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–  Enquanto não descobrimos seu nome, este pode ser o seu – Ele sugere – Ivy – Precisava de um nome afinal de contas e aquele soou perfeito – O quê acha?

–  Ivy parece bom – Lucius fica em silêncio novamente – Quando será que devo fazer a cirurgia?

–  Acredito que o mais rápido possível – Movo meus lábios de um lado para o outro, tentando não demonstrar que estava nervosa – Vai ficar tudo bem – Meus olhos vagam pelo vulto à frente, tentando ficar em algum ponto – Quando acabar, já vai ter acabado – Assinto, esperando que fosse simples dessa maneira – Vou avisar o Dr. Schultz que já escolheu um rosto.

–  Lucius... – digo de repente, quando ele já está perto da porta, me detendo no mesmo instante – Não é nada – digo baixo constrangida. Não podia deixar o nervosismo tomar conta de mim.

         Dr. Schultz voltou um bom tempo depois, apenas para me avisar que a sala de cirurgia já estava sendo preparada e que os enfermeiros cuidariam de mim.

        Se em alguma das minhas lembranças  perdidas, não tivesse pavor de hospital, a partir daquele dia,  passaria a ter.

        Meu desconforto foi duplicado ao reporem o cateter urinário e ser furada de um lado para o outro, apenas coberta por uma camisola fina, que só cobria a frente.

        A cama na qual estou, é empurrada para fora do quarto. Entramos num elevador, após fazer duas curvas, embalados pelo barulho da caixa metálica.

        Na sala de cirurgia, sou tirada de onde estava e colocada em uma superfície gélida. Uma movimentação começa ao meu redor e,  não demora para que sentisse uma sonolência incomum.

–  Anestesia aplicada – diz uma enfermeira.

–  Tudo bem. Vamos começar, pessoal – Outra voz feminina é a última coisa que escuto, antes de e apagar.

       Sabe aquele sono profundo, onde você não sonha com nada, só dorme?

       Chega a ser até gostoso, devido ao cansaço dos ia as vezes.

       Essa foi a sensação que tive ao acordar da anestesia. Sentia como se tivesse saído de um sono profundo revigorante, mas com meu rosto completamente enfaixado, deixando apenas os olhos e a boca de fora.

       Não demorou muito para sentir tremores, dor muscular, seguida por sensação de tontura.

        Tudo ao mesmo tempo e com o único objetivo: instalar a sensação de que iria morrer.

        Com certeza estava morrendo e morreria sozinha num quarto de hospital.

        Abrindo novamente os olhos, percebo perto da porta um vulto idêntico à uma silhueta humana.

- Quem é você? – pergunto rouca, não obtendo resposta. O vulto continua parado ali, fazendo minha aflição aumentar.

        Fecho meus olhos, usando quatro palavras como um mantra. Eu não quero morrer.

        O quê quer que fosse, não tinha uma sensação muito boa à respeito.

        Não havia me tornado sobrevivente de um sequestro, para morrer num hospital.

–  Alguém me ajuda! – digo com a voz trêmula, lágrimas escorrendo pelos cantos dos olhos – Por favor!!

         Alguém entra rapidamente no quarto, olhando os aparelhos que estavam alterados.

–  O que aconteceu? – Um homem. Mas não era Lucius, muito menos Dr. Schultz. Devia ser um enfermeiro.

–  Não estou me sentindo bem e tinha alguém aqui no meu quarto – digo sentindo um frio excessivo. Meu corpo continuava a tremer.

–  Você está bem e não tinha ninguém aqui– diz impaciente – Só é o efeito colateral da anestesia.

          Qual era o problema daquele enfermeiro?

–  Eu não estou bem! Chama o Dr. Schultz – Tento dizer o mais alto possível, mesmo com todo meu rosto doendo, principalmente meu maxilar.

–  Não há nada de errado com você.

         O aparelho ao meu lado continuou mostrando alterações em meu batimento cardíaco. Travando meu maxilar  fecho os olhos com força, não conseguindo acreditar que era somente o efeito colateral da anestesia.

         O enfermeiro bufa, deixando claro dia impaciência.

–  Que se dane. Vou chamar o médico responsável.

         Que tipo de profissional da saúde era aquele, que nem examinada a paciente?!, praticamente grito em minha mente indignada, tentando manter meu maxilar travado.

       O enfermeiro não voltou.

       O médico responsável, qual seja ele, também não veio.

       Os sintomas ampliaram para náuseas, boca seca, dor na garganta e rouquidão. E o quê estava me deixando mais aflita, era o fato de não conseguir me mexer. Aquela impossibilidade, estava desencadeando o sentimento de desespero em mim.

       Todo meu rosto doía de uma forma, que estava começando a acreditar que a pele estava se soltando.

       O vulto volta tentando se passar despercebido ao entrar no quarto, caminhando em passos lentos e silenciosos, ao fechar a porta.

       Sigo ele com os olhos, incapaz de pronunciar qualquer palavra. Até que ele se aproxima o bastantes da cama, pressionando um travesseiro contra meu rosto.

        Tento gritar, porém o grito morre na minha garganta, enquanto usava toda minha tentar o tirar dali

          Em algum momento, devo ter perdido a consciência, já que fui puxada para um comôdo com pouco luz.

         Noto quando uma pessoa para na porta daquele comôdo, sua figura tremulando à medida que se aproximava de mim, diminuindo o espaço entre nós com um piscar de olhos, até surgir de repente na minha frente um rosto completamente cinza e gritar na minha direção.

          Abro os olhos assustada, sentindo meu coração bater descompensado no meu peito. Meus olhos, meramente arregalados, não conseguem se focar em nada inicialmente. Me mexo apavorada, temendo ainda estar presa em algum lugar, me debatendo quando mãos firmes e grossas tentam me manter parada.

        Instintivamente começo a gritar, tentando á todo custo me soltar.

– Ivy – A voz masculina chama num tom baixo primeiro – Ivy! –  A voz se torna séria, como uma repreensão.

        Paro no mesmo instante, ainda assustada.

–  Lucius?

–  Calma – pede.

       Meus olhos vagam pelo meu colo.

–  ... O quê aconteceu?

–  Teve uma parada respiratória  e como não tinham nenhum parente seu para chamar... – Ele suspira – me ligaram – Continuo em silêncio, meio que entendendo o que havia acontecido – Você está bem?

          Parada respiratória?!

       Abro e fecho minha boca, sem conseguir dizer nada, tendo a certeza do que havia acontecido ali.

–  Tentaram me matar – Engulo sem seco.

- Quem?

- Eu não sei! Não vi quem era! – digo nervosa – Primeiro ficou parado perto da porta e depois...

       Lucius fica em silêncio, aumentando meu nervosismo.

- Se o quê está dizendo é verdade. Está correndo perigo aqui. Alguém quer terminar o quê começou.

      Às palavras de Lucius me deixou paralisada.

      Definitivamente, não via como minha situação melhorar. Sem memória e ainda por cima correndo o risco de morrer.

 

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