Capítulo 2

Maria Clara bateu o pé e ficou ainda mais irritada, a loira tinha um gênio fortíssimo para lidar com as coisas.

— Quem esse babaca pensa que é?

— Bom, eu acho que esqueci de comentar contigo que ele tem um gênio forte.

— Pois quero que ele e o gênio forte vão para o inferno. — Ela xingou e voltou-se para seu lugar.

— Maria eu já tive um trabalhão para convencê-lo. Custa você ir até ele?

— Custa, custa muito.

Jared bateu o pé irritado.

— Olha aqui, você vai sim atrás dele, porque se não for, não me peça de novo pra te ajudar nessas loucuras que você inventa.

Jared foi para a porta. Mas voltou.

— E lide com sua filha sozinha. Ou acha que vai conseguir enganá-la por muito tempo, fingindo. Acha que ela vai engolir para sempre tudo o que inventar para ela, um dia ela irá procurar por Diego sim e você não vai poder impedir, além de te transformar na maldita vilã da história dela. É isso que te espera se não ir e se ajoelhar implorando para que o lindão do Alan te ajude. Eu sou muito jovem pra ficar me estressando com seus problemas. Cresce, lide com isso.

— Que isso Jared?

— Que isso nada perua, estou rodando a baiana com você. Já deu, sempre agindo de forma mimada, achando que dinheiro resolve seus problemas, nunca enfrenta nada. Eu hein. Pra mim chega. Cansei!

Rápido ele pegou um papel e uma caneta.

— Estou anotando aqui o endereço dele e o telefone. Mas o preferível é que você vá falar com ele pessoalmente ok?

— Jared...

— Não. Não adianta dizer nada. Você vai atrás dele. Pegue o papel! Nossa senhora das bichas estressadas que me ajude, porque meu Deus.

Maria Clara pegou o papel e ele saiu pisando firme, ainda bateu a porta.

Maria Clara bufou irritada olhando para o papelzinho. Por mais que aquilo a enlouquecesse, a única solução era mesmo pedir para um desconhecido fingir ser pai de sua filha, era isso, ou desistir da ideia, mas desistir era uma palavra que não existia no dicionário de Maria Clara.

— Esse babaca ainda se acha no direito de exigir alguma coisa. Droga!

Pegou o telefone e ligou para a casa. Ninguém atendeu.

— Primeiro dia e essa idiota não me atende. Ah droga, hoje provavelmente Cássio passou lá para levar Izzy a um passeio.

Pegou o celular e ligou para o irmão.

— Cássio fica com Izzy por mais um tempo? Vou demorar ir pra casa e Jared está na TPM.

— Vai aprontar Maria Clara?

— Vê lá se eu tenho idade para aprontar. Até depois!

Ela desligou antes que ele dissesse algo mais, pegou suas coisas e saiu. Cássio além de ser da polícia, era extremamente protetor, tanto com a irmã quanto com a sobrinha. Isso era bom, por um lado, mas pelo outro...

Maria Clara estacionou o carro em frente a casa e observou o lugar, era simples, havia alguém do lado de fora, era uma moça magra arrastando uma mala.

— Oi, com licença. — Ela falou ao se aproximar

— Que é?

Maria Clara franziu a testa para a falta de educação da outra.

— Procuro alguém. Alan...

— Entre aí. Ele logo vai chegar.

Arrastando a mala a moça saiu. Maria Clara entrou na casa um pouco apreensiva.

— Ai...

Ela ouviu vindo do quarto junto com o barulho de algo caindo. Maria correu para ver o que era, uma mulher estava caída no chão.

— Ei... Você está bem? Vem cá, te ajudo.

Maria Clara ajudou a mulher a se levantar e a deitar na cama. Patrícia encostou-se nos travesseiros.

— Estou bem Donna, apenas caí.

— Que bom, mas não sou a Donna. Deve ser a garota que saiu, não é?

Patrícia forçou os olhos para tentar vê-la melhor.

— Quem é você?

— Bom, me chamo Maria Clara e vim...

Um barulho na porta a interrompeu e logo um homem alto e bonito apareceu na porta do quarto. Olhou para Maria Clara dos pés a cabeça.

