Capítulo dois

And I know that I'll get through this

'Cause I know that I am strong

And I don't need you anymore, no

No I don't need you anymore

Cher — Belive

Estava escuro. Eu escutava o tic tac do relógio. Eu controlava minha respiração; quase a prendia, pois não queria que ele acordasse. Não queria ter que fazer sexo com ele novamente. Aqueles toques em meu corpo, que antes me enchiam de desejo, hoje faziam eu me sentir com medo. Tinha nojo! Era obrigada a fingir que gostava; que sentia desejo, e isso me deixava indignada, porque tudo o que eu mais queria era não ter que senti-lo nunca mais perto de mim.

 Afastei seu braço com cuidado, me mexi na cama lentamente, me sentei, peguei minha camiseta no criado-mudo e a vesti.

Passei a mão por meus olhos, a fim de limpar as lágrimas.

Olhei por cima do ombro e suspirei aliviada. Ele não havia acordado. Levantei-me, mas mal fiquei em pé, e senti uma mão grande me puxar pela cintura, me derrubando na cama.

—Aonde vai? — ele perguntou.

— No banheiro, querido. — Eu falei numa voz entrecortada, cuja estava tão fraca e baixa, que se não estivesse tudo em silêncio, ele não me escutaria.

— Não quero que saia de perto de mim.

Ele deitou sua cabeça entre meus seios.

— Preciso fazer xixi, meu bem.

— Te quero.

— Adam, por favor, eu preciso fazer xixi.

Ele saiu de cima de mim. Aproveitei para sair da cama e correr até o banheiro. Assim que eu entrei ali, tranquei a porta, fui em direção à pia, lavei meu rosto e me encarei no espelho. Meus olhos estavam vermelhos. Eles ardiam, talvez pelo fato de que eu estava com vontade de chorar, mas segurava. Suspirei pesadamente. Eu não queria ter que voltar para o quarto, mas se eu demorasse muito, ele viria atrás, e seria pior.

Fiz xixi, me sequei, dei descarga, lavei as mãos e abri a porta. Ele estava parado, com um olhar estranho... Eu diria que faminto. Aquela intensidade me assustava, pois me sentia uma presa pequena nas garras de um predador enorme.

Ele sorriu, me puxou para junto de si e me arrastou até a cama. Eu sei o que aquele olhar significava. Sei que ele não demonstrava desejo somente de sexo; do meu corpo. Sei que ele desejava me machucar também. Por mais que eu tentasse negar, sabia que o desejo dele em me punir por algo maior era uma necessidade gritante. Era como se meus gritos, choros e minhas súplicas dessem prazer a ele.

Meu coração começou a bater acelerado. Ele queria mais; queria fazer sexo, e eu não queria. Na verdade, não queria mais nem que ele encostasse em mim. Sentia nojo, asco.

Suas mãos subiam pela minha cintura e iam de encontro aos meus seios. Ele os apertou com força.

Adam era uma pessoa bonita. Seu rosto fino, sobrancelhas grossas, nariz arrebitado e lábios carnudos. Um corpo bem-torneado, devido aos anos na polícia. Ele era alto; um e noventa e cinco de altura. Cabelos pretos, daqueles bem escuros. Olhos castanhos. Quando sorria, exibia dentes perfeitamente brancos e alinhados.

 Meus olhos se encheram d’água quando lembrei como eu o amei tanto, e hoje o odiava.

Com brutalidade, ele me derrubou de bruços na cama. Seu corpo pesado sobre o meu me deixava sem ar. Sentia sua ereção nas minhas costas. Ele se esfregava em mim de um jeito nojento, segurando meus braços para trás com violência, e isso doía.

— Adam, está me machucando — digo com a voz fraca, devido à dor que sinto.

— Querida, sua bunda é tão bonita. — Ele apalpava minha bunda com a mão esquerda, e em seguida batia.

— Ai! Adam, não, por favor, pare.

— Eu vou comê-la, e você vai gostar. Vou fazer com força. — Senti que ele esfregava seu pênis em minha bunda e gemia.

Comecei a chorar, me desesperei, tentei me soltar, mas não conseguia.

— Adam, por favor, não faça assim! Meu braço, você vai quebrar ele!

