Um novo começo

Helena sentia que a cidade a observava com um olhar curioso e gentil, como se, desde o momento em que ela pisou naquelas ruas silenciosas, algo estivesse começando a mudar em sua vida. As casas simples, mas bem cuidadas, com seus jardins coloridos e cercas brancas, transmitiam uma sensação de acolhimento que ela não sentia há muito tempo. Cada rua parecia ter uma história, cada esquina parecia ser uma promessa de algo novo. E, naquele momento, Helena sabia que o novo havia finalmente chegado.

Ela caminhava lentamente pela calçada, com o peso das malas ainda nos braços, mas sua mente já começava a se libertar das memórias pesadas do passado. Seu coração batia de maneira diferente, como se estivesse se ajustando ao ritmo daquela cidade tranquila. O vento suave do campo acariciava seu rosto, e ela não podia deixar de sentir um pequeno sorriso surgir, quase como uma reação instintiva. Ali, naquele lugar, ela sentia que poderia finalmente respirar.

Mas, apesar de toda a beleza ao seu redor, o novo começo que ela imaginara estava longe de ser simples. A dor do final do casamento ainda estava cravada em sua alma, como uma cicatriz invisível. Cada passo que ela dava parecia um esforço, como se o peso da decisão de recomeçar fosse mais forte do que ela imaginava. A cidade, por mais acolhedora que fosse, não poderia apagar o que havia acontecido.

O trabalho que a trouxe para aquele lugar era uma oportunidade que Helena não podia deixar escapar. A proposta de um novo emprego em uma pequena empresa de design de interiores local parecia perfeita para ela. Seria uma chance de usar suas habilidades de maneira criativa e, ao mesmo tempo, manter distância dos fantasmas que ainda rondavam sua vida pessoal. A arquitetura e o design sempre foram suas paixões, e o trabalho em uma pequena cidade parecia menos caótico do que o agito da cidade grande, onde seu casamento se desintegrou.

Ela sabia que a adaptação seria um desafio. Os primeiros dias seriam os mais difíceis, quando ela teria que se acostumar a novos colegas, novos ritmos e, talvez, até novos desafios emocionais. Mas Helena estava determinada a seguir em frente. Já havia dado o primeiro passo ao aceitar a oferta de emprego. Agora, ela precisava provar para si mesma que podia ser forte, que podia começar uma nova fase de sua vida sem olhar para trás.

Ao chegar ao seu novo lar, um pequeno apartamento no centro da cidade, Helena observou as paredes brancas e simples. O apartamento tinha uma sensação de frescor, mas também de vazio. Ela havia optado por algo modesto, não querendo se apegar a algo que a fizesse sentir-se enclausurada ou presa ao passado. Tudo ali era novo, desde os móveis até o cheiro da madeira ainda fresca. Mas, no fundo, ela sabia que o vazio era temporário. Ela iria preenchê-lo aos poucos, com suas coisas, seus toques pessoais. Assim como faria com sua vida.

Deixando suas malas na sala, Helena se sentou no sofá e olhou para a janela. O sol estava começando a se pôr, pintando o céu de laranja e rosa. Ela fechou os olhos por um momento, permitindo-se sentir a paz que havia chegado junto à mudança. Mas essa paz não significava que ela estivesse livre de suas angústias. A dor de sua separação ainda estava presente, assim como a dúvida sobre se ela seria capaz de se apaixonar novamente algum dia.

O som de uma batida na porta a tirou de seus pensamentos. Levantando-se rapidamente, Helena foi até a porta, sem saber ao certo o que esperar. Ao abri-la, ela se deparou com uma mulher sorridente, que carregava uma cesta de frutas frescas.

“Olá! Você deve ser a Helena, a nova moradora, certo? Eu sou Isabel, sua vizinha”, disse a mulher com um sorriso acolhedor. “Quis fazer uma pequena visita de boas-vindas e trazer algumas frutas. Fiquei sabendo que você acabou de se mudar para cá.”

Helena sorriu timidamente e agradeceu a gentileza da mulher. Isabel, com seu jeito caloroso, logo começou a conversar, perguntando sobre o motivo da mudança e oferecendo dicas sobre a cidade e os melhores lugares para comprar alimentos e outras coisas para a casa. A conversa, embora simples, trouxe um alívio inesperado para Helena. Ela não estava mais sozinha, e as pessoas da cidade pareciam ser gentis e dispostas a ajudá-la.

O gesto de Isabel, uma simples visita, fez Helena perceber o quanto ela estava sedenta por conexão, por algo que a fizesse se sentir parte de algo maior do que sua própria dor. Embora tivesse se mudado para começar de novo, ela não sabia exatamente o que procurava. Mas naquele momento, a ideia de ter vizinhos amigáveis e uma comunidade acolhedora parecia um bom começo.

Depois que Isabel se despediu, Helena voltou para dentro de seu apartamento. A noite chegou rapidamente, e, embora ela estivesse exausta, seu coração estava mais leve. A cidade ainda era nova para ela, mas o ambiente parecia ter algo de mágico. Ela se sentou na varanda do apartamento, admirando a tranquilidade da cidade que parecia estar no limiar entre o passado e o futuro.

Enquanto o céu escurecia, Helena se permitiu pensar no que a vida lhe reservava a partir daquele ponto. Ela estava em um lugar onde ninguém a conhecia, onde poderia criar novas memórias e, talvez, reescrever sua própria história. Não sabia o que o futuro traria, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela estava disposta a deixar as coisas acontecerem.

Na manhã seguinte, Helena acordou cedo. O sol já brilhava forte lá fora, e ela decidiu começar o dia com uma caminhada pela cidade. Ao sair para explorar, sentiu uma sensação de liberdade, como se estivesse voltando a viver depois de tanto tempo em que se sentiu paralisada. O ar fresco da manhã parecia limpar sua mente, e a beleza da cidade parecia se refletir em seu estado de espírito.

Ela passou pela praça central, onde crianças brincavam e casais passeavam de mãos dadas. Não pôde deixar de notar o contraste entre a paz ao seu redor e a turbulência interna que ainda carregava. Mas isso não a impediu de apreciar a simplicidade da vida no campo. Talvez fosse isso o que ela precisasse. Um pouco de calma e espaço para descobrir quem ela realmente era.

Ao chegar ao seu novo local de trabalho, a sensação de nervosismo a invadiu. Era seu primeiro dia, e embora estivesse animada com a oportunidade, ela também se perguntava como seria sua adaptação à nova rotina. Ela entrou no prédio, um edifício de tijolos simples, mas bem cuidado, que abrigava o escritório da empresa de design de interiores. Logo foi recebida por Ana, sua nova chefe, uma mulher de meia-idade com uma energia vibrante e uma atitude acolhedora.

Ana a conduziu por todo o escritório e apresentou-lhe os colegas de trabalho, que, para sua surpresa, eram todos simpáticos e dispostos a ajudar. As primeiras horas foram agradáveis, e Helena se sentiu aliviada ao perceber que o trabalho era realmente o que ela esperava: um ambiente criativo e estimulante.

No entanto, quando o dia passou e ela se viu de volta em seu apartamento à noite, o vazio ainda estava lá, como uma sombra que não a deixava em paz. Ela sabia que o trabalho era apenas uma parte da sua vida e que, para realmente começar a curar, teria que lidar com o que ainda estava guardado em seu coração.

A ideia de construir uma nova vida parecia desafiadora. Mas, com o tempo, ela sabia que seria capaz de fazer isso. Ela havia começado um novo capítulo, mas a verdadeira jornada ainda estava por vir.

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