Já acordou com a sensação de ter alguém te olhando?
Ainda meio que sonolenta, tive essa “sensação”, demorando para perceber um vulto parado perto da janela.
Meus olhos não estavam tão inchados como no dia anterior, mas minha visão continuava limitada.
- Quem é você? – pergunto na dúvida de ser algo da minha mente.
O vulto solta o ar dos pulmões.
- Lucius Cesarini – A voz máscula grossa, chegou aos meus ouvidos firme.
Aquele nome estava longe de me parecer familiar.
- É médico?
Ele ri pelo nariz.
- Não – Sua voz é suave – Sou o pai do Zack – Ele faz uma pausa, como se esperasse que dissesse alguma coisa. Mas o quê?
Quem era ele? E este tal de Zack?
Batidas repentina na porta, me fazem virar a cabeça na direção, vendo dois vultos ao lado da porta.
- Sr. Cesarini – diz um homem – Não esperava o ver aqui. Meus sentimentos.
Lucius respira fundo.
- Obrigado.
Um dos vultos da porta se aproxima da cama, tentando ficar no meu campo de visão.
- Sou o policial Rogers. Vim fazer algumas perguntas, tudo bem?
O quê um policial iria querer comigo?
- Tudo bem.
- O.k. Pode me dizer seu nome?
- Eu não sei meu nome – digo de imediato – Não faço ideia do que aconteceu ou de como vim parar aqui.
- Então não se lembra de nada do que aconteceu? – O outro vulto pergunta surpreso.
- O que aconteceu? – questiono, começando a me sentir nervosa com todo aquele suspense – Se sabem alguma coisa sobre mim, digam – Aquela frase acaba por soar como uma súplica – Por quê não sei nada sobre mim – digo baixo.
- Você foi sequestrada – A voz de Lucius soa – Junto com meu filho.
- Se lembra disso? – diz o policial Rogers em seguida.
Sequestro.
A palavra ecoa na minha mente, buscando alguma lembrança. Porém, nada surge, nenhuma explicação.
- Como assim, sequestro?
- Encontramos você num porão de uma casa no interior, junto com o filho do Sr. Cesarini.
Respiro pelos lábios entre abertos. Como uma pessoa não conseguia lembrar de ter sido sequestrada?
- ... não me lembro – sussurro contendo as lágrimas – Talvez... Talvez... o filho dele saiba explicar o quê aconteceu – digo rapidamente – Não acho que eu vá conseguir.
- Meu filho está morto – diz Lucius, atraindo minha atenção, apesar de não enxergar ele – Mataram ele antes da polícia chegar e acredito, pelo estado que está, que tentaram o mesmo com você.
Meus lábios tremulam.
- Qualquer coisa que conseguisse lembrar, seria de grande ajuda – diz o policial Rogers.
- Não lembro de nada.
- Precisa lembrar de alguma coisa, para aprendermos o culpado da morte de Zack Cesarini – insiste.
- Eu não lembro de nada – repito angustiada.
Ele solta o ar dos pulmões impaciente.
- Você não está entendendo, tem um assassino solto.
Pressiono minhas mãos contra meu rosto dolorido, numa tentativa de escapar daquela pressão.
- Policial Rogers – diz Lucius sério – Não está vendo que ela não lembra de nada? Se lembrasse, não pensaria duas vezes em dizer, já que tentaram matar ela também.
O silêncio se instala no quarto.
Haviam tentado me matar, por alguma razão. Me deixando sem nenhuma memória.
- Meu filho está morto e mesmo que eu vire o Texas der ponta cabeça, ele não irá voltar – Lucius continua – Então, peço que a deixem por enquanto.
- Como preferir, Sr. Cesarini. Só estamos tentando encontrar o culpado deste crime brutal – diz o segundo policial.
- E agradeço por isto.
- Desculpe qualquer inconveniência – diz o policial Rogers, antes de sair do quarto.
Tiro as mãos do rosto, desejando que o fluxo do oxigênio no cateter nasal aumentasse, para que pudesse respirar melhor.
- Quer que eu chame o médico? – Lucius pergunta, próximo da cama. Não dava para acreditar que o filho dele estava morto e ele ali falando comigo – Precisa me dizer, não consigo adivinhar – Foi então que lembrei que estava chorando na frente de um desconhecido – Está sentindo dor?
