Jared entrou no apartamento e jogou a melhor amiga no sofá, fechou a porta e começou a arrastá-la em direção ao banheiro, com pouca paciência, mas ao mesmo tempo tomando cuidado para não machuca-la.
—Ai me solta. — Ela choramingou.
— Você está bêbada e imunda Maria Clara, precisa de um banho. — Ele falou em tom de voz mais doce que conseguiu.
— Eu não estou não. — Ela falou com a voz arrastada.
— Eu te encontrei pelada dentro de um Impala preto. Como é que você transa com alguém que não conhece?
Maria Clara desandou a chorar ao ouvir aquela acusação horrível, ela não lembrava de nada daquilo.
— Eu fiz o que? Eu não...
— Por sorte eu o conheço Maria. Agora, venha. Tome um banho para se recuperar, pelo amor de Deus garota que nível você chegou, hein?
Entre os protestos da moça Jared ligou o chuveiro e a deixou embaixo da água gelada.
Ele e Maria Clara se conheceram na escola e tornaram-se grandes amigos, juntos eles cursavam moda e dividiam o apartamento.
Há uma semana, Diego, o namorado de Maria Clara a abandonou e foi embora para outra cidade.
Como Maria era sempre muito durona, Jared não imaginou que ela ia se desesperar tanto a ponto de cometer uma besteira, mas ele não podia culpá-la, por mais durona que ela fosse, ela ainda era um ser humano falho e essa reação dela, era bem saudável, fazia muito tempo que Maria Clara não surtava com estilo.
Principalmente ela, que dificilmente surtava com algo, era forte. Ao invés de sofrer, batia de frente com seus problemas. Sofrer um pouquinho era saudável demais para aquela mulher de pedra, que Maria Clara havia se tornado com o passar do tempo, graças a um passado horrível que ela tinha.
Minutos depois, Maria Clara entrou no quarto dele vestida com o roupão e sentou-se na cama para que ele secasse seu cabelo. Sentia-se muito frágil naquele momento e não sabia se era o efeito do álcool, ou estava mesmo triste.
— Jared o que eu fiz? — Perguntou como uma criança.
— Você bebeu e dormiu com um cara dentro do carro dele. Bom, dormir só, não exatamente... Vocês...
— Ah não. Que vergonha... Eu não fiz isso.
— Ele estava tão chapado quanto você. Dois bêbedos malucos.
— Eu não lembro de nada. Não lembro, Jared...
— Ele também não. Vou apresentar vocês, não se preocupem com isso.
— Não! Me poupe dessa humilhação, não quero conhecer, não quero lembrar. Não quero nada disso na minha vida. Desculpe pela preocupação Jared. — Ela suspirou. — Mas está doendo tanto. Eu gostava tanto daquele traste do Diego.
Ele desligou o secador e a abraçou com força.
— Eu sei. Mas vai passar. Sempre passa.
— Eu amava Diego e ele disse que me amava também. O que eu fiz de errado?
— Não foi você. Ele é um idiota. Pare de se lastimar por ele, esquece aquele vadio.
Ela chorou outra vez. Maria Clara, que nunca chorava por nada, sempre dura feito um muro.
— Chora diva, vai ser bom. Pode chorar.
A abraçou mais forte afim de consolá-la. Maria Clara aconchegou em seus braços, sentindo-se mais calma.
***
Um mês e meio depois...
Maria e Jared saíram à tarde depois do trabalho para procurar a roupa que iam usar na formatura e enquanto faziam isso, conversavam sobre os planos que pretendiam tirar do papel depois da conclusão do curso.
— Vamos montar uma loja simples. — Ele começou.
— Simples Jared?
— Sim, depois com o tempo, vamos crescendo aos poucos. Ei, vamos tomar um café aqui, eu adoro o bolo de chocola... Que foi?
Ele parou de falar quando percebeu a cara dela. Maria Clara estava com a mão na boca encarando a lanchonete.
— Meu estômago está mau só de ouvir falar em comida.
— Ai Maria Clara, de novo? Você é uma fresca isso sim. Ui hein, Deus me livre.
Maria Clara girou em frente a porta espelhada e se observou.
— Você não está parando de comer pra emagrecer, não é maluca? Eu vou bater em você se for isso.
Jared colocou a mão na cintura e bateu o pé. Maria Clara achou graça, mas logo voltou-se para sua imagem ao espelho.
— Eu estou inchada e minha menstruação atrasou. — Falou pensativa.
— Você não acha que...
Ele começou, mas ela o interrompeu já sabendo o que ele ia falar.
— E se for Jared? O que vou fazer da minha vida. E os nossos planos?
Jared revirou os olhos e a puxou pelo braço.
— Se você estiver grávida, não irá te afetar em nada. Se fosse uma doença terminal aí sim você deveria realmente se preocupar.
