Capítulo 3

Jared ligou para Alan de manhã, o rapaz atendeu ainda sonolento, afinal havia acabado de acordar.

— Lembra que eu disse que te daria um emprego aqui na loja se você aceitasse a proposta?

— Sim. Lembro.

— Vem cá na loja então, para a gente conversar.

— Tudo bem, logo estarei aí.

— Espero você. Até.

Alan desligou, tomou um banho e se vestiu. Saiu do quarto e encontrou a mãe na sala.

— Vai sair?

— Jared vai me arrumar um emprego na loja dele.

— Jared? É um amigo seu, não é?

— Sim e a senhora vai aonde?

— Eu não disse que ia fazer os exames que você falou? E depois vou lá na casa da comadre Gorete.

— Nossa, bom saber disso.

— Bom, vamos juntos então. Feche a porta.

— Claro.

Os dois saíram juntos e Alan fechou a porta.

***

Maria Clara encarou Jared.

— Você vai colocar o pai da minha filha para carregar caixas?

— "Pai da minha filha?" Já está assim?

— Jared...

— E você quer que eu coloque ele como? De vendedor?

— Sim. Por acaso ele não tem um currículo bom para isso?

Jared mordeu a tampa da caneta.

— Eu ainda não vi o currículo dele.

— Jared por favor foque aqui. Coloca ele como vendedor.

— Pensando bem, assim vai aumentar a clientela. A mulherada vai vir aqui só por causa dele.

— Jared nem pra tanto. Se pelo menos fosse um Jensen Ackles da vida. Mas não, é só...

— Só o que?

— Só o Alan.

— Sei. Você é cega Maria, ou seu orgulho não deixa admitir que ele é maravilhoso?

Maria Clara deu de ombros e sorriu ao pensar em Alan, quando se deu conta disso balançou a cabeça contrariada.

Meia hora depois Alan chegou na loja e já arrancando suspiros das vendedoras, sorriu para Maria Clara quando seu olhar encontrou a cara fechada dela.

— Bom Alan, você vai ser um dos nossos vendedores. — Jared disse. — E vou te ajudar nessa parte. Já vendeu algo?

— Não e aliás eu sou péssimo nisso.

— Ah, não me diga.

Maria Clara debochou se aproximando deles.

— Maria Clara o que você quer se intrometendo aqui?

— Eu também sou dona da loja.

— E adora minha presença.

Alan piscou para ela e Jared sorriu.

— Ah sinto cheiro de tinta.

Maria bufou já irritada.

— Alan, jantar hoje na minha casa.

— Olha só diva quem diria. Para onde eu levo a Izzy?

— Jared o jantar é para que esse babaca conheça ela.

— Ah é verdade, o plano...

— E vê se dessa vez aparece hein? Vou ligar para o Cássio.

— Por quê?

— Ele quer conhecer o "pai da Izzy" para ver se não estou mentindo.

— Alan, vá atender aquela senhora que acabou de entrar. Qualquer coisa me chama.

Ele se afastou e Jared virou-se para Maria.

— Achei que seu irmão estava dando em cima da Marcela.

— É bem provável. Falando nisso tenho que ir para a casa receber a nova empregada, aquela que você chamou.

— A Martinha. Você vai adorar ela.

— Cuida de tudo aqui.

— Está bem.

— Ah e tire aquele bando de assanhadas de perto do pai da minha filha.

Jared virou-se para ver as outras vendedoras rodeando Alan. Riu.

— Mariazinha você nem disfarça.

— Ai, tchau.

— Tchau diva.

Ela saiu apressada e ele ficou rindo do ciúme dela.

Isabelly não parava de rir da nova empregada, o que deixou Maria Clara irritada e a fez xinga-la.

— Não faz isso com ela não viu. Ela é muito fofa. A cá, é pra fazer a janta né?

— Jantar Martinha, você veio do interior?

— Algum probrema com isso?

— Problema? Claro que não. Jared falou muito bem de você.

