Estava incrível passar aquele tempo no refúgio de Gabriel, como ele disse. Sofia tinha pescado com ele, se divertido, brincado, pintado. Ele tinha conseguido se conectar com ela. A promessa minha e de Joana havia sido cumprida. Era a hora de dizer-lhe a verdade. Eu só desejava que ele não me odiasse depois disso, sei que nunca ficaríamos juntos mas eu consegui fazer o que havia prometido. Eu sentia uma mistura de satisfação e dor. Satisfação por ter cumprido minha missão, por ter visto a transformação de Gabriel e o brilho nos olhos de Sofia. E dor, porque isso significava que meu tempo com eles estava chegando ao fim. Sabia que a minha presença na vida deles não podia ir além daquele momento. Eu sabia que nunca ficaria com Gabriel — a distância entre nós era clara, não apenas pela nossa posição, mas também pelo que ele ainda não sabia sobre mim. E, no fundo, eu sabia que, ao ajudá-lo a curar a relação com Sofia, havia me perdido no processo. Meus sentimentos por ele eram reais, mas
O peso daquela declaração ainda me impactava profundamente. Quando chegamos em casa, no domingo a noite, ele fez uma ligação perguntando se tudo estava pronto. Eu não sei quem era do outro lado da linha, mas depois que dei banho em Sofia, ele a colocou para dormir e pediu que eu o esperasse na sala.Meu coração acelerou. O que ele queria agora? Fiquei alguns segundos paralisada, tentando entender o que estava acontecendo, mas minha mente estava uma bagunça, cheia de perguntas e sentimentos que eu não conseguia organizar.Quando Sofia dormiu, ele desceu as escadas e fez um gesto para eu segui-lo. Gabriel me guiou até um dos quartos da mansão, e, quando abriu a porta, fiquei sem ação. Lá dentro, havia um estúdio de pintura novinho, com as paredes brancas ainda frescas e um cheiro de tinta que preenchia o ambiente. O espaço estava impecável, com um grande cavalete em um canto, telas em branco prontas para serem usadas e pincéis de diferentes tamanhos organizados de forma meticulosa.Eu n
Não, não havia mais volta mesmo. Ele me beijou novamente, com uma intensidade ainda maior, como se quisesse marcar cada parte de mim. O toque dos seus lábios era firme, possessivo, e ao mesmo tempo, tão carinhoso que fazia meu coração disparar. Cada suspiro, cada batida, cada estremecimento meu, parecia responder ao comando silencioso dele.Eu não queria pensar que não estava prestes a acontecer. Não queria interromper o momento com questionamentos ou incertezas. Ele estava ali, e eu, envolta pelo calor da presença sua, só conseguia sentir uma urgência crescente entre nós.Quando ele me soltou, seus olhos me encararam com uma mistura de desejo e certeza, como se soubessem que, de agora em diante, nada seria mais o mesmo.— Você sabe o que isso significa, não sabe? — disse ele, a voz rouca, quase uma provocação. Eu sabia. Algo dentro de mim sussurrava que não havia mais como voltar atrás. — Você é minha, Celina. Minha. Diga que aceita porque você é minha, você sabe que é.Eu era. Eu
O gosto dela ainda estava nos meus lábios quando nos afastamos. Ela acabou adormecendo ao meu lado. Mandei fazer o estúdio de pintura no maior quarto da casa. Mas com ela em meus braços, o lugar parecia menor, mais quente, como se cada centímetro entre nós tivesse se dissolvido. Escolhi o cômodo que havia mais luz e ventilação para ela. E agora a luz emoldurava seu corpo nu ao lado do meu. Eu afastei uma mecha do cabelo dela, sentindo o coração disparado contra o meu peito. Cada respiração dela fazia meu peito apertar, e eu sabia que nada mais seria igual a partir daquele momento. O desejo, antes de uma chama pequena, agora tinha se expandido, queimando por cada poro da minha pele, se alimentando da proximidade que ainda nos ligava.Celina se mexeu levemente ao meu lado, como se sentisse minha tensão, mas não acordou de imediato. Observei seu rosto tranquilo, o jeito despreocupado com que dormia, e não pude evitar pensar em tudo o que tinha mudado entre nós.Isso era só o começo. Um