— Quem é você?

— Alan?

— Nos conhecemos?

Ela o olhou com calma, tinha a sensação de conhecê-lo, mas não fazia ideia de onde. Jared tinha razão, ele era lindo. Alan era alto, forte, tinha cabelos loiros, curtos, olhos verdes… verdes como os de sua filha.

— Vim para falar sobre a Isabelly.

— Me espera na sala.

Ele disse e Maria virou-se para Patrícia.

— A senhora está bem?

— Eu só caí.

— Mãe, a senhora caiu?

— Acho melhor chamar um médico, não é? Pode ter se machucado...

Maria Clara falou e saiu do quarto para pegar o celular.

— Filho, não deixe essa mulher chamar ninguém.

— Desculpe mãe, mas no momento a senhora não está em condição de decidir nada aqui.

Enquanto o médico que Maria chamou examinava dona Patrícia, Alan a arrastou para o lado de fora.

— Você veio me pedir algo?

Ele sorriu para provocá-la. Maria Clara colocou a mão na cintura e o encarou.

— Você sabe o que é.

— Mas eu quero que você...

— Que eu peça. Eu sei, eu sei...

Alan colocou a mão no bolso e esperou. Maria Clara o encarou ainda tentando lembrar de onde o conhecia, mas logo se irritou com o olhar provocativo dele.

— Você sabe o que eu vim pedir. Então, é sim ou não?

— O quê?

— Não se faça de bobo.

Ele cruzou os braços.

— Ah bom, não faço ideia do que está falando. Pode repetir seu pedido? Eu meio que tenho problemas e esqueço as coisas muito rápido.

Maria se irritou e revirou os olhos. Pedir algo para alguém era terrível para ela.

— Quer saber? Tchau. Não quero nada de você.

Ela deu um passo, mas ele a segurou pelo cotovelo a puxando de volta.

— Me diga que isso não vai machucar a criança, então te dou minha resposta.

— Eu jamais faria algo sabendo que machucaria minha filha.

Alan assentiu.

— Tudo bem vou te ajudar. Serei o pai da sua filha!

***

Cássio, Marcela e Izzy entraram na casa e Jared apareceu da cozinha para cumprimenta-los.

— Olá amores, como foi o passeio?

— Muito legal tio Jared. Cadê a mamãe?

— Ela foi resolver um assunto. Marcela, loira linda, seu horário acabou e não se preocupe que essas horinhas a mais serão compensadas sempre que Maria Clara te deixar com Izzy até mais tarde.

— O que acontece muito hein! — Cássio comentou.

— Cássio lindão. Sem intrigas por favor. Vai esperar sua irmã? Vou preparar um jantar divino hoje...

— Não. Eu vou para a casa, tenho que trabalhar amanhã muito cedo.

— Tio leve a Marcela, senão fica muito tarde para ela ir para a casa. E pode ter bandidos do mal soltos por aí.

— Claro Izzy, você tem toda a razão e eu devo protegê-la, não é?

Cássio olhou para Marcela e sorriu deixando a moça um pouco vermelha.

O médico se aproximou de Maria Clara e Alan.

— Como está a minha mãe doutor?

— Bom, vamos precisar de alguns exames. Ela não está bem de saúde e essa tontura que ela teve não é normal.

— Ah meu Deus. Ela não vai querer de jeito nenhum fazer exames. Ela é teimosa.

— Mas ela precisa Alan, espero que se comprometa em convencê-la.

— Claro, farei tudo o que estiver ao meu alcance.

Depois que o médico se foi, Alan e Maria Clara ficaram sozinhos, Patrícia estava dormindo, Maria cruzou os braços e observou o homem.

— Olha Alan eu sinto muito. Mas não se preocupe, vou providenciar tudo para que sua mãe seja tratada pelo melhor médico da cidade.

— Por que vai fazer isso?

— Por que você vai me ajudar, não é? Sabe, com a Izzy.

— Ai, é tem isso.

— Mas também se eu posso te ajudar, por que eu negaria?

Alan cruzou os braços.

