscantes. Meu corpo ainda vibrava com a adrenalina da noite, e quando ouvi a voz rouca de Logan me chamando, um sorriso brincou em meus lábios.— Vai embora sem se despedir? — Ele perguntou, encostado na parede do lado de fora.Logan era um pedaço de mal caminho. Moreno, alto, corpo definido, aquele sotaque português carregado que fazia qualquer palavra soar como sedução. Já tínhamos transado algumas vezes, sempre sem compromisso, sem expectativas. Mas agora que eu estava indo embora, talvez fosse a última vez.— Uma despedida, então? — Respondi, arqueando a sobrancelha.Ele sorriu de lado e puxou minha mão, me guiando até o táxi que nos levaria ao apartamento dele. Logan dividia o lugar com dois amigos, mas naquela noite o espaço era só nosso.O desejo se inflamou assim que a porta se fechou. Sem hesitação, ele me empurro
Enrico Narrando O dia foi cheio de compromissos, reuniões e documentos para assinar. Uma rotina comum, na vida de um CEO.Dante saiu mais cedo do escritório hoje. Ele estava animado ia buscar a Thayla no aeroporto, mas antes de sair, passou pela minha sala e fez questão de me lembrar do jantar de boas-vindas.— Não esquece do jantar hoje, Enrico. Vai ser importante pra Thayla se sentir acolhida.— Eu sei, Dante. Estarei lá.Ele assentiu e saiu apressado, claramente ansioso para ver a garota. Eu ainda tinha uma última reunião antes de encerrar o expediente. Resolvi focar nisso antes de pensar no jantar.A reunião foi produtiva, mas um pouco cansativa. Assuntos burocráticos sempre tiravam minha paciência. Quando finalmente acabou, fui direto para casa. Uma ducha rápida ajudou a aliviar o cansaço do dia, e então escolhi algo mais casual para vestir. Nada formal, apenas uma calça jeans e uma camisa de algodão. Não era uma ocasião para ternos e gravatas, afinal.Dante mora a apenas uma qu
Thayla Narrando Depois do jantar, e dos flertes com o Enrico, mas claro, sempre observando se não tinha ninguém prestando atenção em nós, não quero estragar algo antes de conseguir o que quero. Depois que todos foram embora, dei um beijo de boa noite nos meus pais e agradeci pelo jantar maravilhoso. Subi para o meu quarto, tomei um banho relaxante e vesti um pijama confortável.Deitei na cama, mas meu corpo estava inquieto. O banho relaxante não foi suficiente para acalmar meus pensamentos. O jantar foi delicioso, mas o que realmente mexeu comigo foram os olhares e as trocas sutis de flerte com Enrico. Cada vez que nossos olhares se encontravam, uma faísca acendia dentro de mim. Eu percebia que ele tentava manter a compostura, sempre desviando o olhar rapidamente, mas eu via além disso. Ele sentia minha presença, da mesma forma que eu sentia a dele.Virei para o lado, puxei o cobertor sobre o corpo e suspirei. Meu coração ainda batia acelerado só de lembrar da maneira como ele ajeito
Enrico Narrando Meu Deus, o que eu tô fazendo da minha vida?Respondi a Thayla com provocações, e agora tô aqui, precisando de um banho gelado pra tentar apagar as imagens que minha mente insiste em reproduzir. A água fria escorria pelo meu corpo, mas não era suficiente para aliviar a tensão que eu mesmo criei. Ela tem um jeito que me instiga, me desafia. E eu, um homem feito, me vejo reagindo como um garoto inexperiente.Me deitei na cama, mas o sono não veio fácil. Só consegui dormir quando o cansaço venceu a batalha contra meus pensamentos.Na manhã seguinte, acordei com o despertador tocando. Sem preguiça, coloquei meu tênis e saí para o treino. Comecei com um cardio intenso, seguido de exercícios de ombros e costas. Depois, nadei por quarenta minutos, sentindo a resistência da água me ajudar a colocar as ideias no lugar. A disciplina sempre foi minha aliada, e hoje não seria diferente.Quando terminei, já estava disposto para encarar o dia. Tomei um banho, vesti um terno impecáv
