Como eu podia avaliar aquele dia?
Deitada na minha cama pequena e dura no pensionato eu repassei todos os momentos desde a hora que aquele homem tinha aberto a porta até o final da tarde.
Assim que ele caiu de novo no sofá, eu comei a difícil tarefa de limpar a sujeira daquela casa. Nunca vi tanta poeira e tanto lixo acumulado dentro de uma casa. Resolvi não mexer na sala, pois o homem continuava estirado no sofá. Fui até lá algumas vezes e vi que ele dormia um sono agitado, se debatendo e respirando pesadamente. Pensei em ligar para a mãe dele, mas resolvi esperar mais um pouco. Coitado! Se continuasse daquele jeito ia acabar doente ou morto. Um homem tão bonito! Ele ficava bem sexy com aquela cabeça raspada. Mas ele parecia meio desajustado, pois não era comum alguém estar bêbado as sete da manhã.
Decidi que limparia logo o quarto dele, pois parecia ser o cômodo mais sujo da casa. Tinha restos de comida e muitas garrafas de bebida espalhadas pelo quarto. Em cima do criado mudo tinha uma foto dele abraçado com uma mulher. Estavam vestidos de noivos. Então ele era casado? Então onde estava a mulher? Teria ido embora e por isso ele estava daquele jeito? Não era da minha conta afinal.
Passei grande parte da manhã arrumando o quarto e então lembrei que precisava fazer algo para ele comer quando acordasse. Com certeza ele ia precisar se alimentar. Tentei improvisar uma refeição com as poucas coisas que encontrei na cozinha. Eu não sabia cozinhar, mas algumas vezes em casa minha mãe viajava com o Carlos e eu não queria ir e ficava sozinha, então sempre inventava coisas rápidas e fáceis.
Esperava que ele gostasse, não podia correr o risco de ser demitida por que não sabia cozinhar. Achava que ia gostar de trabalhar ali, era um lugar calmo e sossegado. Perfeito para eu me manter escondida.
A maior surpresa do dia foi dar de cara com o tal Alexander acordado e consciente.
Ele parecia meio sem jeito, provavelmente por tê-lo visto em um momento de fraqueza. Ele me olhava curioso, talvez achando que eu fosse muito jovem para ser a empregada.
Achei que não fosse conseguir convencê-lo a me deixar continuar trabalhando lá, mas ele pareceu esquecer o assunto e sentou na mesa para almoçar.
Quando ele terminou de comer, subiu para o quarto e passou o resto da tarde lá.
Por volta de cinco horas eu fui até lá devagar e bati na porta
- Sr. Alexander?
Ele abriu devagar.
- Oi.
- Eu... já vou indo.
- Tudo bem, até amanhã.
Continuei parada na frente dele indecisa se falava ou não.
Ele arqueou uma sobrancelha.
- Precisa de mais alguma coisa?
- O Sr. está bem mesmo?
- Estou sim.
- E... O Sr. não está pensando em beber de novo, não né?
Ele passou a mão na cabeça.
- E se tiver?
- Bom... acho que não deveria.
- Minha mãe também te ensinou a me encher o saco, foi?
- É só o que eu acho... bom, então até amanhã então.
- Tchau.
Que homem estranho! O olhar dele era distante e triste.
Mas eu não ia desistir. Aquele emprego tinha caído do céu e eu iria segurar com unhas e dentes. E talvez eu até conseguisse melhorar o humor do tal Alexander. Uma casa limpinha e cheirosa ajudava.
Respirei fundo e peguei meu celular olhando novamente a mensagem que minha mãe tinha mandado mais cedo.
Uma hora você vai voltar, Jade. Quando seu dinheiro acabar, vai acabar sua teimosia também.
A despeito do que eu tinha pedido, Rian tinha fornecido meu novo número para ela. Em nenhum momento, ela falou de saudade, ou que estava sentindo minha falta. Apenas um tom seco e de repreensão. Nem sequer perguntou o motivo que tinha me levado a fugir. Se bem que eu achava que ela sabia muito bem. Qualquer mulher conhecia o marido que tinha.
Agora não importava. Eu estava longe daquele homem nojento. Ele não podia me olhar e muito menos me tocar.
Não quero ficar recordando essa história! Vamos, Jade, vamos ver o que tem pra comer nessa pensão horrorosa.