— Ele é uma boa pessoa.

— É, ele é sim. Isabelly pare de rir, desculpe Martinha.

— Eu não ligo, mior rir do que chorá.

Maria sorriu.

— Tem razão.

— Você é muito engraçada Martinha.

— Você também é uma graça de menina.

— Bom, Martinha vamos lá pra cima que eu vou mostrar o quarto onde você vai ficar.

Isabelly espiou a mulher se afastar junto com a mãe e puxou Marcela para fora.

— Ligue para meu pai.

— Izzy...

— Por favor tia Marcela.

A moça cedeu novamente e pegou o celular, ligou para Alan e esperou.

— Ele não atende.

— Ele não quer falar comigo?

— Izzy, ele deve estar ocupado.

— Será que ele vai vir?

— Ele vai vir sim. Você vai ver.

Isabelly aceitou e sorriu.

Marcela saiu mais cedo da casa de Maria Clara e resolveu passar na lojinha perto de sua casa, precisava comprar um presente para a filha de uma amiga que ia fazer aniversário. Quando saiu acabou esbarrando em alguém por puro descuido seu e quase caiu, se não fosse ele...

— Oi Marcela.

— Oi Cassio...

Ela sorriu e se afastou quando se deu conta que estava nos braços dele. Não que aquilo fosse ruim, pelo contrário.

— Desculpe, sou um pouco desastrada.

— Que isso. Você está bem?

— É estou bem e você. Não foi mais visitar a Izzy... Quer dizer...

Ele riu e sem notar começaram a caminhar lado a lado na calçada.

— Eu não costumo visitar muito Izzy por conta da Maria Clara, ela tem se tornado um tanto mesquinha sabe? É quase impossível conviver com ela.

— É, ela tem um gênio bem difícil.

— Vem cá, essa história do pai da Izzy é verdade mesmo? Deixei de acreditar na minha irmã há muito tempo.

— Sim. Izzy até falou com ele pelo telefone. Ah, por favor lembre-se que Maria não sabe disso. Izzy ligou escondido. E eu meio que fui cúmplice.

— Izzy é uma peste mesmo. Igualzinha a mãe.

Ela riu, a conversa fluiu melhor depois que pararam de falar de Maria Clara e ele a acompanhou até em casa.

Maria Clara foi para o quarto para poder socar um travesseiro e não demonstrar sua irritação para a filha. Dessa vez, ela decidiu, mataria Alan pelo segundo atraso.

Depois de se acalmar voltou para a sala, Isabelly estava no colo de Cássio de braços cruzados, Jared batia papo com Martinha na bancada da cozinha, ela caminhou até eles.

— Eu vou esganar aquele maldito.

— Calma Maria Clara.

— Jared, você para de tomar suco de maracujá fazendo o favor.

— Suqui de maracujá é bão. Quer um?

Jared riu.

_ Martinha meu amor, é suco.

— Uai, foi o que eu disse.

— Gente pelo amor de Cristo foquem aqui.

— Ai Maria Clara, o Alan saiu muito tarde da loja, ele não é seu escravo não diva.

Ela bufou irritada.

— Eu não escravizo ele.

— Mas ele te acha controladora.

— O problema é dele.

— Não grita peste.

Ela revirou os olhos. Quando a campainha tocou, Izzy pulou do colo tio e correu abrir a porta.

O rapaz do outro lado a olhou e sorriu.

— É... Oi.

Izzy olhou para Alan como se ele fosse um grande coelhinho de pelúcia, seus olhos brilham e sua pequena boca formou um "o" engraçadinho.

— Izzy esse é seu...

Maria Clara começou dizendo já se aproximando da porta.

— Pai!!!

Ela interrompeu a mãe e pulou nos braços dele sem esperar mais explicações. Alan a envolveu num abraço apertado e sincero.

— Meu pai.

— Oi Isabelly.

Ele disse tímido e a menina o abraçou mais forte ainda.

— Papai, papai... Você veio, você veio.