— Algo me diz que você não é tão benevolente assim. Você está tentando me comprar?

— Que horror sabe, você falar isso. Eu posso ajudar e eu quero ajudar.

— Que bom.

— Sobre a Izzy, eu vou preparar um jantar para que vocês se conheçam. Mas assim, já posso dizer a ela que te encontrei?

— Mentir você quer dizer. Tudo bem, faz isso.

— Ótimo. Eu vou indo. Mas eu vou te deixar meu número, anota aí. Vai pega o celular e anota. — Ele pegou o celular e ela pegou da mão dele. — Oh lerdeza, deixe que eu anoto.

— Vem cá, por que preciso do seu número mesmo?

— Ora essa. Caso aconteça algo com sua mãe, eu posso te ajudar.

— Entendi. Mas não vou precisar da sua ajuda não.

Maria Clara entregou o celular de volta para ele.

— Eu te ligo para a avisar como vai ser o jantar, tudo bem?

— Está bem.

— Olha, muito obrigada. Eu sei que é muito louco tudo isso, mas é por um bom motivo.

— Sim, um pai para a sua filha.

— Sim é isso. Obrigada.

Alan a olhou e assentiu. Maria Clara suspirou.

— Eu vou indo.

Alan a acompanhou até a porta.

— A garota que você viu aqui, estava com a minha mãe?

— Ela estava indo embora. Ela é sua irmã?

— É. Infelizmente.

— Infelizmente mesmo. Bom, tchau! Melhoras para sua mãe.

Maria Clara deu um beijo casto no rosto dele e os lábios quase se tocaram em questão de segundos, os dois se entreolharam e se afastaram rapidamente.

— Tchau, conversamos.

— Claro.

Depois que Maria Clara saiu ele ficou encostado no batente da porta com as mãos no bolso da calça. Talvez, ele pensou, talvez Maria Clara não fosse uma pessoa tão horrível assim, apenas fazia coisas erradas sem pensar nas consequências.

Maria Clara entrou em casa e foi direto para o quarto da filha, Isabelly estava sentada na cama com os olhos vidrados em um tablet.

— Izzy?

— Oi mãe, estou jogando.

Maria Clara deu-lhe um beijo e sentou-se ao seu lado.

— Izzy, guarda isso para conversarmos. Por favor? E sem revirar os olhos de preferência...

A menina colocou o aparelho para o lado e olhou para a mãe.

— Que cara amarrada é essa menina? Justo agora que tenho uma notícia boa para você.

— O que mãe? Me conta!

— Eu... Eu encontrei seu pai.

Isabelly deu um grito alto e pulou na cama, fazendo com que Maria Clara se arrependesse amargamente da mentira que inventou.

— Sério? Como ele é? Qual é o nome dele mesmo? Quando vou ver ele? Ele está aqui?

Ela correu para fora e Maria Clara foi atrás a alcançando no alto da escada.

— Isabelly, calma. Deixe eu te explicar direito. Você vai vê-lo, mas eu vou preparar um jantar para que se conheçam com calma, sem ansiedade. Ok? Consegue esperar mais um pouco?

— Claro mãe. — Isabelly abriu um enorme sorriso e abraçou a mãe. — obridada mãe. Eu amo você.

— Também amo você meu amor. — A culpa a tomou naquele momento. O que estava fazendo?

— Eu vou ter um pai.

— Sim, mas por enquanto você vai tomar banho para dormir e vou pegar aquele tablet para você não ficar assistindo à noite.

— Ai, estou muito feliz.

Saltitando feito um coelho ela foi para o quarto. Maria Clara a acompanhou para pegar o tablet e arrumar o pijama de Izzy.

— Espero que um dia você me perdoe por isso filha.

Ela sussurrou.

— Mãaaaaaae. É pra lavar o cabelo?

***

Marcela desceu da moto de Cássio e tirou o capacete, sabia que estava vermelha de vergonha.

— Olha muito obrigada mesmo.

— De nada. E então, como é trabalhar com minha irmã?

— Bom, hoje foi meu primeiro dia.

