- Mãe, onde você estava com a cabeça para contratar uma menina de 20 anos para trabalhar na minha casa?
- Ora, Alex, o que importa a idade? A moça queria trabalhar.
Eu estava sentado na cozinha do apartamento da minha mãe e mais uma vez eu queria alertá-la sobre o comportamento de Felipe na empresa. Mesmo afastado eu tinha acesso às contas da empresa e elas nãos estavam fechando.
- Tudo bem, esquece esse assunto. Quero te falar de outra coisa.
Marina percebeu o tom diferente na voz do filho e sentou na cadeira em frente a ele.
- Algum problema?
- Claro que há um problema, mãe e por favor me ouça, senão será tarde demais.
- O que há?
- Nós estamos vendendo cada vez mais e a nossa conta bancária só diminui, você não acha isso estranho?
Ela suspirou
- Eu sei, tenho observado que Felipe está meio estranho. Não quer mais me falar sobre os lucros da empresa e foge sempre que eu pergunto sobre quais investimentos nós temos.
- Talvez porque não tenha investimento nenhum.
- Por que você acha isso?
- Por que eu falei para ele que estava precisando de dinheiro e ele disse que não tinha, mas tenho conversado com nosso contador e ele me afirmou que a empresa vem faturando muito.
- E você está precisando de dinheiro?
- Claro que não, mãe, eu estava testando o Felipe!
- O que faremos então?
- Preciso voltar para a empresa e a senhora é quem dar a última palavra, como deu para me afastar de lá, não é?
- Alexander!
- Sim, minha mãe, a culpa disso é sua. Agora converse com seu filhinho querido e lhe diga que vou voltar para assumir meu cargo.
- Você promete que não vão brigar?
Eu levantei e fiquei de costa para ela.
- Prometo que vou fazer o que for necessário para salvar a empresa.
- Alex...
- É pegar ou largar mãe, quer deixar Felipe destruir seus patrimônio? Se quiser é só avisar.
- Tudo bem, apesar de você nos últimos tempos andar mais bêbado do que sóbrio, eu sei que você é mais sensato que seu irmão.
- Eu sei apenas que o papai lutou muito para fazer aquela empresa ter sucesso e se hoje nós somos ricos foi graças a ele e não vou jogar isso no lixo.
Minha mãe se aproximou de mim e me abraçou.
- Que bom, filho, que você tomou essa decisão. Agora só precisa retomar sua vida pessoal, por que não arruma uma namorada?
Eu ri divertido e peguei as chaves do jipe.
- Por que não quero namorar tá bom dona Marina. Agora vou para minha casa ver o que aquela moça aprontou por lá.
- Ela tá fazendo tudo direito?
- Não sei o que é fazer tudo direito, mas bagunçou um monte de coisas e trocou tudo de lugar.
- Não seja mal educado com a moça.
- Tudo bem, tchau.
- Tchau, meu filho, Deus te abençoe.
Sair da casa da minha mãe e dirigir meu jipe troller pelas ruas de São Paulo, pensando em como faria para descobrir o que Felipe andava fazendo com as contas da empresa.
Pretendia ir até o escritório no dia seguinte e retomar meu cargo de contador. Só assim teria acesso as contas e ao balanço da empresa. Não sabia como ia reagir quando encontrasse o irmão. Na época da morte de Erica nós tivemos uma briga feia e nunca a mais nos falamos, apenas por telefone quando o assunto era muito sério.
Ainda tinha uma competição importante naquele fim de semana no Rio de Janeiro e eu pretendia vencer mais uma vez. Eu era patrocinado pela nossa empresa e graças as minhas vitórias foi possível investir no ramo de vendas de moto e cada vez mais pessoas queriam comprar motos que se assemelhavam as que eu usava nas competições. Eu não deixaria Felipe jogar pelo ralo anos de dedicação e sucesso.
Ao chegar em casa estacionei o jipe na garagem e abrir a porta. Tudo estava no mais completo silencio. O chão brilhava e as cortinas estavam de volta nas janelas. Fui até a cozinha e tomei um copo de água e retirei as botas. Pensei em deixa-las ali mesmo mas como estavam muito sujas achei melhor colocar na área de serviço e lá parei surpreso com a cena que vi em minha frente.
A garota dormia em um colchão no chão. Fiquei estático sem saber o que fazer. Ela parecia muito cansada e dormia profundamente com os fones de ouvido meio caídos de lado. Observei cada detalhe dela. Estava com a mesma roupa do dia anterior e o cabelo estava solto. Era enorme e espalhava-se pelo colchão e o chão.
Alguma coisa não combinava naquela garota. As roupas dela eram de boa qualidade e os brincos na orelha pareciam de ouro, assim como o relógio que ela usava. A bolsa também era de uma marca cara. O que ela fazia ali? Ela não parecia precisar daquele emprego.