Eu ajustava a gola da blusa no espelho do corredor quando senti um arrepio percorrer minha nuca. Ele estava ali.Antes que eu pudesse me virar, senti o calor de um corpo atrás de mim. O perfume amadeirado de Gabriel me envolveu, e logo depois seus dedos deslizaram suavemente pela minha cintura, apertando-a com delicadeza. Meu coração acelerou.— Você está brincando com o perigo — murmurei, tentando ignorar o tremor na minha voz.— Eu sempre fui bom nisso. — A voz dele roçou minha pele, baixa, rouca, íntima. Seus lábios encostaram de leve no meu ombro descoberto, enviando ondas de calor pelo meu corpo.Fechei os olhos por um instante. Ele não podia fazer isso. Não ali, não agora.— Sofia pode descer a qualquer momento — tentei argumentar, sem muita firmeza.— Ela está no quarto dela. Simone está na cozinha. Samantha foi abastecer o carro e depois irá direto para casa — Gabriel deslizou a mão para as minhas costas, puxando-me suavemente para ele. — Temos alguns minutos.Tentei conter um
Gabriel tinha ido colocar Sofia para dormir, e eu o esperava na sala quando meu telefone tocou. Era Joana. Olhei furtivamente para cima para me certificar de que ele ainda estava no quarto. — Oi Joana. Você não devia ficar me ligando. — Celina, você está bem? Você não me ligou mais, como está tudo? Por que não me deu notícias? Estou preocupada. Eu não podia dizer a Joana que tinha desistido de lutar contra meus sentimentos. Que Gabriel e eu estávamos juntos e que lhe contar a verdade poderia acabar com tudo. Eu amava Joana mas enquanto o meu envolvimento com Gabriel fosse secreto, eu podia ficar com ele e Sofia. E de certa forma eu estava cumprindo minha missão. Mesmo que fosse fundamentado em uma mentira. — Não se preocupe, Joana. Deu tudo certo. Conversamos e concluímos que foi um erro. Está tudo bem. — Ele aceitou tranquilamente, Celina? — Sim, claro. Eu sou a babá, seria um escândalo, as ações da empresa poderiam despencar. — Mas e você minha amiga? Eu sei que está apaixona
Decidi não trabalhar hoje. Pela primeira vez em muito tempo, eu podia simplesmente parar e aproveitar o que havia conquistado. O aplicativo que Sofia e eu havíamos criado havia se tornado um sucesso estrondoso. Milhões de pessoas estavam usando, e as cifras estavam começando a refletir o nosso esforço. Era surreal pensar que, em apenas alguns meses, a nossa ideia havia se transformado em algo tão grande. Era uma sensação de vitória, mas também de alívio. Eu tinha passado por tanto, e agora, tudo parecia finalmente se alinhar.Eu olhei para Sofia, que estava brincando no jardim. Ela ria enquanto Celina a girava pelos braços. Seus olhos brilhavam com a inocência de uma criança feliz, e eu sentia meu peito apertar de tanto amor. A felicidade dela era a minha felicidade. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas, naquele momento, eu sabia que tínhamos tudo o que precisávamos: amor, união e a certeza de que éramos uma família. Eu e Sofia, tínhamos encontrado nosso equilíbrio.Celina en
Dei um passo para trás, sentindo como se o chão tivesse sumido sob meus pés.— Senhor Gabriel?— Senhor Gabriel? — o médico me chamou, buscando me tirar de meus pensamentos.— Posso vê-la? — cortei, a voz mais dura do que eu pretendia.— Claro. Vou prescrever uma hidratação e repouso.Agradeci com um aceno de cabeça e fui até o quarto onde Celina estava. Ela estava sentada na cama, o rosto ainda pálido.Dez anos. Foi exatamente o tempo que tinha passado desde que Lívia doou um rim. Eu sabia que ela tinha feito isso por uma amiga, a Lina. Só então que me dei conta: Ce-Lina. O que estava acontecendo? Minha cabeça era incapaz de formular qualquer teoria. Entrei no quarto e todos os meus dedos tremiam. Assim que me aproximei dela, só consegui dizer:— Dez anos.Celina piscou, confusa.— O quê?— Você tem um transplante de rim há dez anos. — Minha voz soava mais pesada. Celina desviou o olhar, mexendo no lençol como se quisesse se esconder. Ela ainda estava visivelmente pálida, o rosto