Ele sorriu.

— Claro que eu vim. Eu... Queria muito te ver.

— Eu também queria tanto te ver e agora você está aqui. Aqui na minha casa... Aqui comigo.

Ela parou um pouco para respirar e ele sorriu para Maria Clara com desdém tentando ver nos olhos dela se estava se saindo bem.

Cássio também olhou para Maria Clara que parecia ter perdido toda a cor, como se não acreditasse que aquilo estava mesmo acontecendo.

Cássio também não acreditava, algo lhe dizia que tinha alguma coisa errada ali, mas por enquanto ele resolveu fingir que não notou. Maria Clara nunca apresentou o pai de Izzy a Cássio ou mesmo aos pais. A única coisa que sabiam é que o rapaz havia "desaparecido" da vida dela e ela o odiava muito por isso, era muito difícil de acreditar que ele estava ali. Seria esse o motivo do olhar incrédulo da irmã? Ele não sabia dizer.

Todos foram devidamente apresentados e sentaram-se para jantar, conversaram e riram das piadas de Martinha. O momento era de pura descontração, talvez menos para Alan, ao ver Cássio ele teve com o outro uma sensação de reconhecimento, sabia que o rapaz era da polícia mesmo ele estando vestido de forma casual.

Talvez ambos tenham se encontrado em algum momento, Alan não era de aprontar, mas costumada beber um pouco além da conta. Se aconteceu assim ele estava bêbado demais para lembrar.

— Espero que gostem da comida que preparei.

— O cheiro está ótimo Martinha.

— Fiz tudo o que achei naquele negócio gelado.

Jared e Izzy riram.

— É geladeira Martinha.

— Lá em Minas eu não tinha esse negócio não.

Maria Clara tentou sorrir, mas estava nervosa. Ele veio, ele estava ali, agora não tinha mais volta.

Olhou para frente e encontrou o olhar dele, o sentimento de reconhecimento apareceu novamente como da primeira vez que o viu. De onde o conhecia? E por que seus olhos eram tão verdes quanto os da filha?

A comida mal chegou no estômago e quase voltou, bebeu um pouco de água. Estava nervosa demais.

— Algum problema Maria Clara?

Ela olhou para Cássio, o olhar acusatório do irmão a deixou ainda mais nervosa.

— Não. Está tudo bem irmão. — Fingiu.

Isabelly não conseguia esconder a felicidade que estava sentindo, finalmente estava conhecendo o pai, exatamente como ela vinha sonhando e ele era exatamente como ela queria.

Ela só não entendia porque ficaram tanto tempo separados, mas conhecendo a mãe do jeito que conhecia, ela meio que já sabia.

Ela sorriu olhando para ele que correspondeu com um sorriso cativante.

Naquele pequeno sorriso dela tinha algo muito especial que o encantou, era um convite para ser feliz e ele nunca viu isso antes. Isso lhe dava muito medo. Afinal, um dia teria que se afastar. Um dia ela saberia que ele na verdade não passava de um estranho.

— Pai você gostou da minha casa? — Izzy perguntou a Alan.

— Ah sim, é muito bonita.

— Você vai voltar aqui mais vezes?

— Claro que sim.

Claro que não. Seria pai por pouco tempo. O pensamento lhe causou náuseas.

— Você vai passar o natal comigo?

— Sim...

Ele não sabia.

Ela sorriu novamente e o abraçou, ela fazia isso sempre que terminava algum assunto, como se tivesse a necessidade de ficar nos braços dele, afinal ele era o "pai" dela, o pai que ela nunca conheceu e que apesar disso era tudo para ela.

Alan voltou muito tarde para a casa e só conseguiu fazer isso depois que Isabelly dormiu, a menina não queria que ele fosse embora e ele a compreendia, mas seu coração apertava sempre que lembrava que era tudo mentira.

Quando saiu da casa de Maria, ela o acompanhou até o lado de fora.

— Obrigada Alan.

— Não me agradeça, eu não deveria estar aqui.