— Vou te dar um conselho, não desanima não, Maria Clara tem todo um gênio difícil e é quase impossível conviver com ela, mas Izzy adorou você.

— Também adorei ela, que criança incrível.

— Isabelly é um amor mesmo.

— Bom, eu vou entrar, nos vemos?

— Com toda certeza.

— Boa noite.

— Ótima noite!

Marcela sorriu, entregou o capacete e entrou em casa. Correu para o quarto e se jogou na cama toda animada sorrindo feito uma boba. Pensar no sorriso de Cássio a deixava feliz de um jeito inexplicável.

De manhã saiu para ir trabalhar, chegou mais cedo na casa de Maria Clara, para não ouvir suas reclamações.

— Combinamos às oito. Izzy nem acordou ainda. — Maria falou quando a viu.

— É que ontem você.... Disse que eu estava atrasada.

— Ok. Entra aí. Mas seu horário é às oito.

Marcela entrou, quanta diferença entre ela e Cássio, pensou.

— Eu vou preparar um jantar hoje, eu chamei um pessoal e quero que você fique de olho para que tudo saia perfeito. E Isabelly vai tentar ligar para Cássio para contar uma novidade. Não deixe isso acontecer de jeito nenhum.

— Por quê?

— Não interessa, você só não pode deixar. Entendeu?

— E se ele aparecer aqui?

— Ele não vai aparecer aqui. Vem apenas uma vez por mês ver a Izzy.

— Ah...

Isabelly apareceu correndo e se jogou nos braços da mãe.

— Bom dia...

— Bom dia filha. Ah, eu resolvi agilizar tudo e o jantar será hoje.

Os olhos da menina brilharam e ela sorriu.

— Ebaaaa!

Alan levantou-se de manhã e já encontrou a mãe em pé.

— Mãe o que a senhora está fazendo?

— Preparando seu café filho, já que sua irmã foi embora.

— Mãe, você tem que voltar para a cama.

— Eu não vou ficar na cama o dia todo. Me respeita.

— Mãe, não seja teimosa.

— Garoto para de ser chato, eu estou bem e pessoas que estão bem, não ficam de cama. Toma o café.

Patrícia disse e saiu, Alan suspirou e pegou o celular quando tocou, era uma mensagem.

" Jantar na minha casa às oito. — Maria Clara."

Desligou sem responder e deixou o aparelho na mesa. Respirou fundo, não tinha como fugir, teria que fingir ser pai da menina e isso de uma forma ia ajudá-lo financeiramente, odiava ter que pensar por aquele lado, mas enfim, quem ele queria enganar, aceitou mesmo porque precisava de dinheiro.

Durante à noite arrumou-se e falou com a filha da vizinha para que ficasse com a mãe até ele voltar.

Chamou um táxi e esperou alguns minutos, logo ouviu batidas na porta, foi atender achando que era a menina que ficaria com a mãe e surpreendeu-se ao ver a morena parada na porta.

— Briana?

— Oi meu amor, podemos conversar?

***

Maria Clara observou Isabelly debruçada no parapeito da janela olhando para fora.

— Eu vou matar aquele desgraçado.

Maria sussurrou para Jared e cruzou os braços irritada, ver a filha daquela maneira lhe deixava ainda mais furiosa com a atitude de Alan.

— Minha vontade é de ir atrás dele e esgana-lo, pegar pelo cabelo e bater a cabeça na parede perguntando o que ele quer da vida.

Jared a olhou horrorizado.

— Você não ligou pra ele? Talvez tenha acontecido algo...

— Ele deveria ter ligado Jared, só pra avisar. Mas não, ele simplesmente não veio.

— Calma Maria Clara, vou levar Izzy lá pra cima e tentar acalmá-la.

— Boa sorte.

Depois que Jared finalmente conseguiu levar Isabelly para o quarto, Maria Clara pegou o celular.

— Eu não deveria. Mas vou ligar, só para ele me ouvir e azar o dele se não me atender.

Ligou e esperou bufando de raiva ele atender.

— Alô quem é?

A voz do outro lado da linha era feminina e enjoada, Maria Clara ficou com mais raiva ainda. Ele nem teve coragem de me atender. Pensou.