Mas ele não parou. Olhei para trás e o vi desabotoando a própria calça. Vi quando cuspiu em seu pênis e espalhou por toda a sua extensão. Ele não esperou mais nada, simplesmente me penetrou.

Entrava e saía de mim com força e brutalidade. Seus gemidos me deixavam apavorada. Ele me forçava de todos os jeitos, me mordia; e eu sentia seus dentes rasgarem minha pele. Eu sabia que gostava disso; de me ver machucada. Isso dava prazer para ele. Era sádico, era doentio. Quanto mais ele entrava em mim, mais pressionava meu braço.

Fechei os olhos e sufoquei os gritos, mas foi então que escutei meu osso estralar. Senti a carne rasgar e o sangue escorrer abundantemente. Gritei desesperadamente, mas mesmo assim ele continuava...

— Filha, filha...

Minha mãe me chamava, tocando meu ombro com violência. Eu abri os olhos e dei um pulo da cama. Estava tendo um pesadelo. Notei que era tão intenso, que a essa altura eu já estava suando frio, e meu coração batia descompassado. Eu chorava e me sentia a pior pessoa do mundo; me sentia nojenta.

— Filha, o que houve?

— Um pesadelo, mamãe.

— Oh, querida! Venha aqui. — Ela abriu os braços, e eu me aconcheguei neles, ficamos alguns minutos em silêncio. — Conte-me com o que sonhou, meu amor.

Afastei-me depressa de seus braços. Eu não podia contar para ela dos meus pesadelos, pois, embora esses acontecimentos de fato nunca tivessem ocorrido, aconteceram outras coisas bem parecidas entre Adam e eu.

— Que horas são? Onde estão meus filhos? — perguntei por fim, a fim de fazer com que ela parasse de me encarar; coisa que deu certo, pois ela abaixou o olhar e remexeu na barra do avental.

— Quatro e quinze da tarde — mamãe falou, olhando para o relógio na cabeceira da cama. — Eles estão lá na cozinha, comendo um bolo de chocolate. Pedro chegou da escola emburrado e quase não almoçou.

— Ah! Ok, eu vou conversar com ele.

— Filha, está tudo bem?

— Sim, mamãe, está tudo bem. Não se preocupe com nada, ok?

Eu não podia contar para ela, era vergonhoso demais. E também ela saber ou não mudaria nada, só a faria sofrer.

Dei um sorriso para ela e me levantei. Peguei uma toalha de banho, fui até o banheiro, fechei a porta, lavei meu rosto e me olhei no espelho.

Eu estava completamente acabada, a ponto de quase não me reconhecer. Eu tinha envelhecido muito nos últimos anos.

Suspirei pesadamente quando minhas mãos passaram por cada ruga que provava a mim mesma que eu não era mais a mesma Melanie de alguns anos atrás. As agressões de Adam não apenas me destruíam por dentro, mas toda vez que olhava no espelho, eu percebia que essas dores estavam refletindo por fora também.

Tirei minha roupa vagarosamente. Minhas costelas doíam.

Já despida, me olhei no espelho e quase virei o rosto, tamanho era o desgosto, mas me forcei a me observar.

Primeiro, meu rosto, marcado pelo sofrimento. Depois, observo os meus braços, que estavam gordos, flácidos e com papada. E a minha barriga estava ainda mais feia. Além de grande, as estrias subiam por ela. Eu estava com noventa quilos; isso porque perdera vinte há mais ou menos dois meses. Minhas coxas estavam grossas e flácidas. No meu bumbum tinha celulite. Suspirei e desviei o olhar.

Como pude chegar a esse ponto? Por que me permiti ficar assim?

Liguei o chuveiro e deixei que a água quente caísse sobre mim. Queria que ela tirasse toda aquela dor que estava impregnada por dentro.

Chorei muito enquanto lavava meu cabelo, e a cada passar de mão em meu corpo eu sentia nojo; nojo de mim mesma. Como seria possível sentir nojo de si mesma?