- Sinto muito pelo seu filho – murmuro com a voz trêmula.
- Também sinto.
Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto.
- Não fazem mesmo ideia do que aconteceu?
- Não – Sua voz se mantém firme, mesmo tendo uma mulher em prantos na frente dele, se achando culpada pelo o quê nem sabia – Ele estava indo me encontrar e depois de cinco dias, só o vi morto – Meu choro praticamente duplica e me sinto triplamente mal. O milagre que havia acontecido em mim, deveria ter acontecido com Zack.
Não tinha uma sensação muito boa, ao pensar na palavra sequestro. Me arrepiava toda, meu coração apertava e uma grande angústia se instalava mais dentro de mim.
- Para de chorar – Ele repreende de um jeito manso- Pelo o quê deu para entender, você também foi uma vítima – Ele inspira profundamente – Não se culpe por não lembrar agora do que aconteceu.
Era fácil dizer. Ele tinha a memória dele, ruim ou não.
Eu não tinha nem isso!
- Vou deixar você... descansar – diz hesitante, caminhando em passos rápidos até a porta, se detendo – E me desculpe por... jogar toda essas informações sobre você – Deveria dizer que estava agradecida por ele me dizer algo sobre mim, mas não consegui. Lucius foi embora e continuei com minha angústia sem motivo “aparente”.
Algum tempo depois, ouço batidas na porta e o perfume do Dr. Schultz chega no meu nariz.
- Como você está? – pergunta folheando alguma coisa.
- Minha memória ainda não voltou.
- Estou esperando o resultado dos exames. Deve se manter calma e não pensar muito nisso, talvez volte quando menos esperar – Havia sido muito reconfortante, doutor – Não vim falar necessariamente da sua memória e sim sobre seu rosto.
- O quê há de errado com meu rosto?
Ele solta o ar dos pulmões.
- Você terá que fazer uma cirurgia plástica, para fazer alguns reparos.
- Como assim? Meu rosto não irá voltar ao normal? – A hipótese do meu rosto não voltar ao normal e de me perder dentro de mim, era ainda mais desesperador.
- Sinto muito. Se não intervirmos, continuará irreconhecível.
Então era assim que eu estava? Irreconhecível.
- Como vou saber se tenho outra família, se estiver com outro rosto? – questiono baixo – Como eles vão me encontrar?
- Acredito que a polícia fará de tudo para encontrá -los. Mas neste momento, precisa pensar nas consequências de não fazer essa cirurgia.
Só conseguia enxergar uma consequência: nunca mais descobrir quem eu sou. Perder minha identidade visual.
Não podia aceitar aquela cirurgia e esquecer de vez que eu deveria ter um passado.
- Eu não quero fazer essa cirurgia.
- Mas...
- Meu rosto vai voltar ao normal! – interrompo ele – Só preciso esperar mais um pouco.
O médico absorve as palavras, suspirando.
- Volto depois, está bem? Pode usar este tempo para pensar melhor – Minha vontade era gritar que não precisava de um tempo para pensar. Mas aí poderiam me levar para algum sanatório, acreditando que era louca.
Só precisava me manter convicta da minha decisão.
