Não, não havia mais volta mesmo. Ele me beijou novamente, com uma intensidade ainda maior, como se quisesse marcar cada parte de mim. O toque dos seus lábios era firme, possessivo, e ao mesmo tempo, tão carinhoso que fazia meu coração disparar. Cada suspiro, cada batida, cada estremecimento meu, parecia responder ao comando silencioso dele.Eu não queria pensar que não estava prestes a acontecer. Não queria interromper o momento com questionamentos ou incertezas. Ele estava ali, e eu, envolta pelo calor da presença sua, só conseguia sentir uma urgência crescente entre nós.Quando ele me soltou, seus olhos me encararam com uma mistura de desejo e certeza, como se soubessem que, de agora em diante, nada seria mais o mesmo.— Você sabe o que isso significa, não sabe? — disse ele, a voz rouca, quase uma provocação. Eu sabia. Algo dentro de mim sussurrava que não havia mais como voltar atrás. — Você é minha, Celina. Minha. Diga que aceita porque você é minha, você sabe que é.Eu era. Eu
O gosto dela ainda estava nos meus lábios quando nos afastamos. Ela acabou adormecendo ao meu lado. Mandei fazer o estúdio de pintura no maior quarto da casa. Mas com ela em meus braços, o lugar parecia menor, mais quente, como se cada centímetro entre nós tivesse se dissolvido. Escolhi o cômodo que havia mais luz e ventilação para ela. E agora a luz emoldurava seu corpo nu ao lado do meu. Eu afastei uma mecha do cabelo dela, sentindo o coração disparado contra o meu peito. Cada respiração dela fazia meu peito apertar, e eu sabia que nada mais seria igual a partir daquele momento. O desejo, antes de uma chama pequena, agora tinha se expandido, queimando por cada poro da minha pele, se alimentando da proximidade que ainda nos ligava.Celina se mexeu levemente ao meu lado, como se sentisse minha tensão, mas não acordou de imediato. Observei seu rosto tranquilo, o jeito despreocupado com que dormia, e não pude evitar pensar em tudo o que tinha mudado entre nós.Isso era só o começo. Um
Eu ajustava a gola da blusa no espelho do corredor quando senti um arrepio percorrer minha nuca. Ele estava ali.Antes que eu pudesse me virar, senti o calor de um corpo atrás de mim. O perfume amadeirado de Gabriel me envolveu, e logo depois seus dedos deslizaram suavemente pela minha cintura, apertando-a com delicadeza. Meu coração acelerou.— Você está brincando com o perigo — murmurei, tentando ignorar o tremor na minha voz.— Eu sempre fui bom nisso. — A voz dele roçou minha pele, baixa, rouca, íntima. Seus lábios encostaram de leve no meu ombro descoberto, enviando ondas de calor pelo meu corpo.Fechei os olhos por um instante. Ele não podia fazer isso. Não ali, não agora.— Sofia pode descer a qualquer momento — tentei argumentar, sem muita firmeza.— Ela está no quarto dela. Simone está na cozinha. Samantha foi abastecer o carro e depois irá direto para casa — Gabriel deslizou a mão para as minhas costas, puxando-me suavemente para ele. — Temos alguns minutos.Tentei conter um
Gabriel tinha ido colocar Sofia para dormir, e eu o esperava na sala quando meu telefone tocou. Era Joana. Olhei furtivamente para cima para me certificar de que ele ainda estava no quarto. — Oi Joana. Você não devia ficar me ligando. — Celina, você está bem? Você não me ligou mais, como está tudo? Por que não me deu notícias? Estou preocupada. Eu não podia dizer a Joana que tinha desistido de lutar contra meus sentimentos. Que Gabriel e eu estávamos juntos e que lhe contar a verdade poderia acabar com tudo. Eu amava Joana mas enquanto o meu envolvimento com Gabriel fosse secreto, eu podia ficar com ele e Sofia. E de certa forma eu estava cumprindo minha missão. Mesmo que fosse fundamentado em uma mentira. — Não se preocupe, Joana. Deu tudo certo. Conversamos e concluímos que foi um erro. Está tudo bem. — Ele aceitou tranquilamente, Celina? — Sim, claro. Eu sou a babá, seria um escândalo, as ações da empresa poderiam despencar. — Mas e você minha amiga? Eu sei que está apaixona
