A vida é uma caixinha de surpresa com uma grande reviravolta. Nunca imaginei que a minha vida em Nova York fosse se tornar essa grande bola de neve de uma hora para outra, ou as coisas estavam tão explícitas que preferi simplesmente ignorar? O fato é que preciso de emprego o mais rápido possível, não estou feliz em estar endividada e podendo ser deportada para o Brasil. Quando fui demitida, achei que encontrar um emprego fosse mais fácil do que eu esperava. Calma, não fui demitida. A empresa faliu. Faz dois anos que estou em Nova York e assim que cheguei conseguir um emprego em uma lanchonete no centro.O lugar era bem movimentado e nunca passou pela cabeça de ninguém que um dia aquela lanchonete fosse falir, também não imaginávamos que um dos sócios roubaria toda a grana e iria embora para Bahamas com a sua amante. Como havia falado, a vida é uma caixinha de surpresa.— Olha, eu estou cansada de ouvir as suas amarguras. — Claire diz do outro lado da linha. — Vamos lá! A vida é bela e
Christopher BrewerSentei minha cadeira massageando as têmporas. Problema e mais problemas, nunca pedi que a vida fosse um morango, mas custa muito ter um pouco de paz e esses funcionários fazerem o que são pagos para fazer? Paciência é uma virtude que não tenho. Se querem testar minha paciência, sinto que ela não existe. Minha secretária se atrapalha na minha frente ao colocar os papéis em cima da minha mesa, ajeitando óculos em seu rosto, ela se afasta da mesa esperando rapidamente as minhas próximas ordens.— Quero que o chefe do RH apareça na minha sala quanto antes. — Aviso, enquanto olha alguns papéis. — Vou fazer uma varredura nessa empresa. Perdemos mais de um milhão por conta da demora da entrega dos alimentos, tenho que fazer tudo para que essa empresa dê certo?! — Ela dá um pulo e coloca a mão com teu peito, se assustando. — Quero que revise a minha agenda e converse com meu assistente pessoal, teremos um evento beneficente organizado pela minha mãe. Cuide para a nossa empr
Bianca AlmeidaRespirei fundo vendo que estou toda ensopada de tinta, minhas roupas não teriam salvação. Pelo cheiro forte da tinta é um sinal nítido que não sairiam facilmente na água. Levanto o meu olhar lentamente para aqueles pestinhas, todos me olhavam com um sorrisinho no rosto e a risadinha que seria a coisa mais fofa se não tivesse acabado comigo com essa tinta. Rapidamente surge a lembrança daquela mulher de quando cheguei na mansão e ela passou por mim correndo e chorando.— Cerca de uma hora atrás, uma mulher saiu daqui chorando. — Olho para cada um com atenção. — Você tem alguma coisa a ver com isso?Parando para pensar e analisar toda a situação, é muito provável que aquela mulher tenha tido as mesmas chances que eu. Essas três lindas criaturas que estão na minha frente aprontou com ela a ponto de fazê-la chorar, pobre coitada preferiu não arriscar passar uma semana hoje. Danielle deu de ombros e olhou para os irmãos rindo.— Tem algumas que são mais fáceis. — Ela me olha
Christopher Brewer— Então quer dizer que você gostou da nova babá. — Bruno dá uma risadinha no outro lado da linha.— Não é nada disso. — Afloxei a gravata em meu pescoço. — Estou querendo dizer que pela primeira vez na vida não veio uma mulher aos pratos falando quanto meus filhos a maltratam ou recebi algum processo quanto a isso.Bruno Portinari é um amigo no tempo da faculdade, é um dos poucos que ainda mantém o contato além da Margot. Ele escolheu ir embora para Alemanha e ter a sua vida lá, gostava da sua companhia por mais que ele seja um chato. Bruno tem uma vida agitada e reconheço ser um péssimo padrinho em questão de vim ver os seus afilhados, mas em questão de mimá-los com presentes e viagens esse é um cargo que ele consegue exercer muito bem.Sentei e minha poltrona sentindo meus músculos se contraírem, hoje não passei nem perto da academia. Minha cabeça dói e parece que nos últimos dias a única coisa que fiz foi levantar peso, não trabalhei e nada mais. E a história é c
