Inferno!
Minha cabeça doía e meu estômago revirava. Levantei lentamente do sofá e olhei em volta. Que horas seriam? Tentei focar no relógio da parede. Marcava 13:00h. Apoiei a cabeça nas mãos e tentei me lembrar dos últimos acontecimentos. Eu tinha atendido a porta pela manhã para a moça que viera fazer a limpeza, mas onde ela estava? Já teria ido embora? Olhei ao redor e vi que tudo estava bagunçado do mesmo jeito de sempre. Talvez a mulher tivesse desistido e ido embora. Era o que eu esperava. Não queria ninguém ali bisbilhotando minha vida.
Levantei e subi as escadas em direção ao meu quarto. O que era aquele cheiro horrível? Espirrei duas vezes e quando abrir a porta do quarto parei sem acreditar no que via na minha frente. O chão brilhava e cheirava a perfume. Olhei lentamente todos os detalhes. Não tinha roupas espalhadas pelo chão e nem restos de comida sobre a mesa. A cama estava forrada com uma colcha azul e as cortinas foram retiradas das janelas. Fui até o banheiro e tudo estava devidamente arrumado e limpo.
Tinha que admitir que estava bem melhor que antes. Melhor? Não. Estava assustadoramente melhor. Tomei um longo banho e vesti um moletom que encontrei na bagunça do meu armário. Ainda bem que a maluca não tinha mexido nas minhas coisas. Odiava que tirassem minhas coisas do lugar. Desci novamente as escadas em direção à cozinha em busca de algo para comer. Precisava restabelecer minhas forças depois da bebedeira da noite anterior.
Parei na porta da cozinha surpreso com a cena em minha frente. A mesa estava posta com um prato, copo e algumas tigelas cobertas com um pano de prato. Me aproximei devagar e descobri as travessas. Salada, arroz, feijão e um tipo de carne assada meio queimada. Ouvi um barulho vindo da área de serviço e alguém praguejar
- Merda!
Fui até lá e ela estava ajoelhada tentando juntar os pegadores de roupa espalhados pelo chão.
- Ei, moça?
Ela não ouviu.
Estava com fones de ouvido e continuou na tarefa de juntar os pegadores.
Fiquei ali esperando ela notar minha presença.
Ela virou e ao me ver deu um grito de susto e derrubou tudo de novo.
Que loucura era aquela? Minha mãe tinha contratado uma menina menor de idade para trabalhar ali. Ela estava louca?
- Oi, acordou?
- Eu... desculpe pela recepção.
Ela começou a juntar os pegadores de novo de joelhos no chão.
- Tudo bem... a casa é sua.
Observei bem a garota. Tinha cabelos escuros presos em um coque desarrumado e um corpo bem feito a mostra pela calça legging e uma camiseta regata. O rosto era bonito e parecia não ter mais que dezessete anos. O que aquela menina queria trabalhando como faxineira? Lógico que ele não ia aceitá-la ali.
- Termine e venha cá, precisamos conversar.
Esperei ela aparecer na cozinha e cruzei os braços observando-a.
- Como veio parar aqui?
Vi que ela estava meio sem jeito olhando para meu peito a mostra sem camisa.
- Desculpe por estar sem camisa, achei que não tinha ninguém aqui.
- Tudo bem ... eu ... fiz alguma coisa para o senhor almoçar. Sua mãe falou que tenho de cozinhar também.
- Minha mãe falou uma coisa, mas eu vou dizer outra. Não quero meninas menores de idade trabalhando na minha casa, portanto, termine e pode ir embora. Vou pagar seu dia e tudo certo.
Ela pareceu muito assustada e se aproximou agitada.
Ela fez uma cara meio assustada.
- Não! Não sou menor de idade não, tenho 20 anos. Por favor eu preciso desse emprego. Espera! vou te mostrar meu documento.
Ela já revirava a bolsa nervosa e puxou uma carteira de identidade colocando-a em minhas mãos.
Eu olhei devagar os dados e a foto dela.
Jade Maele Sobral, natural de Salvador, nascida em 09 de janeiro de 1999, ou seja, ela ia fazer 20 e um anos. A foto, no entanto era bastante diferente da garota a sua frente, exceto pelos olhos que não tinha como se confundir. Ela tinha olhos grandes e bem clarinhos meio acinzentados e os cílios eram enormes dando um ar meio selvagem e a boca grande de lábios cheios eram um ponto de destaque no rosto dela.
- O que aconteceu com seus cabelos?