Naquele momento não importava o motivo, alguma coisa nela me deixou inquieto. Ela parecia meio indefesa e precisando de proteção e eu estranhamente queria protegê-la. Precisava descobrir o que ela fazia ali. Tinha quase certeza que ela estava fugindo de alguma coisa ou de alguém.
Me aproximei dela e toquei em seu braço.
- Ei, Jade... acorde!
Ela deu um pulo assustada.
- Calma, sou eu, está tudo bem.
- Eu... desculpe... pensei em descansar um pouco e cair no sono.
Eu ri da cara de medo dela.
- Calma, menina, pode descansar, sim, mas nessa casa tem cama sabia?
Ela enrolou os longos cabelos em um coque.
Eu quis comentar que o cabelo dela ficava lindo solto, mas resolvi ficar calado. Não a conhecia o suficiente para fazer um comentário daquele.
Ficamos ali naquele silencio meio constrangedor. Percebi que ela me olhava disfarçadamente e em dado momento nossos olhos ficaram presos um ao outro e pareceu que o tempo parou por um instante. Eu tentei quebrar um pouco a tensão com um comentário meio bobo.
- Você venceu, não bebi hoje ainda.
Ela riu um pouco mais descontraída.
- Melhor pra você, hein!
Ela esticou o corpo fazendo um alongamento e os seios comprimiram a camiseta de forma um tanto provocante. Desviei os olhos tentando disfarçar que aquilo tinha me chamado a atenção. Nossa! Era a primeira vez que eu olhava para o corpo de uma mulher com aquele pensamento nos últimos tempos. Depois que perdi a Erica, não conseguia sentir desejo por ninguém e nas poucas vezes que tentei levar uma mulher para a cama, tinha sido um sexo ruim e sem emoção.
Voltei minha atenção para a garota na minha frente.
- Então, Jade, como foi o dia?
Ela foi até a cozinha e eu a segui.
- Fiz várias coisas. Acho que está tudo quase limpo.
- Obrigada.
- Fiz comida também, está na geladeira, mas não tem quase nada na sua cozinha.
Eu não sabia a quanto tempo eu não ia ao mercado. Aquelas coisas tinha sido trazidas por minha mãe.
- Amanha você pode ir ao mercado?
- Tudo bem, posso sim.
Ela pegou a bolsa.
- Bom... está na minha hora.
Eu observei que ela parecia meio nervosa.
- Você mora onde? Vai de ônibus?
Ela demorou um pouco para responder.
- Moro... na zona norte
- Em que bairro?
- É... Vila Mariana
Vila Mariana não era na zona norte. Agora eu tinha certeza que ela estava escondendo alguma coisa.
- Sei... então tá. Até amanhã então.
Quando ela fechou a porta, eu peguei a chave da moto. Ia descobrir agora o que essa garota estava escondendo.
Entrei no táxi, tremendo e o coração aos pulos. Tinha certeza que Alexander não tinha acreditado em uma única palavra do que eu tinha falado. E agora? Ele não ia confiar em me deixar trabalhando lá sabendo que eu estava mentindo. Por que aquele homem me olhava daquele jeito, como se tivesse desnudando minha alma? Eu estava em apuros.Aquele dia tinha sido longo e cansativo, tanto que eu pretendia apenas descansar um pouco e acabei dormindo e acordando com a aquele homem enigmático me olhando.Meu Deus, em que loucura estou me metendo?Meu corpo tremia até agora ao lembrar como sentir uma corrente elétrica percorrendo meu corpo quando nossos olhos se encontraram por alguns instantes.Eu estava carente, era isso. Estava sozinha e numa cidade estranha, nada mais natural que buscar proteção nas pessoas que estavam próximas. E Alexander era o primeiro home
O Sol entrava pela fresta da cortina e avisava que o dia estava amanhecendo. Demorei alguns minutos colocando em ordem os acontecimentos do dia anterior e a última coisa que me lembrava foi de ter tomado banho e caído na cama. Meu estômago reclamava e a garganta estava seca. Levantei da cama e então parei alguns segundos perdido na visão à minha frente. Jade estava dormindo na poltrona ao lado da cama. Ela tinha ficado ali naquela posição durante toda a noite? Provavelmente preocupada comigo.Eu era um miserável que não sabia nem cuidar de mim mesmo, e ainda tinha trazido aquela garota para meu mundo sombrio.Droga!Fui até ela e a peguei no colo colocando-a na cama e cobrindo seu corpo com uma manta quente.Ela se mexeu tentando levantar- Dorme mais um pouco, ainda é cedo. Vou preparar um café.Olhei para a foto de Érica no porta retra
Assim que todos saíram da sala eu dei vazão ao meu ódio, quebrando todas as canetas que estavam sobre a mesa e rasgando alguns papéis.Inferno! O que aquele idiota do Alexander queria ali de volta?Ele ia atrapalhar todos os meus planos. Ia começar a fuçar de novo as contas da empresa, querer comparar números e fechar balancetes. Logo agora que as coisas iam muito bem e eu estava ganhando muito dinheiro. Ganhando e devendo também e não podia correr o risco de não ter de onde tirar dinheiro para pagar. Naquele negócio não se admitia dívidas e eu vinha honrando com as minhas, mesmo que tivesse que comprometer um pouco o dinheiro da empresa. Ela funcionava muito bem para lavar o dinheiro que eu não podia declarar.Agora aquele moleque mimado resolve esquecer a bebida e atrapalhar meus planos? Claro que não. Precisaria agir de novo, como fizera a cinco a