— Eu quero falar com o Alan, passa para ele. — Foi grossa.

— Meu bem, sinto muito, mas meu noivo não vai poder falar com você agora. — Briana olhou para Alan dormindo ao seu lado em sua cama e sorriu. — Gostaria de deixar recado?

Maria Clara engoliu em seco o deboche da moça e calma disse no mesmo tom de sarcasmo.

— Minha linda, se você puder, mas só se puder mesmo, diga a ele que preciso falar com ele sobre...

Maria não queria se rebaixar a ela, mas não conseguiu evitar a vontade de provocar.

— Fala que é sobre nossa filha!

— Como é? Que filha?

— Obrigada pelo atendimento e boa noite!

Maria Clara desligou o celular e suspirou.

— Ele vai aprender na marra que não se magoa minha filha. Imbecil!

Na manhã do dia seguinte Alan invadiu a sala de Maria Clara abrindo a porta com um chute. Jared que estava sentado, deu um pulo de susto.

Maria Clara levantou-se e cruzou os braços.

— Jared você pode sair.

— Eu? Sair e perder a briga de gigantes, mas nem morto.

— Você não tinha o direito de falar aquilo para a Briana. Você tem ideia do que fez?

— E você não tinha o direito de deixar minha filha esperando.

— ACONTECE QUE ELA NÃO É MINHA FILHA!

— VOCÊ SE COMPROMETEU. A PARTIR DESSE MOMENTO VOCÊ SE TORNOU MUITO MAIS QUE ISSO.

— Eu não sou obrigado fazer o que você manda.

— VOCÊ NÃO TEM PALAVRA. VOCÊ É UM IDIOTA.

— EI, VAI COM CALMA.

— NÃO GRITA COMIGO!

— NÃO GRITA VOCÊ. — Alan suspirou — Você é uma insuportável, controladora, dane-se você e sua...

— Cale-se. Morda a língua antes de falar da minha filha.

— Chega! Eu quero não ter que olhar para a sua cara de novo. Adeus. — Ele falou tentando manter a calma.

— Eu é que não quero olhar para a sua cara de novo. Some da minha frente.

Alan deu meia volta e saiu.

— Minha nossa senhora das divas loucas, o que foi isso? Brigaram como se a filha fosse mesmo dos dois, caramba.

— Olha só o que você aprontou Jared.

— Eu?

— Pedi um pai pra minha filha e não o projeto de um homem das cavernas.

— Você é uma mal agradecida isso sim.

Maria Clara socou a mesa.

— Eu quero bater em alguém.

— Bate na sua cara então.

— Jared não me provoca.

— Ok. Não está mais aqui quem falou. Fui!

***

Isabelly apareceu ao lado de Marcela e entregou a ela uma bola de papel.

— Tia, você sabe ler?

— Sei sim, por quê?

— Achei perto da cama da minha mãe. O que é?

— Uma bola de papel amassada.

— Mas o que tem nela?

Marcela desdobrou o papel e leu.

— É um endereço e o número do telefone de alguém chamado Alan.

— Deve ser meu pai. Liga.

— Como é?

— Liga tia.

— Sua mãe pode não gostar.

Isabelly chegou perto da moça e passou a mão no rosto dela.

— Ela não vai brigar se não ficar sabendo.

— Acho que entendi… — Marcela a observou com o canto do olho.

— Liga por favor. Por favorzinho. — Isabelly juntou as mãos em oração e praticamente implorou.

— Ok. Mas que sua mãe não saiba hein?

Isabelly fez um x com os dedos e beijou.

— Ela não vai saber.

Marcela pegou o celular e digitou o número, chamou e ela sorriu para Izzy enquanto esperava.

— Alô?

Ele atendeu.

— Oi, é Alan?

— Sim, quem é?

— Eu sou...

Isabelly pegou o celular da mão dela.

— Oi é a Izzy... Você é meu pai?

Alan ficou mudo.

— Me fala. Você é meu pai? Por favor... Fala.

Alan que estava na calçada virou-se, mal tinha acabado de sair da loja da mãe da menina.

