Capítulo 2

Sofia

Acordo com  a luz do sol entrando pela janela, viro minha cabeça para o lado e vejo meu pequeno anjo dormindo agarrado com seu ursinho de cachorro que foi presente do meu pai assim que descobrimos que seria menino, essa noite ele dormiu comigo após ter tido um pesadelo que ele não quis me contar. Me levanto da cama e sigo para o banheiro, tomo um rápido banho e escovo meus dentes e penteio meu cabelo e deixo secando naturalmente, quando saio do banheiro vejo Petrus olhando pela janela e segurando seu cachorrinho.

— O que tanto olha filho? — pergunto me aproximando com curiosidade, já que o nosso vizinho eu vi pouquíssimas vezes nesses últimos anos.

— Cachorro. — responde sem me olhar.

Chego mais perto e vejo um grande cachorro marrom apoiado na janela e me parece feliz pela interação de Petrus.

— Dá tchau para ele e venha tomar um banho. — olho no relógio que está na parede. — Já estamos atrasados para a escola.

— A mamãe eu não quero ir. — toda manhã é isso. —  Eu quero ir trabalhar com a senhora. 

Me sento na cama e ele se senta no meu colo com seu ursinho grudado.

— Meu amor, você precisa ir. — digo tirando o cabelo que cai em seus olhos. —  É para o seu bem.

— Eles são maus. — um bico de choro começa a se formar.

— Eles te machucam? —  perguntam com cautela e o coração a mil

Ele balança a cabeça negando sem me olhar.

— Petrus. —  o chamo.

— Eles tiram sarro de mim. — sua voz saiu tão baixa que por pouco não consigo ouvir. —  Ficam falando coisas ruins, eu sou um menino bom. —  funga.

Solto um suspiro, quando soube que ele tinha Síndrome De Down já sabia que ele iria sofrer preconceito, tentei de todas as maneiras em colocar ele numa escola que pudesse ajudar seu desenvolvimento, mas só tinha em Atenas e eu não tenho condições de levar diariamente pela balsa, por isso tive que colocar ele na única escola da ilha.

— Meu amor não ligue para eles, você é especial. — digo e ele me olha com interesse.

— Sou? — pergunta com receio.

— Claro, não acredito que eu mentiria para você?

— Não, mamãe. — responde rápido. —  A senhora nunca mente. —  sorrio. 

— Então já para o banho seu porquinho. — falo e ele me olha sério, coloca o cachorrinho ao lado.

— Mamãe não sou um porquinho e sim um homem. — e sai do meu colo e segue para o banheiro todo emburrado e solto uma risada baixa.

— Ok homem da mamãe. —  grito e ele resmunga algo que não entendo.

Eu tento ao máximo deixar ele fazer as coisas sozinhas, para que não se sinta dependente, mas sempre fico por perto olhando e ajudando quando precisa. Sempre que posso, compro brinquedos educativos para ajudar no seu desenvolvimento e também pesquiso sobre brinquedos feitos em casa.

— Lave atrás das orelhas. — digo da porta a ele responde que já lavou.

Depois de uns minutos ele está seco e vestido.

— Pegue sua mochila, que vou fazer seu café. — digo e ele concorda.

Faço seu achocolatado e um sanduíche.

— Mamãe, vamos ver a lua hoje? — pergunta entrando na pequena cozinha.

— Sim. — Petrus se senta no seu lugar e começa a comer.

Quando descobri estar grávida dele, sempre ia para a praia e ficava olhando para a lua, e quando ele nasceu o levava comigo, até que sua primeira palavra foi lua e não mamãe, é, eu sei trágico nós carregamos por nove meses e no final ele fala lua.

— Terminei. 

— Escovar os dentes. — digo tirando seu copo e levando para a pia. — E nada de careta mocinho.

Pego minha bolsa e não demora para ele aparecer. Ajudo a colocar a mochila e então saímos de casa.

— Mamãe. 

— Sim.— digo olhando para ele.

— Te amo.

Paro de andar e o pego no colo.

— Também te amo. — beijo sua bochecha.

Quando chegamos na escola vejo algumas mães distribuírem olhares feios para meu pequeno, minha vontade é pegar cada uma e passar de leve na rua e depois jogar sal. Chegamos no portão e me abaixo e fico do seu tamanho.

— Não de bola para o que eles falarem. — digo arrumando sua blusa. — Você é único e por isso eles fazem isso. — ele concorda. — Eu te amo muito meu pequeno anjo. — falo deixando um beijo na sua bochecha.

Fico olhando ele entrar na escola, logo sua professora aparece e leva ele para a sala, solto um suspiro e faço meu caminho para a loja onde trabalho, durante o caminho olho alguns turistas e como as mulheres da ilha mesmo se jogam em cima deles, reviro os olhos e continuo meu caminho.

O dia foi agitado, mal consegui parar para almoçar, quando vejo já está na hora de buscar meu pequeno.

— Até amanhã, Mel. — digo para minha patroa.

— Que isso menina. — diz colocando a mão na cintura. — Esqueceu que amanhã é domingo  e  que domingo é seu dia de  folga?

Arregalo os olhos  com o meu esquecimento e ela dá risada.

— Esqueci. —  sinto meu rosto ficar quente.

— Só não esquece a cabeça por estar grudada no pescoço. —  gargalha.

Acompanho ela na gargalhada.

— Então até segunda. — falo.

— Até. —  sorri. —  E mande um beijo para Petrus.

Aceno concordando e saio da pequena loja, meus passos são rápidos até a escola de Petrus, quando chega o sinal b**e e fico esperando não demora para que ele apareça correndo.

— Mamãe, casa rápido. — diz parando ao meu lado todo agitado.

— O que aconteceu? — pergunto preocupada.

— Quero ir ao banheiro. — diz se contorcendo.

Aceno concordando e começamos a caminhar para a casa, não demoramos muito, abro a porta e ele corre para o banheiro, fiquei na sala esperando ele voltar para saber o que aconteceu. Ele não demora e volta.

— O que aconteceu? — pergunto.

— Lucian, não deixou eu entrar no banheiro. — conta e vem para o meu colo.

Engulo a vontade de falar alguns palavrões.

— Vamos comer algo e depois vamos à praia. — falo e ele concorda todo alegre.

Quando chegamos a praia, nos sentamos perto das pedras, Petrus começa a brincar com a areia.

— Olha mamãe à lua. 

O puxei para meu colo e ficamos ali olhando a lua, até que minha atenção foi chamada por um homem sentado um pouco a nossa frente, dava para notar ser um homem solitário, beijo a cabeça do meu pequeno e volto atenção para a lua.

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