Desde que meu amado Ramon se fora, que eu não me sentia tão sozinha como naqueles últimos tempos. Meus filhos estavam cada vez mais longe de mim, cada um por motivos diferentes. Felipe não era mais o mesmo e a gente se via cada vez menos e ele se mostrava muito distante e frio. Parecia evasivo, não respondia com coerência meus questionamentos e mentia claramente quando se tratava de dinheiro.Alexander estava se afundando em um mundo triste e sombrio. Se afastava de todos e só pensava em correr e beber. Ele era quem mais me preocupava pois eu sabia o quanto ele era uma pessoa boa e amorosa. Apenas o destino lançou uma carga um pouco pesada para ele carregar, mas eu o ajudaria a sair daquela tristeza.Por isso insistir para que ele voltasse a trabalhar na empresa. Para o bem dele e para a saúde financeira da Galvão Veículos. Naquele momento alguém sensato precisava tomar a frente do
Me olhei no espelho grande do banheiro do quarto de hospedes e me achei diferente. Na verdade estava tudo igual. Pernas, barriga, braços, cabelos... mas minha boca tremia e parecia queimar no lugar onde os lábios de Alexander tinham tocado os meus. Por que aquele calor subindo pelo meu corpo? Aquele frio na barriga. Não era a primeira vez que alguém me beijava, mas era a primeira vez que eu estremecia ao sentir o toque da boca de um homem. Foi apenas um leve encostar de lábios, mas parecia uma corrente elétrica me puxando para ele. E aquele olhar forte, intenso, cheio de promessas. E agora? O que fazer? Como se comportar quando ele voltasse? Na verdade o que eu queria mesmo era que ele me beijasse de verdade, que me deixasse sentir a língua dele tocando a minha, queria me perder naqueles braços musculosos. Mas ele tinha se afastado e não parecia querer se aproximar de novo. Então eu teria que suf
Estava chegando ao fim de semana e eu precisava viajar para o Rio de janeiro. Iria participar de uma competição importante de Motocross no sábado e no domingo e a vitória me daria o título de campeão nacional daquela temporada. E Jade ainda estava ali, na minha casa. O que minha mãe estava fazendo que ainda não tinha arrumado aquele apartamento? Precisava tirar aquela garota dali, ou eu iria ficar doido. Eu estava cada vez mais atraído por ela e estava sendo difícil me segurar. Eu evitava ficar perto dela mas morando na mesma casa era um pouco difícil. Ela era uma luz perto da minha escuridão. Do meu quarto ouvi ela cantando lá em baixo acompanhando uma música de axé em volume altíssimo.Desci as escadas e a encontrei em cima de uma cadeira pendurando umas roupas no varal.Apertei o botão e desliguei o som.Ela me olhou surpresa.- N&atil
Depois de quatro horas de estrada chegamos ao hotel por volta do meio dia.- Vamos Jade, é só o tempo de tomar banho e almoçar. A corrida começa ás 16:00h.Tomei um banho rápido e bati na porta do quarto dele.- Entra.Ele estava vestindo um macacão preto com listas amarelas nas pernas e nos braços.As botas pareciam pesadas e iam até o joelho.- Pega essas luvas aí e coloca na mochila.Ele estava lindo demais e meu coração palpitava dentro do peito. Eu sentia como se ele tivesse uma ligação comigo e estar ali com ele era muito natural.Depois do almoço fomos direto para a pista de corrida em uma área meio afastada do centro. Havia toldos e barracas por todo lado e muita gente circulando pela área.Por onde Alexander passava havia uma infinidade de pessoas que falavam com ele como se fosse um ídol
AlexanderO que estava acontecendo comigo? O que era aquele redemoinho de emoções que se passava dentro de mim? Nos últimos cinco anos eu estava morto e de repente a chegada de Jade tinha mexido tanto com meus sentimentos. Eu já não me sentia mais tão culpado por desejar outra mulher e desde o momento que a beijei que não pensava em outra coisa que não fosse estar perto dela. Não queria pensar que ela tinha apenas vinte anos e que talvez para ela as coisas não fosse vistas com aquela intensidade, mas naquele momento eu não queria ver aquilo como um empecilho.Quando a convidei para vim ao Rio comigo, já imaginava que tudo poderia acontecer, mas nada tinha me preparado para a emoção daquele primeiro beijo de verdade. Venci aquela competição mais pensando nela do que em mim. Queria ver o olhar de admiração dela e mostrar que eu era b