— Ei, você está aí? Só me fala.

Ele encarou a loja, aquela mulher não merecia a ajuda absurda que ela pedia e a menina também não merecia aquela mentira, ele queria dizer não, mas a urgência na voz dela fez tudo parar.

— Você é meu pai?

Ele fechou os olhos.

— Sim. Sou eu. — Respondeu.

A menina deu um pulo e comemorou sorrindo.

— Eu sabia, eu sabia que era você.

O grito de empolgação de Isabelly fez o coração dele apertar quase acabando com todo o ar que ele tinha e seu coração quase escorreu pelos olhos.

Ele não era assim.

— Sua voz, era como eu imaginei... tão linda. — Ela cantarolou do outro lado.

— A sua também, é como eu imaginei.

— Sério? Você imaginou minha voz? Por que não veio ontem? Sabe eu te esperei.

Alan passou a mão no rosto para enxugar a pequena lágrima que se formou no canto do olho.

— Me desculpe... Tive um problema, mas irei logo. Eu prometo.

— Mesmo?

— Sim, vou só resolver com a sua mãe.

— Vocês brigaram?

Alan sorriu, a garota conhecia a mãe que tinha.

— É, mas vamos resolver.

— Boa sorte pai.

Pai, essa palavra o deixou totalmente imune a tudo, suas defesas estavam lá no chão.

— Obrigado.

— Eu vou rezar muito para o Papai do céu fazer minha mãe deixar eu te ver. Eu estou muito feliz, muito mesmo.

— Eu também estou muito feliz.

Ele surpreendeu-se por não estar mentindo sobre isso. Ele realmente estava feliz.

— Sério? Você jura?

— Sim.

Ele viu Maria Clara sair da loja e caminhar em direção ao carro.

— Olha, eu tenho que desligar agora tudo bem?

— Está bem pai. Tchau.

— Tchau.

Ele desligou e correu em direção a Maria Clara.

— Ei. Quero conversar com você.

— Não temos nada o que conversar.

— Temos sim. Uma filha...

Ela o olhou séria.

— Entra no carro!

Ele entrou e sentou-se no banco do carona, ela fez o mesmo.

— Por que mudou de ideia tão repentinamente?

— Bom, eu sou...bipolar ué? Pode não?

Alan sorriu, por mais que quisesse muito contar para ela sobre a ligação da filha dela, seu orgulho o impedia, afinal se contasse teria que admitir que aquilo mexia com ele. Ela o olhou desconfiada.

— Sei...muito estranha essa sua atitude.

— Olha aqui, não começa porque quem complica tudo é você.

Maria Clara bufou.

— Tínhamos combinado ontem.

— Eu não disse que iria. Eu estava indo, mas a Briana chegou.

— Estraguei o relacionamento foi?

Ela fez beicinho e riu para provocá-lo.

— Na verdade não dá para estragar algo que não existe.

Maria Clara o encarou.

— Como é?

— Ela é minha ex, mas a gente recai de vez em quando.

Maria Clara o estapeou e ele a olhou confuso.

— Que isso ficou maluca, para.

— Deixou minha filha esperando por conta de uma recaída? Está se achando um Henrique e Juliano da vida?

Alan riu e isso a deixou ainda mais furiosa.

— Do que está rindo? Ficou maluco?

— Ei, a maluca é você. Mas olha, é que eu não queria mesmo me envolver nisso.

— Então porque disse sim?

— Sei lá, não pensei na hora. Eu já disse que sou bipolar?

Maria revirou os olhos, sabia que ele estava mentindo.

— Você acha que eu tenho cara de palhaça?

— Ah não, você é sem graça demais para ser palhaça.

— Ah, Alan cale-se.

O telefone dela começou a tocar, na tela apareceu o nome e a foto de Cássio. Ela pensou, ele não tinha motivos para ligar, a não ser que Isabelly tenha lhe dado um.

— Ah, merda. O que você fez Izzy?

— Qual o problema?

— Vá para a casa, resolvemos nossos problemas depois, agora tenho um bem maior para resolver.

— Precisa de ajuda?

— Não da sua.