Thayla Narrando Matheus começou a apresentar os pontos que estavam tornando o processo administrativo mais lento. Ele tinha um levantamento interessante, com dados concretos e observações válidas. Enrico escutava em silêncio, mas eu percebi que sua expressão ficava cada vez mais fechada.Eu mesma fiz algumas anotações e observações, mas quem realmente fez uma análise crítica foram Enrico e meu pai. Não era surpresa. Os dois estão há mais de vinte anos no ramo administrativo e têm experiência de sobra. Eu os observava atentamente, absorvendo cada detalhe.Mas algo me chamou a atenção: o olhar de Enrico para Matheus estava excessivamente carregado. Não era só profissionalismo. Sempre que Matheus falava, Enrico reagia como se fosse uma afronta, mesmo quando o assunto era puramente técnico.Meu pai também percebeu.— Matheus, Thayla, podem nos dar um minuto? Quero falar com Enrico a sós.Enrico me lançou um olhar significativo. Parecia um aviso. Algo como “fica esperta, garota”.Saí da s
Enrico Narrando Eu não estava mais conseguindo me segurar com a Thayla ao meu lado. Caminhávamos pelos corredores da empresa, analisando tudo, observando as operações, mas tudo que eu conseguia perceber era a proximidade dela, o perfume doce que invadia minhas narinas e me fazia sentir mais vivo.O jogo de provocações entre nós já tinha passado dos limites. Os olhares demorados, os sorrisos cheios de segundas intenções, as palavras que pareciam inofensivas para os outros, mas que carregavam um peso enorme para nós dois.Para piorar, eu precisava lidar com Matheus e com os funcionários mais jovens que lançavam olhares carregados de desejo para ela. Meu sangue fervia. Eu queria agarrá-la, passar minha mão pelos ombros dela, puxá-la pela cintura e deixar claro que ela não estava disponível. Mas eu não posso.Não somos nada além da filha do meu melhor amigo e do homem que sempre esteve presente na vida dela. Ninguém tinha falado nada, mas os olhares diziam muito.— Está difícil se concen
Thayla Narrando Foi maravilhoso beijar o Enrico, melhor do que eu já tinha imaginado. Seu gosto ainda estava nos meus lábios, e a forma como ele ficou sem jeito depois só me fez achá-lo ainda mais irresistível. Voltamos para a sala dele, e ele mexia na gola da camisa, evitando me encarar diretamente. Tadinho, tentava manter o controle, mas eu via o desejo brilhando em seus olhos.Para aliviar a tensão, ou talvez só para me divertir vendo-o reagir, puxei assunto sobre a empresa.— Tio Enrico, como funciona a exportação de petróleo e minérios? — perguntei, cruzando as pernas devagar e me inclinando um pouco para frente. — Quero entender tudo direitinho.Ele umedeceu os lábios antes de responder, como se estivesse escolhendo as palavras certas.— Bom, Thayla — Ele pigarreou e ajeitou a postura. — Não é um processo tão simples. Primeiro, temos que garantir que a matéria-prima está no padrão certo. Qualidade é essencial.— Ah, então vocês são bem exigentes, né? — provoquei, mordendo de le
Enrico Narrando Tive uma reunião importante em uma cafeteria que possui uma sala privativa. A reunião foi com o representante do Governo Federal e, felizmente, foi bastante produtiva. Minha secretária já estava lá quando cheguei, e ficou claro que o próximo encontro será com o ministro em Brasília.Cheguei na empresa por volta das quatro da tarde, estacionei e, enquanto pegava minhas coisas no carro, vi Thayla e Matheus juntos. Meu sangue ferveu. Quando a vi abrindo a porta do carro dele, perdi completamente a sanidade.Eu sabia que deveria recuar. Mas, droga, quem disse que eu consegui resistir?Não deixei ela sair com o Matheus. Ela estava prestes a entrar no carro dele, mas eu não podia deixar aquilo acontecer.Mandei a Thayla entrar dentro do meu carro, entrei e respirei fundo. Meu Deus, o que eu estou fazendo? Perdi a noção de tudo. Olhei para ela, que estava sorrindo, me encarando.— Isso foi ciúmes, tio Enrico? — Ela perguntou, com aquele tom provocador que só ela sabe usar.O