Ela cruzou os braços.

— Eu sei.

— Você não se sente culpada e uma mãe horrível por mentir?

— Eu não sou uma mãe horrível. Pelo contrário...

Ele balançou a cabeça.

— Tanto faz, já está feito. Eu vou indo. Até...

— Tchau. Nos vemos amanhã.

— Infelizmente.

— Por que me trata assim?

— Você se importa mesmo Maria? Se importa com a maneira como eu trato você?

Ela o encarou.

— Não.

Respondeu irritada e virou-se para entrar.

— Boa noite Maria Clara.

Ela voltou-se para ele.

— Você é mesmo bipolar, não é?

Ele sorriu.

— Eu adoro irritar você.

Maria cruzou os braços novamente.

— Ah isso te diverte?

— Você não sabe o quanto. Boa noite.

— Boa noite idiota!

Alan chegou em casa, ver Cássio lhe deu vontade de beber, pegou um copo, a garrafa e sentou-se à mesa.

Ele sabia que não deveria, que não podia e vinha tentando evitar desde a morte do pai no acidente, acidente esse que ele causou por estar bêbado.

Esfregando o olho ele tentou afastar os pensamentos. Encheu o copo e quando o levou a boca, Isabelly veio a sua mente com aquele sorriso doce, colocou o copo de volta na mesa.

Não podia fazer aquilo, ele tinha uma filha.

Espera, não era sua filha e admitir isso o machucava de uma forma que ele não conseguia entender.

Não era e pronto.

Eu matei meu pai.

Os pensamentos o perturbaram e ele queria se livrar daquilo tudo.

Pegou a garrafa e bebeu desesperadamente aquele líquido ao qual seu corpo implorava para ter e assim se jogou de cabeça à sua decadência... outra vez.

Maria Clara acordou quando a menina pulou sobre ela na cama.

— Bom dia mãe. Hoje é sábado.

— Ai Izzy eu sei. Hoje é dia de dormir até tarde.

— Mãe, hoje é dia de ir ao parque. Já faz tempo que você me promete e podemos chamar meu pai. E passar o dia todo juntos, não é legal?

Maria Clara pensou em como seria passar o dia todo com Alan e sua cabeça doeu.

— Ai Izzy, melhor não.

— Mas ele já está vindo para cá.

— Quem?

— Meu pai, tio Jared ligou para ele.

— Por que seu tio fez isso?

— Porque eu pedi.

Maria Clara suspirou, é claro, Jared sempre armando as dele.

— Ok. Vá se arrumar.

— Já estou pronta olha, a Martinha me ajudou.

Maria Clara a olhou melhor, Isabelly estava vestida com um vestido azul, o cabelo feito uma maria chiquinha bem torta, o rosto rosa de tanto blush e um batom exagerado.

— O que é isso menina?

— Foi a Martinha que me maquiou, bonito não é?

— Só está absurdamente exagerado.

Maria levantou-se para pegar um lenço de papel e tirar o excesso de blush e batom.

— Pronto agora deixa eu arrumar esse cabelo, porque meu Deus, o que é isso...

Após fazer um rabo-de-cavalo bem arrumado. Maria Clara mandou Izzy para baixo para que ela pudesse se arrumar também.

— Eu podia estar aproveitando o meu sábado para dormir, mas não. Ah Jared, eu te mato.

Entrou no banheiro e tomou um banho, depois de vestir o robe, saiu com a toalha na cabeça, abriu o closet buscando uma roupa que lhe caísse bem naquele momento.

Depois de encontrar, foi secar o cabelo, então desceu, vestida com um vestido rosa de bolinhas brancas, o cabelo solto e com óculos escuros.

— Mãe, que demora.

— Diva, você demorou tanto para se arrumar e ficou assim, tão simplesinha.

— Ai Jared não enche, já viu como o Alan está? Parece um cantor sertanejo de tanto que usa camisa xadrez. Totalmente fora de moda.