***
No dia seguinte, quando cheguei na portaria do condomínio, o porteiro me recebeu com as chaves da casa e um bilhete.
- O Sr. Alexander, mandou entregar para a senhora.
Peguei o bilhete e li curiosa.
Não estarei em casa hoje. Pode ficar à vontade e por favor não retire as coisas do lugar, pois não vou adivinhar onde você colocou.
Entrei em casa e observei que tudo estava devidamente arrumado, do mesmo jeito que eu tinha deixado no dia anterior. Exceto pelo quarto dele. A cama estava revirada, a toalha jogada em uma cadeira e os sapatos no chão. O armário estava com as portas abertas e as roupas praticamente voavam para fora.
- Vamos lá, Jade, você está sendo paga para isso.
E durante todo o dia me ocupei em terminar a limpeza dos outros cômodos da casa. Tinha um quarto que eu não tinha entrado no dia anterior e qual não foi minha surpresa ao ver que era um quarto para crianças. Todo decorado em branco e verde, com alguns móveis novos e uma decoração semiacabada.
-Nossa! Ele tem um filho!
Que história mais estranha! Onde estava a mulher e o filho daquele homem? Parecia ter bastante tempo que alguém não entrava ali.
Resolvi não mexer em nada e fechei novamente a porta do quarto. Eu ia descobrir aquele mistério.
- Mãe, onde você estava com a cabeça para contratar uma menina de 20 anos para trabalhar na minha casa?- Ora, Alex, o que importa a idade? A moça queria trabalhar.Eu estava sentado na cozinha do apartamento da minha mãe e mais uma vez eu queria alertá-la sobre o comportamento de Felipe na empresa. Mesmo afastado eu tinha acesso às contas da empresa e elas nãos estavam fechando.- Tudo bem, esquece esse assunto. Quero te falar de outra coisa.Marina percebeu o tom diferente na voz do filho e sentou na cadeira em frente a ele.- Algum problema?- Claro que há um problema, mãe e por favor me ouça, senão será tarde demais.- O que há?- Nós estamos vendendo cada vez mais e a nossa conta bancária só diminui, você não acha isso estranho?Ela suspirou- Eu sei, tenho observado que Felipe es
Entrei no táxi, tremendo e o coração aos pulos. Tinha certeza que Alexander não tinha acreditado em uma única palavra do que eu tinha falado. E agora? Ele não ia confiar em me deixar trabalhando lá sabendo que eu estava mentindo. Por que aquele homem me olhava daquele jeito, como se tivesse desnudando minha alma? Eu estava em apuros.Aquele dia tinha sido longo e cansativo, tanto que eu pretendia apenas descansar um pouco e acabei dormindo e acordando com a aquele homem enigmático me olhando.Meu Deus, em que loucura estou me metendo?Meu corpo tremia até agora ao lembrar como sentir uma corrente elétrica percorrendo meu corpo quando nossos olhos se encontraram por alguns instantes.Eu estava carente, era isso. Estava sozinha e numa cidade estranha, nada mais natural que buscar proteção nas pessoas que estavam próximas. E Alexander era o primeiro home
O Sol entrava pela fresta da cortina e avisava que o dia estava amanhecendo. Demorei alguns minutos colocando em ordem os acontecimentos do dia anterior e a última coisa que me lembrava foi de ter tomado banho e caído na cama. Meu estômago reclamava e a garganta estava seca. Levantei da cama e então parei alguns segundos perdido na visão à minha frente. Jade estava dormindo na poltrona ao lado da cama. Ela tinha ficado ali naquela posição durante toda a noite? Provavelmente preocupada comigo.Eu era um miserável que não sabia nem cuidar de mim mesmo, e ainda tinha trazido aquela garota para meu mundo sombrio.Droga!Fui até ela e a peguei no colo colocando-a na cama e cobrindo seu corpo com uma manta quente.Ela se mexeu tentando levantar- Dorme mais um pouco, ainda é cedo. Vou preparar um café.Olhei para a foto de Érica no porta retra