Decidi não trabalhar hoje. Pela primeira vez em muito tempo, eu podia simplesmente parar e aproveitar o que havia conquistado. O aplicativo que Sofia e eu havíamos criado havia se tornado um sucesso estrondoso. Milhões de pessoas estavam usando, e as cifras estavam começando a refletir o nosso esforço. Era surreal pensar que, em apenas alguns meses, a nossa ideia havia se transformado em algo tão grande. Era uma sensação de vitória, mas também de alívio. Eu tinha passado por tanto, e agora, tudo parecia finalmente se alinhar.Eu olhei para Sofia, que estava brincando no jardim. Ela ria enquanto Celina a girava pelos braços. Seus olhos brilhavam com a inocência de uma criança feliz, e eu sentia meu peito apertar de tanto amor. A felicidade dela era a minha felicidade. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas, naquele momento, eu sabia que tínhamos tudo o que precisávamos: amor, união e a certeza de que éramos uma família. Eu e Sofia, tínhamos encontrado nosso equilíbrio.Celina en
Dei um passo para trás, sentindo como se o chão tivesse sumido sob meus pés.— Senhor Gabriel?— Senhor Gabriel? — o médico me chamou, buscando me tirar de meus pensamentos.— Posso vê-la? — cortei, a voz mais dura do que eu pretendia.— Claro. Vou prescrever uma hidratação e repouso.Agradeci com um aceno de cabeça e fui até o quarto onde Celina estava. Ela estava sentada na cama, o rosto ainda pálido.Dez anos. Foi exatamente o tempo que tinha passado desde que Lívia doou um rim. Eu sabia que ela tinha feito isso por uma amiga, a Lina. Só então que me dei conta: Ce-Lina. O que estava acontecendo? Minha cabeça era incapaz de formular qualquer teoria. Entrei no quarto e todos os meus dedos tremiam. Assim que me aproximei dela, só consegui dizer:— Dez anos.Celina piscou, confusa.— O quê?— Você tem um transplante de rim há dez anos. — Minha voz soava mais pesada. Celina desviou o olhar, mexendo no lençol como se quisesse se esconder. Ela ainda estava visivelmente pálida, o rosto
Eu me virei, saí do quarto batendo a porta com força, como se isso pudesse afastar a dor. Cheguei à recepção e, sem pensar, me deixei cair no sofá. A raiva e a mágoa me consumiam, e, por um momento, parecia que o mundo ao meu redor estava desmoronando. Eu conhecia Lívia. Custava a acreditar que ela faria isso. Seria possível que Lívia tivesse decidido minha vida e obrigado Celina a participar de tudo? Precisava tirar isso a limpo, peguei meu telefone e liguei para meu assistente.— Preste atenção, Matheus. Levante o histórico médico da minha esposa Lívia, veja se ela se envolveu em algum acidente de carro, quero tudo sobre o tempo que ela passou na faculdade. Cruze as informações com a antiga e a nova babá de Sofia. Joana e Celina. Quero tudo o mais rápido possível.Celina teria alta em dois dias. Liguei para Simone e pedi para ficar com Sofia. Eu só sairia daquele hospital com a verdade.Eu não tive coragem de voltar a visitar Celina no quarto, mas também não consegui deixá-la sozinh
O assistente de Gabriel me avisou de Celina e do motorista que ele deixou. Eu o dispensei, não era necessário. Eu poderia dirigir e cuidar de Celina, mas aceitei que ele pagasse as custas do hospital.Abri a porta devagar, sem saber exatamente o que eu ia encontrar. Celina estava sentada no sofá, encolhida, os olhos vermelhos de tanto chorar, revelando uma expressão de culpa tão profunda que chegou a me doer. Ela levantou os olhos para mim, e por um momento, pareceu decepcionada. — Pensei que fosse ele. — Sua voz era um fio quebrado. Suspirei, fechando a porta atrás de mim. — Celina… — Você deve estar me odiando também, não é, Joana? Eu estraguei tudo.Fui até ela, sentando-me ao seu lado. — Não acho que seja tão simples assim.— Como soube que eu estava aqui, Joana?— O assistente de Gabriel me avisou — respondi com calma.— Obrigada por ter vindo.— Eu jamais te deixaria.Celina balançou a cabeça, olhando para as próprias mãos, como se carregassem todo o peso da culpa. — Eu n