Capítulo 07 - Jade

Como eu podia avaliar aquele dia?

Deitada na minha cama pequena e dura no pensionato eu repassei todos os momentos desde a hora que aquele homem tinha aberto a porta até o final da tarde.

Assim que ele caiu de novo no sofá, eu comei a difícil tarefa de limpar a sujeira daquela casa. Nunca vi tanta poeira e tanto lixo acumulado dentro de uma casa. Resolvi não mexer na sala, pois o homem continuava estirado no sofá. Fui até lá algumas vezes e vi que ele dormia um sono agitado, se debatendo e respirando pesadamente. Pensei em ligar para a mãe dele, mas resolvi esperar mais um pouco. Coitado! Se continuasse daquele jeito ia acabar doente ou morto. Um homem tão bonito! Ele ficava bem sexy com aquela cabeça raspada. Mas ele parecia meio desajustado, pois não era comum alguém estar bêbado as sete da manhã.

Decidi que limparia logo o quarto dele, pois parecia ser o cômodo mais sujo da casa. Tinha restos de comida e muitas garrafas de bebida espalhadas pelo quarto. Em cima do criado mudo tinha uma foto dele abraçado com uma mulher. Estavam vestidos de noivos. Então ele era casado? Então onde estava a mulher? Teria ido embora e por isso ele estava daquele jeito? Não era da minha conta afinal.

Passei grande parte da manhã arrumando o quarto e então lembrei que precisava fazer algo para ele comer quando acordasse. Com certeza ele ia precisar se alimentar.  Tentei improvisar uma refeição com as poucas coisas que encontrei na cozinha. Eu não sabia cozinhar, mas algumas vezes em casa minha mãe viajava com o Carlos e eu não queria ir e ficava sozinha, então sempre inventava coisas rápidas e fáceis.

Esperava que ele gostasse, não podia correr o risco de ser demitida por que não sabia cozinhar.  Achava que ia gostar de trabalhar ali, era um lugar calmo e sossegado. Perfeito para eu me manter escondida.

A maior surpresa do dia foi dar de cara com o tal Alexander acordado e consciente.

Ele parecia meio sem jeito, provavelmente por tê-lo visto em um momento de fraqueza. Ele me olhava curioso, talvez achando que eu fosse muito jovem para ser a empregada.

Achei que não fosse conseguir convencê-lo a me deixar continuar trabalhando lá, mas ele pareceu esquecer o assunto e sentou na mesa para almoçar.

Quando ele terminou de comer, subiu para o quarto e passou o resto da tarde lá.

Por volta de cinco horas eu fui até lá devagar e bati na porta

- Sr. Alexander?

Ele abriu devagar.

- Oi.

- Eu... já vou indo.

- Tudo bem, até amanhã.

Continuei parada na frente dele indecisa se falava ou não.

Ele arqueou uma sobrancelha.

- Precisa de mais alguma coisa?

- O Sr. está bem mesmo?

- Estou sim.

- E... O Sr. não está pensando em beber de novo, não né?

Ele passou a mão na cabeça.

- E se tiver?

-  Bom... acho que não deveria.

- Minha mãe também te ensinou a me encher o saco, foi?

- É só o que eu acho... bom, então até amanhã então.

- Tchau.

                 Que homem estranho! O olhar dele era distante e triste.

Mas eu não ia desistir. Aquele emprego tinha caído do céu e eu iria segurar com unhas e dentes. E talvez eu até conseguisse melhorar o humor do tal Alexander. Uma casa limpinha e cheirosa ajudava.

Respirei fundo e peguei meu celular olhando novamente a mensagem que minha mãe tinha mandado mais cedo.

Uma hora você vai voltar, Jade. Quando seu dinheiro acabar, vai acabar sua teimosia também.

A despeito do que eu tinha pedido, Rian tinha fornecido meu novo número para ela. Em nenhum momento, ela falou de saudade, ou que estava sentindo minha falta. Apenas um tom seco e de repreensão. Nem sequer perguntou o motivo que tinha me levado a fugir. Se bem que eu achava que ela sabia muito bem. Qualquer mulher conhecia o marido que tinha.

Agora não importava. Eu estava longe daquele homem nojento. Ele não podia me olhar e muito menos me tocar.

 Não quero ficar recordando essa história! Vamos, Jade, vamos ver o que tem pra comer nessa pensão horrorosa.

***

No dia seguinte, quando cheguei na portaria do condomínio, o porteiro me recebeu com as chaves da casa e um bilhete.

- O Sr. Alexander, mandou entregar para a senhora.

Peguei o bilhete e li curiosa.

Não estarei em casa hoje. Pode ficar à vontade e por favor não retire as coisas do lugar, pois não vou adivinhar onde você colocou.

Entrei em casa e observei que tudo estava devidamente arrumado, do mesmo jeito que eu tinha deixado no dia anterior. Exceto pelo quarto dele. A cama estava revirada, a toalha jogada em uma cadeira e os sapatos no chão. O armário estava com as portas abertas e as roupas praticamente voavam para fora.

- Vamos lá, Jade, você está sendo paga para isso.

E durante todo o dia me ocupei em terminar a limpeza dos outros cômodos da casa. Tinha um quarto que eu não tinha entrado no dia anterior e qual não foi minha surpresa ao ver que era um quarto para crianças. Todo decorado em branco e verde, com alguns móveis novos e uma decoração semiacabada.

-Nossa! Ele tem um filho!

Que história mais estranha! Onde estava a mulher e o filho daquele homem? Parecia ter bastante tempo que alguém não entrava ali.

 Resolvi não mexer em nada e fechei novamente a porta do quarto. Eu ia descobrir aquele mistério.

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