Alan apenas lhe lançou um olhar, não queria discutir, ela franziu a testa diante disso.

— Vamos então? — Jared perguntou animado.

— Já era sem tempo. — Alan reclamou.

— Você veio cedo demais Alan, não reclame. — Maria Clara falou irritada.

— Eu não vim cedo demais não, você quem demorou para se arrumar. — Ele ironizou.

— Não começa.

— Não começa você.

Jared bateu palmas alto.

— Crianças parem. Nossa senhora das babás que me ajude com essa turminha do infantil 2.

— Ok...ok... Vamos então.

— Esperem eu...

Martinha apareceu gritando.

— Você também vai?

— Sim ela vai. Eu quero ficar sozinho. Vou receber um amigo aqui... E por favor comam fora. Obrigado.

Maria Clara revirou os olhos, pegou a bolsa e saiu sem checar se era seguida.

Os quatro foram para um parque, Isabelly estava ligada no 220 e fez Alan e Martinha correrem muito, Maria Clara ficou sentada os observando, estava entediada, bom, isso era o que queria dizer com sua cara de mau humor, mas a verdade é que ela estava incomodada com a presença de Alan na vida da filha. Daquela maneira que eles estavam fazendo, estava muito errado.

— Por que a cara feia?

Martinha sentou-se ao lado de Maria.

— Parece uma vaca braba que eu tinha lá no interior.

— Está me chamando de vaca Martinha?

— Ela também dava uns coices de vez em quando.

Maria Clara a encarou com a testa franzida.

— Ela era muito bonitinha e eu chamava ela de Ju-Ana.

— Joana?

— Ju-Ana. Era o nome das minhas primas.

Maria Clara balançou a cabeça. Não sabia se ria ou chorava.

— A cá, cê gosta dele né?

— De quem?

— Como de quem.... Ele.

Apontou para Alan que agora empurrava Izzy no balanço.

— Até parece. De onde você tirou isso?

— Ah, eu não sou boba não.

— Pois eu acho que é. Vê coisa onde não tem.

— Vejo coisa onde tem!

Alan e Isabelly se aproximaram da mesa onde elas estavam.

— Já se cansaram?

— Eu não tenho mais idade pra brincar assim não.

— A gente nota Alan.

— Está me chamando de velho?

— Estou, vai fazer o que quanto a isso?

Ela o olhou provocante e ele se concentrou na curva que os lábios dela fizeram quando sorriu de canto.

O riso de Isabelly preencheu o ar e os dois piscaram juntos. Maria se levantou.

— Vamos almoçar, quero voltar logo pra casa.

À noite Maitê e Rafaela tentaram de todas as maneiras levar Marcela a uma boate. Ela por outro lado queria apenas curtir o sábado à noite vendo série.

— Você nunca sai de casa Marcela. Vamos sair, se divertir, ver gente...

— Ai não...

— Não tem essa, vamos.

Quando chegaram ficaram juntas, mas logo isso mudou. Maitê era a dançarina do grupo então logo estava balançando pelo meio da pista. Rafaela era a namoradeira, então não deu nem meia hora e ela já estava com alguém aos amassos pelos cantos.

Marcela ficou ali sozinha, perdida no meio daquela gente toda e querendo sua casa, sua cama e sua série favorita.

— Não sabia que curtia lugares como esse.

Alguém sussurrou, ela sorriu e virou-se para ele.

— Eu não curto e você curte?

— Já estou um pouco velho para isso.

— Não diz isso Cássio.

— Eu venho aqui sempre que posso, me distrai.

— Bom, isso é ótimo.

— Ei, vamos dançar? — Ele a convidou sorrindo.

— Eu não sei dançar...

— Não, vem cá. — Ele insistiu.

— Para...

— Venha...

Cássio a puxou pela mão e a levou para o meio da pista...

Maria Clara acompanhou Alan quando ele levou a menina adormecida para o quarto, depois de arrumá-la os dois saíram.

Jared já havia dormido há algum tempo e Martinha foi logo que terminou o serviço.