Entre lágrimas e soluços, me recordei do primeiro soco que eu levara e do motivo. Um ciúme doentio. Bastava beber para que ficasse assim. No começo da nossa relação, ele não bebia tanto. Tinha ciúmes, porém, não a esse ponto. De poucos anos para cá Adam passara a ser obsessivo. Não sabia o que o fizera ficar assim, não me lembrava de ter dado motivo; só sabia que ele começara a implicar com meu corte de cabelo, minhas roupas; mais tarde, com meus amigos e minhas amigas...

Como eu pude ter sido tão cega assim? Como o esperei chegar a esse ponto para ver que ele estava se tornando um monstro?

— Meu Deus, por que essa provação?! Não sou digna de seu amor, carinho e proteção?! Onde o Senhor está, onde?! 

Olhei para frente. A água quente do chuveiro caía sobre mim. Minha voz ficou entrecortada, e eu não conseguia mais falar, então eu fechei os olhos e orei com um pouco mais de fé. Embora Deus tivesse desistido de mim, eu nunca desistiria Dele.

Saí do banheiro com o pensamento no passado, de como tudo fora e não era mais. Lágrimas encheram meus olhos castanhos. Tratei de limpá-las. Não queria que ninguém me visse chorar. Eu tinha que ser forte e suportar tudo isso, afinal, a culpa disso era toda minha, não era? Eu não era autossuficiente, eu me deixei cair na rotina, deixei meu corpo mudar, eu deixei de ser Melanie para ser a mãe e a mulher que cuidava da casa, dos filhos e do marido... Talvez esse tenha sido o problema, talvez por isso Adam me desprezasse tanto. Essa pelo menos era a única explicação que eu encontrava.

Troquei-me. Sempre deixava roupas minha e das crianças na casa da mamãe, ela sempre me ajudava a cuidar deles.

Desci a escada com os cabelos molhados. Eles batiam na cintura. Eram finos e lisos. Gostava da cor deles, pois eram em um tom de loiro natural; aquele loiro mais escuro. Para dar um ar mais jovial, eu costumava pôr algumas mechas mais claras, porém eu havia me cansado delas e as tirado no mês passado.

— Mel, não secou esse cabelo, querida, você vai se resfriar.

— Não, mãe, não vou. — Minha mãe, Dona Marta, adorava brigar comigo por qualquer motivo.

Sentei-me junto à mesa com as crianças. Elas me olhavam com curiosidade.

— Mamãe, vamos para casa?

— Sim, querida. — “Infelizmente”. Quase disse isso.

Suspirei e passei a mão pelos cabelos loiros de Beatriz. Ela era uma menina esperta para uma criança de quatro anos de idade.

A menina sorria para mim enquanto comia o brigadeiro que estava cima do bolo.

— Come o bolo, mamãe. Vovó que fez, e tá um delícia!  — Ela falou, sorrindo para mim.

— Você me dá um pedaço na boca, meu amor? — perguntei.

Ela sorria novamente, com a boca melada.

Pegou um pedaço com a colher e me deu. Enquanto eu comia, sorria para ela.

— Pedro, aconteceu algo, querido? — questionei meu filho, após ter mastigado o pedaço de bolo.

— Não enche, mãe! — Ele respondeu de forma grosseira, o que era estranho, pois ele não era de falar assim comigo

— Pedro, isso são modos? O que houve?

— Desculpe, mãe, é que uns garotos na escola estão pegando no meu pé!

— Por quê? — perguntei, me levantando de onde estava e me sentando ao seu lado.

Ele ficou encarando o pedaço de bolo, mas não me respondeu, por isso decidi insistir:

— Pedro, vamos dar uma volta?

— Tudo bem, mãe.

— Meus amores, fiquem com a vovó. Quando mamãe chegar, iremos para casa — falei, olhando para Beatriz e Jonas.

Beatriz pegou seu coelhinho pelas orelhas, pulou da cadeira e correu até a sala. Ela era linda! Uma criança ativa e sapeca, com olhos castanhos como aos meus. Seu cabelo era loiro em um tom escuro. Seu sorriso era fácil, qualquer coisa a deixava feliz. Minha caçula era extremamente gentil. Essa era uma das coisas que eu mais amava nela: sempre se colocando no lugar do outro e ajudando ao próximo.