Dois dias se passaram. Consegui perceber isto por causa da luminosidade no quarto e pela troca de plantões. Toda vez que entrava um enfermeiro diferente e lia meu prontuário, perguntava se já havia decido fazer a cirurgia plástica e a resposta era o silêncio. Não fazia ideia de quem eu era e sentia que ficaria sem saber se fizesse aquela cirurgia. Impressão ou não, sentia que meu rosto estava desinchando, isto por quê não sentia mais meus olhos tão inchados e o restante ao redor dolorido. Isto para mim, foi um grande avanço e que poderia signi
– Enquanto não descobrimos seu nome, este pode ser o seu – Ele sugere – Ivy – Precisava de um nome afinal de contas e aquele soou perfeito – O quê acha?– Ivy parece bom – Lucius fica em silêncio novamente – Quando será que devo fazer a cirurgia?– Acredito que o mais rápido possível – Movo meus lábios de um lado para o outro, tentando não demonstrar que estava nervosa – Vai ficar tudo bem – Meus olhos vagam pelo vulto à frente, tentando ficar em algum ponto – Quando acabar, já vai ter acabado – Assinto, esperando que fosse simples dessa maneira – Vou avisar o Dr. Schultz que já escolheu um rosto.– Lucius... – digo de repente, quando ele já está perto
Meio por fim, acabei sedada. Devido a dor que estava sentindo por causa da cirurgia plástica e porquêestavam me achando muito agitada.Flashes aparecem de repente em minha mente, como lampejos.Primeiro uma discussão acalorada. Eu andava de um lado para o outro, nervosa, dizendo alguma coisa, enquanto gesticulava; A poucos passos de mim, estava um homem, a expressão incrédula e os olhos vazios, absorvendo tudo que era dito por mim.A cena muda de repente. Dessa vez, ele lê algo em um papel, sorrindo por fim, erguendo os olhos na minha direção.Eu também sorrio, levando ás duas m&atild
Não consigo desviar os olhos do rosto do médico, olhando cada traço com atenção, enquanto minha mente assimilava suas palavras.- Eu saberia se estivesse grávida - digo. Ou não, como saberia, se havia acordado recentemente sem memória?- Mas está - Ele me entrega um amontoado de folhas, indicando com o dedo a palavra reagente - Para ser exato de três meses.Olho para Lucius no mesmo instante, entendo sua reação quando o médico o chamou para conversar.- É do Zack?! - pergunto num tom acima.- Só iremos ter certeza com um exame de DNA - diz Lucius, engolindo em seco - E para isso preciso da sua...- Autorização - Completo, sentindo minha boca seca, sustentando seu olhar - Tudo bem.Ele assenti, baixando a cabeça.- Em br
Lucius senta na poltrona perto da janela, fixando o olhar no vazio.- Diz alguma coisa, Lucius - digo impaciente, após alguns segundos.Seus olhos sustentam os meus.- O bebê é de Zack - diz baixo.Franzo o cenho, inclinando a cabeça para o lado.Então estava mesmo grávida e ainda por cima grávida de Zack, um herdeiro bilionário do petróleo. Abro e fecho a boca, procurando as palavras para rebater aquela afirmação. Desistindo quando não consigo pensar em nada coerente. Lucius pega seu celular de repente.- O que foi? - Consigo perguntar. Ele não
Algum tempo depois, deixamos a cidade para trás, literalmente. Acabando por sermos envolvidos por floresta nos dois lados da estrada.Uma floresta densa e num verde vivido.Suspiro, conseguindo sentir a paz que estava transmitindo.Por alguma razão, me senti bem e quase que em paz, se não fosse o fato de ter alguém querendo me matar e minha mente não colaborar para acabar com aquele inferno logo.Virando á direita, entramos em uma estrada de areia, continuando rodeados por todo aquele verde. Mais alguns metros e vejo quando um grande portão de ferro, se abre lentamente e dois seguranças param diante dele. Olhando com atenção quem
- Tenha uma boa noite, Ivy - Lucius murmura, quando passo por ele no corredor do segundo andar, após o delicioso e constragedor jantar.Lhe dou um leve sorriso por cima do ombro, ao deixá-lo na primeira porta do corredor do lado direito.Em meu quarto, parada perto da cama, encaro o silêncio, decidindo ligar a TV.Tirando meu short, me coloco em baixo da coberta, fixando meus olhos na tela do aparelho, até ser vencida pelo sono.Como ás outras vezes, não sonho, tenho um sono profundo, porém sem nenhum sono para enfeitar.No dia seguinte, o sol serve como despertador, já que esqueci de fechar ás cortinas pesadas.<
Depois de ser pega por Lucius em seu quarto, algo que iria demorar para esquecer, decido me trancar no quarto de hospedes.Nas horas seguintes, até o jantar, tentei parar de ruborizar toda vez que lembrava de ter sido pega por ele xeretando em seu quarto.Uma tarefa impossível, mesmo zapeando todos os canais da televisão em busca de algo que prendesse minha atenção. Perto da hora do jantar, saio da minha “toca”, voltando para o primeiro andar, que continuava sem nenhuma movimentação.A mesa do jantar já estava posta e não havia nenhum sinal de Lucius por perto. Deste modo, ainda permaneci