Maria acompanhou Alan para o lado de fora.

— Bom é isso aí.

— É... Acho melhor você ir descansar, Izzy não te deixou em paz nenhum momento.

Ele sorriu.

— Eu gostei.

— E sua mãe? Melhorou?

— Sim, fez os exames e está bem animada.

— Ah que bom... Você acha que ela gostaria da Izzy?

Ele sorriu.

— Com certeza, elas iriam se dar muito bem.

— É uma pena.

— Poderíamos apresentá-las e...

— Não Alan, seria pior.... É melhor continuarmos assim... Com esse plano. Até você se afastar... de vez...

Eles se entreolharam tocados com a intensidade da última frase.

— Tudo bem... Você tem razão.

— Olha, você concordando comigo.

Maria Clara debochou e ele sorriu.

— Deixe eu ir embora antes que fique pior. Boa noite Maria.

— Boa noite Alan.

Depois que ele se foi ela entrou em casa, fechou a porta e se encostou nela, suspirou, era estranho como desejava que tudo fosse diferente.

No domingo Maria Clara acordou com muita vontade de sair de casa. Levantou da cama e chamou todo mundo. Jared não quis sair da cama e ela o derrubou, Izzy levantou preguiçosa e Martinha apareceu gritando quando ouviu os gritos de Maria.

— O mundo está caindo?

— Não. Arrume algumas coisas, vamos sair.

Maria Clara voltou atrás de Izzy e Jared.

— Acorda Jared. Vamos para a fazenda.

— Ai diva, não quero.

— Quer sim. Vamos. Vai ser bom... Vai Jared me ajuda nisso.

Ele revirou os olhos.

— Tudo bem... Vamos. Mas com uma condição.

— Qual?

— Chame o Alan.

— Por que Jared?

— Chama ou não vou.

— Um absurdo essa sua condição.

Ela disse já pegando o celular.

— Maria me engana que eu gosto vai. Você está adorando a ideia de ter ele lá.

Maria Clara revirou os olhos e saiu com o celular no ouvido.

Alan deu um pulo na cama quando o toque do celular o acordou. Atendeu rapidamente.

— Alô?

— Caramba estava correndo para tirar o pai da forca?

Ele revirou os olhos.

— Maria é você?

— Quem você esperava? Não me conta, porque não me interessa.

— Posso sentir pelo tom de sua voz que acordou animada hoje.

— Ah que bom que percebeu. Eu quero, a contra gosto, lhe fazer um convite.

— É mesmo?

— Sim. Eu e todo mundo aqui vamos para a fazenda da minha família, passar o dia lá. Está afim de ir?

— É, não sei...

— Não acredito que você vai me dizer um não.

— Eu deveria. Mas tudo bem. Já que não vou fazer nada além de ficar em casa hoje.

E beber.

— Minha mãe foi viajar.

— Ela não está doente?

— Ela está. Mas ela prefere não pensar nisso. Então ela faz o que quer.

— Ótimo. Esteja aqui em casa em meia hora. No máximo...

— Está bem.

Ela desligou e correu para o quarto de Izzy, a menina estava saindo do banheiro.

— Vamos filha, arrume-se rápido.

— Por que ela está tão animada?

Alan sussurrou para Jared ainda dentro do carro.

— Não sei. Mas estou preocupado.

Ele sussurrou de volta.

Maria Clara abriu a porta da casa da fazenda e Martinha a acompanhou.

— Que casona hein?

— Obrigada. Aproveite o dia Martinha. Já avisei a Mercedes para que ela cuide do almoço e tudo mais. Sinta-se de folga.

— Mas o que eu vou fazer aqui?

— Aproveitar, ora essa.

Martinha foi até a cozinha.

— Nossa, quem jantou aqui esqueceu de lavar a louça.

Maria Clara franziu a testa e foi ver sobre o que Martinha falava. Na mesa tinha pratos sujos, além de taças vazias e uma garrafa, pela metade, de vinho.