Assim que todos saíram da sala eu dei vazão ao meu ódio, quebrando todas as canetas que estavam sobre a mesa e rasgando alguns papéis.Inferno! O que aquele idiota do Alexander queria ali de volta?Ele ia atrapalhar todos os meus planos. Ia começar a fuçar de novo as contas da empresa, querer comparar números e fechar balancetes. Logo agora que as coisas iam muito bem e eu estava ganhando muito dinheiro. Ganhando e devendo também e não podia correr o risco de não ter de onde tirar dinheiro para pagar. Naquele negócio não se admitia dívidas e eu vinha honrando com as minhas, mesmo que tivesse que comprometer um pouco o dinheiro da empresa. Ela funcionava muito bem para lavar o dinheiro que eu não podia declarar.Agora aquele moleque mimado resolve esquecer a bebida e atrapalhar meus planos? Claro que não. Precisaria agir de novo, como fizera a cinco a
Desde que meu amado Ramon se fora, que eu não me sentia tão sozinha como naqueles últimos tempos. Meus filhos estavam cada vez mais longe de mim, cada um por motivos diferentes. Felipe não era mais o mesmo e a gente se via cada vez menos e ele se mostrava muito distante e frio. Parecia evasivo, não respondia com coerência meus questionamentos e mentia claramente quando se tratava de dinheiro.Alexander estava se afundando em um mundo triste e sombrio. Se afastava de todos e só pensava em correr e beber. Ele era quem mais me preocupava pois eu sabia o quanto ele era uma pessoa boa e amorosa. Apenas o destino lançou uma carga um pouco pesada para ele carregar, mas eu o ajudaria a sair daquela tristeza.Por isso insistir para que ele voltasse a trabalhar na empresa. Para o bem dele e para a saúde financeira da Galvão Veículos. Naquele momento alguém sensato precisava tomar a frente do
Me olhei no espelho grande do banheiro do quarto de hospedes e me achei diferente. Na verdade estava tudo igual. Pernas, barriga, braços, cabelos... mas minha boca tremia e parecia queimar no lugar onde os lábios de Alexander tinham tocado os meus. Por que aquele calor subindo pelo meu corpo? Aquele frio na barriga. Não era a primeira vez que alguém me beijava, mas era a primeira vez que eu estremecia ao sentir o toque da boca de um homem. Foi apenas um leve encostar de lábios, mas parecia uma corrente elétrica me puxando para ele. E aquele olhar forte, intenso, cheio de promessas. E agora? O que fazer? Como se comportar quando ele voltasse? Na verdade o que eu queria mesmo era que ele me beijasse de verdade, que me deixasse sentir a língua dele tocando a minha, queria me perder naqueles braços musculosos. Mas ele tinha se afastado e não parecia querer se aproximar de novo. Então eu teria que suf
Estava chegando ao fim de semana e eu precisava viajar para o Rio de janeiro. Iria participar de uma competição importante de Motocross no sábado e no domingo e a vitória me daria o título de campeão nacional daquela temporada. E Jade ainda estava ali, na minha casa. O que minha mãe estava fazendo que ainda não tinha arrumado aquele apartamento? Precisava tirar aquela garota dali, ou eu iria ficar doido. Eu estava cada vez mais atraído por ela e estava sendo difícil me segurar. Eu evitava ficar perto dela mas morando na mesma casa era um pouco difícil. Ela era uma luz perto da minha escuridão. Do meu quarto ouvi ela cantando lá em baixo acompanhando uma música de axé em volume altíssimo.Desci as escadas e a encontrei em cima de uma cadeira pendurando umas roupas no varal.Apertei o botão e desliguei o som.Ela me olhou surpresa.- N&atil
Depois de quatro horas de estrada chegamos ao hotel por volta do meio dia.- Vamos Jade, é só o tempo de tomar banho e almoçar. A corrida começa ás 16:00h.Tomei um banho rápido e bati na porta do quarto dele.- Entra.Ele estava vestindo um macacão preto com listas amarelas nas pernas e nos braços.As botas pareciam pesadas e iam até o joelho.- Pega essas luvas aí e coloca na mochila.Ele estava lindo demais e meu coração palpitava dentro do peito. Eu sentia como se ele tivesse uma ligação comigo e estar ali com ele era muito natural.Depois do almoço fomos direto para a pista de corrida em uma área meio afastada do centro. Havia toldos e barracas por todo lado e muita gente circulando pela área.Por onde Alexander passava havia uma infinidade de pessoas que falavam com ele como se fosse um ídol