Já Jonas, meu filho do meio, tinha oito anos de idade. Havia puxado fisicamente mais para Adam. Ele era branquinho com os cabelos e olhos bem escuros. Tímido, uma criança que dificilmente se abria para as pessoas novas. Meu pequeno era extremamente inteligente, mas era fechado para o mundo.

Pedro era o mais velho, meu garotão. Ele já tinha completado treze anos. Era o mais brigão, sempre implicava com os menores; mas ao mesmo tempo, ele tinha um instinto protetor que me deixava orgulhosa. Também puxara fisicamente mais para Adam. Era alto para a sua idade. Tinha cabelos e olhos pretos.

Eu poderia passar maus bocados na mão de Adam, mas o agradecia profundamente por esses meus três filhos. Sem eles eu não seria nada.

Pedro estava sentado no balanço de pneu velho que ficava nos fundos da casa. Fora meu pai quem o fizera para mim. Ficava pendurado em uma imensa árvore... Não me perguntem qual era a espécie dessa árvore. Quando mudamos para cá, ela já estava plantada aqui. Papai a achara tão linda, que ficara com dó de cortá-la; e desde então, ela vinha nos dando sombra e um bocado de insetos.

Sentei-me no chão, ao lado do balanço velho. Pedro estava cabisbaixo, e eu sabia que o assunto era sério com ele, pois dificilmente costumava se fechar assim comigo.

— Vamos lá, Pedro. Conte-me o que houve, meu querido.

— Ah, mãe, não quero falar disso.

— Confie em mim, querido. Lembra? Somos melhores amigos, um protege o outro.

Ele ainda esboçava resistência em falar. Seus pés batiam na grama, a cabeça ainda baixa, os ombros tensos. Levantei-me e empurrei-o. No começo, ele não queria a brincadeira; mas quando percebeu que eu não iria parar, relaxou e sorriu. Seus ombros relaxaram, e ele aproveitou a brincadeira.

Depois de algum tempo, Pedro saltou do pneu velho e se sentou perto do tronco da árvore. Eu fiz a mesma coisa, então ficamos olhando para o horizonte, admirando o sol se pôr.

— Mamãe, você é feliz com o papai? — perguntou de repente.

Meu coração parou imediatamente, meu sorriso sumiu e a versão Melanie tensa tomou conta de mim.

— Por quê, filho? — perguntei nervosamente.

— Mãe, você é ou não é feliz com ele?

— Filho, a vida de adulto é diferente da de vocês, crianças. Nós temos...

— Mãe, não foi isso que eu perguntei — interrompeu-me. — Você ama o pai? — Ele me olhou com os olhos cheios d’água.

Fiquei mais tensa ainda. Perguntei-me mentalmente: “Onde será que Pedro quer chegar?”

— Filho, eu... — Não sabia o que dizer.

— Eu ouvi na escola que ele é mau, mãe. Mau para a Senhora. — Ele me interrompeu.

— Como assim? — Encarei-o com expressão surpresa.

— Antes de eu vir para a vovó, eu acordei de madrugada com sede. Me levantei para ir à cozinha, porque tinha acabado a água da minha garrafa. Aí eu passei ao lado do seu quarto, a porta estava entreaberta... — Meu coração disparou, pois lembrei o que acontecera um dia antes de trazê-los para a casa da minha mãe. Lembrei até que foi a razão para eu ter feito isso. Vi que Pedro colocou a mão no rosto e começou a chorar. Eu o abracei. — Eu o vi lhe dando um soco e você caindo no chão; e depois, ele te deu um pontapé nas costelas. E ele te xingou de “vagabunda imprestável”... Como ele faz isso com você, mãe?

 Pedro chorava enquanto olhava para o chão. Eu sentia sua tensão e seu nervosismo. O que eu poderia dizer para o meu filho de treze anos de idade? Diria “Sim, filho, seu pai me bate e ainda força a sua mãe a fazer sexo com ele; as agressões são tantas, que às vezes nem consigo me mexer”?