— Mas como assim? Quem esteve aqui?

As duas voltaram para a sala quando Isabelly gritou.

— Tio Cássio! Tia Marcela!

Cássio estava com o cabelo bagunçado bem no meio da sala. Atrás dele a babá.

— Mas o que é isso? A fazenda virou motel agora?

— Bom dia pra você também Maria Clara.

— Era só o que me faltava.

— Liga não dona Maria Crara.

Maria Clara revirou os olhos.

— Que seja. Discutir é pior.

Depois do almoço, enquanto todos, até mesmo Martinha parecia se divertir na grama com o cachorro dos caseiros, Maria Clara ficou dentro de casa de braços cruzados e com seu mau humor visível.

Jared chegou perto dela para olhar pela janela também. Notou que o ponto fixo dela era Izzy e Alan brincando juntos.

— Eles são mesmo lindos juntos.

— Não importa, isso vai acabar logo.

— Não deveria Maria.

— O que acha que vai acontecer se continuar assim?

— Izzy terá um pai. Muitas pessoas são adotadas e são felizes.

— Izzy não é adotada.

— No caso seria o Alan né? Já que ele não é o pai verdadeiro e você mentiu. Mas pode continuar assim sabe...

— Na mentira Jared?

— Melhor do que decepcionar a Izzy afastando o Alan da vida dela. Você poderia, sabe...

— O quê?

— Ficar com o Alan.

— Como é que é? Isso nunca.

— Ah Maria nem tanto né. Vocês se dariam bem.

— Nunca nos daríamos bem. Ele é tosco e teimoso, briguento e irritante.

— Não é para tanto mesmo e...

— Maria!

Os dois deram um pulo e viraram-se para Cássio que estava com cara de poucos amigos logo atrás deles.

— Ai gato que susto... O que é isso, chega assim...

— Está aí há muito tempo Cássio?

Maria Clara cruzou os braços e o encarou.

— Sim e quero falar com você.

— Bom nesse caso, eu vou indo.

Jared se esgueirou entre eles e sumiu pela porta.

— Vamos até o escritório Maria, porque eu ouvi tudo.

Ele deu meia volta, ela suspirou e o seguiu. Entraram e ela fechou a porta.

— Que história é essa Maria?

— Do que está falando?

— Que aquele cara que está ali fora não é o pai da Izzy, que você está mentindo para ela... Que brincadeira é essa? Me fala. Me dê um bom motivo para entender o absurdo que você fez.

— Não vou dizer nada. Até porque você vai preferir me julgar do que me entender Cássio.

— Maria Clara você não pensa no que fez não?

— Eu fiz o que era necessário. Eu dei um pai para Izzy, como ela queria.

— Um pai de mentira?

— De mentira ou de verdade não importa. Um pai nunca será importante na vida dela mesmo.

Ele a encarou.

— Isso é um absurdo. Só porque você tem uma péssima relação com seu pai, você vai impedir que Isabelly conheça e tenha uma relação com o pai dela?

— Eu já disse. Ela não precisa disso na vida dela.

— Você está totalmente errada Maria Clara.

— E daí? Eu faço o que eu quero e você não tem o direito de se intrometer em algo que diz respeito a mim. Eu não te pedi nada disso e mesmo que eu pedisse, eu não te daria esse direito.

— Você não era assim Maria.

Ela suspirou.

— Sai da minha frente Cássio. Vá cuidar da sua vida.

— Eu sou seu irmão Maria, eu quero te ajudar. — Ele insistiu.

— Você quer me julgar isso sim.

— Porque você só faz coisa errada.

— Chega. Saia da minha frente agora. Sai daqui!

— Maria...

— SAIA CÁSSIO!

Ela gritou e ele a encarou. Sabendo que não havia conversa com ela, deu meia volta e saiu do escritório.

Maria Clara respirou fundo para engolir o choro, ela só queria um dia de paz na vida. Mas o mundo parecia conspirar contra.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo