Um caminho para a felicidade
Um caminho para a felicidade
Por: G.K
Prólogo

Bem, precisamos conversar antes de começar com a nossa história.

Vamos lá...

Esse livro irá relatar traumas de algumas mulheres em relação a relacionamentos abusivos. Isso mesmo, esse livro é inspirado em fatos reais. Nossa personagem Mel não é inspirada em apenas uma mulher, mas sim em várias. Então, meus amores, alguns capítulos serão bem abusivos e violentos. Recomendo cautela em ler, pois eles podem ser gatilhos e podem sim fazer mal a algumas pessoas.

Quando comecei a escrever o livro, não era para ser assim, porém, conforme eu conversava com algumas mulheres, mas eu via a necessidade de acrescentar na história momentos mais agressivos, tantos físicos quanto psicológicos.

Espero que esse livro sirva para muitas mulheres que vivem em relacionamentos abusivos perceberem que a culpa não é delas. Você pode e deve denunciar, não permita que você seja alvo de pessoas sem escrúpulos, que se sentem bem em diminuir os outros.

A denúncia pode ser feita em qualquer delegacia por meio de boletim de ocorrência, na delegacia da mulher ou ligando 180. Não se calem, não desistam! DENUNCIEM!

"Se ele tem coragem de te bater, tenha a coragem de denunciar."

São Paulo, Capital, 23:45hrs

Os relâmpagos que brilhavam no céu iluminavam o quarto, o qual estava escuro... Eu sentia que o ar estava pesado e quente, afinal, era uma típica noite de verão em São Paulo.

Virei-me na cama. Estava ruim de dormir com o calor, e nada resolvia, nem mesmo o banho gelado que tomara há poucos minutos.

Fechei os olhos, na missão de conseguir finalmente adormecer, porém um barulho de vidro se quebrando me fez desistir da ideia. Fiquei dura na cama. Sentei-me rapidamente, com a mão no peito, imaginando que fosse Adam, meu marido. Afinal, as crianças tinham ido para a casa da minha mãe, a pedido dela, para que pudessem lhe fazer companhia. Ela frequentemente me pedia isso, principalmente depois que meu pai morreu. O que eu achava ótimo, pois assim evitava que eu me preocupasse que elas presenciarem as violências de Adam, já que elas estão crescendo e entendendo mais, fazendo com que a cada dia ficasse mais difícil de esconder isso delas; mas por sorte, elas ficavam muito com minha mãe, o que eu achava ótimo também, pois quanto mais longe meus filhos ficassem dele, melhor. 

Escutei a porta se abrir. Deitei rapidamente e fechei os olhos com força. Mordi os lábios ao sentir o cheiro forte de bebida, cujo impregnou todo o quarto. Engoli a seco assim que senti ele deitar ao meu lado e, logo depois, os seus fortes braços a me abraçarem.

— Melanie, acorde. — Ele disse ao notar que sequer me mexi. Parecia impaciente, pois logo começou a me sacudir violentamente.

— Adam, eu quero dormir — falei, ainda mantendo os olhos fechados.

— E eu quero trepar, venha e faça seu papel de esposa! — Ele respondeu, num tom alto e grosseiro.

Há muito tempo deixara de ter vontade de manter relações sexuais com Adam. Ultimamente, sempre que eu ia para a cama com ele, era porque o homem me forçava a fazer sexo; e isso, além de me incomodar, me machucava. Ele contribuíra para a minha falta de vontade. Não fora o tempo que desgastou a relação, nem o fato de simplesmente não o desejar mais. Não posso culpar-me por isso, pois ele; ele quem acabou sendo o culpado. Suas grosserias, sua falta de amor e cuidado e, principalmente, os seus tapas e socos faziam com que se tornasse impossível eu sentir por ele qualquer coisa que não fosse medo e ódio. Adam não era mais a pessoa que eu conheci. Embora brigássemos de vez em quando, nada se comparava ao que tínhamos hoje. Eu o amara tanto, ele era tão especial para mim; e hoje, veja só o ponto em que estávamos: dois desconhecidos dividindo uma cama. Para ele eu era apenas alguém que saciava os seus desejos carnais; e para mim, ele era um peso que eu carregava apenas por medo.

 Adam apertou minha cintura. Ele se esfregava em mim como um animal no cio. Eu odiava quando ele fazia isso! Parecia que me tratava como a um simples objeto que não tem sentimentos, desejos e vontades. Para ele não importava que eu não queria; que eu não o desejava... Tanto faz! Ele se saciaria de qualquer forma. Tornara-se um canalha, agressor e egoísta.