— Meu Deus, como você é grossa.

— Conversamos outra hora. Agora eu realmente não posso explicar.

Alan revirou os olhos e abriu a porta do carro. Depois que ele saiu e fechou a porta, ela se debruçou em cima do volante.

— Merda. Merda. Merda. Por que você foi contar Izzy? Que história vou inventar para seu tio agora? Ele vai me esgoelar feito uma galinha...

— Você costuma falar sozinha?

Ela deu um pulo.

— Ai que susto desgraça.

Alan colocou os braços na janela do carro e a encarou fixamente com seus lindos olhos verdes.

— O que ainda faz aqui?

— Queria uma carona para casa se não for pedir muito.

Ela revirou os olhos.

— Entre aí.

Alan deu a volta pelo carro e entrou novamente.

— Sabe é tão bom os momentos que passamos juntos.

— Alan você por acaso está me irritando de propósito?

— Não, que isso.

Ele piscou pra ela e lhe ofereceu um sorriso singelo.

Maria Clara parou o carro em frente a casa, ao lado do irmão que estava encostado em sua moto de braços cruzados. Cássio era mais velho e ele sempre foi a única pessoa que conseguia lidar com Maria Clara, desde que eram pequenos. Maria Clara sempre foi uma criança agitada e os problemas em casa não ajudaram muito, o pai era um bêbado que batia na mãe, hoje em dia Maria Clara evitava tanto ele quanto ela e talvez se não fosse por Izzy, ela também teria afastado Cássio.

— Oi irmão, que milagre.

— Desce do carro. — Disse no tom policial dele.

Maria suspirou, não podia perder a paciência com o irmão, seria terrível e desgastante.

— Aconteceu alguma coisa Cássio?

Disse após sair do carro.

— Você sabe.

Ela cruzou os braços.

— Então, você se acha no direito de ficar paradão na frente da minha casa espumando de raiva? Você que visita sua sobrinha uma vez por mês, você que ainda mora com aquele homem.

— Olha aqui Maria, nosso pai não tem nada a ver com...

— Nosso não. Seu pai.

— E olha aqui, você sabe que fez algo errado e está tentando se fazer de vítima.

— Ah por favor Cássio, eu não fiz nada.

— Está mentindo para Isabelly com essa história de encontrar o pai dela, mas a verdade é que você jamais faria isso.

— Estou fazendo pela Izzy.

— É muito difícil de acreditar. Você é uma egoísta.

— Posso até ser Cássio, mas quando se trata da Izzy é muito diferente, você sabe disso.

— Então você realmente baixou a guarda, pisou em cima do seu orgulho e foi atrás do pai da sua filha? Isso realmente aconteceu?

Maria Clara descruzou os braços e mexeu no cabelo, mal sabia ela que o irmão já havia notado essa mania quando ela estava mentindo, no entanto, ele sempre fingia não notar só para ver a cara de pau dela enquanto mentia.

— Claro, eu fiz pela Izzy.

— Ela falou que você preparou um jantar e ele não veio.

— Ele teve um problema.

Ela disse sem conseguir esconder a raiva.

— E quando será o outro?

— O outro o que?

— Outro jantar! Quero estar presente para conhecê-lo.

— O quê?

— Algum problema quanto a isso?

Maria Clara o encarou.

— Não. E hoje vai ficar para o jantar?

— Não.

— Por que veio sem avisar?

— Eu queria fazer uma surpresa para a Izzy.

Ela o olhou desconfiada.

— Sei...

Ele pigarreou e subiu na moto.

— Bom te ver Maria e é bom também, saber que você está tomando juízo. Ou tentando pelo menos.

Maria sorriu culpada.

— É verdade. É a vida.

Ele sorriu de canto.

— Claro. Tchau!

— Tchau...

Alan entrou em casa, Patrícia levantou o olhar e sorriu para o filho.

— Oi mãe.

— Oi querido. Estou fazendo crochê.

— Isso é um sapatinho de bebê?

— É sim.

— Para quem?

— Para meu neto.

— A Donna está grávida?

— Não bobo. Para o seu filho com a Briana.

Ele a encarou.