Fechei os punhos, com raiva. Sempre tomara cuidado, me escondendo atrás de roupas, para eles não verem os machucados que ele deixava... Adam às vezes me obrigava a fazer sexo com ele quando as crianças estavam em casa, mas as agressões não eram tantas... Mas naquele dia; naquele maldito dia, ele me batera, e eu ainda evitara gritar, chorar, para as crianças não ouvirem. Agora eu sabia que isso não fora suficiente! Sempre pensara que eles não sabiam o que acontecia; sempre imaginei que eles viviam numa bolha linda onde a mãe e o pai deles eram felizes e se amavam...

— Pedro, isso é coisa de adulto, não tem como falarmos disso agora! — falei, olhando para frente, de maneira séria, não querendo entrar no assunto.

— Mas ele bate em você, não é verdade, mãe? — o menino insistia. Meu menino sabia a verdade, não adiantava mais eu esconder!

Meu coração se apertou quando vi que seus olhos estavam todos vermelhos, devido ao choro. Era isso que eu queria evitar. Queria evitar essa tristeza que via agora nos olhos do meu filho. Nenhuma criança de treze anos deveria passar por isso... E mesmo tendo esse pensamento, acabei me sentindo como se eu fosse culpada... Eu era culpada por aquelas lágrimas que estavam começando a brotar nos olhos dele.

— Eu...

Não consegui terminar, deixei a frase morrer na garganta. Eu não sabia o que falar. Pensava que Pedro estivesse triste por outro motivo; imaginei que ele estivesse gostando de alguma colega da escola, e seus amigos descobriram; ou então que ele havia tirado nota baixa em matemática... Qualquer coisa, menos isso que ele me disse.

Mas fora impossível me controlar. Quando dei por mim, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e isso já me entregou. Olhei para Pedro e vi que ele estava com os punhos fechados. A grama estava sendo amassada por entre seus dedos de pré-adolescente, e seu rosto estava banhado por lágrimas.

— Como ele pode, mãe?! Como ele pode fazer isso com a Senhora?!

Eu não conseguia falar, as palavras estavam presas na minha garganta. Apenas balancei a cabeça em negativa.

Ele se levantou, sentou mais próximo a mim, tomou meu rosto entre suas mãos e me fez encará-lo. Seus olhos estavam vermelhos.

— Eu prometo te proteger, prometo que ele nunca mais irá fazer nada disso.

Então me abraçou. Senti-o sacudir com o choro, senti-o tremer em meus braços. Queria poder dizer que era mentira; poder dizer que ele não precisava se preocupar, mas eu não consegui mentir. Eu não conseguia mais esconder.

— Escuta aqui, Pedro. — Fiz ele me encarar. Seu semblante era triste, e seus olhos estavam vermelhos por conta do choro. — Nunca, você nunca vai se intrometer na minha vida com seu pai, entendeu?

— Mas, mãe... Ele... Ele... — balbuciou.

— Eu e seu pai temos problemas sim, mas prefiro que eu sofra do que vocês, entendeu? — Eu o interrompi. Notei que ele ficou contrariado.

— Vovó precisa saber disso, ela vai te tirar de lá e te proteger, e... — Ele começou a dizer rapidamente, parecia nem ter me escutado. Estava chocado, tanto que estava atropelando até mesmo suas palavras.

— Filho... — comecei a falar, mas sem saber o que diria. Era tudo tão difícil e penoso, meu coração se enchia de tristeza.

— Mãe?

— Não meta sua vó nisso, é perigoso. Não sei o que seu pai poderia fazer com ela, eu que preciso resolver isso... — falei, mesmo sabendo que não sabia como resolver.

— E o que você vai fazer, mamãe? — Ele perguntou, com o semblante esperançoso.

— Eu ainda não sei... — confessei.

Estiquei o dedo mindinho para ele e tentei sorrir. Pedro fechou a cara e selou o gesto.

— Não vou deixá-lo te machucar mais, essa é minha promessa.

Disse isso e me abraçou. Ele me apertava com força. Deu-me um beijo na cabeça, e senti que meu pequeno ainda chorava. Seu pequeno corpo sacudia entre meus braços.

Ficamos sentados ali na grama, abraçados por um bom tempo.

Pedro era um garoto formidável! Eu tinha muito orgulho dele, mas em hipótese nenhuma o deixaria presenciar esse tipo de coisa que acontecia entre Adam e eu. Eu jurei que os protegeria, e era exatamente isso que eu faria.

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