A manhã seguinte ao jantar com Miguel foi marcada por uma sensação de inquietação. Helena se viu acordando mais cedo do que o habitual, como se algum tipo de mudança estivesse no ar. A noite anterior ainda estava fresca em sua memória, mas não de forma desconfortável. Ao contrário, ela sentia que algo dentro de si começava a se alinhar de uma maneira que ela não podia explicar. Talvez fosse o fato de ter compartilhado mais de si mesma com Miguel, ou talvez fosse a forma como ele a fizera sentir algo que ela não sentia há muito tempo — uma sensação de esperança. Mas a paz que ela experimentava foi rapidamente interrompida.
Assim que pegou o celular, uma notificação de mensagem apareceu na tela. Ela hesitou por um momento antes de abrir a caixa de entrada, temendo que fosse algo relacionado a trabalho ou alguma outra questão trivial. No entanto, ao ver o nome que estava na tela, um frio percorreu sua espinha. Era uma mensagem de Ricardo. "Helena, sei que faz um tempo, mas preciso falar com você. Não posso simplesmente deixar as coisas assim. Vamos conversar?" Helena sentiu uma mistura de emoções. O nome de Ricardo havia sido uma presença constante em sua vida nos últimos meses, embora ela tentasse manter a distância. Ela sabia que o passado não podia ser apagado com um simples toque de botão, mas ainda assim, ela tentava seguir em frente. E agora, a tentativa dele de retomar contato a forçava a reavaliar o que havia deixado para trás. Com as mãos ligeiramente trêmulas, ela desbloqueou a tela e leu a mensagem novamente, tentando processar as palavras que, de certa forma, ainda tinham poder sobre ela. Ricardo não havia desaparecido de sua vida tão facilmente como ela gostaria. As lembranças do casamento fracassado, os momentos de amor que se tornaram desgaste emocional e os ferimentos que ele havia causado — tudo isso voltava à tona como um borrão de sentimentos conflitantes. Ela suspirou, olhando para a tela, antes de digitar uma resposta curta. "Ricardo, não sei se é uma boa ideia. Já faz muito tempo e eu estou tentando seguir em frente." Helena sentiu um peso no peito ao enviar a mensagem. Era difícil encerrar qualquer conversa com Ricardo sem sentir um pouco de culpa, como se algo ainda estivesse pendente entre os dois. Mesmo que ela tentasse seguir em frente, a verdade era que a sua história com ele não poderia ser apagada assim tão facilmente. O celular vibrou em sua mão novamente. Ela olhou para a tela. "Eu entendo, Helena. Mas precisamos conversar. Eu preciso de uma chance de mostrar que mudei." A mensagem de Ricardo a fez parar para pensar. Mudado? Será que ele realmente havia mudado? O que significava "mudar" depois de tudo o que acontecera? As palavras que ele usava pareciam sinceras, mas Helena sabia que, muitas vezes, as palavras eram fáceis. Ações, por outro lado, eram o que realmente importavam. Ela olhou para a janela, onde os primeiros raios de sol começaram a iluminar a pequena cidade do interior. Aquela cidade, que antes parecia tão distante de tudo o que ela conhecia, agora se tornava seu refúgio. Ela havia começado a acreditar que esse novo começo poderia ser a chave para deixar seu passado para trás. Mas, de repente, o passado se apresentava de forma inesperada, com uma mensagem carregada de promessas e dúvidas. O som de uma batida na porta a interrompeu, e Helena olhou para o relógio. Era cedo demais para ser Miguel, mas o desejo de vê-lo imediatamente fazia com que ela quase se levantasse automaticamente. Ela caminhou até a porta e abriu-a, sentindo um alívio ao ver que, de fato, não era Ricardo. — Bom dia, Helena. — Era Miguel, com um sorriso caloroso, segurando uma sacola de papel com algo dentro. Ele parecia tão confortável ali, tão natural. Não havia pressa em seus gestos, e ele parecia genuinamente feliz em vê-la. — Miguel, oi. — Helena sorriu timidamente. — O que traz você aqui tão cedo? — Eu estava pensando... talvez você queira sair um pouco hoje. Eu conheço um lugar perto daqui, muito bonito. — Ele deu um passo à frente, como se aguardasse uma resposta. Helena hesitou por um momento, sentindo-se dividida. A ideia de sair com Miguel a animava, mas ela também sabia que precisava lidar com as mensagens de Ricardo. O passado não podia ser ignorado indefinidamente, não importa o quanto ela quisesse se concentrar no presente. — Eu adoraria sair, Miguel. Só preciso resolver algo antes. — Ela fez uma pausa, olhando para o celular em sua mão, e acrescentou: — Algo relacionado ao meu passado. Miguel percebeu a mudança na expressão de Helena e inclinou a cabeça, curioso, mas não pressionando. Ele sabia que Helena estava lidando