— Mas, Diego...
— Você tem capacidade de ser mãe solo não tem? E segundo, século 21 querida, não se necessita mais de macho para formar família. Sem contar que você tem a mim, eu estou ao seu lado para tudo.
— Ah meu Deus, Cássio vai me matar.
— Seu irmão terá que passar por cima de mim para isso. Vamos fazer um teste, não se preocupe, não é o fim do mundo.
Ela sorriu. Não precisava mesmo se preocupar afinal, ela tinha ele. Jared estaria ao seu lado para tudo, disso ela sabia, ele era seu melhor amigo, praticamente sua família.
💞Meses depois💞
Jared e Cássio entraram no quarto de hospital, Jared trazia consigo um buquê de tulipas amarelas. Ela observou os dois, Cássio era mais alto que Jared e por mais estranho que pareça, eles eram, fisicamente muito parecidos.
— Flores para mim?
— Não Diva, essas flores são para a nova integrante da família.
— Passamos no berçário Maria Clara. Ela é linda. — Cássio comentou sorrindo. — Como está?
— Mesmo? Parece com quem? Aliás estou bem.
— Com o pai.
Ela fechou a cara.
— Com o nosso pai. — Cássio se corrigiu.
— É ainda pior. — Ela revirou os olhos, lembrando do quanto detestava o próprio pai.
— Eu achei isso incrível. — Ele falou.
— Por favor Cássio, evite comentar isso perto de mim.
— Interrompendo aqui, Diva, já tem um nome para a princesinha?
Maria sorriu para isso, animada e finalmente feliz.
— Sim. Ela vai se chamar Isabelly e ela vai ser só minha. Minha e de mais ninguém. — Falou convicta.
5 anos depois...Maria Clara entrou em casa, batendo os saltos altos e gritou para o alto da escada.— Izzy, cheguei amor. Trouxe uma coisa para você.Uma menina pequena e loira, saiu correndo e desceu pelo escada.— Ei, não corre, você vai cair.A garotinha pulou e se jogou no colo da mãe, Maria Clara a cumprimentou com um beijo na face.— Oi mãe... O que trouxe para mim?— Bolinhos açucarados, como você pediu. Estão ali naquela sacola.Ela desceu do colo de Maria Clara e correu mexer nas coisas que a mãe trouxera.— Oi Kátia. — Maria cumprimentou a moça que desceu pela escada depois da filha. — Obrigada por ter ficado com ela hoje. Depois a gente acerta tudo.— Tudo bem Maria. Quando precisar, me chame. Tchau Izzy.— Tchau Kah.A moça saiu fechando a porta atrás de si. Maria se jogou no sofá e observou todo a casa. Logo depois que as coisas na
Maria Clara bateu o pé e ficou ainda mais irritada, a loira tinha um gênio fortíssimo para lidar com as coisas.— Quem esse babaca pensa que é?— Bom, eu acho que esqueci de comentar contigo que ele tem um gênio forte.— Pois quero que ele e o gênio forte vão para o inferno. — Ela xingou e voltou-se para seu lugar.— Maria eu já tive um trabalhão para convencê-lo. Custa você ir até ele?— Custa, custa muito.Jared bateu o pé irritado.— Olha aqui, você vai sim atrás dele, porque se não for, não me peça de novo pra te ajudar nessas loucuras que você inventa.Jared foi para a porta. Mas voltou.— E lide com sua filha sozinha. Ou acha que vai conseguir enganá-la por muito tempo, fingindo. Acha que ela vai engolir para sempre tudo o que inventar p
Jared ligou para Alan de manhã, o rapaz atendeu ainda sonolento, afinal havia acabado de acordar. — Lembra que eu disse que te daria um emprego aqui na loja se você aceitasse a proposta?— Sim. Lembro.— Vem cá na loja então, para a gente conversar.— Tudo bem, logo estarei aí.— Espero você. Até.Alan desligou, tomou um banho e se vestiu. Saiu do quarto e encontrou a mãe na sala.— Vai sair?— Jared vai me arrumar um emprego na loja dele.— Jared? É um amigo seu, não é?— Sim e a senhora vai aonde? — Eu não disse que ia fazer os exames que você falou? E depois vou lá na casa da comadre Gorete.— Nossa, bom saber disso.— Bom, vamos juntos então. Feche a porta.— Claro. Os dois saíram juntos e Alan fechou a porta. ***Maria Clara encarou Jared.— Você vai colocar o pai da minha filha para carregar caixas?— "Pai da minha filha?" Já está assim?