— Que filho?

— Que vocês vão ter quando casarem.

— Mãe, primeiro que não vamos nos casar. Esqueceu que eu e a Briana meio que não estamos juntos?

— Mas isso é questão de tempo filho. Logo vocês se entendem outra vez. Vocês se amam.

Ele virou-se para o lado e passou a mão no cabelo tentando decidir se a amava ou não. A verdade é que não sabia.

— Alan, vocês se amam não é?

— Já nos amamos muito um dia. Mas acabou.

— Se acabou, não era amor.

Ele virou-se para ela outra vez e sorriu.

— Tem toda a razão mãe.

Ela sorriu de volta.

— E quando a senhora vai fazer os exames?

— Rapaz não me amole com isso, quem faz exames são pessoas doentes. Que não é meu caso.

— Não tem nada a ver com isso.

— Ah Alan... Não encha o saco.

— A senhora é muito teimosa.

— E você me respeita, eu sou sua mãe.

Ele suspirou frustrado.

— Vou tomar um banho. Já volto!

Maria Clara dispensou Marcela mais cedo porque queria conversar com a filha. Isabelly sabia que fez besteira ao contar para Cássio, por isso omitiu que ligou para Alan. Era melhor não irritar a mãe ainda mais, pensou.

— Qual a necessidade de contar para seu tio que mal te visita, só para ele me encher o saco?

— É que parecia que você tinha contado para ele.

Maria Clara a avaliou, não queria brigar com Izzy, apesar de estar muito irritada.

— Ele disse o que veio fazer aqui?

Maria sentou-se no sofá e Izzy aproveitou para ir em seu colo.

— Acho que ele veio ver a tia Marcela.

— É o fim da picada mesmo.

— Ah mãe deixa ele namorar ela.

— Olha, seu tio pode fazer o que quiser com a vida dele contanto que não se meta na minha. Agora sobe para seu quarto, tome um banho que vou pedir uma pizza.

— Eba!

Isabelly pulou do colo de Maria Clara.

— E o tio Jared?

— Ele tem um compromisso com um amigo dele.

— Estranho ele não ter uma namorada né?

— Não tem nada de estranho nisso, agora vai lá. Hoje a noite é das garotas.

— Beijo mãe.

— Beijo e não demora no banho.

— Ok.

— E coloca o pijama já.

— Belê.

Isabelly correu para a escada e Maria franziu a testa.

— Belê?

Alan sentou-se em frente do computador, queria procurar algum curso online, algo que o tirasse do buraco ou pelo menos do desânimo que estava sentindo, depois de fuçar todos os sites acabou indo parar no F******k e exatamente no perfil de Maria Clara.

Não foi exatamente por acaso, ele viu uma foto de Jared com ela, então entrou para ver as fotos dela. Sorriu sem notar, para algumas fotos da menininha loira e parou em uma foto onde Maria Clara estava sentada em um parque com a cabeça encostada na mão, com um vestido branco florido, o olhar sério para a câmera e um leve sorriso nos lábios que mal dava para notar.

Ela era bonita, pensou ao observar. Bonita não. Linda!

Ele balançou a cabeça para afastar tais pensamentos e desligou. Foi para a cama e pegou o celular, queria ouvir outra vez a voz da menina, conversar com ela tinha lhe trazido uma paz incrível que há muito tempo não sentia.

Aquilo seria coincidência ou algum tipo de sinal?

Balançou a cabeça.

— Sinal? Sinal do que? Só se for sinal de que estou fazendo besteira.

— Falando sozinho filho?

Patrícia surgiu na porta.

— Ah, oi mãe. A senhora não estava dormindo?

— Eu vim aqui para dizer que... eu aceito fazer os exames que você falou.

Ele sorriu.

— Isso é ótimo mãe. Que bom que pensou melhor.

Ela foi até a cama e lhe deu um abraço.

— Se eu estiver doente, você terá que casar logo. Não quero morrer sem saber que tive netos.

Aquilo não foi dito em tom de brincadeira e Alan teve a leve sensação de que não precisaria casar para um dar um neto a ela.

Ou melhor, uma neta.

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