Capítulo 03 - Jade

Chovia muito e chegamos molhadas dos pés à cabeça no portão de entrada do condomínio.

O porteiro nos forneceu uma toalha e nos mandou seguir pela Rua C até a casa 50. Eu estava nervosa e com medo de não dar certo aquele emprego. Deus estava me ajudando. Terceiro dia naquela cidade estranha e eu já estava quase conseguindo um trabalho. Cruzei os dedos rezei uma oração.

Uma senhora alta, bonita e muito elegante abriu a porta e nos convidou para entrar. Era uma sala grande, com móveis caros e luxuosos mas completamente desarrumada e sem vida. As cortinas estavam sujas e empoeiradas e os vidros das janelas completamente embaçados. Morava alguém naquela casa?

- Bom dia, dona Marta, vejo que trouxe alguém, É sua filha?

- Bom dia, dona Marina, na verdade não. É uma amiga que está precisando mais do trabalho do que eu, então trouxe-a para que a senhora veja se não pode dar o trabalho pra ela.

Ela me olhou meio desconfiada

- Ela é menor de idade?

Eu sorrir meio sem graça e me aproximei dela.

- Não senhora, tenho 20 anos.

Ela franziu a testa.

-É baiana?

Merda! Meu sotaque.

- Sim.

- Hum... Mora aqui desde quando?

- Eu... minha família chegou faz uns meses e estou precisando de trabalho para ajudar na minha casa.

- Como se chama?

Eu não podia mentir. Se ela me contratasse ia precisar dos meus documentos

- Jade Maele.

- Sente-se. Vamos conversar.

Tentei parecer o mais natural possível.

- Sabe que o serviço é pesado não é?

- Sei sim.

- Alexander não queria uma empregada, mas eu acho que isso aqui tá uma bagunça e ele não está numa fase boa, portanto, aviso que ele não será muito educado com você.

- Tudo bem. Não ligo pra isso, não.

Ela pensou um pouco.

- Por mim tudo bem, se quiser podemos acertar tudo e você começa amanhã. Pode vim todos os dias agora no início, depois venha apenas três dias por semana, acho que é suficiente.

Meu coração estava a mil por hora. Louca para sair gritando de alegria.

- Tudo bem.

- Vou te pagar um salário mínimo de início, depois vejo seu desempenho. Pode ser?

Sim, sim, sim....

- Claro!

- Então tudo certo, amanhã você começa e vamos aguardar uma semana. Se tudo der certo eu peço seus documentos.

Respirei aliviada agradecendo a Deus por tudo ter dado certo. Eu iria me doar de corpo e alma para aquele trabalho. Aquela senhora parecia simpática.  Se eu fizesse tudo certinho poderia conquistar a confiança dela e adquirir uma aliada ali naquela cidade. O dinheiro era o de menos, eu ainda tinha o suficiente para manter por alguns dias, o que eu precisava mesmo era de abrigo e de pessoas a quem pedir ajuda caso eu precisasse.

A mulher agora nos mostrava todos os cômodos da casa. Era uma casa grande de dois andares. Parecia recém construída pois tudo tinha aspecto de novo, mas a sujeira tomava conta de todos os cômodos. O que acontecera com a dona daquela casa? Por que um homem solteiro morava numa casa daquele tamanho sozinho? Bom, não era da minha conta. Estava ali para limpar a casa e não para especular sobre a vida do patrão.

- Então, amanhã você chegará às 7h, que ainda pegará meu filho em casa e ele te explicará melhor como quer que você faça o serviço certo?

-   Tudo bem, amanhã às 7h.

***

 Já de volta ao pensionato, abracei a dona Marta agradecendo pela ajuda em conseguir aquele emprego

- Não sei como te pagar o que fez por mim, dona Marta.

- Que é isso menina! É só não aprontar nada por lá.

- E eu vou aprontar o quê?

- Sei lá, ter um caso com o patrão ou roubar algumas coisa.

- Deus é mais, nenhuma das duas coisas. Só quero trabalhar.

- Hum... sei vocês adolescentes não são confiáveis.

- Não sou adolescente, tenho 20 anos e sei muito bem o que eu quero. Vou me firmar nesse trabalho e pretendo prestar vestibular e ser médica. Eu vou conseguir tudo que eu quero.

- Deus te ouça, menina.

- Ele vai ouvir, eu acredito.

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