Ela desviou os olhos.
- Nada. Precisei mudar a cor.
- Precisou ou quis mudar?
- Não importa, tive que mudar.
- Onde estão seus pais?
Ela demorou alguns minutos para responder
- Em casa.
Eu tive que dar uma risadinha meio irônica.
- Garota, perguntei onde estão seus pais que deixaram você arrumar um serviço de faxineira quando devia estar na faculdade estudando.
- Não temos dinheiro para isso agora, portanto preciso trabalhar.
Respirei cansado. Aquela menina parecia disposta a travar uma queda de braços comigo ali, para permanecer naquele serviço. Talvez ela realmente precisasse.
Levantei as mãos em sinal de desistência.
- Depois eu vejo isso, agora posso comer alguma coisa, senão vou desmaiar aqui.
Ela abriu um largo sorriso.
- Vou poder continuar trabalhando então?
- Veremos, agora me deixe comer. Depois eu decido isso.
Ela correu e descobriu os pratos e pegou uma jarra de suco na geladeira.
- Pronto, tudo aqui. Chame se precisar.
- Não vai comer?
Ela riu meio sem jeito.
- Claro que eu já almocei, morreria de fome se esperasse o senhor sair daquele sofá. Desculpe, mas seu estado era muito ruim. Quase liguei para pedir ajuda.
- Não se preocupe, estou acostumado.
- Mas eu não.
Ele parecia inquieto
-Pode sair? Não gosto de comer com ninguém me observando.
- Tudo bem.
Ela correu para a área de serviço e eu fiquei ali meio pensativo.
Eu hein, garota doida!
Como eu podia avaliar aquele dia?Deitada na minha cama pequena e dura no pensionato eu repassei todos os momentos desde a hora que aquele homem tinha aberto a porta até o final da tarde.Assim que ele caiu de novo no sofá, eu comei a difícil tarefa de limpar a sujeira daquela casa. Nunca vi tanta poeira e tanto lixo acumulado dentro de uma casa. Resolvi não mexer na sala, pois o homem continuava estirado no sofá. Fui até lá algumas vezes e vi que ele dormia um sono agitado, se debatendo e respirando pesadamente. Pensei em ligar para a mãe dele, mas resolvi esperar mais um pouco. Coitado! Se continuasse daquele jeito ia acabar doente ou morto. Um homem tão bonito! Ele ficava bem sexy com aquela cabeça raspada. Mas ele parecia meio desajustado, pois não era comum alguém estar bêbado as sete da manhã.Decidi que limparia logo o quarto dele, pois parecia ser o côm
- Mãe, onde você estava com a cabeça para contratar uma menina de 20 anos para trabalhar na minha casa?- Ora, Alex, o que importa a idade? A moça queria trabalhar.Eu estava sentado na cozinha do apartamento da minha mãe e mais uma vez eu queria alertá-la sobre o comportamento de Felipe na empresa. Mesmo afastado eu tinha acesso às contas da empresa e elas nãos estavam fechando.- Tudo bem, esquece esse assunto. Quero te falar de outra coisa.Marina percebeu o tom diferente na voz do filho e sentou na cadeira em frente a ele.- Algum problema?- Claro que há um problema, mãe e por favor me ouça, senão será tarde demais.- O que há?- Nós estamos vendendo cada vez mais e a nossa conta bancária só diminui, você não acha isso estranho?Ela suspirou- Eu sei, tenho observado que Felipe es
Entrei no táxi, tremendo e o coração aos pulos. Tinha certeza que Alexander não tinha acreditado em uma única palavra do que eu tinha falado. E agora? Ele não ia confiar em me deixar trabalhando lá sabendo que eu estava mentindo. Por que aquele homem me olhava daquele jeito, como se tivesse desnudando minha alma? Eu estava em apuros.Aquele dia tinha sido longo e cansativo, tanto que eu pretendia apenas descansar um pouco e acabei dormindo e acordando com a aquele homem enigmático me olhando.Meu Deus, em que loucura estou me metendo?Meu corpo tremia até agora ao lembrar como sentir uma corrente elétrica percorrendo meu corpo quando nossos olhos se encontraram por alguns instantes.Eu estava carente, era isso. Estava sozinha e numa cidade estranha, nada mais natural que buscar proteção nas pessoas que estavam próximas. E Alexander era o primeiro home