com seus próprios fantasmas, e ele não queria forçá-la a confrontá-los mais cedo do que estava pronta. — Sem problemas. Eu vou estar por aqui quando você terminar. — Ele deu-lhe um sorriso compreensivo e a deixou com um leve toque no braço, antes de sair pela porta. Helena fechou a porta atrás dele, sentindo o peso de sua decisão. Ela estava tentando seguir em frente, mas o passado estava insistentemente se reerguendo. E, embora ela soubesse que Miguel era parte do seu presente, Ricardo ainda era um vínculo que ela não podia simplesmente cortar sem pensar nas consequências. Ela olhou para a mensagem de Ricardo mais uma vez. A necessidade de um encerramento estava ficando cada vez mais clara. Ela precisava entender se realmente poderia seguir em frente ou se ainda havia algo que precisava resolver. Com um suspiro profundo, Helena respondeu à mensagem de Ricardo: "Eu não sei o que você espera de mim, mas acho que é hora de termos essa conversa. Vamos nos encontrar." Enquanto digitava as palavras, ela sabia que esse encontro não resolveria tudo, mas talvez fosse o primeiro passo para se libertar definitivamente do que a prendia. Ela não podia mais viver na incerteza, na dúvida constante. Era hora de encerrar um capítulo e, quem sabe, permitir que o próximo fosse reescrito.Helena ficou sentada por alguns minutos depois de enviar a mensagem para Ricardo, sentindo o peso da decisão. Embora tivesse se convencido de que precisava resolver as coisas com o passado, seu coração estava inquieto. Era como se cada passo que ela dava em direção ao encerramento de um ciclo a afastasse mais de algo que ainda tinha dentro de si. Ela sabia que havia tomado a decisão certa, mas não podia evitar a sensação de que algo estava prestes a desmoronar.Após o encontro com Miguel na manhã anterior, sua mente estava dividida. O simples sorriso de Miguel e a forma como ele a tratava com respeito e carinho parecia ser tudo o que ela precisava. Ele era diferente, e isso a atraía de uma maneira que ela não podia negar. Mas, ao mesmo tempo, a lembrança de Ricardo sempre vinha à tona quando ela menos esperava, especialmente agora que ele havia reaparecido, tentando reacender uma chama que, talvez, nunca tivesse se apagado completamente.Helena levantou-se da mesa, deixando o celular
O dia estava claro, com o sol brilhando forte no céu, e o calor do verão era suavizado pela brisa suave que se infiltrava pelas ruas da pequena cidade. Helena sentiu uma sensação de paz ao caminhar pelas ruas tranquilas, mas sua mente ainda estava distante, dividida entre o passado e o que estava começando a surgir em seu coração.Miguel a convidara para um passeio pela cidade. A ideia parecia simples, mas Helena sabia que esse encontro, mesmo sem grandes promessas, era uma oportunidade para ela descobrir mais sobre o misterioso arquiteto que havia entrado em sua vida de uma maneira inesperada.Ao chegar na praça central, Miguel a aguardava, com seu sorriso amigável e o olhar atento. Ele estava vestido de maneira simples, mas elegante, com uma camisa de linho clara e calças escuras. Seus olhos, sempre intensos, estavam focados nela, mas havia algo mais, uma curiosidade misturada com uma suavidade que ela não havia visto antes.— Helena, que bom que conseguiu vir. Eu sabia que você iri
A manhã seguinte chegou com uma sensação de desconforto para Helena. Ela estava de volta à sua rotina, ao trabalho no ateliê, mas sua mente estava longe dali, perdida nas lembranças do passeio pela cidade com Miguel. O que antes parecia ser apenas um passeio inocente se transformou em algo mais. Algo que ela não sabia se estava pronta para enfrentar.Nos dias seguintes, ela tentou se manter ocupada, mas as dúvidas sobre os sentimentos que começavam a florescer em seu coração a perseguiam. Era como se sua alma estivesse dividida entre dois mundos: o passado que ainda a assombrava e o futuro, cheio de promessas que ela não sabia se merecia.Helena sabia que seu casamento fracassado ainda a afetava profundamente. O ex-marido, Ricardo, havia sido uma grande parte de sua vida. As mentiras, os erros e o abandono emocional deixaram cicatrizes que demorariam a cicatrizar. Mesmo com as tentativas de seguir em frente, a dor ainda se fazia presente. Ela ainda se sentia culpada, como se de alguma
