Um bebê para o filho do CEO falecido
Um bebê para o filho do CEO falecido
Por: J. C. Rodrigues Alves
1

Barulhos externos são os primeiros sons que chegam aos meus ouvidos, quando começo a acordar. Meus olhos por alguma razão, não se abrem completamente, o que me deixa assustada, pois só consigo ver borrões por de baixo dos cílios.

           Onde estou?, a pergunta surge na minha mente, enquanto mexo minha cabeça dolorida de um lado para o outro. Sem fazer ideia de onde estava.

           Minhas mãos tateiam o que pareceu ser um colchão e lençóis. Havia uma agulha no meu braço direto e alguns fios no meu tórax.

          Apesar de forçar minhas pálpebras a se abrirem. Não conseguia.

          O ar se torna pesado e difícil de respirar, mesmo com o cateter nasal, entre meu nariz e meu lábio inferior.

           Agoniada, tento me sentar e tirar o cateter, para tentar respirar melhor. Ouvindo passos rápidos e em seguida uma mão em meu pulso.

- Se acalme – diz uma voz feminina autoritária – Irá se machucar! – adverte.

- ... não consigo respirar – digo franzindo o cenho com força, sentindo lágrimas se acumular em meus olhos.

- Também como conseguiria? Arrancou o cateter – diz aborrecida, recolocando o cateter em meu nariz, aumentando o fluxo de oxigênio.

- Onde eu estou? – Minha voz soa rouca, ainda preciso respira e pela boca para não perder o fôlego.

       O vulto da mulher se movimenta na minha frente.

- Num hospital.

        Já estava deduzindo isto, com base dos barulhos externos e aparelhos. A próxima pergunta, era a mais óbvia...

- Como eu cheguei aqui? – O vulto para hesitante, permanecendo alguns segundos parado, antes da voz feminina soar novamente.

- Você não se lembra?

       Se soubesse, não estava perguntando...

       Respiro por entre os lábios abertos, tentando me manter focada no vulto à frente.

- Não.

       Ela pondera minha resposta, limpando a garganta em seguida.

- Vou chamar o Dr. Schultz – diz por fim, o vulto saindo do meu campo de visão em seguida.

         Meus olhos vagam pelo o quê se deve ser os objetos e as paredes do quarto.

         Há uma claridade vindo de algum lugar, talvez da janela. Era difícil saber, quando metade da sua visão estava comprometida por um borrão preto.

         Dois vultos param na minha frente dessa vez, um alto e outro mais baixos. Pelo perfume, acredito que seja o Dr. Schultz e uma interna talvez. Só não era a mesma mulher de antes.

- Sou o Dr. Schultz – A voz do médico soa baixa, porém clara – Como está se sentindo?

         Engulo em seco.

- Minha cabeça... está doendo muito – Não era uma dor de cabeça simples que às pessoas estavam acostumadas. Era pior. Muito. Praticamente a sensação que tinha, era de estar carregando concreto de tão pesada.

- Você sofreu muitas lesões no rosto – Ele esclarece. Isto explicava não estar conseguindo enxergar direito – Seu rosto está bastante inchado – Ele faz uma breve pausa – A enfermeira mencionou que não sabe como chegou aqui.

- Não lembro.

- Nada?

       Por quê era tão difícil de acreditar? Era com o se não existisse nada além do que estava vivenciando, naquele dia.

- Qual seu nome? – Ele faz outra pergunta.

        Meu nome. Às pessoas tinham um nome e eu deveria ter um.

        Minha respiração fica pesada, juntamente com o aparelho ao lado que intensiva o bip.

- Respire fundo – A mulher ao lado dele orienta com uma voz mansa – Isto. Muito bem – Elogia, quando sigo suas instruções.

- Não lembro do meu nome – digo com a voz trêmula.

         Schultz fica em silêncio, analisando o quê havia dito.

- O que tem de errado comigo?

- Havia uma hipótese de que não se lembrasse de suas memórias mais recente ou até mesmo as mais antigas. Terei que pedir que refaçam todos os exames, para entender melhor o quê está acontecendo.

          Meu lábio inferior treme, a medida que entendo o quê quer dizer.

- Perdi minha memória, é isto?

- Ainda é cedo para afirmarmos alguma coisa.

          Estava em um hospital. Sem memória. Sem nem ter uma ideia de como havia ido parar ali.

         Não tinha como se tornar mais desesperador.

- A Dra. Sully vai levar você para fazer os exames. Não se preocupe. Está em boas mãos – Mesmo com sua voz me passando uma possível segurança que precisava, era difícil se manter calma no estado em que me encontrava.

       Ao contrário da enfermeira, Dra. Sully era bastante atenciosa. Tentando a todo instante, me manter calma com assuntos aleatórios, que não faziam sentido algum para mim.

        Para o exame de tomografia, precisei ser sedada. Acabando por ser puxada para meu subconsciente, no qual não havia absolutamente nada. Nem um sonho. Apenas o vazio.

        Claro, que a sensação de vazio, perdurou a medida que o efeito da anestesia começou a passar algum tempo depois, enquanto dava conta que estava de volta ao quarto.

        Mesmo me esforçando, ditando diversos nomes mentalmente, não conseguia lembrar do meu próprio. Muito menos do que me levou até aquele hospital.

        E se eu fosse uma serial killer com perda de memórias, cuja memória só aparecia de vez em quando? O pior de tudo: e se eu fosse procurada pela polícia por algum delito grave e tivesse me machucado para não ser presa?

        Poderia ser qualquer pessoa, com um passado sombrio ou não. E se a minha memória não voltasse, como iria viver sem saber quem eu sou?

        Para algumas pessoas, no meu lugar, poderia ser uma ótima oportunidade de recomeçar. Mas para mim, que não fazia ideia de absolutamente nada, era assustador.

       Eu não tinha um rosto. Muito menos um nome.

 

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