O Sol entrava pela fresta da cortina e avisava que o dia estava amanhecendo. Demorei alguns minutos colocando em ordem os acontecimentos do dia anterior e a última coisa que me lembrava foi de ter tomado banho e caído na cama. Meu estômago reclamava e a garganta estava seca. Levantei da cama e então parei alguns segundos perdido na visão à minha frente. Jade estava dormindo na poltrona ao lado da cama. Ela tinha ficado ali naquela posição durante toda a noite? Provavelmente preocupada comigo.Eu era um miserável que não sabia nem cuidar de mim mesmo, e ainda tinha trazido aquela garota para meu mundo sombrio.Droga!Fui até ela e a peguei no colo colocando-a na cama e cobrindo seu corpo com uma manta quente.Ela se mexeu tentando levantar- Dorme mais um pouco, ainda é cedo. Vou preparar um café.Olhei para a foto de Érica no porta retra
Assim que todos saíram da sala eu dei vazão ao meu ódio, quebrando todas as canetas que estavam sobre a mesa e rasgando alguns papéis.Inferno! O que aquele idiota do Alexander queria ali de volta?Ele ia atrapalhar todos os meus planos. Ia começar a fuçar de novo as contas da empresa, querer comparar números e fechar balancetes. Logo agora que as coisas iam muito bem e eu estava ganhando muito dinheiro. Ganhando e devendo também e não podia correr o risco de não ter de onde tirar dinheiro para pagar. Naquele negócio não se admitia dívidas e eu vinha honrando com as minhas, mesmo que tivesse que comprometer um pouco o dinheiro da empresa. Ela funcionava muito bem para lavar o dinheiro que eu não podia declarar.Agora aquele moleque mimado resolve esquecer a bebida e atrapalhar meus planos? Claro que não. Precisaria agir de novo, como fizera a cinco a
Desde que meu amado Ramon se fora, que eu não me sentia tão sozinha como naqueles últimos tempos. Meus filhos estavam cada vez mais longe de mim, cada um por motivos diferentes. Felipe não era mais o mesmo e a gente se via cada vez menos e ele se mostrava muito distante e frio. Parecia evasivo, não respondia com coerência meus questionamentos e mentia claramente quando se tratava de dinheiro.Alexander estava se afundando em um mundo triste e sombrio. Se afastava de todos e só pensava em correr e beber. Ele era quem mais me preocupava pois eu sabia o quanto ele era uma pessoa boa e amorosa. Apenas o destino lançou uma carga um pouco pesada para ele carregar, mas eu o ajudaria a sair daquela tristeza.Por isso insistir para que ele voltasse a trabalhar na empresa. Para o bem dele e para a saúde financeira da Galvão Veículos. Naquele momento alguém sensato precisava tomar a frente do
Me olhei no espelho grande do banheiro do quarto de hospedes e me achei diferente. Na verdade estava tudo igual. Pernas, barriga, braços, cabelos... mas minha boca tremia e parecia queimar no lugar onde os lábios de Alexander tinham tocado os meus. Por que aquele calor subindo pelo meu corpo? Aquele frio na barriga. Não era a primeira vez que alguém me beijava, mas era a primeira vez que eu estremecia ao sentir o toque da boca de um homem. Foi apenas um leve encostar de lábios, mas parecia uma corrente elétrica me puxando para ele. E aquele olhar forte, intenso, cheio de promessas. E agora? O que fazer? Como se comportar quando ele voltasse? Na verdade o que eu queria mesmo era que ele me beijasse de verdade, que me deixasse sentir a língua dele tocando a minha, queria me perder naqueles braços musculosos. Mas ele tinha se afastado e não parecia querer se aproximar de novo. Então eu teria que suf
Estava chegando ao fim de semana e eu precisava viajar para o Rio de janeiro. Iria participar de uma competição importante de Motocross no sábado e no domingo e a vitória me daria o título de campeão nacional daquela temporada. E Jade ainda estava ali, na minha casa. O que minha mãe estava fazendo que ainda não tinha arrumado aquele apartamento? Precisava tirar aquela garota dali, ou eu iria ficar doido. Eu estava cada vez mais atraído por ela e estava sendo difícil me segurar. Eu evitava ficar perto dela mas morando na mesma casa era um pouco difícil. Ela era uma luz perto da minha escuridão. Do meu quarto ouvi ela cantando lá em baixo acompanhando uma música de axé em volume altíssimo.Desci as escadas e a encontrei em cima de uma cadeira pendurando umas roupas no varal.Apertei o botão e desliguei o som.Ela me olhou surpresa.- N&atil