Alan cobriu Isabelly com o cobertor cor de rosa e foi até a janela para fechar. O tempo fechou do nada e uma forte chuva caiu, Isabelly que já estava bem cansada de brincar acabara dormindo no colo de Alan. Depois de checar se ela estava bem coberta e tudo muito fechado, ele saiu.Na sala encontrou Cássio, Marcela, Martinha e Jared sentados no sofá. — E a Maria?— Deve estar no quarto gato. Se quer falar com ela vai lá. Mas o humor dela está péssimo.Jared disse enquanto cutucava a tela do celular. — Não tem internet aqui gente?— Caiu a rede por conta da tempestade. — Eu vou preparar uma lausanha.— Lasanha Martinha... E vai cair muito bem nesse momento. Vai lá diva, arrasa.Ela franziu a testa sem entender, desistiu de perguntar e seguiu para a cozinha. Alan foi até o quarto de Maria Clara, bateu na porta, mas recebeu só o silêncio, então abriu a porta para sondar lá dentro. O quarto estava vazio e a
Era uma da manhã quando Maria Clara acordou com o celular tocando desesperado embaixo do seu travesseiro.Atendeu sonolenta.— Alô?— Maria Clara sou eu. Alan... Você está dormindo?Maria levou o celular na frente dos olhos para espiar as horas.— Não mais, você me acordou. É uma hora da manhã Alan, o que você quer?— Estou aqui na frente da sua casa... Quero ver a Izzy.— Você não pode vir amanhã? Mais tarde?— Não. Tem... Que ser hoje. AgoraEla revirou os olhos e avisou que ia descer. Colocou um casaco por cima do pijama e foi até ele. Abriu a porta e saiu. — Alan que loucura é essa?— Eu quero ver a minha filha...— Alan você está... Bêbado?Ela o olhou com repugnância. — Vá embora daqui. Agora...— Maria me escuta... Eu não pude vir antes... — Você disse isso. Agora vá para sua casa.— O que... Eu quero ver a minha...— Primeiro que ela não é
Ver Diego depois de tanto tempo era o mesmo que estar diante de um pesadelo.— Eu estou de férias por aqui... Posso me sentar com vocês?Maria abriu a boca sem acreditar e Izzy o encarou.— S-Sim... Eu acho que sim...Maria respondeu gaguejando. Ele puxou a cadeira e sentou-se ao lado delas. Estava bonito, muito mais bonito. Ele sorriu para Isabelly.— E você garotinha quem é?— Eu não sou garotinha...— Izzy... Não seja mal educada.Diego sorriu para ela e ela virou o rosto. Ele voltou-se para Maria.— Que coincidência encontrá-la aqui.— Depois de tudo, não é? Interessante te ver aqui.— Precisamos conversar. Eu preciso te explicar o que aconteceu...— Mas não agora. Eu agradeço.Ele sorriu.— Claro. E essa menina linda quem é?Mari
Diego saiu do quarto de Izzy antes de todos. Quando Maria achou que ele estivesse ido embora, ela o encontrou na sala de espera.— Diego!Ele a olhou.— Quem é esse cara? O seu namorado?— Não...— Não?— Quer dizer sim. A Izzy adora ele. — Ela o chamou de pai. — Izzy nunca teve um pai e tudo o que ela sempre quis era alguém para chamar assim.— Você deveria ter me procurado.— Espera, você some da minha vida do nada, sem explicação nenhuma e queria que eu te procurasse? Eu estava grávida, eu não tinha nada, eu cuidei da minha filha sozinha. É isso, ela é minha filha. — Eu sei Maria Clara, mas eu sou o pai e agora eu quero fazer parte da vida dela. É pedir muito?— Sim, é. É claro que é!Ele balançou a cabeça e a encarou de volta.— Se for contra a minha aproximação da Isabelly eu vou brigar com você na justiça. — O que? Você não pode fazer isso.— Posso sim e você sab
Maria Clara entrou no quarto de hospital com um pouco de receio, ser obrigada a visitar o pai doente lhe causava náuseas, o que significava que ainda sentia muita mágoa do seu passado. Sabia que cometera um erro afastando Isabelly dos avós, mas como sua infância havia sido traumática demais, apagar as pessoas que causaram isso da vida da filha parecia o mais saudável.O homem na cama não parecia nem de longe o mesmo homem que bebia horrores e descontava suas frustrações batendo na mãe, o mesmo homem que lhe causava medo e pavor. Mas mesmo assim, ela não conseguia esquecer o que aconteceu.Ela nunca esqueceria.Teresa ficou assombrada ao ver a filha ali, e ao mesmo tempo feliz.Isabelly cumprimentou os avós e não deixou de demonstrar sua tristeza ao ver o avô tão mal.— Maria, minha filha...O velho Duarte estendeu a mão e recebeu nada mais, nada menos que um olhar de desprezo. Maria Clara ficou perto da porta de braços cruzados.— A