Bianca Almeida— Não sei os seus planos, mas por enquanto tem carta-branca para continuar. — Sra. Molloy diz quando entramos na cozinha. — Desde que os pequenos Brewer não sejam prejudicados e machucados, tudo bem.Faz pouco tempo que havia chagado com as crianças. Christopher está trabalhando de casa. Mesmo que sejam crianças atentadas, não faria mal nenhum a elas. Claro que precisamos chamar atenção, mas não sou pai e mãe de ninguém para usar outras formas que acredita dar certo na educação. Essas crianças precisam de limites e darei o meu melhor para ajudá-los. Christopher está na sala de cinema com seus filhos e por hora não preciso fazer nada já que a minha única função é cuidar das crianças, então aproveito esse momento para me inteirar sobre a vida delas. Não fiquei surpresa quando a Sra. Molloy me entregou outro dossiê, ela deve ter várias cópias guardadas para cada funcionário novo que chegar.Coloquei o dossiê em cima da mesa da cozinha e me sentei para poder estudar aquelas
Bianca Almeida— Danielle, eu não estou de brincadeira! — Bato em sua porta mais duas vezes.E sua resposta foi tocar a música da Ariana Grande – Thank U, Next. Ela trocava os nomes citados na música, o que me deixa horrorosa. Essa garota está sofrendo por quantos garotos? Na idade dela ainda brincava de Barbie, forcei a fechadura mais uma vez e nada da porta abrir. Sra. Molloy parece que se sente bem o suficiente para me deixar sozinha com as crianças depois de três dias de trabalho, não tive mais nenhum momento desastroso com Christopher e é maravilhoso. Porque lidar com essas crianças já é arriscado perder meu emprego, imagina com quem me paga.Pedro tem uma prova para fazer na escola e deixou seu caderno de anotações no quarto da irmã mais velha, Danielle tem uma prova de física para fazer e está cantando toda desafinada em vez de pegar suas coisas e ir para escola. O responsável por todo o horário das crianças, garantir que elas comprem toda a carga horária da sua agenda. Eu não
Bianca AlmeidaEstamos no hospital. Bem, antes o hospital do que a delegacia. A mãe do Fernandinho surtou quando a Lilia deu um soco no olho do seu filho, então precisei agir. Fingir tropeça na calça e cai batendo o braço no chão sem dar um grito bem exagerado. Pedro acordou em um segundo e veio até mim desesperado, nunca vir esse menino tão desestabilizado. Lilia pareceu, o motorista também e logo um monte de gente. Virei a palhaça no final de treno? Sim, mas evitei uma discussão com a mãe do Fernandinho.— Você não deveria ter feito…— Te ajudei bobão! — Lilia estava irritadíssima, nunca a vi assim.— Olha a boca. — Corrijo-a.Estou com o braço todo arranhado e meu tornozelo doendo. Meus cálculos foram piores do que o imaginado e me machuquei muito.— Que vergonha! — Pedro passa a mão pelo rosto de um jeito dramático. — Que vergonha! Fui defendido pela minha irmã mais nova, CINCO ANOS e tenho uma babá maluca.— Ei! — Me senti ofendida.— Mal-agradecido. — Lilia cruza os seus braços
Bianca AlmeidaEstou no escritório da casa do Sr. Brewer, neste momento estou sozinha e no caminho para a casa da sua família tomei liberdade em mandar uma mensagem para minha melhor amiga para preparar meu funeral. Claire conseguiu o papel que tanto sonhou, sendo um teatro da Broadway a sua rotina mudou completamente. Fico muito feliz pela minha amiga, mas confesso que sinto sua falta. Ela saberia muito bem como sair dessa encrenca que me meti ou agora estaria na cadeia, segunda opção é bem provável.No banco de trás as crianças ficaram quietinha, Pedro sentou entre mim e a Danielle, Lilia sentou no meu colo. Percebi quando Christopher olhava para nós pelo retrovisor. Agora estou em um escritório sombrio na espera do meu chefe. Margot não fez questão de me olhar quando chegamos na casa da família Brewer, não posso arrumar problema com essa mulher. Talvez esteja com Christopher agora para decidi minha sentença. A porta é abre e dou um pulinho, me assustando.— Não sabia que te causava