Helena acordou cedo no dia seguinte, o coração acelerado. O compromisso com Miguel parecia ser o único ponto de calma em meio ao turbilhão de pensamentos e emoções que a consumiam. Ela ainda não sabia o que esperar desse encontro, mas algo em sua intuição dizia que, de alguma forma, as coisas estariam diferentes. Afinal, ela estava prestes a ir contra os próprios medos e inseguranças.Ela se preparou com cuidado, escolhendo uma blusa simples, mas elegante, que a fizesse se sentir confortável, mas também confiante. Quando se olhou no espelho, percebeu que, apesar de ainda carregar vestígios da dor, havia algo mais em seus olhos, uma chama sutil de esperança. Era como se o convite de Miguel para o almoço tivesse acendido uma pequena luz em seu interior, uma luz que ela acreditava ter se apagado com o fim de seu casamento.No restaurante, Miguel a esperava com um sorriso caloroso. Ele estava mais casual do que o normal, com uma camisa azul claro e jeans, mas a maneira como o olhar dele a
Helena fechou a porta do ateliê com mais força do que pretendia. Seu coração ainda pulsava acelerado, e seus lábios pareciam queimar com a lembrança do beijo de Miguel. Ela levou as mãos ao rosto, tentando organizar os próprios sentimentos, mas tudo parecia uma tempestade descontrolada dentro dela.Ela não podia ter permitido aquele beijo. Não depois de tudo que viveu, não depois de tudo que passou com Ricardo. Ainda sentia as cicatrizes invisíveis deixadas pelo casamento fracassado, e, por mais que tentasse negar, uma parte dela ainda tinha medo de se envolver novamente."Foi só um impulso, nada mais." Ela tentou se convencer enquanto caminhava para a pequena cozinha no fundo do ateliê e enchia um copo d’água. Mas a verdade era que não havia sido apenas um impulso. Havia desejo, havia uma conexão. Algo nela reagia a Miguel de um jeito que a assustava.Ela sentou-se em uma cadeira, encarando a parede à sua frente. O ateliê, que antes era seu refúgio, agora parecia pequeno demais para
Os dias se passaram em um ritmo monótono, mas dentro de Helena tudo estava um verdadeiro caos. Desde que decidiu se afastar de Miguel, tentava se convencer de que era o melhor a fazer. Ainda assim, cada vez que o via pela cidade ou escutava alguém mencioná-lo, seu coração reagia como se estivesse sendo puxado em sua direção.Ela se obrigava a manter o foco no ateliê, em sua nova vida, em tudo o que construiu desde que deixou o passado para trás. Mas, ironicamente, o passado sempre encontrava um jeito de voltar.E naquela tarde, ele voltou.Um Fantasma do PassadoHelena estava organizando algumas telas quando ouviu a sineta da porta tocar. Ela se virou com um sorriso automático, pronta para atender um possível cliente, mas seu corpo congelou ao reconhecer a figura parada ali.Ricardo.Seu ex-marido estava ali, na sua frente, como se o tempo tivesse voltado. O choque foi imediato. Ele parecia quase o mesmo – alto, elegante, usando um terno impecável que combinava com sua postura confian
Helena sentia como se estivesse presa entre duas versões de si mesma: a mulher que havia se libertado de um casamento fracassado e a mulher que, de repente, se via cara a cara com seu passado. Desde que Ricardo reapareceu, sua mente não teve um momento de paz.Ela tentou agir como se nada estivesse acontecendo, continuando sua rotina no ateliê, mas cada pincelada era interrompida por pensamentos conflitantes. Será que Ricardo realmente havia mudado? Será que ela deveria ao menos considerar dar-lhe uma chance?Mas, acima de tudo, uma pergunta a atormentava: por que seu coração não reagia da mesma forma quando pensava nele e quando pensava em Miguel?O Encontro com MiguelO destino, no entanto, parecia decidido a testá-la.Naquela tarde, enquanto caminhava pela praça central para clarear a mente, Helena avistou Miguel saindo de uma cafeteria. Ele parecia distraído, mexendo no celular, mas quando levantou o olhar e a viu, seu rosto se fechou.Ela hesitou por um momento, mas depois respir
O frio da noite parecia se intensificar à medida que Helena caminhava pelas ruas da pequena cidade. Seu coração estava inquieto, como se carregasse um peso invisível. O jantar com Ricardo havia despertado sentimentos que ela julgava enterrados, mas também a fez perceber que sua vida não poderia girar em torno do passado. A conversa com Miguel também não saía de sua cabeça. O jeito como ele a olhou, a expressão ferida e ao mesmo tempo cheia de expectativa... Ela sentia que estava prestes a perder algo importante, mas ainda não sabia o que fazer para impedir isso. Ela precisava de tempo. Uma Manhã de Reflexões Na manhã seguinte, Helena acordou decidida. Se quisesse tomar a melhor decisão, precisaria se afastar de tudo e todos, ao menos por um tempo. Levantou-se, tomou um banho demorado e preparou um café forte. Sentou-se à mesa da cozinha, olhando para o celular. Sua mente estava tomada por pensamentos contraditórios. Ricardo representava segurança, um amor que ela já conhecia, ma