Sua mão foi para debaixo da minha blusa. Ele subiu e agarrou meu seio com força. Logo em seguida, senti uma mordida no ombro.

— Para, Adam, está me machucando! — gritei, mesmo sabendo que de nada iria adiantar.

Ele apertou mais os dentes em meu ombro, e gemi de dor. Tentei retirar a mão dele de dentro da minha blusa, porém ele foi mais rápido que eu e me virou na cama, segurando meus braços em cima da minha cabeça. Abaixou a cabeça e colocou sua testa na minha. Olhou-me bem no fundo dos olhos, passando as pernas pelas laterais do meu corpo.

Enquanto o encarava, fiquei com muito medo daquele olhar, pois enxerguei ali um olhar de pura maldade; um olhar que há algum tempo eu nunca imaginaria encontrar nos olhos de meu marido. Foi então que o soco veio com força na lateral do meu corpo. Encolhi-me e gemi.

— Shiii. — Ele disse. — A dor já vai passar, se acalme!

— Por favor, Adam, por favor... — disse, me debatendo embaixo dele.

Ele soltou meus braços, passou as mãos em meu rosto e pousou-as em meu pescoço. Adam acariciava, me olhando profundamente, como se estivesse em um transe. Quando seus olhos focaram em mim de novo, suas mãos começaram a se mover. Elas desciam pelo meu corpo, dando leve apertões. Quanto mais suas mãos desciam, mais desespero eu sentia. Ele se sentou sobre os joelhos para abrir sua calça, e nesse momento, tive a oportunidade de escapar. Levantei-me rapidamente, mas não fui muito longe. Logo senti uma mão a puxar meus cabelos.

— Aonde você pensa que vai?

— Não quero fazer sexo, Adam. Não estou com vontade. Entenda que nem sempre quero. Sexo para mim é diferente, você sabe! — Eu o empurrei e saí de seu domínio.

— Eu sei?

— Sim, sabe que não faço por fazer. Tenho que sentir vontade, e no momento não tenho.

Andei em direção ao guarda-roupas, na intenção de pegar um lençol e um travesseiro e ir embora dali, pois eu sabia que naquela noite seria impossível dormirmos na mesma cama; e se eu continuasse insistindo em permanecer no mesmo quarto que ele, com certeza sofreria uma nova agressão, sendo que eu ainda estava me recuperando da anterior.

Tentei me mostrar tranquila, como se aquilo não me abalasse. Por um instante fiquei de costas para ele, só fora poucos segundos de distração.

— Querida, você não tem muito o que escolher, não acha? Basta o meu querer, e eu quero! — Ele disse ao meu ouvido, fechando lentamente a porta que eu havia aberto.

Senti minhas pernas moles. Abri a boca para respondê-lo e insistir que não queria. Estava cansada de fazer sexo sem vontade. Isso já estava acontecendo com frequência, e estava me abalando fisicamente e psicologicamente, de uma forma tão intensa, que já não aguentava mais...

Mas não tive oportunidade, pois ele bateu minha cabeça contra a porta de madeira maciça, e imediatamente tudo ficou escuro.

Quando acordei, minutos depois, senti um peso em cima de mim. Adam estava me penetrando com violência e urrando feito um animal feroz. Não me mexi, apenas virei a cabeça e deixei que ele terminasse o mais depressa possível. As lágrimas doloridas começaram a cair de meus olhos. Chorei em silêncio mais uma vez.

Sempre quando eu dizia “não”, ele dava um jeito. Essa situação para mim já não era novidade, mas me doía sempre com a mesma intensidade.

Assim que terminou, ele se virou para o lado. Eu me cobri com um lençol e me virei também. Chorei sem fazer barulho, até que finalmente escutei ele roncar. Demorei mais alguns minutos para me certificar de que ele estivesse dormindo e me levantei com dificuldade. Peguei o resto da minha roupa rasgada, joguei em um dos cestos de roupas e fui em direção ao guarda-roupas. Vesti uma calcinha, um short, um sutiã qualquer e uma camiseta velha. Desci as escadas, peguei as chaves do carro, no aparador, e saí. Não aguentaria ficar ali mais nenhum minuto. Queria ir embora, e se pudesse, não voltava nunca mais... O meu destino? Bom, era onde Deus quisesse que eu fosse.

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